AVE, MARIA

Maria de Nazaré – bendita entre as mulheres
EUGÊNIA PICKINA
eugeniapickina@gmail.com
Campinas, SP (Brasil)

A maioria das religiões cristãs reverencia Maria de Nazaré com amor, carinho e profunda gratidão. 
Como um Espírito elevadíssimo, desde que aceitou ser mãe de Jesus, a filha de Ana e Joaquim, judeus radicados na região de Nazaré, revelou à humanidade uma natural submissão à Vontade de Deus, já anunciada na sua resposta ao mensageiro Gabriel: “Diga-lhe que sou sua serva. Cumpra-se na minha história a tua palavra”. 
No Espiritismo igualmente assimilamos Maria como uma nobre Entidade, que, divinamente inspirada, aceitou a arriscada missão de acolher o menino Jesus, colaborando desde então com o futuro reino de justiça e igualdade a ser firmado na Terra.  
Segundo a narrativa de Emmanuel, o mentor de Francisco Cândido Xavier, o apóstolo Paulo, ao visitar Éfeso, atendendo a solicitações de João para promover a fundação definitiva da igreja cristã naquela cidade, com delicadeza extrema, visitou a Mãe de Jesus na sua casinha singela, que dava para o mar. Impressionou-se fortemente com a humildade daquela criatura simples e amorosa, que mais se assemelhava a um anjo vestido de mulher. Paulo de Tarso interessou-se pelas suas narrativas cariciosas, a respeito da noite de nascimento do Mestre, gravou no íntimo suas divinas impressões e prometeu voltar na primeira oportunidade, a fim de recolher os dados indispensáveis ao Evangelho que pretendia escrever para os cristãos do futuro. Maria colocou-se à sua disposição, com grande alegria (1). 
Mas Paulo não voltou a encontrar Maria para dar realidade a esse desejo que julgava imprescindível para um fiel registro da história cristã. Assim, quando esteve preso em Cesareia, o Apóstolo dos gentios pediu a Lucas, seu leal amigo, o cumprimento da promessa que ele havia feito à Mãe de Jesus. 
Na época da entrevista com Lucas, Maria tinha uma idade avançada, mas a ele demonstrou uma inteligência arguta e assistida por uma memória muito sadia, expressiva. O médico grego, então, fundamentou seu Evangelho de acordo com as informações narradas pela Mãe de Jesus, em especial os preciosos trechos dos primeiros anos do Mestre, bem como algumas de suas inesquecíveis parábolas. 
Ambos os evangelistas, Mateus e Lucas, anotam informações sobre a concepção e infância de Jesus. Contudo, o registro de Mateus é módico e, segundo estudiosos da gênese cristã, valoriza o relato a partir de uma perspectiva judaico-patriarcal – o conflito de José.  
Por sua vez, como alguém que esteve com a Mãe de Jesus, aproximadamente no ano 60 d.C., data historicamente aceitável da escrita do seu Evangelho, Lucas transcreve a concepção e infância do Cristo a partir da vivência subjetiva de Maria, extraindo a riqueza dos fatos a partir da sua intacta memória, amplamente irrigada por sua fé inabalável; e apenas ele, o médico grego, anota, por exemplo, a conversa do mensageiro Gabriel com a justa serva de Deus, legando à posteridade a narrativa revelada pela bendita entre as mulheres. 
O Espírito Humberto de Campos dedica também trechos de seus escritos a Maria, registrando passagens significativas para os adeptos do Cristianismo, como as impressões dolorosas da Mãe das mães diante do filho inocente crucificado, a sua curta passagem por Betaneia, a mudança com João Evangelista para Éfeso, onde estabeleceriam um pouso e refúgio aos desamparados, ensinariam as verdades do Evangelho a todos os Espíritos de boa vontade e, como mãe e filho, iniciariam uma nova era de amor, na comunidade universal (...)
(...) Decorridos alguns meses, grandes fileiras de necessitados acorriam ao sítio singelo e generoso (...). Sua choupana era, então, conhecida pelo nome de Casa da Santíssima (...). Eram velhos desenganados do mundo, que lhe vinham ouvir as palavras confortadoras e afetuosas; enfermos que invocavam a sua proteção; mães infortunadas que pediam a bênção de seu carinho (2). 
Miriam de Nazaré, Maria, no plano espiritual continua a abraçar tarefas exigentes de amor incondicionado (amor por todos os irmãos e irmãs de Jesus) para demonstrar que Deus não está longe de nós, e Ele é nossa mais profunda realidade.  
Assim, no livro Memórias de um Suicida, recebido pela médium Yvonne A. Pereira, tomamos ciência da assistência especializada aos suicidas pela Legião dos Servos de Maria, “chefiada pelo grande Espírito Maria de Nazaré, ser angélico e sublime que na Terra mereceu a missão honrosa de seguir, com solicitudes maternais, Aquele que foi o redentor dos homens” (3). 
Como uma amostra antecipada daquilo que será realidade um dia para todas as mulheres, Maria, como colaboradora de Jesus, ajuda a humanidade a caminhar para ser fonte de luz, atuando de forma terna, mas incisiva pela instauração do estado regenerado no planeta, onde todos teremos efetiva participação nas ações irrigadas de bem e belo.  
A força luminosa de Maria, cujo feminino “engrandece ao Senhor” (Magnificat), não é apenas apanágio dos cristãos, pois sua atuação cosmopolita no Invisível é um chamado para todas as mulheres seguirem o Mestre com ternura e coragem na defesa da lei áurea e para todos nós que comungamos um destino comum: “Não façam aos outros o que não querem que façam a vocês”.  
Ligado talvez às memórias espirituais, que se perdem no tempo, pessoalmente conservo um profundo amor pela Mãe de Jesus. Sem receio retiro de sua sublime biografia alguns predicados indispensáveis à segurança de um projeto humano infinito que, no nível existencial, é aberto e inclusivo, ou seja, não ignora a perspectiva da vida relacional, necessariamente alimentada pelo húmus do cuidado, do afeto, da confiança e pela intercomunhão – a meu ver qualidades femininas-marianas, já visíveis em muitas “Marias” anônimas que estão a caminhar conosco. Salve! 
Por essa razão, irmãos meus, quando ouvirdes o cântico nos templos das diversas famílias religiosas do Cristianismo, não vos esqueçais de fazer no coração um brando silêncio para que a Rosa Mística de Nazaré espalhe aí o seu perfume! (4) 

