MULTIDÕES FAZEM MILAGRES

O país que suportou em silêncio o império dos farsantes descobriu no inverno de 2013 que multidões indignadas fazem milagres

O enterro sem choro nem vela da PEC 37, decretado pela Câmara nesta terça-feira por 430 votos contra 9, confirmou que multidão indignada faz milagre. Faz até deputado brasileiro criar juízo, constatou o comentário de 1 minuto para o site de VEJA. Quando junho começou, os vigaristas que infestam e controlam a Casa dos Horrores estavam prontos para aprovar a proposta de emenda constitucional que proibiria o Ministério Público de promover investigações criminais. A patifaria foi sepultada antes que o mês terminasse. O país que presta ganhou mais uma.
Surpreendidos pelos atos de protesto que incluíram a rejeição da PEC 37 entre as bandeiras da revolta das ruas, os conspiradores primeiro tentaram empurrar a votação para agosto. Até lá, imaginaram, os manifestantes teriam desistido de combater a corrupção impune. Erraram feio. O truque acabou elevando a temperatura já nas cercanias do ponto de combustão. Só então os envolvidos na trama acharam sensato curvar-se  à vontade de incontáveis brasileiros exaustos de truques e tapeações.
A PEC 37 pretendia punir o Ministério Público não por seus defeitos, mas por suas virtudes. Foi concebida não para inibir eventuais excessos cometidos por promotores e procuradores, mas para impedi-los de obstruir caminhos que levam para longe da cadeia a bandidagem cinco estrelas. Precedida pela revogação do aumento das tarifas do transporte público, a capitulação  da turma que reduziu o Congresso a um clube dos cafajestes ensina que reivindicações nascidas na internet só vingam se ratificadas pela voz das ruas.
O abaixo-assinado virtual que protestava contra a volta de Renan Calheiros à presidência do Senado foi subscrito por mais de 1,5 milhão de eleitores. Deu em nada. Menos de 50 mil na porta do Congresso foram suficientes para enterrar a PEC da Impunidade (além de fazer um bando de indolentes trabalhar como nunca e, num caso exemplar de suicídio induzido, aprovar a toque de caixa um projeto que conferiu à corrupção status de crime hediondo. Se a coisa tivesse efeito retroativo, o Senado e a Câmara ficariam desertos).
Quantos manifestantes serão necessários para obrigar Renan a renunciar ao cargo? Logo saberemos. Também saberemos em pouco tempo se a ofensiva até aqui vencedora conseguirá livrar-se dos baderneiros, manter o vigor, encontrar alguma forma de organização e não perder o rumo. Caso ocorra essa favorável conjunção dos astros, a instauração de uma CPI da Copa se tornará questão de tempo, o Maracanã escapará das mãos de Eike Batista e seus parceiros, o ministro Dias Toffoli não repetirá que o julgamento do mensalão só vai acabar em 2015 e os recém-chegados ao time da toga não ousarão socorrer mensaleiros condenados a temporadas na cadeia. Fora o resto.
O inverno de 2013 será lembrado como a estação das descobertas essenciais. Primeiro, os brasileiros descobriram que pagam todas as contas e são tungados há anos. Depois descobriram que o Brasil Maravilha só existe num palanque ambulante e na cabeça habitada por um neurônio solitário. Descobriram em seguida que Lula, Dilma e o PT são campeões de popularidade apenas entre donos de institutos de pesquisa. Por falta de partidos que os representassem, descobriram que poderiam ser seus próprios porta-vozes.
Vão descobrindo agora que, num regime democrático, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário não podem atrever-se a ignorar, subestimar ou sufocar um poder muito maior. O poder que emana do povo.

Da Coluna do Augusto Nunes de 26-6-2013.

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