PRIMEIRA EDIÇÃO DE SEGUNDA-FEIRA, 20-8-2018

NA COLUNA DO CLÁUDIO HUMBERTO
SEGUNDA-FEIRA, 20 DE AGOSTO DE 2018

O fundão eleitoral de mais de R$1,7 bilhão, que financiará a campanha deste ano, foi produto de acordão dos presidentes de sete partidos – MDB, PSDB, DEM, PSB, PP, PR e PSD. Foi uma invenção demoníaca. Proibidos de vender favores no governo em troca de financiamento eleitoral, os partidos criaram o fundão para tirar dinheiro do contribuinte sem o risco da Polícia Federal na porta. Assim, os “sete magnatas” multiplicaram o poder sobre “vida e morte” dos próprios correligionários.

Bancando a própria campanha ao governo do DF, Ibaneis Rocha critica a criação do fundão. Segundo ele, impossibilita a renovação política.

O presidente do MDB, Romero Jucá, por exemplo, foi logo avisando que somente ajudaria a bancar campanhas de candidatos “viáveis”.

Ciro Nogueira (PP) e Valdemar Costa Neto (PR), montados na grana, definem as candidaturas nas quais os partidos investirão nos Estados.

Só os partidos que apoiam Alckmin (PSDB, PP, PTB, PR, SD, PPS, PSD, PRB, DEM) embolsarão R$830 milhões, quase 49% do fundão.

O historiador Hugo Studart tem sido perseguido por radicais, que o jornalista José Roberto Guzzo chama de “Polícia do Conhecimento”, pela ousadia de relatar no livro “Borboletas e Lobisomens” (Editora Record) fatos que negam o “heroísmo” de guerrilheiros do Araguaia. “Atos de escracho” intimidam noites de autógrafo. O livro revela, por exemplo, que René Silveira (Duda), irmão de Elizabeth Silveira, do grupo Tortura Nunca Mais, aos 22 anos fez delação premiada para não ser morto.

O livro mostra que “desaparecidos” aderiram a programas de proteção a testemunhas. Além de Duda, há mais três: Edinho, Piauí e Tobias.

Em 1980, a dirigente no PCdoB, Elza Monerat flagrou no Rio de Janeiro Hélio Luis (Edinho). A guerrilheira Regilena Carvalho encontrou Tobias Pereira Jr..

Falta aos novos fascistas de esquerda queimar “Borboletas”, como no clássico “Fahrenheit 451”, filme dirigido por François Truffaud.

O instituto Paraná Pesquisa apurou que 87,4% dos brasileiros não se sentem representados por qualquer partido. Entre aqueles com ensino superior completo, o índice vai a 91%.

Além de Lula, há apenas outro ex-presidente preso em todo o mundo: Ollanta Humala, do Peru, corrompido pela empreiteira brasileira Odebrecht, a mesma empreiteira símbolo do PT no poder.

Os partidos que apoiam Geraldo Alckmin (PSDB) para presidente representam atualmente 274 dos 513 deputados federais, 22 deputados além do necessário para ter maioria absoluta.

O Patriarca José Bonifácio atrasou a Independência do Brasil porque tinha três empregos públicos em Lisboa. Aguardou a transferência das matrículas das boquinhas para o Brasil para concordar com Gonçalves Ledo, deflagrando o projeto da maçonaria de Independência do Brasil.

Seis meses, R$ 1,2 bilhão e 2,6 mil assassinatos depois, Hugo Leal (PSD-RJ), chefe da Comissão da Câmara que monitora a intervenção federal no Rio de Janeiro, não partilha das críticas e vê a situação como positiva.

O chanceler Aloysio Nunes visita La Paz nesta segunda (20) para se reunir com Fernando Huanacuni, ministro da ditadura Evo Morales. Paciência. A Bolívia é o principal fornecedor de gás ao Brasil.

O dia 7 de setembro é o prazo final para a direção de partidos políticos preencherem as vagas remanescentes para as eleições proporcionais, obedecendo pré-requisitos de proporção de candidatos e candidatas.

