Pular para o conteúdo principal

MAIS CACIQUES DO QUE ÍNDIOS

Luminares e gênios sem a menor chance

Carlos Chagas
O número de ministérios nada tem a ver com a qualidade dos ministros. Fossem 39 gênios, luminares e cidadãos  dotados de saber e experiência excepcionais e certamente o governo iria bem melhor do que anda. O problema que leva tanta gente a pedir a redução dos ministérios tem muito mais a ver com a qualidade dos titulares. Não é por serem tantos que se prega a sua redução,mas, com todo o respeito, por não serem as pessoas certas nos lugares certos. Entregar ministérios aos partidos da base parlamentar oficial, com as exceções de sempre, pode ser próprio do sistema parlamentarista, onde o governo é uma extensão  do Congresso. No presidencialismo, apesar de harmônicos, mas nem sempre, os  poderes são independentes. Ou deveriam ser.
Vai um desafio ao leitor, não apenas o cidadão comum, mas a quantos por dever de profissão deveriam conhecer o ministério: quem será capaz de escrever, sem colar, o nome dos 39 ministros e suas respectivas pastas?   Nem eles, talvez nem a presidente Dilma, se for indagada de surpresa.
Importa evitar o constrangimento de citações nominais para os desconhecidos,  valendo a ressalva de que alguns ministros, por sua capacidade ou por estarem constantemente no noticiário, são conhecidos de todos. Guido  Mantega, da Fazenda, por exemplo. Aluizio Mercadante, por haver-se tornado  uma espécie de coringa do palácio do Planalto.  Mais uns poucos. A maioria cai na vala comum do esquecimento. Alguns, até, só conheceram o gabinete presidencial no dia de sua nomeação, logo depois condenados ao ostracismo administrativo.
Dias atrás a presidente Dilma quis uma radiografia de sua equipe. Através de determinados critérios, fez com que cada ministério fosse classificado em termos de eficiência,  com notas de 1 a 7. Aliás, escala meio estranha, que só ela saberá definir, porque faz séculos que as notas são dadas de 1 a 10. Freud explicaria, mas o importante a ressaltar da tomada de posições feita por restrito grupo de seus auxiliares, mais as respostas enviadas por seus ministros, apenas um ministério alcançou a nota 7.  No caso, foi o  das Minas e Energia, ocupado pelo senador Edison Lobão, que não faz muito tempo viu-se cobrado pela eclosão de alguns apagões, mas recuperou-se.
Não faz sentido a “recomendação” do presidente da Câmara, pela redução de 39  para 25 o  número de ministérios.  O Congresso pouco tem a ver com isso e Henrique Eduardo Alves faria cara feia se a presidente da República criticasse a existência de tantas comissões técnicas preenchidas por deputados. Vale a ressalva inicial: se fossem 39 competentes ministros, cada um apresentando grandes realizações e conquistando a admiração nacional, nem por um minuto se estaria falando da redução. É o conjunto de nulidades que desperta as propostas de diminuição do número.
Choca a opinião consciente do país a prática de que determinado partido, em troca de seu apoio parlamentar, nem sempre cumprido à risca,  tem direito a um ministério. Qual não importa, será aquele que estiver mais à mão ou com seu titular menos cotado, depois de muita inoperância. Troca-se, porém, o seis pelo meia-duzia, não sendo oportuno, também, dar exemplos fulanizados.
Em suma,  não será agora que a presidente Dilma  promoverá uma reforma ministerial. Só quando os ministros candidatos às eleições de 2014 começarem a desincompatibilizar-se para dedicação exclusiva às suas campanhas para governador, deputado ou senador. Seria então a oportunidade de Dilma chegar à ante-sala do segundo mandato, se  vier a recuperar sua popularidade, compondo um ministério de verdade, formado pelos melhores em cada setor de atuação, sem considerações partidárias ou sucedâneos.
Ficará, no entanto, a contradição: quantos votos no Congresso terão esses luminares e gênios?   Pode ser que  nenhum, fator a indicar o mesmo nó em que se meteu o governo do PT, de novo com a ressalva de que a má previsão só se verificará no caso da reeleição. Mas não seria diferente na hipótese da vitória de algum candidato da oposição, também necessitado  de fazer maioria no Congresso. Até se o indicado vier a ser o ex-presidente Lula, não muda nada. Foi ele que inaugurou a moda de trocar ministérios pelo apoio de partidos…

Da Tribuna da Imprensa de 22-7-2013.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Notícias em Destaque

Brasil tem menor média de casos de covid do ano(Ler mais)   Mourão nega renúncia e diz que segue no governo ‘até o fim’ Relação entre o vice e Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a ser alvo de especulações após o presidente dizer que o general ‘por vezes atrapalha(Ler mais) A economia a gente vê depois: Governadores e Prefeitos ainda não se pronunciaram em como vão ajudar a população: “o depois chegou, e agora?”(Ler mais) Com ódio: Governo Doria multa o presidente Bolsonaro e sua comitiva: “pode chegar a 290 mil reais”(Ler mais) Ministros do STF querem resposta imediata de Luiz Fux sobre declarações do presidente alegando fraude nas urnas eletrônicas(Ler mais) Renan Calheiros e Humberto Costa querem sigilos bancários de Jornalismo independente “disseminadores de fake”(Ler mais) Justiça prorroga prisão de autor do vandalismo em estátua de Borba Gato(Ler mais)

Notícias em Destaque

  Bolsonaro entrega moradias populares no Cariri nesta sexta (13); veja agenda da visita (Ler mais) Relator conta que PT e PSOL queriam alterar cassação de Flordelis para ‘suspensão’ Manobra foi abortada após ter sido percebida pelos demais parlamentares (Ler mais) Presidente sugere que estados não cobrem ICMS sobre bandeiras tarifárias Proibido ICMS sobre bandeiras tarifárias, valor da conta de luz cairia (Ler mais) Diretor da Vitamedic diz que não vendeu Ivermectina ao governo Diretor da Vitamedic foi mais um depoimento inócuo na CPI no Senado (Ler mais) Lobby bilionário tentará barrar MP dos combustíveis (Ler mais) Câmara rejeita ‘distritão’ e aprova coligações na PEC da Reforma Eleitoral (Ler mais) Pacheco: “Voto impresso não será debatido no Senado e o assunto está encerrado” (Ler mais) Doria pede desculpas por fake news contra Bolsonaro no Twitter (Ler mais)