TERCEIRA EDIÇÃO DE QUINTA-FEIRA, 30/01/2020

NO PODER360
Nota da Casa Civil motivou demissão de nº 2 de Onyx
Bolsonaro irritou-se com Santini
Presidente não foi consultado
Economia se fortalece com PPI
Demissões enfraquecem OnyxAssinatura do Decreto de 
Quinta-feira, 30.jan.2020 (quinta-feira) - 14h06
O presidente Jair Bolsonaro decidiu nesta 5ª feira (30.jan.2020) afastar em definitivo do governo o ex-secretário da Casa Civil, Vicente Santini, por conta de uma nota emitida pela pasta. O Poder360 apurou que Bolsonaro irritou-se por não ter sido consultado e optou pela demissão.
Na 4ª (29.jan), a Casa Civil divulgou uma mensagem dizendo que Santini ficaria no governo mesmo depois de ser destituído da secretaria-executiva. O texto dizia: 
“O presidente e Vicente Santini conversaram, e o presidente entendeu que o Santini deve seguir colaborando com o governo“.
A nota, no entanto, não havia sido chancelada pelo próprio Jair Bolsonaro. Fora escrita pelo próprio Santini, junto com o assessor da Casa Civil, Gustavo Lopes.
Além de Santini e de Fernando Wandscheer, que estava como ministro interino, Lopes também deve perder o cargo.
PPI NA ECONOMIA
Também na manhã desta 5ª, o presidente da República anunciou que transferirá o Programa de Parcerias de Investimentos para o Ministério da Economia, pasta comandada por Paulo Guedes. É e setor importante do governo. São estimados R$ 1,6 trilhão de investimentos nas próximas duas décadas por meio do PPI. Para 2020, 79 leilões.
O desejo do Planalto é manter no cargo Martha Seillier, atualmente a secretária responsável pelo programa. Seillier estava no voo da FAB que inicialmente motivou a demissão de Santini, mas seu trabalho é bem avaliado por Bolsonaro. A secretária também é ultraliberal e próxima de Marcelo Guaranys, secretário executivo de Guedes.
Parte da equipe econômica não apoia a permanência de Seillier e pretende indicar alguém de confiança do ministro para tocar o PPI. Paulo Guedes pediu a integrantes da pasta que conversem com a equipe do programa para mapear a estrutura. Isso será apresentado a ele na próxima 2ª feira.
MAIS GUEDES, MENOS ONYX
Com a demissão de nomes importantes da Casa Civil e o deslocamento do PPI, o ministro Onyx Lorenzoni, titular da pasta, sai desidratado.
Onyx começou o governo como um dos mais poderosos ministros. Tinha a articulação política – e entregou a 1ª grande vitória política do governo com a eleição de Davi Alcolumbre como presidente do Senado. Era o chefe da subchefia de Assuntos Jurídicos (a poderosa SAJ, que analisava todos os projetos de lei e MPs antes de os textos irem para o Congresso). Dava as diretrizes do PPI.
Agora, Onyx perdeu a articulação política (para a Secretaria de Governo), a SAJ (para a Secretaria Geral) e o PPI (que vai para a Economia).
O Ministério da Economia, de outro lado, sai reforçado. Desde o governo de transição, Guedes queria concentrar todas as esferas de desestatização e desinvestimentos. Em 2019, incomodou-se com a falta de celeridade dos projetos que estavam sob responsabilidade de Onyx. O Ministério da Economia deve dar maior dinamismo às concessões e participações público-privadas –­– com maior poder de pressionar Bolsonaro.

