JOIAS DA POESIA CONTEMPORÂNEA
Alma e corpo
Antero de Quental
Disse a Alma, chorando, ao Corpo aflito:
– Por que me prendes, triste barro escuro,
Se busco o Espaço imenso, se procuro
O império resplendente do infinito?
II
Por que me deste a dor por sambenito(1)
No caminho terrestre áspero e duro?
Por que me algemas a sinistro muro,
O coração cansado, ermo e proscrito?
III
Mas o Corpo exclamou: - Cala-te e ama!
Eu sou, na Terra, a cruz de cinza e lama
Que te serve de ninho, templo e grade...
IV
Mas dos meus braços partirás, um dia,
Para a glória celeste da alegria,
Nos castelos de luz da eternidade!...
(1) Sambenito - hábito de baeta amarela e verde, que os penitentes vestiam pela cabeça à moda de saco e trajavam nos autos-de-fé.
-Do livro Relicário de Luz, obra mediúnica psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
-Do O Consolador (Joias da Poesia Contemporânea) de 07-9-2014.
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