…Ciro acusar o PT de “radicalismo” é como o Corinthians acusar o juiz de favorecer o adversário.

NO DIÁRIO DO PODER
Candidatos terão que detalhar declaração de bens à Justiça Eleitoral a partir desta segunda-feira 
Todos os dados estarão disponíveis para a acesso da população pelo sistema 
Da Redação 
Domingo, 19/08/2018 às 18:10 | Atualizado às 18:11
Todos os 27.813 candidatos que pretendem disputar as eleições em outubro terão que detalhar, a partir desta segunda-feira (20), a declaração de bens feita ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A medida entra em vigor dez dias depois de o então presidente da Corte, ministro Luiz Fux, recuar de uma alteração que havia sido feita no sistema de registro de candidaturas que diminuía a transparência em relação aos bens de todos os políticos. Fux havia se comprometido com a alteração do sistema. Nas disputas anteriores, os políticos tinham que listar seus bens de forma detalhada, com tipo, descrição e valor. Ao declarar a posse de um apartamento, por exemplo, normalmente eram descritos o endereço, tamanho e outras características. Nesta eleição, foi informado à população apenas que o candidato tem um apartamento e o seu valor, sem indicação de endereço, cidade, Estado ou tamanho. No dia 9 de agosto, o TSE havia informado que faria a alteração e que os partidos cujos candidatos já declararam bens à Justiça Eleitoral seriam intimados para complementar as informações prestadas. Mas, até o dia 15 de agosto, todos os candidatos declararam seus bens sem poder informar detalhes. “As informações patrimoniais incluídas serão automaticamente exibidas no DivulgaCandContas, sistema utilizado pelo TSE para a divulgação das candidaturas e das prestações de contas dos candidatos e dos partidos políticos em todo o Brasil”, informou o Tribunal em nota. (Folhapress)

