UMAS E OUTRAS DO HELIO FERNANDES

O Brasil na Segunda Guerra Mundial. Lembranças do repórter, os livros do general Lima Brayner e do grande jornalista Joel Silveira. E Guilherme Estrella no Planalto: lido, relido, comentado, execrado.

Helio Fernandes
Como falaram muito sobre o assunto, procuraremos esclarecer os fatos. O Exército, na Segunda Guerra Mundial, mandou 25 mil homens para a Itália. Com a subserviência de Mussolini a Hitler, a Itália não foi centro de combates importantes.
Quando Hitler ordenou a Mussolini que invadisse a Etiópia, e facilmente derrotado, foi escorraçado por Hitler, que passou a tratá-lo com o maior desprezo. Os primeiros contingentes da FEB (a FAB, diferente) saíram do Brasil em 1942, o mistério era total, ninguém sabia para onde iriam. Das grandes famílias tradicionais de militares, não foi ninguém.
(Golbery foi em 1944, para comandar a volta dos brasileiros). Dos 25 mil homens que foram, morreram 249, exatamente um por cento (dados oficiais). Como as tempestades era terríveis, muitos desses 249 foram vitimados por acidentes de automóveis e “pé de trincheira”, quase ninguém em combate. Nas estradas magníficas, dirigiam jipes em velocidade incrível.
Na verdade, não houve “guerra de movimento”, e sim a troca de “chumbo”, de um lado para o outro. Que um historiador nazista (como foi dito aqui) falou “nunca ouvi falar da participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial”, apenas prova que ele deve ter sido muito mais nazista do que historiador.
AS DUAS BATALHAS 
DE MONTE CASTELO

Como está no título, foram duas e não uma, inteiramente diferentes. A primeira, coordenada pelo tenente-coronel Castelo Branco (ele mesmo), fracasso total, que provocou episódios e debates intensos. Com Castelo Branco chorando (sem nenhum exagero) diante das acusações gerais. E principalmente do também tenente-coronel Amaury Kruel (os dois da mesma turma da Escola Militar, então em Realengo).
Até a “cobertura” dos aviões, pedida por Castelo, foi inconsequente, incompetente, imprudente. Os soldados brasileiros eram massacrados e mortos pela própria aviação, marcada em hora inteiramente inadequada. Os alemães, do alto do morro, bebendo cerveja, acertavam os brasileiros, que tiveram que recuar.
A SEGUNDA INVASÃO, 
SEM CASTELO BRANCO

Depois da intervenção do general Floriano de Lima Brayner (chefe do Estado-Maior do Marechal Mascarenhas de Moraes, e depois, na madrugada de 11 de novembro de 1955, chefe da Casa Militar do então presidente Nereu Ramos), começou a vitoriosa “subida de Monte Castelo Branco”.
Vitória facílima dos soldados brasileiros, com a FAB acertando diretamente os nazistas, que fugiram covardemente. Perdas mínimas, ao contrário da primeira tentativa de tomar o Monte Castelo.
FLORIANO DE LIMA BRAYNER,
DOIS LIVROS INCONTESTÁVEIS

Estou citando tudo de memória, mas quem quiser não precisa fazer o menor esforço, basta ler os dois livros. O primeiro com Lima Brayner ainda general, O segundo, já como marechal. Dois libelos, depoimentos terríveis contra Castelo Branco. Sem resposta de ninguém. Nem o próprio, que apesar de extremamente vaidoso, não esboçou resposta ou explicação.
Tudo sobre a primeira invasão de Monte Castelo está ali. E o que o marechal Lima Brayner diz sobre Castelo Branco oficial e Castelo Branco pessoa física invalidaria sua permanência no Exército, E por que o primeiro “presidente” depois do golpe?
OS DOIS LIVROS
DE JOEL SILVEIRA

