Ó TEMPOS, Ó COSTUMES!


“Ó tempora, ó mores”!

Frei Lourenço M. Papin, OP
Da Equipe de Colaboradores

É uma antiga e concisa exclamação da língua latina de fácil tradução: “Ó tempos, ó costumes”! Foi muito usada pelo famoso senador e escritor romano Cícero, sobretudo combatendo seu adversário político, Catilina, que ameaçava a segurança do Império Romano. Aliás, tornaram-se antológicas estas suas palavras: “Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência”?
Essa exclamação continuou sendo usada por outros escritores latinos, inclusive por São Jerônimo (o grande exegeta do séc. IV), quase sempre para indicar indignação diante de situações de decadência moral e de atentado contra o bem comum da sociedade.
Sem incorrer em falsos moralismos, cremos que não seria anacrônico usar essa exclamação latina diante de tantos aspectos da atual conjuntura histórica em que vivemos, dentro e além das fronteiras de nosso país. 
“Ó tempora, ó mores”! Quantos atentados contra a vida humana desde seu surgir no ventre materno até ao seu natural desfecho! Quantos movimentos e campanhas pelo aborto indiscriminado e descriminalizado!
“Ó tempora, ó mores”! É lamentável a banalização da sexualidade. Tantas formas de hedonismo invadem os lares pela mídia, sobretudo pela televisão, atentando contra a sadia educação dos filhos.
É dolorosamente lastimável toda forma de prostituição e exploração da pessoa, como o permissivismo sexual comum entre adultos e jovens. 
“Ó tempora, ó mores”! O abuso da maravilhosa descoberta da Internet, sorrateiramente está fazendo dela veículo de tantos desmandos morais poluidores do corpo e do psiquismo humano.
“Ó tempora, ó mores”! Deparamos com a globalização, ou melhor, a globocolonização econômica neoliberal que concentra os bens e riquezas em mãos de uma minoria privilegiada, em prejuízo do bem estar comum da maioria. Estatística recente da FAO denuncia que mais de um bilhão de pessoas no mundo passa fome! É neoliberalismo como sistema político-econômico que prioriza e absolutiza as frias leis do mercado em detrimento da pessoa.
Não obstante tantos progressos da humanidade, constatamos ainda tantas formas de colonialismo, de escravidão, de guerras e de violências físicas ou psicológicas, de desrespeito às liberdades fundamentais da pessoa humana.
“O tempora, ó mores”! Com raras exceções a política deixa de ser ideal patriótico de vida a serviço do bem comum para tornar-se mera busca de interesses pessoais ou de grupos. Paralelamente à política caminha a corrupção institucionalizada que se alteia em norma de agir de pessoas e grupos nos diversos segmentos da vida política, econômica e social.
E que dizer do consumismo exagerado e avassalador, como também da ganância financeira acumuladora que se contrapõem a um sistema de vida mais simples e sóbrio.
“Ó tempora, ó mores”! A natureza está sendo violentada. Convençamo-nos que ela não precisa de nós. Somos nós que precisamos dela!
“Ó tempora, ó mores”! Quantas vezes encontramos no âmbito de Instituições Religiosas, cristãs ou não, ambigüidades morais que ofuscam sua própria sacralidade e causam tantos dissabores.
É inaceitável todo fundamentalismo religioso, não importa sua origem, que leva às mais diversas atitudes de fanatismo e radicalismo ou que se apresentam proselitistas, donas da verdade, tantas vezes manipulando a religiosidade dos fiéis em vista de lucros financeiros.
Se a citada exclamação latina levou-me a essas pinceladas de alguns pontos negativos da nossa conjuntura histórica, quero afirmar que acreditamos na superação de todos eles.
No otimismo da esperança cristã, vislumbram-se, no horizonte da história, sinais concretos de transformação moral e ética da sociedade. Há multidões de pessoas, movimentos populares, Igreja, comunidades e organizações sociais lutando por exigências éticas na política e nas diversas áreas da atividade humana. Providencialmente torna-se universal a mentalidade ecológica.
Por toda parte se combate o bom combate da justiça social e da paz, da solidariedade e da fraternidade universal.
“Não temos de aceitar o mundo como ele é. Podemos refazê-lo da maneira como deveria ser”. (Barack Obama, dirigindo a árabes e muçulmanos, em junho passado, na cidade do Cairo).
“Um outro mundo é possível” é o slogan esperançoso do Fórum Social Mundial.
Como cristãos, “o que nós esperamos são novos céus e uma nova terra onde habitará a Justiça” (2 Pd , 3, 13).

Extraído da página http://www2.uol.com.br

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