Ciro adota velha estratégia ‘paz e amor’ para tentar ganhar votos dos indecisos 
Ele ameniza tom agressivo de olho no voto de indecisos 
Da Redação 
19/08/2018 às 11:45 | Atualizado às 00:18
Com dificuldades de crescer nas pesquisas eleitorais, o candidato do PDT à sucessão presidencial, Ciro Gomes, adotou novo perfil para tentar avançar sobre os eleitores indecisos. Diante da crítica de adversários de que tem fama de explosivo, o que foi apontado como um fator de insegurança em pesquisa, ele decidiu abandonar o que é chamado pela equipe de campanha de uma postura “belicosa” e adotar uma “moderada”. “O que podemos dizer é que ele entrou agora numa fase de Ciro Soft”, resumiu o presidente do PDT, Carlos Lupi. Inicialmente, a proposta era de que ele não abrisse mão do jeito duro. Em entrevista, em junho, o então coordenador político da campanha eleitoral, Cid Gomes, disse que o perfil “franco, sincero e que fala o que pensa é cada vez mais desejado pelo povo”. Segundo a reportagem apurou, contudo, uma pesquisa qualitativa revelou uma certa resistência dos eleitores com o temperamento do candidato e uma preferência por um perfil mais tranquilo e bem-humorado. Desde então, Ciro tem feito menos ataques e se descrito como uma “seda” e um “doce de coco”. Ele foi aconselhado por integrantes do partido a sorrir mais e a reagir com mais calma a críticas. “Aos 60 anos de idade, eu não vou mudar, [mas] estou mais maduro, experiente e sereno”, disse em entrevista na sexta-feira (17). Em julho, o candidato xingou publicamente representante do Ministério Público e, no mês anterior, chamou o vereador Fernando Holiday (DEM-SP), ligado ao MBL, de “capitãozinho do mato”. Na época, foi aconselhado pelo irmão Cid Gomes a não fazer xingamentos em público, o que também passou a evitar. O novo perfil será explorado, por exemplo, na estreia do candidato na propaganda eleitoral gratuita, no dia 31. A ideia será mostrá-lo como um político experiente e um homem calmo. Para isso, serão veiculadas imagens da carreira dele, nos cargos de governador e ministro, e imagens de momento de intimidade com os filhos.
A postura moderada começou a ser testada na semana retrasada, véspera do início oficial da campanha eleitoral. No primeiro debate dos presidenciáveis, realizado pela TV Bandeirantes, Ciro evitou ataques e manteve tranquilidade, fazendo, inclusive, piada em pergunta sobre a Ursal (União das Repúblicas Socialistas da América Latina). “É preciso ter calma. A campanha eleitoral é uma corrida de fôlego. Eu achei que nós devíamos hoje tatear o caminho”, disse na saída do debate. No discurso, passou a adotar uma linha amigável, referindo-se aos seus oponentes de forma amistosa. Segundo ele, Geraldo Alckmin (PSDB) é um bom amigo “há longa data”, Jair Bolsonaro (PSL) é seu “estimado colega de Câmara dos Deputados” e Marina Silva (Rede) uma “estimada amiga”. Segundo um dirigente do partido, o novo temperamento teve boa recepção em sondagem com eleitores, entre eles os que ainda não definiram seu voto. Segundo a última pesquisa Datafolha, em cenários sem o ex-presidente Lula, o percentual de indecisos chega a 28%. A avaliação é de que, diante da disputa com a candidatura petista pelos eleitores de esquerda, Ciro precisa avançar sobre parcela dos que não têm candidato e dos identificados com o campo de centro. A nova estratégia também tem sido utilizada nas redes sociais. Na tentativa de suavizar sua imagem, o candidato tem publicado uma espécie de álbum de momentos descontraídos. Nas fotografias, ele posa nadando com o filho caçula, se vestindo com a ajuda da neta, abraçando uma conterrânea de Sobral (CE) e dançando com a mãe. Ele colocou ainda gravação, ao lado da candidata a vice, Kátia Abreu (PDT), cantando música da cantora Dalva de Oliveira. E divulgou vídeo com memes de animais, no qual ele aparece de óculos escuros e fazendo sinal de “hang loose”, saudação que costuma ser utilizada por surfistas. (Folhapress) 

