E AÍ, CIDADÃO, VAMOS 'BOTAR BONECO'?



Com o título “E aí, cidadão, vamos “botar boneco”?, eis artigo do procurador da República Alessander Sales, no O POVO desta quinta-feira (17-5-2013). Ele se apega a uma frase dita pelo cantor Paul McCartney, durante show na Arena Castelão, para uma série de abusos cometidos pela organização do evento, além de problemas de infraestrutura. Tudo com a conivência do Governo e dos órgãos de defesa do consumidor. Confira:
Dizem que Paul McCartney, em recente show na Cidade, dirigiu-se aos fãs conclamando-os a “botar boneco”. Este chamado deve ter sido um apelo do renomado artista contra todos os absurdos verificados antes e durante o evento. Com perplexidade, soube que a Arena Castelão tem os lugares marcados, mas que os ingressos foram vendidos para quem chegasse primeiro.
Soube também, é certo, que embora seu show nos Estados Unidos custe de 57 a 250 dólares, aqui pagamos bem mais para assistir a ele. Tomou ciência, ainda, em um rápido intervalo entre as músicas, que muitos só o viam pelo telão e que, descumprindo a lei, para uma parte da arena não se vendeu meia-entrada. Ficou abismado quando ouviu falar, no dia anterior ao show, que as vagas cobertas do estádio eram só para autoridades e convidados vips. Reagiu com indignação ao saber que, minutos antes de subir ao palco, seus admiradores travavam uma verdadeira guerra no trânsito e que, provavelmente, muitos não iriam chegar a tempo de curtir todo o show já que o engarrafamento, a falta de transporte público, a caminhada na lama e por vias escuras cheias de escombros não permitiriam.
Sentiu na pele a fornalha que é a arena lotada e o desespero das pessoas para encontrarem um sinal de celular inexistente. Certamente penalizou-se com quem saiu de casa cedo, esperou mais de seis horas por um show de mais de três horas e, como lhe disseram, só chegaria em casa por volta das duas da manhã do dia seguinte. Não entendeu por que os táxis, mesmo prestando um serviço público, cobravam R$ 200 de frete, e não pela distância percorrida. Por fim, encorajou-se a falar em português ao constatar que tudo ocorria com a conivência do poder público e a omissão dos órgãos de proteção ao consumidor.
Para o cidadão, portanto, só resta atender ao apelo de Paul e “botar boneco” contra o poder público e os exploradores privados que, unidos, fizeram gato e sapato do consumidor local. Devem alardear os absurdos para que não se repitam. Caso continuem a vociferar, anestesiados, o sucesso do evento, negando o óbvio, aí sim, vai ficar a impressão de que, na verdade, foram os organizadores e os patrocinadores que, pra valer, “botaram boneco”.

* Alessander Sales
Procurador da República no Ceará.

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