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LAVA JATO: A PRISÃO DO TESOUREIRO DO PT E DE OUTRAS PESSOAS

Lava-Jato: PF cumpre mandados em SP, Rio, BA e SC e leva tesoureiro do PT para depor
Nona etapa da operação foca pela primeira vez em irregularidades na BR Distribuidora
POR JAILTON DE CARVALHO E CLEIDE CARVALHO, ENVIADA ESPECIAL DO O GLOBO
05/02/2015 8:11 / ATUALIZADO 05/02/2015 11:33
BRASÍLIA E CURITIBA - A Polícia Federal deflagrou na madrugada desta quinta-feira (05) a nona etapa da Operação Lava-Jato batizada de "My Way" e tenta cumprir nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Santa Catarina 62 mandados contra investigados de corrupção ativa, lavagem de dinheiro, organização criminosa e fraude em licitação na investigação que apura desvio de verbas na Petrobras. No total, a PF cumpre um mandado de prisão preventiva, três temporárias, 40 de busca e apreensão e 18 conduções coercitivas, quando a pessoa é conduzida até a delegacia para prestar depoimento. Entre estes últimos está o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, apontado como operador do esquema criminoso no depoimento do ex-gerente da estatal Pedro Barusco, que acusa o membro do partido de pedir propina. Segundo a PF, contribuíram para esta nova etapa da operação as informações oriundas da colaboração de um dos investigados, além da denúncia apresentada por uma ex-funcionária de uma das empresas investigadas. A ação, que acontece após análise de documentos e contratos apreendidos, conta com 200 policiais e 25 servidores da Receita, tem como alvos centrais operadores do esquema responsáveis por pagamentos. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO em Curitiba, um dos presos no Rio é um novo operador do esquema, que fazia papel semelhante ao do doleiro Alberto Youssef. A PF confirmou durante coletiva realizada em Curitiba que os mandados de busca têm como alvo 26 empresas, sendo a maioria delas de fachada. A maior operação desta fase foi em Santa Catarina, onde foram cumpridas duas de três prisões temporárias de sócios da empresa Arxo, que tinham negócios com a BR Distribuidora na construção de tanques de combustível. A PF destacou que é a primeira vez que o caso de corrupção sai da alçada das diretorias de Abastecimento, Serviços e Internacional da Petrobras.
A empresa Arxo, de grande porte, fabricante de tanques de combustíveis e caminhões para abastecimento de aeronaves, teria sido usada para distribuição de propina e lavagem de dinheiro no esquema da distribuidora. Um dos sócios e um diretor da empresa foram presos temporariamente. O outro está nos Estados Unidos e deve retornar ao Brasil nesta quinta-feira, segundo o delegado da Polícia Federal, Igor Romário de Paula.
De acordo com as investigações, a Arxo assinou contrato no valor de R$ 85 milhões em outubro de 2014 para fornecer 80 caminhões para abastecer aviões em aeroportos, trabalho feito pela BR Distribuidora.
Segundo o delegado Igor Romário de Paula, um grande volume de dinheiro foi apreendido numa das empresas alvo de mandados de busca e apreensão em Santa Catarina. Havia, entre o volume, moeda estrangeira. Parte estava no cofre da empresa e outra, escondida.
Nesta nona etapa, segundo o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, a operação visa a produzir provas de participação de pessoas e empresas.
Lima afirmou que a operação teve ajuda de um colaborador, mas até agora não há provas efetivas contra as empresas. Há entre elas empresas que existem e outras, chamadas "gêmeas", que servem apenas para lavagem de dinheiro.
ARRECADAÇÃO DE PROPINA ATÉ FIM DE 2014
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos integrantes da Força-Tarefa da Lava-Jato, afirmou que a arrecadação de propina de fornecedores da Petrobras continuou a ocorrer até o fim de 2014, nove meses depois da deflagração da operação, em março do ano passado. Segundo ele, a cobrança de propina atingia as áreas de Serviço e a BR Distribuidora.