Aumento para juízes e procuradores aumenta abismo entre ricos e pobres 
Rendimentos mensais no Judiciário e no MPU já são de R$52 mil 
Da Redação 
19/08/2018 às 11:41 | Atualizado às 11:50
Se prosperar, o reajuste de 16,38% a juízes e procuradores deverá aumentar o abismo entre ricos e pobres no Brasil. Especialistas em distribuição de renda ressaltam que esses funcionários públicos fazem parte do grupo mais abastado do País, com renda mensal próxima ao 1% mais rico. Segundo dados do Imposto de Renda de 2016, os mais atuais disponíveis, o rendimento total de procuradores e promotores do Ministério Público, membros do Poder Judiciário e de integrantes de tribunais de contas é próximo a R$ 52 mil mensais. A média de renda do 1% é R$ 59 mil mensais, segundo contas do economista Marcelo Neri, coordenador do FGV Social, que combina informações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do IR. O valor inclui, além dos vencimentos, limitados ao atual teto de R$ 33.763 – que os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) pretendem corrigir para R$ 39 mil -, benefícios como auxílio-moradia e verbas indenizatórias. Isso os coloca entre as três ocupações mais bem remuneradas do País, à frente da média recebida por médicos, artistas, atletas e operadores do mercado financeiro. Elevar a renda desse estrato é alargar o fosso entre ricos e pobres, mais sujeitos às dificuldades com a economia crescendo pouco. “Aumentar a renda dos pobres reduz a desigualdade, e aumentar a renda dos ricos faz crescer a desigualdade”, afirma Rodolfo Homann, professor da Esalq/USP, especialista em estudos de distribuição de renda. Projetar a abertura da brecha é tarefa complexa, pois demandaria simular o que aconteceria em todos os estratos de renda. A pedido da reportagem, o economista foi ao passado para tentar demonstrar os efeitos de um reajuste dessa magnitude para juízes e procuradores na distribuição de riquezas em toda a pirâmide de renda do País. Simulação feita com os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2015 mostra que um aumento de 16,38% na remuneração de juízes, desembargadores, promotores e defensores públicos faria com que o Índice de Gini (uma medida de desigualdade) daquele ano subisse de 0,485 para 0,487. Na escala, quanto mais perto de 1, mais desigual é o País. “O aumento é pequeno, pois se trata de uma categoria que corresponde a menos de 0,03% do total de quase 90 milhões de pessoas ocupadas, mas não foi considerado o efeito cascata”, diz. Ele se refere aos aumentos que se sucederão com o reajuste do teto do setor público. O vencimento dos ministros do STF limita as remunerações no funcionalismo e evita que servidores acumulem, por exemplo, salários e aposentadorias em valores acima dos atuais R$ 33.763. Se o teto subir, as remunerações também subirão. O efeito sobre o Gini, no entanto, não é tão irrelevante quando se comparam os movimentos anuais do índice. Entre 2014 e 2015, o Gini da população ocupada (olhando apenas a renda dos trabalhadores) caiu de 0,491 para 0,485. Homann usou os dados da Pnad de 2015 porque têm números estatisticamente mais robustos das categorias contempladas pelo reajuste. Para o economista Carlos Góes, autor de estudos sobre desigualdade, o reajuste aos juízes no atual contexto econômico joga contra a agenda da redução da desigualdade. Ele afirma que a brecha entre os trabalhadores ricos e pobres diminuiu nos anos 2000 graças a fatores como o aumento da formalização do mercado de trabalho e da expansão de programas focados nos mais pobres, como o Bolsa Família. “No momento atual não temos essas forças compensando a pressão de aumento da desigualdade provocado pelo aumento [dos rendimentos] do funcionalismo”, afirma. Neri afirma que o setor público deveria dar o exemplo no comprometimento com o ajuste social, assumindo parte dos custos da limitação de gastos provocada pelo déficit bilionário nas contas públicas, de R$ 103 bilhões nos 12 meses encerrados em junho. Alegando falta de espaço orçamentário, o governo reajustou o Bolsa Família neste ano em 5,67%. No ano passado, a correção foi de 12,5%, após um ano (2015) sem aumentos nos benefícios. Já os ministros do Supremo tiveram o último reajuste em 2015, de 14,6%, e agora pleiteiam aumento de 16,38%. “O ajuste social é necessário e tem de ser generalizado”, arma Neri. “O Judiciário tem sido um símbolo para o País, é importante sinalizar que a restrição é para todos.” Para valer, o reajuste dos juízes tem de ser aprovado pelo Congresso, mas o Ministério do Planejamento já adiantou que, para contemplá-lo nos salários do funcionalismo em 2019, será necessário fazer uma nova LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias). Isso demandaria um novo projeto de lei e uma nova votação no Legislativo. (Mariana Carneiro, Folhapress)

