UMAS E OUTRAS DO HELIO FERNANDES
Helio Fernandes
Num debate, a concordância não é indispensável, ou não seria debate, e sim perda de tempo, desperdício. Necessário é o conhecimento, a sinceridade, a isenção.
Qualquer um pode errar ou acertar, sem que seja culpado de apoiar ou recusar crimes de lesa-pátria. Desde que esteja munido de fervor pelo interesse nacional, e não da vontade de atacar ou defender pessoas.
Mesmo porque, alguns, quase todos que estiveram, estão ou estarão (pelo menos rondam esse poder) são indefensáveis. Muitos porque não ligam para o interesse do país ou do povo. Outros, porque adoram exibir títulos, mas não percebem que esses títulos só serviram para favorecer os estrangeiros. E multinacionais globalizantes se apoderam das nossas riquezas.
DONA DILMA E FHC
Assombrada com a própria popularidade (?) que aparece nas pesquisas vinculadas ao “toma lá, dá cá” administrativo, Dona Dilma se exalta. E como tem a vantagem de “governar” pela televisão, vai dizendo o que lhe interessa, mesmo que seja tolice colossal. Como essa de rotular genericamente os adversários de “partidários da x-e-n-o-f-o-b-i-a”.
Esquece que antes de ir para o governo, em 2003, era violentamente contra os leilões criados por FHC. (Esses leilões que foram identificados por este repórter como DOAÇÕES, a forma e a fórmula encontrada pelo então presidente para destruir a Petrobras. Não tendo coragem de agir diretamente, recorreu a esses leilões).
Dona Dilma atacando a todos, joga contra ela própria os efeitos danosos, mentirosos e criminosos da palavra xenofobia. Antes de assumir o governo, foi ativista contra os leilões, não vou repetir tudo o que já disse. Se juntou à AEPET (Associação dos Engenheiros da Petrobras), que na época fazia extraordinária defesa das riquezas do Brasil. Principalmente no setor do petróleo, nem se falava em pré-sal.
A SORTE DA PETROSAL
Ninguém imaginava essas reservas que Lula chamou de “sorte”, “bilhete de loteria”, mas muito mais tarde. Aí, Dona Dilma já mudara de posição, abandonara os amigos, se juntou a Nelson Jobim, então presidente do Supremo.
(O rodízio da presidência do Supremo cria essas anomalias. Até dias Toffoli será presidente. Os dois derrubaram a ADIN, impetrada pelo governador do Paraná, Roberto Requião),
“TODO O PRÉ-SAL SERÁ NOSSO”
Levaram cinco anos para convocar o leilão. Aí começaram a badalar que seria o maior da História. 41 concorrentes participariam. Diminuiu para 11, no final vieram apenas três, que não deram nenhum ágio acima dos 41,6% impostos pela Petrobras.
Fracasso mais do que visível, o governo foi requisitado para coletivamente garantir. “ESTAMOS SATISFEITOS. FOI UM
SUCESSO”.
Foram somando tudo, lucros, bônus, taxas, impostos, mais e mais, chegaram a esses notáveis 85 por cento, palavra dela, dos apaniguados, subordinados e acumpliciados. Em matéria de cálculo, mesmo viciado e contaminado pela ação do tempo, sensacional.
Portanto, como a Petrosal ficará com esses 85 por cento de tudo que for produzido pelo Campo de Libra, para os outros três participantes (nem chamo de concorrentes), sobrarão 15 por cento. Como são três, cinco por cento para cada um, não de tudo, apenas do que “SOBRAR”. E sem uma palavra para o fato de que desses 85 por cento que ficarão com a Petrosal, muita coisa só é paga pelas três empresas.
DONA DILMA ENGANADA
Sobre o retrocesso de “80 anos em 8” de FHC e suas DOAÇÕES” com moedas podres, ainda nada está encerrado. Lesa-pátria não prescreve. Dona Dilma vai acabar percebendo que alguma coisa está errada, “as contas não fecham”. As duas empresas da China entraram voluntariamente. Não precisam de dinheiro. Estão fazendo investimento político.