NO BLOG DO RODRIGO CONSTANTINO
Coronavírus: o pânico como instrumento de regime autoritário
Por Rodrigo Constantino
[Quinta-feira, 30/01/2020] [10:53]
Epidemias assustam mesmo, e com razão. Todos pensam na gripe espanhola, que ceifou a vida de milhões de pessoas. Ninguém deseja um repeteco disso. Clamam às autoridades, então, ações drásticas para impedir o contágio de vírus letais como o coronavírus. Normal.
Diante desse quadro, muitos aplaudem medidas draconianas, cidades sitiadas, indivíduos confinados. Faz parte do jogo. Mas é preciso atentar para o outro lado da história: o pânico sempre serviu de pretexto para o avanço de governos autoritários ou mesmo totalitários.
Numa guerra, não estamos mais diante das condições normais de temperatura e pressão. Liberais toleram mais ingerência estatal em guerras, pois é questão de vida ou morte. Não por acaso defensores de governos centralizadores adoram metáforas com guerras: guerra contra as drogas, guerra contra a pobreza, guerra contra o aquecimento global.
Em artigo publicado na Gazeta do Povo, Paulo Polzonoff lembrou do incidente em Chernobyl e de como a desinformação e o medo serviram como instrumentos para o controle estatal. Ele escreve:
"É em momentos de crise como a do coronavírus que o comunismo tende a mostrar seu lado mais macabro. Por meio da força, manipulando e controlando informações e tratando as pessoas como instrumentos de um jogo político internacional, a China hoje tenta demonstrar que tem a segurança do mundo em suas mãos e que o regime autoritário é superior a qualquer versão da liberdade quando o assunto é saúde pública.
É como se eles usassem a adversidade a seu favor e, num golpe de relações públicas, dissessem que o mundo não precisa se preocupar com esse ou qualquer outro patógeno que tenha origem naquele pedaço específico do globo porque os líderes chineses, em sua inegável sabedoria, jamais perderiam tempo com protocolos de tratamento e muito menos com a democracia em seus esforços para salvar a humanidade de mais essa ameaça."
De fato, muitos olham com certa inveja para o poder arbitrário das autoridades chinesas nessa hora. Não deveriam. Entrevistei no Jornal da Manhã um jovem brasileiro, que cursa literatura na cidade chinesa que está no epicentro do problema, e o rapaz vendeu a ideia de que o "espírito coletivo" fala mais alto do que o individualismo por lá. Opa! Muita calma nessa hora!
É inaceitável um estudante brasileiro que vive na China tentar vender na rádio a ideia de que há, no país, uma grande cooperação voluntária do povo, ignorando se tratar de um regime ditatorial. Sua cidade está sitiada, presa em casa, refém. Podemos até julgar como uma medida drástica, porém necessária, mas não podemos transformar isso em ato nobre do povo que pensa no coletivo!
O "argumento" da turma do contra é que o rapaz mora lá. O cara morar lá é atestado de sabedoria e honestidade agora? Então qualquer brasileiro que fala sobre o Brasil está certo? Mas e quando dois brasileiros falam coisas opostas? Como fica? Estamos diante do Argumentum ad Geograficum!
E tal pseudo-argumento é hipócrita, claro. Eu moro nos Estados Unidos: isso me dá mais moral para falar sobre o governo Trump? Mas os mesmos que puxaram da cartola esse "argumento" para defender o jovem esquerdista (não tenho a menor dúvida de sua visão política) jogam-no no lixo nessa hora, não é mesmo?
Eis a diferença básica ignorada por muitos: eu moro nos Estados Unidos e posso criticar, até mesmo detonar o governo aqui, chamar o presidente de nazista e tudo, como muitos fazem; quem mora na China não pode fazer o mesmo. Vai preso! Vamos elogiar isso agora?
João Luiz Mauad comentou sobre as cenas chocantes de cidades chinesas desertas e resgatou o livro do libertário Robert Higgs para alertar para esse tipo de risco, do uso do medo para disseminar autoritarismo estatal:
"Assistindo há pouco pela TV às cenas de ruas inteiramente desertas na China, de pessoas aterrorizadas, se espremendo dentro de hospitais, impedidas de deixar suas cidades, ainda que não tenham nenhum sintoma da doença - enquanto o governo continua a impor regras totalitárias para combater um vírus cuja taxa de letalidade é bastante baixa (2%) -, me lembrei de um livro que li há alguns anos: "Neither Liberty nor Safety", no qual o economista e historiador Robert Higgs reúne inúmeras evidências históricas que demonstram como a insegurança econômica, a vulnerabilidade a inimigos externos ou internos e as catástrofes ambientais ou de saúde pública foram usadas através dos tempos para expandir o tamanho do Estado e a intervenção dos governos na esfera privada.
O livro é bastante didático ao explicar, por exemplo, como o poder dos governos cresce exponencialmente em momentos de crises (reais ou fabricadas), e por que raramente retorna ao seu tamanho original depois que elas cessam.
Segundo Higgs, nossa constituição física e psicológica nos predispõe ao medo, seja ele oriundo de ameaças reais ou potenciais, inclusive aquelas que existem somente em nossa imaginação. Infelizmente, os políticos e os burocratas, principalmente aqueles com uma veia indisfarçavelmente totalitária, entendem perfeitamente esta peculiaridade da natureza humana e a exploram de forma eficiente.
Eles sabem que dependem do pânico para assegurar a submissão da sociedade, o consentimento popular aos ditames oficiais e a cooperação afirmativa com suas aventuras.
A disseminação do clima de histeria conta com o indispensável apoio da mídia, que também vende mais notícias nessas ocasiões. Se acreditarmos em alguns dos mais influentes jornais e telejornais, seremos levados a concluir que o mundo enfrenta hoje algo parecido com a Gripe Espanhola, que vitimou 30 milhões de pessoas no início do século passado.
É importante compreender que a China não está diante de questões meramente de saúde pública, mas essencialmente morais. Milhões de indivíduos que nada fizeram de errado estão sendo forçados a submeter suas liberdades de ir e vir à vontade de governantes no mínimo imprudentes, sem qualquer garantia de que os tais planos de salvamento, apoiados muito mais sobre os pilares do messianismo político do que da Ciência, realmente funcionarão - algo absolutamente impensável nas democracias liberais do ocidente.
Mas o pior mesmo é ver tais ações efusivamente apoiadas e aplaudidas por gente que vive nessas mesmas democracias liberais e que gostariam que seus governos dispusessem de todos aqueles amplos poderes, desde que, é claro, seus governantes favoritos estejam no comando..."
Todo cuidado com o coronavírus é desejável. Mas todo cuidado com a empolgação com regimes totalitários é ainda mais desejável e necessário!