(*) Nota:
Quando Maria encontra sua prima Isabel e esta a exulta com a célebre frase de saudação “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”, ela, num momento de rara beleza, profere um poema que ficou conhecido comoMagnificat. E este poema, que revela a inteligência incomum de Maria, está escrito no Evangelho de Lucas. Eu me vali da tradução usada por Augusto Cury no seu harmonioso livro Maria, a maior educadora da História, da Editora Planeta, 2007.
Magnificat
A minha alma engrandece ao Senhor
E o meu espírito exulta em Deus, meu salvador,
Porque Ele pôs os olhos sobre sua humilde serva.
Sim, doravante todas as gerações me considerarão bem-aventurada
Porque o Todo-Poderoso me fez grandes coisas: santo é o Seu Nome.
A Sua bondade se estende de geração em geração sobre os que O temem.
Ele interveio com toda a força do seu braço;
Dispersou os homens de pensamentos orgulhosos;
Precipitou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes;
Cobriu os famintos de bens e despediu os ricos de mãos vazias.
Veio em socorro de Israel, seu servo, lembrando de sua bondade,
Como dissera a nossos pais, em favor de Abraão e sua descendência,
para sempre.

Referências biográficas:
(1) Xavier, F. C., pelo Espírito Emmanuel. A caminho da luz. 13 ed. FEB: 1985, pp. 104-105.
(2) Xavier, F. C., pelo Espírito Humberto de Campos. Boa Nova. 15 ed. FEB: 1984, pp. 20-21.
(3) Pereira, Yvonne A., pelo Espírito Camilo Cândido Botelho. Memórias de um Suicida. 12 ed. FEB: 1985, p. 57.
(4) Xavier, F. C., pelo Espírito Humberto de Campos. Boa Nova. 15 ed. FEB: 1984, p. 202. 

Extraído do www.oconsolador.com.br (Crônicas e Artigos) de 11-5-14.

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