A surpreendente e inesperada participação da Shell e da Total, surpresa até para os dirigentes destas empresas aqui no Brasil. Esperaram o último segundo para colocar o documento na urna.
O executivo da Shell no Brasil jogou a proposta lá dentro esfregou” as mãos, como quem diz, “fiz o que mandaram, não tenho nada com isso”.
ESTAMOS EM 2013, RESULTADOS EM 2029
Esses números confirmam os fatos de hoje. Pelos dados oficiais, Em 2020, portanto, mais 7 anos, começará a jorrar o primeiro jato da Petrosal de Libra. Mas só em 2029, mais 16 anos a começar de agora, a Petrosal estará produzindo acima de 1 bilhão de barris por dia.
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PS – O próximo leilão será realizado dentro de três ou quatro anos. Dona Dilma fala em dois anos. Mas os imprevistos do petróleo comum são de tal ordem, que muitas vezes sai quase tudo errado.
PS2 – Ainda mais em se tratando dessa Petrosal indecifrável, a 16 anos de distância no tempo. E a que distância estará do pré-sal propriamente dito? Até mesmo os mais respeitados especialistas se recusam a comentar.
MAURÍCIO AZEDO
Foi embora um lutador. De todas as horas, de todas as lutas, de todos os momentos. Fui conselheiro da ABI com ele, por muito tempo, com Barbosa Lima Sobrinho. O grande presidente me pediu para ser conselheiro, respondi: “Doutor Barbosa, fico enquanto o senhor for presidente”. Fiquei.
Maurício Azedo, ao menos, tinha múltiplas atividades, mas movimentávamos as sessões. Em qualquer reunião, tínhamos o prazer do debate. Foi vereador (junto com um de meus filhos, que tinha 22 anos, se reelegeu, não quis mais), fazia palestras pelo Brasil durante a ditadura. Não se importava com a repressão pessoal, se satisfazia em combater a repressão coletiva.
Exatamente há nove anos, se aposentou do Tribunal de Contas, foi chamado para salvar a ABI. Aceitou, fomos almoçar, conversamos muito, ele compreendeu quando eu disse que não queria mais ser conselheiro, formou uma equipe ótima, lançou um jornal mensal excelente. No primeiro número, uma entrevista de horas com este repórter.
Equívocos na escolha de diretores não deixaram Maurício recuperar a saúde. Foi traído por “amigão”, que “plantava” notícias mentirosas sobre e contra ele. Foram massacrados eleitoralmente, entraram na Justiça, perderam, recorreram.
Maurício começou a ser atingido no coração, como já haviam tentado atingi-lo na reputação. Nesta não conseguiram. A respeito do coração, nem os médicos puderam dar jeito. Os resistentes, como Maurício, sempre pagam pela inveja dos que se entregaram. Mas ele não será esquecido. Esses traidores de todas as horas, lembrados pela indignidade.
ENTREVISTA, TOTALMENTE DE IMPROVISO
Minha entrevista de 16 páginas saiu no número 307, em abril de 2006. O próprio Maurício fez questão de prefaciar o que ele chamou de “aula magna pelos 98 anos da ABI”. E terminou assim, num texto excelente:
“Toda a história de Hélio Fernandes. E com ela a recente História do Brasil”.
“O DEPOIMENTO DE HÉLIO FERNANDES”
Convidado para a aula magna e a narrar sua trajetória profissional que se confundiu com a História do Brasil das últimas seis décadas. E principalmente, com o quadro dramático que o país viveu entre 1964 e 1985. Falou no dia 7 de abril, num fôlego só,sem parar para beber um só gole de água”.
Esse era e será sempre o Maurício Azedo.
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PS – Quanta incompreensão e até deformação em relação ao fato histórico: em 2013 foi inaugurada uma escola com o nome de Olga Benário. Tudo partiu desse fato absurdo e da pergunta consequente e também inconsequente: por que a denominação?