NO BLOG DO JOSIAS
Politicagem prejudica o socorro a venezuelanos
Por Josias de Souza
Segunda-feira, 20/08/2018 06:30
O flagelo dos refugiados venezuelanos, que parecia apenas dramático, tornou-se trágico. Mesmo quem não entende nada de política é capaz de enxergar a politicagem por trás do surto de violência que empurrou de volta para a Venezuela cerca de 1.200 refugiados da ruína bolivariana de Nicolás Maduro. Os governos federal e de Roraima meteram-se num jogo de empurra que condiciona o socorro humanitário à superação da mesquinharia política.
Premido pela má repercussão da explosão de irracionalidade que devastou o que restava de solidariedade na cidade de Pacaraima (RR), Michel Temer reuniu um grupo de ministros em pleno domingo. Ao final do encontro, o Planalto divulgou uma nota para informar, essencialmente, que o presidente e seus auxiliares avaliam que realizam um ótimo trabalho no gerenciamento da crise dos refugiados.
O texto esclarece que Brasília “já tomou providências que somam mais de R$ 200 milhões.” Anuncia novas medidas. Mais do mesmo: abrigos, reforço policial, isso, mais aquilo e, sobretudo, a intensificação do processo de “interiorização” dos refugiados, distribuindo-os por outros Estados.
A certa altura, a nota que Temer mandou divulgar insinua que o Planalto só não ajuda mais porque o governo de Roraima, comandado pela governadora Suely Campos (PP), não deixa.
“O governo continua em condições de empregar as Forças Armadas para a Garantia da Lei e da Ordem em Roraima”, escreveu a assessoria de Temer na nota. “Por força de lei, tal iniciativa depende da solicitação expressa da senhora governadora do Estado.”
A senhora governadora subiu no caixote. Mandou dizer, por meio de um assessor: “Essa nota é infeliz e eleitoral. Nós já pedimos inúmeras vezes o envio das Forças Armadas, e fomos ignorados. Surpreende o desconhecimento do governo federal do problema em Roraima.”
Candidata à reeleição, Suely Campos é adversária ferrenha de Romero Jucá (MDB-RR), o líder do governo Temer no Senado. A portas fechadas, a turma do Alvorada destilou a suspeita de que Suely e seus correligionários estimulam reações xenófobas contra os venezuelanos. Em Roraima, a governadora e seus auxiliares acusam a União de omissão.
Quem observa a distância o empurra-empurra, com seus reflexos sobre a vida dos venezuelanos pobres que pedem socorro, fica sem saber para onde caminha a Humanidade. Mas observa com muita atenção, porque, quando souber, correrá para o outro lado.