- Os indícios são de que até o fim do ano passado eles operaram na área de Serviços e na BR Distribuidora - afirmou Lima.
No total, foram identificados 11 operadores, com atuação semelhante ao do doleiro Alberto Youssef, de intermediar a arrecadação do dinheiro e distribuir entre agentes políticos.
O tesoureiro do PT João Vaccari Neto é um deles e teve mandado de condução coercitiva decretado para depor na Polícia Federal em São Paulo. Também foi cumprido mandado de busca e apreensão na residência dele.
Lima afirmou que Vaccari será ouvido sobre pedidos de doação, legais e ilegais, feitos a fornecedores da área de Serviços da Petrobras.
- Nem sempre a doação passa pelo caminho legal - explicou o procurador.
O procurador afirmou que o décimo primeiro operador, que teve prisão preventiva decretada, a ser cumprida no Rio de Janeiro, é a conexão do esquema entre a área de Serviços e a BR Distribuidora e foi apontado tanto por Pedro Barusco, ex-gerente da área de Serviços que assinou acordo de delação premiada, quanto por um ex-funcionário da empresa de Santa Catarina, que relatou fatos à PF.
Segundo o procurador, os operadores têm atuação semelhante à do doleiro Alberto Youssef, de arrecadar propina e distribuir entre agentes políticos e há indícios que o esquema de arrecadação de propina continuou a ocorrer na Petrobras até o fim de 2014, nove meses após a deflagração da Lava-Jato.
Lima explicou que várias empresas de fachada estão sendo alvo de mandados de busca e apreensão nesta quinta-feira. Sete delas estavam localizadas num único endereço em São Paulo, onde não havia nada quando a Polícia Federal chegou no início da manhã.
A maior empresa identificada pela PF até agora é a Arxo, de Santa Catarina, fornecedora da BR Distribuidora. Segundo o delegado da PF, Igor de Paula, foi apreendida ali grande quantidade de dinheiro, parte num cofre e o restante escondido.
- Esperamos ter alcançado o controle da propina - disse Lima, ao comentar sobre a ação na Arxo. Dois diretores da empresa foram presos temporariamente. Um terceiro está viajando e deve ser preso ao chegar ao Brasil.
Para o procurador, a principal diferença entre o esquema da Diretoria de Abastecimento é que não havia cartel entre as empresas. O crime, neste caso, é de fraude à licitação.
​Lima explicou que a prisão de Renato Duque depende do Supremo Tribunal Federal e que a Procuradoria Geral da República já se manifestou favorável à prisão do ex-diretor da Petrobras. Segundo ele, Duque aparece no relato de vários colaboradores e provas devem ser colhidas no decorrer da operação.
- Esta fase é de colher provas materiais. Se houver fato novo, a situação (de Duque) pode mudar.​
Material apreendido pela PF durante a nova fase da Lava-Jato chega ao pátio da sede da polícia no Rio - Gabriel de Paiva/Agência O Globo
Contra Vaccari pesa ainda a suspeita de que sua cunhada, Marice Correia de Lima, teria recebido, em dezembro de 2013, R$ 110 mil de Youssef, por ordem do executivo da OAS, José Ricardo Breghirolli, preso preventivamente na Polícia Federal do Paraná.
Documentos obtidos pelo GLOBO mostram grande proximidade de Vaccari com a cunhada. Em 2002, Marice comprou uma casa dele na rua Loefgreen, em São Paulo. De 2001 a 2009, Marice foi sócia da irmã Giselda (mulher de Vaccari) na Delilah Presentes e Decorações Ltda, na Rua Frei Caneca, em São Paulo.
'MY WAY'
A PF batizou a operação de “My Way”, título de uma canção de Frank Sinatra. Segundo a polícia, era dessa forma com que o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco se referia a Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal.

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