PS2 – Olga era uma aventureira, alemã, que morando na União Soviética, assaltou uma prisão de segurança máxima na Alemanha, para salvar o marido preso. Voltou para a União Soviética, viveu das glorias da aventura. Sem o marido.
PS3 – Em 1932, Prestes lançou o Manifesto do Partido Comunista e logo viajou para a Rússia, morando em Moscou. Em 1935, veio para o Brasil como segundo de Olga Benário. Não importa que ela fosse agente ou segurança, na verdade, como eu disse, o relacionamento deles começou pouco antes da viagem, ficou grávida por acaso.
PS4 – Chegaram aqui em julho de 1935, mas não ficaram juntos muito tempo. Ele foi para o Norte, ela para o outro lado com Harry Berger, que era muito mais importante do que Prestes. Berger foi torturadíssimo, preso junto com Olga, já grávida.
PS5 – Olga não participou diretamente da Revolução Comunista (foi uma revolução, e não golpe), queriam realmente implantar aqui o regime e o governo comunista. Só que a desorganização foi a base de tudo. Como disse na matéria anterior, era impossível vencer.
PS6 – Prestes foi preso sem Olga, ela estava do outro lado do país. A polícia deu uma batida na Rua Honório, e no número 36, onde funcionava um “aparelho” ( como se chamava) do Partidão. Prenderam umas vinte pessoas, entre elas o procuradíssimo Prestes.
PS7 – Chegaram na Polícia Central, onde praticavam extermínios quase diários, um velho carcereiro deu uma gargalhada e falou: “O que é que vocês estão fazendo aqui com o capitão Prestes?”
PS8 – Assustado, o chefe do grupo telefonou “lá pra cima”, onde ficava o gabinete do Chefe de Polícia, Filinto Muller, que contou o fato.
PS9 – Filinto tinha uma visão total do xadrez, olhou, conhecia muito bem Prestes, ligou imediatamente para Vargas. Foi logo transferido para cela minúscula, onde ficou por anos.
PS10 – Em 1939, muitos grandes países participavam da Olimpíada de Berlim. Acontece que as Olimpíadas eram programadas com seis anos de antecedência, portanto, estava escolhida a sede desde 1930. Em 1931 foi promulgada a Constituição do Weimar, que durou muito pouco, por causa da crise do marco alemão.
PS11 – A tradição era dos chefes de estado entregar o ouro aos vencedores. Hitler tinha um alemão, branco, como favorito para vencer as provas de atletismo.
PS12 – Mas dois negros americanos, Jesse Owens ( quatro ouros) e Ralph Metcalfe (dois ouros), revoltaram Hitler, que fugiu (isso mesmo, fugiu) do estádio, não entregou as medalhas.
PS13 – O Brasil foi representado pela extraordinária Maria Lenk, que já participara da Olimpíada de 1932.
PS14 – Especialmente para o diretor da escola, Walter Martins: na lista de nomes que você mandou, parei no primeiro, dr. Cícero Pena, com aplausos. Doou um terreno em plena Avenida Atlântica para a construção de uma escola com o nome dele.
PS15 – O terreno vale uma fábula. Há alguns anos, a família tentou reaver a propriedade (ele já havia morrido), não conseguiram, é claro. A escola continua, ficará para sempre lá, belíssima.
PS16 – Citei apenas fatos, não dei opinião sobre qualquer dos personagens. Quem ficou de um lado ou de outro tem suas razões. O que eu quero saber, a pergunta que continua depois de quase 80 anos.
PS17 – POR QUE UMA ESCOLA OLGA BENÁRIO em 2013? Se conseguirem responder, sem raiva, sem ódio, sem espírito de vingança, “contra a História”, ótimo para todos.
PS18 – E para concluir: Prestes não foi um assassino, pode ser chamado de insensato, insensível, até de traidor.
Da Tribuna da Imprensa de 28-10-2013.
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