FHC: ‘Haddad é visto como marionete do Lula’
Por Josias de Souza
20/08/2018 04:30
Num instante em que o PT começa a exibir Fernando Haddad na vitrine como virtual cabeça de chapa na corrida presidencial, o grão-tucano Fernando Henrique Cardoso grudou no potencial substituto de Lula a pecha de boneco: “Tenho uma boa relação pessoal com o Haddad. O que acho complicado é que ele está sendo visto como marionete do Lula. Um presidente tem que ter força própria para governar.”
A declaração foi feita em entrevista ao repórter Bernardo Mello Franco, veiculada na edição desta segunda-feira de O Globo. FHC repete com Haddad uma tática que empregara contra Dilma Rousseff. Na sucessão de 2010, o presidente de honra do PSDB chamara a então candidata petista de “boneca de ventríloquo”. Uma boneca cujos movimentos eram comandados por Lula.
Num artigo publicado em julho de 2010, FHC como que acomodara na cabeça de Lula um sombreiro. Insinuara que, à revelia do PT, o então presidente petista escolhera Dilma à moda dos velhos mandachuvas do mexicano PRI: no “dedazo”. Referia-se ao Partido Revolucionário Institucional, agremiação política que exerceu uma hegemonia longeva no México. Entre 1929 e 2000, todos os presidentes mexicanos eram do PRI. “O presidente indicava sozinho o candidato a sucedê-lo”, recordou FHC no artigo de 2010.
A diferença é que, em 2010, Lula estava inelegível porque acabara de concluir o segundo mandato consecutivo. Hoje, sua inelegibilidade decorre da condenação que amargou na segunda instância do Judiciário pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Preso em Curitiba, Lula tornou-se um candidato-fantasma à espera do provável indeferimento do pedido de registro de sua candidatura no TSE.
Perguntou-se a FHC se ele concorda com a pregação do PT segundo a qual “eleição sem Lula é fraude”. E ele: “Não. Vai haver eleição, e o PT vai concorrer. (…) O Comitê de Direitos Humanos da ONU declarou que o Lula deve ser candidato. Qual a base para isso? Querem que desrespeite as leis brasileiras? A lei é clara. Ele não tem, pela lei, a qualificação para ser candidato. Como é que o Tribunal vai registrar?”
Na opinião de FHC, “há uma tentativa de desmoralizar o sistema.” Ele realça: “Quem sancionou a Lei da Ficha Limpa foi o Lula. Se você foi condenado em segunda instância, não está em condições de ser candidato. Tem que cumprir a lei.”
FHC considera improvável a reedição da polarização entre PT e PSDB na atual campanha: “O PT acha que o segundo turno vai ser Haddad e Alckmin. Eu acho que pode ser Bolsonaro e Alckmin”.
E se o PSDB ficar fora? “Não farei objeção a que o PT nos apoie”, respondeu o ex-presidente tucano. “Naturalmente, isso significa também que não haveria objeção ao contrário. Mas nós pensamos de forma diferente. O que acho é que isso deve se dar dentro de uma visão democrática.”
Indagado sobre a dificuldade de Geraldo Alckmin de alçar voo, FHC atribuiu o desempenho precário do presidenciável tucano não à fadiga de materiais do PSDB, mas à “poeira” levantada pelo fenômeno Bolsonaro. “A mídia presta atenção em tudo o que é novo ou extravagante. Quando surgiu o Bolsonaro, eu disse: Vai subir. Até que o Geraldo ultrapasse a poeira, é difícil. Mas ele sempre ultrapassou.”
Para enfatizar a suposta confiança que deposita no projeto de Alckmin, FHC evocou seu próprio histórico: “Em abril de 1994, eu virei candidato. Em maio, falei com a Ruth: Vou desistir. Eu tinha 12%, o Lula tinha 40%. As pessoas não acreditavam. Em agosto, comecei a crescer. Em outubro, ganhei no primeiro turno. É claro que tinha o Plano Real. Mas não é só o que você faz. É o que você fala. Tem que cacarejar.”
FHC empilhou qualidades que, a seu juízo, Alckmin poderia cacarejar: “O Geraldo ganhou várias vezes em São Paulo. Ele é médico, tem experiência, não enriqueceu na política, não é gastador. Tem que mostrar isso. Não basta ser simpático, tem que ser confiável.”
Recordou-se a FHC que um ex-colaborador de Alckmin, Laurence Casagrande, está preso preventivamente sob a suspeita de ter patrocinado desvio milionário nas obras do Rodoanel. Sem levar as mãos ao fogo pelo preso, FHC concedeu um 'habeas-gogó' ao correligionário: “São Paulo faz muita obra. É possível que funcionários tenham ganhado alguma coisa. Mas não vi nada indo para o Alckmin. Nada que possa prejudicar a imagem dele.”
A candidatura de Bolsonaro “assusta” FHC. Falta-lhe “experiência e a visão democrática de aceitar o outro com facilidade”, avaliou. “O pior, para mim, é que ele tem soluções simplistas e autoritárias. Eu não acredito nisso. Acredito que as coisas são complicadas e que você precisa convencer. Num país diverso como o nosso, como é que você governa sem capacidade de juntar?”
Provocado, FHC comentou a declaração de Marina Silva de que, se eleita, cogita governar com os melhores. “Tudo bem. Boa intenção ajuda. Especialmente no convento, na universidade… Na política, você tem que ter um certo grau de realismo. Gosto da Marina, me dou com ela, mas não acho que vá para o segundo turno. Ela tem pouco tempo de TV. Há uma certa fragilidade na candidatura, nela mesma. O povo sente isso.”
Tomado pelas palavras, FHC parece considerar que o erro de Marina não é o de tentar distinguir os bons dos maus. Seu problema seria a incapacidade de perceber que o Brasil só avançará se os bons tiverem maldade suficiente para impor sua bondade. “Ela tem uma causa, é aberta, mas falta um pouco de malignidade”, disse FHC, antes de arrematar, entre risos: “Esse negócio de ser presidente da República não é fácil. Eu não sei por que tanta gente quer…”









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