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PROPINA ENVOLVE DIRETORIA DE GRAÇA FOSTER

Ex-gerente da Petrobras diz que propina envolveu contratos de Gás e Energia, diretoria de Graça
Segundo Pedro Barusco, cobrança era de 1% a 2% ; ‘se sabiam, conservaram para si’, diz delator sobre Graça Foster e Ildo Sauer
POR CLEIDE CARVALHO, ENVIADA ESPECIAL / RENATO ONOFRE PARA O GLOBO
SÃO PAULO e CURITIBA - O delator Pedro Barusco, ex-gerente da diretoria de Serviços da Petrobras, ​relatou que também era cobrada propina dos contratos que envolviam a Diretoria de Gás e Energia, que teve como diretores Ildo Sauer e Graça Foster. Neste caso, explicou, a propina ficava entre 1% e 2% dos valores do contrato e metade dela ia para o PT, representado por Vaccari Neto. A outra metade ia para Renato Duque. Também houve casos, segundo ele, em que a propina foi totalmente para o PT. Barusco disse que Graça Foster e Ildo Sauer, se sabiam da cobrança da propina, "conservaram isso para si". É a primeira vez que uma denúncia não está relacionada às diretorias de Abastecimento, Serviços e Internacional, alvos da Operação Lava-Jato, até então.
Barusco relatou ainda que seu ex-chefe, o então diretor de Serviços Renato Duque, pedia semanalmente R$ 50 mil em dinheiro de propina cobrada em contratos com a Petrobras e que continuou a recebê-las em conta no exterior, mesmo depois de ter deixado o posto, em 2012. Barusco afirmou ainda que Duque não precisava exigir dos empresários o pagamento de propina, pois ele era endêmico na Petrobras e “fazia parte da relação”.
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Pedro Barusco confirmou que recebeu propina da Odebrecht e da holandesa SBM em contas no exterior. Ele admitiu que o recurso ilícito era pago desde 1997 em bancos da Suíça e do Panamá. Entre os operadores que negociaram diretamente propina com o ex-funcionário da estatal estão Julio Faerman e Mario Goes.
Faerman é apontado pelos investigadores como o lobista responsável por intermediar pagamentos de propina da empresa holandesa em operações da Petrobras. De acordo com a Polícia Federal, ele pode ter pago ilegalmente US$ 30 milhões a funcionários da petroleira brasileira.
Em troca, a holandesa conseguiria contratos de locação de plataformas para exploração de petróleo em valores próximos a R$ 10 bilhões. Uma auditoria interna da SBM mostrou que, de 2007 a 2011, a empresa já havia subornado autoridades e políticos em Angola, Cazaquistão, Guiné Equatorial, Itália, Iraque e Malásia.
Barusco informou que recebeu, através da off-shore PEXO, US$ 1 milhão de funcionários da Odebrecht.
O delator contou ainda que quando Paulo Roberto Costa foi preso, na primeira fase da Lava-Jato, ele próprio mantinha em casa R$ 3 milhões em dinheiro vivo e que remeteu o montante às contas na Suíça por meio de um operador identificado como Bernardo FreiburgHauss, que trabalhava também para Costa.
Barusco afirmou que cada uma das empreiteiras do cartel tinha também um "operador".
Incomodado por fazer o gerenciamento da propina de Duque, ele afirmou que foi com ele até Milão, no Banco Drenos, onde foram abertas duas contas, identificadas como K, de Korat, e T, do qual não se recorda o nome.
Ele diz que Duque passou a utilizar ainda um intermediário chamado Roberto, brasileiro que trabalhava no banco Lombardi Odier, em Paris, onde depositou US$ 6 milhões. Segundo ele, Roberto sumiu com o dinheiro. Barusco diz que Duque quis então que Barusco assumisse com ele o prejuízo.
Barusco, que assinou acordo de delação premiada com a Justiça, afirmou que a propina de Duque era depositada em cinco bancos da Suíça. Além de Duque, disse o ex-gerente, também Jorge Luiz Zelada, ex-diretor da Área Internacional da Petrobras, também recebia propina da área de Serviços esporadicamente.
O dinheiro pago a Duque em espécie, em período "semanal", era oriundo de propina que Barusco guardava em casa.
DUQUE FICAVA COM 60% DA PROPINA, DIZ DELATOR
Barusco relatou qual era a divisão da propina. Segundo ele, Duque ficava com 60% e o próprio Barusco com 40%. Quando o pagamento de propina ocorria com a intermediação de operadores, pessoas com papel semelhante ao de Alberto Youssef, a divisão mudava: Duque ficava com 40%, Barusco com 30% e o operador com 30%.
Ele afirmou que Duque era confuso na administração do dinheiro e confirmou a participação do cartel de empreiteiras na licitação das obras da Refinaria Abreu e Lima.
Barusco disse que quando assumiu a gerência executiva da área de Engenharia, foi "bolado um projeto para as utilidades do Comperj" por Júlio Camargo - que também assinou acordo de delação premiada na Justiça. Camargo teria comentado com Paulo Ribero Costa e, quando surgiu a licitação, a propina foi embutida na formação da proposta de preços, de maneira que "naturalmente" seria paga uma parte em favor de Costa, que era da diretoria de Abastecimento.
Barusco diz que o valor da propina foi proporcional ao valor dos negócios.
Em 2003, explicou, o setor de Serviços e Engenharia gerenciava US$ 3 bilhões por ano. Quando Barusco deixou o posto, em 2011, o valor total dos negócios da área era de US$ 3 bilhões por mês e a propina "era proporcional".
Após sair da Petrobras em 2012, Renato Duque teria procurado Paulo Barusco para acertar propinas pendentes. No total, o ex-diretor de Serviços da Petrobras tinha a receber R$ 70 milhões. Desses, R$ 58 milhões só da construtora Camargo Corrêa e restante de contratos de estaleiros.
Os recursos devidos seriam pagos através das contas movimentadas por Barusco no exterior. Durante a delação premiada, o ex-gerente da Petrobras informou à Justiça que movimento, ao menos, 20 contas em bancos na Suiça, Canadá e Panamá. Além dele, Duque informou que outra pessoa, não identificada, também ficaria responsável por receber parte dos R$ 70 milhões.
Duque, segundo Barusco, teria recebido ao menos US$ 40 milhões nos anos que ficou a frente da estatal. Além das contas no exterior, parte das propinas eram pagas durante jantares nos hotéis Everest, Sofitel e Cesar Park.
Questionado sobre se havia vinculação direta a recursos da campanhas, Barusco lembrou que presenciou um pedido pessoal de Duque a Julio Faerman. Ele afirmou que o ex-diretor pediu uma doação ilegal de US$ 300 mil para a campanha de 2010.
Pelo menos quatro operadores atuavam diretamente com Duque e Barusco. Pela Camargo Corrêa e Toyo-Setal, quem ficava responsável pelo pagamento de propina era Julio Camargo, que está preso na Polícia Federal e é um dos delatores do esquema. Shinko Nakandakari representava a Galvão Engenharia; e Mario Goes, UTC, MPE, OAS, Mendes Junior, Andrade Gutierrez, Schain, Carioca e Bueno Engenharia.

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