UMAS E OUTRAS DO HELIO FERNANDES - 21-3-14


HELIO FERNANDES –

A denúncia-revelação do jornal Estado de São Paulo, minuciosa, indefensável, definitiva. Nada a acrescentar, apenas a interpretar. E qualquer que seja o ângulo da análise, condenação, e mais do que isso, confissão implícita e explicita da principal personagem. E o silêncio de todos os outros. Inclusive ou principalmente dela. Que quando falou, estarreceu o país, e se complicou de forma a justificar qualquer renúncia ou até impeachment.
Considerada a mais competente no assunto, era Chefe da Casa Civil, mas viera do Ministério de Minas e Energia. E ocupava a posição de presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Portanto, no entendimento da própria personagem, fica em silêncio ou mergulha na espantosa e inacreditável operação refinaria de Pasadena.
Algumas perguntas que precisam de resposta
1 – A compra dessa refinaria, no exterior, era um bom negócio para a Petrobras? Nem chegaram a examinar, o representante internacional da Petrobras, “recomendou”, todos assinaram. Na época, a compra dessa refinaria teve grande repercussão na AEPET, empresa de engenheiros da própria empresa. A AEPET era, então, poderosa e prestigiada.
2 – O que era necessário e indispensável para a Petrobras? Uma refinaria nos EUA ou aqui no Brasil? Nem se discute. A própria Petrobras, antes, durante a compra e até hoje, as diversas direções da empresa, se queixavam, publicamente: “A Petrobras se ressente da falta de refinarias”.
3 – Essa situação comprometia a operação e a eficiência da empresa. Então por que comprar por 360 milhões de dólares essa refinaria de Pasadena?
O Preço
4 – A empresa belga que vendeu a refinaria para os ingênuos (?), inócuos (?), desinformados (?), dirigentes da diretoria e conselheiros, nem se preocuparam com o “detalhe” que examinaram: compraram a refinaria de um grupo belga, por 42 milhões de dólares, 1 ano depois revenderam para a Petrobras por 360 milhões.
5 – Deixo para Dona Dilma e José Sérgio Gabrielli, então presidente, a explicação numérica e aritmética sobre a diferença de uma compra por 42 milhões e a revenda por 360 milhões.
6 – Logo depois, por causa de cláusulas absurdas para a Petrobras, mas que estavam claramente estipuladas no contrato, “o governo dos EUA, obrigou a empresa brasileira a comprar os outros 50 por cento da refinaria”. 7 – Aí, nada a fazer, nenhuma opção, tinham que comprar para cumprir o que assinaram.
Prejuízos em cima de prejuízos
8 – Pagaram mais 360 milhões de dólares (sem incluir “penduricalhos”) que estavam visíveis no contrato inicial. Se tivessem lido, não teriam comprado uma refinaria, cara e inútil nos EUA, barata e indispensável aqui no Brasil.
9 – O presidente da Diretoria (é assim que se chama) da Petrobras, e os 18 conselheiros da época, comprometidos totalmente, não quiseram falar, se refugiram no silêncio.
10 – Não há dúvida que a responsabilidade é toda do presidente, no caso José Sérgio Gabrielli. 
11 – Embora fique claro, se o Conselho de administração e o seu presidente, no caso Dona Dilma, que acumulava com a chefia da Casa Civil, se quisessem poderiam interferir, anular ou até não avalizar o contrato.
Além do recebimento do jeton, até onde vai o poder desse Conselho
Esse trabalho altamente jornalístico do Estado de São Paulo, deixa escancarado para a opinião pública, a fragilidade, a privilegiada e recompensadora posição dos membros do Conselho de administração da Petrobras. (E de outras empresas estatais).
Quase todos os indicados e nomeados, ocupam os cargos por causa do jeton, que reforça o que recebem como ministros ou outros altos cargos.
Existe até “uma cota” para generais, não oficial ou oficializada, mas que é cumprida. Com isso, ninguém se incomoda de assinar sem ler. Por que comprometer esse jeton indispensável? Criada durante a ditadura dos generais, mantida sem nenhuma alteração.
A participação de Dona Dilma
Tida e havida como “gerentona”, se orgulhava disso, que no episódio, provou não ter nenhuma base na realidade. E mais tarde, como presidente, se concretizou como inutilidade.
Desde o início da presidência, “demitiu” sete ministros, jogou todos para “debaixo do tapete”, fingiu (ou não percebeu) que isso era administrar. Ou justificar a palavra “gerentona”, desperdiçada diariamente.
O que a Chefe da Casa Civil, e presidente do Conselho deveria ter feito, bastava ler o contrato
