EM QUE VAI DAR A CPI DA PETROBRAS?

A CPI é um fetiche da política brasileira. Entre as várias lendas nem tão lendárias que se institucionalizaram a seu respeito está a frase de autor desconhecido: “Sempre se sabe como uma CPI começa mas nunca se sabe como termina”.
Por isso é regra: por princípio, quem está no poder é contra CPIs e quem está na oposição sempre está querendo abrir uma, sobre qualquer assunto. Embora ninguém tenha nada a esconder, ninguém quer ser investigado.
Verdade que nunca se sabe como termina uma CPI, mas não é menos verdade que na maioria das vezes termina em “pizza”.
(Como reza a lenda da origem da expressão, terminar em pizza remonta às velhas e sangrentas batalhas internas que dividiam os cartolas do Palmeiras em exércitos inimigos. Quando parecia que estavam prestes a consumar o extermínio mútuo, acabavam fazendo as pazes e dividindo fatias de pizza na cantina mais próxima).
Como é um fetiche político, a CPI é tratada como tal. O ministro da Justiça, em uma de suas perorações cheias de platitudes, disse ser contra a CPI da Petrobrás porque a oposição quer fazer uso político — e consequentemente eleitoral — dela.
A extraordinária afirmação do ministro leva à conclusão de que, sabe-se lá por qual extravagância, os políticos querem fazer política e a oposição tem o patológico vício de se opor ao governo.
Outros, menos filosóficos e mais preocupados com seus próprios interesses corporativos, como a Federação Única dos Petroleiros, declara que a CPI é mais uma manobra “do DEM, do PSDB e das grandes empresas de comunicação, que visa à privatização da Petrobrás”.
Como nem os dois partidos citados nem as empresas de comunicação reúnem votos suficientes para instalar uma CPI, ignora-se, de propósito, que parte da base governista também achou que os estranhos negócios da ex 12ª empresa do mundo e atual 112ª , que perdeu metade de seu valor de mercado em 5 anos, merece algo mais do que “uma rigorosa sindicância interna”, que costuma ser a mãe das pizzarias.
Há alguma coisa de doentio em acreditar que um negócio como o de Pasadena seja normal, mesmo com a confissão da ex-presidente do conselho de administração e atual presidente da República de que só aprovou o negócio por ter sido induzida ao erro por um resumo executivo de 3 páginas “incompleto e falho” — motivo pelo qual, aliás, o autor foi demitido ainda que seis anos mais tarde.
Também é doentio acreditar que seja normal que a atual presidente da companhia declare que desconhecia a existência de “um comitê de proprietários” da refinaria de Pasadena, no qual a Petrobrás era representada pelo diretor Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia Federal sob acusação de “lavagem de dinheiro”.
É muita insolência achar que investigar isso seja uma conspiração. Como dizia Millôr Fernandes em uma de suas últimas entrevistas, “quando se passa por um período de esculhambação generalizada, a sociedade cobra lei e ordem”.
E é aí que mora o perigo. Sabemos no que isso vai dar. A CPI, pelo menos, pode ser uma catarse política.

(Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez e "Armênio Guedes, Sereno Guerreito da Liberdade"(editora Barcarolla). E.mail: svaia@uol.com.br.

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