NA TRIBUNA DA INTERNET
Por J.R. Guzzo
No Estadão
Posted on 30 de janeiro de 2020, 12:20 by Tribuna da Internet
Charge do Lailson (Arquivo Google)

Muitas das brincadeiras mais ácidas sobre militares são feitas pelos próprios militares – e não só de uma arma para outra, mas dentro de cada corporação. Pergunte a um oficial de Infantaria ou Artilharia do Exército, por exemplo, qual é o lema da Cavalaria. A resposta poderá ser: “Rápido e mal feito”. Da mesma forma, é bem possível que um oficial do Exército diga a respeito da Força Aérea Brasileira: “A FAB? Não se preocupe com a FAB. O sujeito vai de tenente a brigadeiro sem nunca ter dado uma ordem na vida – só obedece, porque a Aeronáutica é um serviço de táxi aéreo para carregar político de um lado para outro”.
Piada injusta, é claro, porque a FAB serve para muitas outras coisas, mas aí é que está: a piada só existe porque a Força Aérea fica carregando pelo Brasil e pelo mundo qualquer Zé Ruela com CPF, como o deputado Luís de Orleans e Bragança definiu tão bem os seus colegas de Câmara, e um crachá qualquer de “autoridade” do governo. Aqui se faz, aqui se paga.
MAIA BATE RECORDE – O mais agressivo Zé Ruela do Brasil no uso de aviões da FAB para viajar de graça é, disparado, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia – o homem foi capaz, só em 2019, de viajar 229 vezes pela Força Aérea, algo provavelmente sem paralelo no resto do mundo. Quem consegue viajar 229 dias em 365 – e, sobretudo, para quê? O que ele faz no tempo que lhe sobra? É positivamente impossível para qualquer ser humano viajar tanto assim para servir o interesse público – não há, muito simplesmente, essa quantidade de assuntos de interesse público para serem cuidados por ninguém, em nenhuma circunstância, em nenhum governo do planeta.
Quando se olha um pouco mais para a coisa, fica pior: Maia conseguiu levar mais de 2 mil pessoas de carona nos voos que faz com o seu dinheiro. É por isso que é tratado como um homem tão importante para as “instituições”.
OUTROS PASSAGEIROS – Os presidentes do Senado e do Supremo participam dessa mesma demência, embora com menos horas de voo. Depois vem a ministrada – que viaja na proporção inversa de sua importância. Depois vem o resto. O argumento é sempre o mesmo: se eles não viajarem, os aviões ficariam “ociosos”. Como é mesmo?
Nesse caso, então, é a própria FAB que seria ociosa. Se os seus jatos e pilotos não têm o que fazer, para o que há de servir uma força aérea? Não é possível que seja para voar um dia sim um dia não com o presidente da Câmara e seus amigos.
A verdade é que o político brasileiro, como a farra dos aviões da FAB deixa mais uma vez claríssimo, tem um pavor cada vez mais patológico em fazer qualquer coisa parecida com a vida de um cidadão comum. Não usa os hospitais públicos. Não usa o transporte público. Seus filhos não sabem o que é uma escola pública. Não tira um documento. Não faz uma fila. Nem de avião de carreira quer andar mais.

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