Foi correspondente dos Diários Associados na Itália e um dos maiores jornalistas brasileiros de todos os tempos. Assis Chateaubriand chamou-o para a missão jornalística, recomendou: “Não vá morrer, repórter é para escrever e não para morrer”. E Joel, que escrevia magnificamente e adorava viver, fez as duas coisas.
Os dois livros do Joel e os dois do Marechal, imperdíveis, irrepreensíveis, extraordinários. O primeiro do Joel veio quase pronto da Itália. O segundo escrito aqui parece ou é mesmo muito melhor.
O do Joel é reportagem pura, o de Lima Brayner, documentário-libelo. Dá a impressão de que são diferentes, até pode ser na identificação, mas não no conteúdo. Da mesma geração, fomos intimíssimos. A última função jornalística dele, editor da revista “Mundo Ilustrado”, do Diário de Notícias. Nessa época eu fazia artigo e coluna no mesmo Diário de Notícias, trabalhávamos no enorme prédio da Rua do Riachuelo,
POR QUE A DOENÇA
TÃO DEVASTADORA?

O fim de Joel foi dramático. Bonito, com físico privilegiado, boêmio, viveu intensamente. Inesperadamente é atingido por uma doença estranha, foi engordando assustadoramente. (Não sei o nome da doença, muita gente aqui, tenho certeza, informará na hora, agradeço antecipadamente).
Fui ao lançamento do último livro do Joel (não sobre guerra), numa livraria pequena do Leblon. Com 160 quilos, autografava sentado no chão. Quando me viu, tentou levantar, falou: “Não posso deixar de dar um abraço no Helio”. Perdi o abraço daquela noite, e logo depois perdi o amigo, ele não se levantou do chão. Mas deixou uma história vivida, contada, reverenciada.
GUILHERME ESTRELLA NO PLANALTO:
LIDO, RELIDO, COMENTADO, EXECRADO

Anteontem, no Planalto, só se tratava do que foi dito, estrategicamente, pelo ex-diretor de Produção da Petrobras. A reunião, não anunciada para parecer acidental, dominou o dia. A repórter da Folha, Eleonora de Lucena, deve e pode ficar feliz: sobre a mesa da reunião, seis exemplares do jornal.
Alguns separaram a página com a entrevista, não esconderam: “Fica mais fácil assim”. Os exemplares, todos rabiscados ou, se quiserem, “assinalados”. Mais importante: alguns criticaram duramente Estrella e chegaram a dizer: “Como é que um diretor da Petrobras PODE SE MANIFESTAR contra a empresa na qual foi diretor exatamente de produção?”
Não houve uma opinião, um comentário, uma análise a favor ou pelo menos isenta, a respeito da entrevista. Lógico, Dona Dilma estava presente, a relação dela com ministros e assessores tidos como de “primeiro time”, é invariavelmente na base do medo, do susto, da intimidação. Respeito? Isso tem que ser obrigatório e essencial. Mas o que contam sobre essas reuniões é realmente assustador, palavra insubstituível.
A PETROBRAS NÃO TEM
RECURSOS SOZINHA

O refúgio dos que consideram que “a PARTILHA foi uma solução genial e continuará sendo”, permanecerá.
Dilma não admite a menor restrição ao que decidiu SOZINHA, pelo menos é o que se diz. Quase sem voz e com muito medo. Como é que um país pode ser “governado” dessa forma? E com 39 ministros, alguns que nem conhecem o caminho do Planalto. E fora de lá, não seriam identificados?
Estão se lamentando dolorosamente, e não dizem, mas o que mais “doeu” na entrevista de Estrella: o fato dele ter dito pela primeira vez e sem a menor restrição: “Essas empresas petrolíferas estrangeiras representam interesses de potências estrangeiras, que serão sócias do Estado”.
DORMINDO COM
O INIMIGO

Portanto, mais do que irrespondível: o risco não é (ou supostamente será) financeiro, mas sim de gestão. Financeiramente existem formas de exploração, o Brasil tem o mais importante, gigantescas reservas de petróleo, que não ficarão sepultadas.
O RISCO, de verdade, é o de ter colocado o inimigo dentro de casa, o inimigo-potência, o falso amigo. Poderosos e não assustadores de longe. Mas impiedosos e ainda mais poderosos, aqui dentro. E com “passaporte vermelho”, especial, concedido pelo próprio governo, Estado, presidente.
Da Tribuna da Imprensa de 31-10-2013.

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