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Depois de pousar no TCU pendurada em duas certidões de nascimento, a ministra Ana Arraes virou babá de mensaleiro

O currículo de Ana Arraes, essencialmente, restringe-se a um par de certidões de nascimento. A primeira informa que seu pai é Miguel Arraes, três vezes governador de Pernambuco. A segunda atesta que um de seus filhos é Eduardo Campos, dono há mais de cinco anos do cargo que foi do avô. Pendurada nos dois documentos, Ana Arraes escapou do anonimato imposto a figuras desprovidas de brilho próprio. Virou dirigente do PSB, deputada federal e ministra do Tribunal de Contas da União. Acaba de virar manchete com a decisão de transformar em negócio legal uma negociata milionária, descoberta em 2005, que envolveu os mensaleiros Marcos Valério e Henrique Pizzolato.
Se ela não fosse “a filha de Miguel Arraes”, os companheiros do PSB se dispensariam de tratar com tanta reverência a mulher que, filiada ao partido desde 1990 por determinação do pai, seria reprovada no Enem caso a prova de redação pedisse um texto de cinco linhas sobre o socialismo à brasileira. Se não fosse “a mãe de Eduardo Campos”, herdeiro do patrimônio eleitoral do patriarca morto em 2005, a advogada que se diplomou aos 41 anos provavelmente estaria, aos 65,  cuidando dos netos no Recife. Graças ao governador que a criou e ao que pariu, foi eleita deputada em 2006, reeleita em 2010 e, em outubro do ano seguinte, ganhou o emprego no TCU.
Como cabia ao Congresso preencher a vaga no tribunal, Eduardo Campos acampou em Brasília até garantir a indicação também pleiteada por Aldo Rebelo. Primeiro conseguiu o apoio de Lula, interessado em infiltrar no TCU gente de confiança. (Dele, naturalmente). Depois se entendeu com Dilma Rousseff, acertou-se com o PT, alugou meia dúzia de bancadas, atraiu até tucanos subordinados ao senador Aécio Neves ─ e venceu.
Os parlamentares que votaram na mãe de Eduardo Campos instalaram no TCU a deputada medíocre e oradora tatibitate incapaz de apresentar um único projeto relevante em quase cinco anos no Congresso. Mas capaz de qualquer coisa para servir aos interesses do governo ─ e às vontades de Lula, principal cabo eleitoral da campanha vitoriosa no Congresso.
Em 22 de setembro de 2011, meu amigo e vizinho Reinaldo Azevedo, amparado numa entrevista concedida por Ana Arraes a Heraldo Pereira, mostrou a que vinha a futura ministra. Depois de lembrar que é preciso evitar a paralisação das obras do governo, e para tanto deveriam ser removidos entraves legais que atrapalham a vida do PAC, a filha e mãe de governadores espancou a honestidade e a gramática para fazer o resumo da ópera: “O TCU é um lugar político. Política não é só a partidária. Vou ao TCU servir ao meu país, servir ao povo do Brasil, zelando pelos recursos públicos, mas também com o olhar da política”.
O “olhar da política” fez com que Ana Arraes enxergasse dois sóbrios homens de negócios na dupla de vigaristas formada por Marcos Valério, gerente-geral da quadrilha do mensalão, e Henrique Pizzolato, vice-presidente da área de marketing do Banco do Brasil. Relatora do processo que se arrastava desde 2005, ela invocou uma pilantragem  jurídica costurada em 2009 pelo então deputado José Eduardo Cardozo, agora ministro da Justiça, para proclamar a inocência dos mensaleiros juramentados a poucos dias do início do julgamento no Supremo Tribunal Federal.
Basta ouvir duas ou três declarações de Ana Arraes para constatar que o papelório, avalizado pelos demais ministros, foi redigido por doutores em trucagens de tribunal. A ministra só assinou a decisão que, ditada pelo olhar político, colidiu frontalmente com o olhar técnico dos pareceres de três unidades do TCU que escancaram a transação criminosa. E vai morrer de ilegalidade aguda assim que for recitada no Supremo pelos advogados de Valério e Pizzolato.
Como informa o texto do comentarista Otavio na seção Feira Livre, o contrato de publicidade firmado entre o Banco do Brasil e uma das agências de Marcos Valério exige explicitamente a devolução do dinheiro desviado para as malas de dinheiro da quadrilha. A manobra concluída por Ana Arraes não vai mudar o curso do julgamento no STF. Mas incluiu mais um tópico no currículo indigente.
Dez meses depois de pousar no TCU carregando apenas duas certidões de nascimento, a filha de Miguel Arraes e mãe de Eduardo Campos também virou babá de mensaleiro.

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Da Coluna do Augusto Nunes, de 23-7-12.

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