O GOVERNO BRASILEIRO NÃO QUER ENXERGAR O QUE SE PASSA NA VENEZUELA

A Venezuela que o Itamaraty não vê
Coluna do Clóvis Rossi - 24/02/2015 02h00
O Itamaraty já não precisa ter medo de criticar o governo de Nicolás Maduro pelo assédio truculento à oposição, do qual o mais recente exemplo foi a prisão do prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma: até um "chavista" puro e duro, o cientista político Nicmer Evans, diz que falar de golpe é uma tática para desviar a atenção do público da "enorme desvalorização da moeda que temos que suportar", conforme o jornal "The New York Times".
Evans não vê "prova clara" de alguma conspiração no caso Ledezma. Trata-se de um socialista e um crítico, pela esquerda, do "madurismo", e não de um conspirador da oligarquia.
O Itamaraty também poderia tomar nota das declarações do presidente colombiano Juan Manuel Santos, que pediu respeito aos direitos dos opositores e solicitou a libertação de Leopoldo López, o líder oposicionista que antecedeu Ledezma como vítima da truculência (está preso há um ano).
Como a Colômbia é um dos três países que formam com o Brasil e o Equador a missão da Unasul para a crise venezuelana, se o Itamaraty insistir em seu silêncio, corre o risco de desmoralização.
Até o moderado José Miguel Insulza, socialista chileno que é secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, diz que a prisão do prefeito de Caracas provocou "forte alarme pela forma como foi levada a cabo e pelo caráter de mandatário eleito, no exercício de seu cargo".
Como mostrou nesta segunda-feira (23) na Folha o excelente Samy Adghirni, não é o único prefeito que o governo acossa: são 42,8% os prefeitos oposicionistas às voltas com a Justiça, que de cega não tem nada.
Um grupo de advogados divulgou estudo, no ano passado, para demonstrar que, em 45 mil decisões emitidas de 2004 a 2013 pelas câmaras constitucional, administrativa e eleitoral da Suprema Corte, não houve uma única contrária ao governo.
É óbvio que se trata de uma demonstração definitiva de que o Judiciário não é um poder independente, mas um mero apêndice do Executivo.
O Itamaraty sabe perfeitamente que a situação econômica da Venezuela é de ruína, com inflação recorde no hemisfério Sul, com desabastecimento agudo e com recessão.
O que talvez não saiba é que até as conquistas sociais inegáveis dos primeiros anos do chavismo estão sendo corroídas pela crise.
Estudo de três universidades divulgado no fim de semana revela que só 8,4% das pessoas que vivem em pobreza extrema são beneficiárias de alguma "missão" social ("misiones" é como o chavismo chama seus programas assistencialistas).
Escrevem, em "El Nacional", Maolis Castro e Laura Helena Castillo: "Os programas assistenciais, que nasceram em 2003 para atender aos setores de menos recursos, se converteram em uma solução para comprar a preços subsidiados desde um frango até uma casa. Mas sua oferta está longe de ser maciça: nos últimos cinco anos, o número de atendidos baixou de 2,5 milhões a 2 milhões".
Se há golpe na Venezuela, é do governo, contra a democracia e a economia.

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