Rigorosamente verdadeiro: custou a quebrar o silêncio, mas quando falou, desbravou os caminhos. Mostrou que leu e se omitiu. É ela mesma que confessa e por isso tem que ser responsabilizada. (O Tribunal de Contas da União, representado pelo ex-senador José Jorge, quase se aposentando pela idade, a Polícia Federal, o Ministério Público, deputados e senadores podem investigar Dona Dilma. Fica faltando a CPI).
Resumo da confissão de culpa da presidente nada “gerentona”
Parece contradição, mas ao próprio jornal denunciante, Dona Dilma revelou: “Apoiei a compra, porque recebi INFORMAÇÕES INCOMPLETAS junto com um parecer TÉCNICA E JURIDICAMENTE FALHO”.
Inacreditável e incompreensível. O que Dona Dilma apresenta como JUSTIFICATIVA para assinar e avalizar o contrato era exatamente o que serviria para ANULÁ-LO, ELIMINÁ-LO, não ASSINÁ-LO.
Os prejuízos da Petrobras e do país, irrecuperáveis
A Petrobras continua dona (será essa a denominação?) da refinaria de Pasadena. E aqui, precisa imediatamente de uma quantidade delas, não seguramente quantificadas. As despesas dessa refinaria inútil, são diárias, pagas obrigatoriamente pela empresa e não por qualquer pessoa física.
Houve corrupção?
Por enquanto não existem sinais. Mas o fato da empresa estar sendo investigada por supostas propinas, altíssimas, pagas a representantes da Holanda, deixam claro que pode ter havido desvio de dinheiro na operação. No Brasil, mais do que provado, é quase impossível realizar um negócio de quase 3 BILHÕES, sem que haja algum “por fora” ou por dentro, para participantes.
Antonio Palocci
Nenhuma acusação, apenas lembranças. Participava desse Conselho, o senhor Antonio Palocci, demitido desonrosamente por Lula e pela própria Dilma. Era todo poderoso Ministro da Fazenda, demitido por Lula, irregularidades. Importante Chefe da Casa Civil de Dilma, teve que sair, acumulou mais dinheiro do que podia explicar, Dona Dilma demitiu-o. Isso vai longe, embora, acredito, Dona Dilma será reeleita e inocentada. É o Brasil de antes e de agora, praticamente os mesmos personagens.
PS – Depois da decisão sobre Brizola, Goulart continuou a tentativa de permanência no Poder. Em junho mandou para o Congresso, o segundo pedido de intervenção na Guanabara.
PS2 – Para Jango, que sempre morou no Rio-Distrito Federal, a Guanabara era uma obsessão, principalmente por causa de Carlos Lacerda e Helio Fernandes. Novamente lideres do PSD-PTB, (hoje se chamariam “partidos da base”), disseram a Jango que esse pedido de intervenção não seria aprovado.
PS3 – Nesse maio de 1963, tendo recuperado todos os poderes com o plebiscito de 6 de janeiro, o presidente continuava a desafiar forças mais importantes do que ele.
PS4 – Desinformado, Jango não sabia ou não percebeu que esses militares, generais da ativa, se reuniam e articulavam para enfrentá-lo. Os campos estavam rigorosamente definidos.
PS5 – E não só os que ele considerava inimigos. Depois de recusada sua proposta de ser Ministro da Fazenda, Brizola se afastou completamente, não falou mais com o presidente.
PS6 – No dia 16 de junho, os generais já cogitavam de quem ficaria na “presidência”, no lugar de Jango. Fizeram uma reunião na casa do general Orlando Geisel, trataram com a maior tranquilidade da “sucessão” de Jango. Presentes, além do dono da casa, Costa e Silva e Castelo Branco, Chefe do Estado Maior do Exército.
PS7 – Castelo, da turma dos “Tenentes” de 1922, jamais participara de movimento algum, sempre foi neutro.
PS8 – O fato de participar agora, antes da presidência estar vaga, reforçou os golpistas. Mas Costa e Silva e Orlando Geisel, viam surgir um concorrente, acreditavam que a sucessão estava entre eles dois.
PS9 – Despudorados e descompromissados, podem contar o que bem entenderem. São estrategistas magistrais. Aderiram, enriqueceram, que maravilha viver.
PS10 – Como ninguém mais pode desestabiliza-los ou empobrecê-los, “desaderiram” gloriosamente.
PS11 – E estão contando a história de 50 anos antes. Quer dizer, a “verdade deles”. História, com direito a rever o que da linha do horizonte de hoje, parece apenas um equívoco jornalístico e editorial.
PS12 – Faltam apenas 11 dias, esperemos. Afinal no 1º de Abril, todos conspiravam. O presidente João Goulart, os 6 governadores mais importantes do Brasil.
PS13 – E mais JK e Brizola, que acompanhavam tudo, com personalidade mas sem cargos executivos. Todos estão mortos.
PS14 – Ninguém conspirou com mais competência do que os generais. Foram os grandes vitoriosos. Nenhuma surpresa. Ganhavam e ganharam sempre, desde a República.

Da Tribuna da Imprensa de 21-3-14.

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