UMAS E OUTRAS DO HELIO FERNANDES


A dívida do Flamengo: 750 milhões. Mais fácil de chegar a 1 bilhão do que ser reduzida para 500 milhões. E o déficit, de quanto é? O novo presidente anistia e absolve Marcio e Kleber, aliados recentes. A felicidade de Dilma e Lula na festa do 10 anos de Poder, e o prazer de falar mal de Dirceu.

Helio Fernandes
Toda diretoria começa bem intencionada, ou não ganharia eleição. E não é apenas no esporte ou no Flamengo. Onde existe promessa, existe descumprimento. Mas vamos nos restringir ao Flamengo, que numa pesquisa sólida e recente, apareceu com 22 por cento das preferências dos torcedores do Brasil todo. E o segundo colocado não aparece no photochart.
Por causa disso é chamada de “nação rubronegra”, há dezenas de anos. Mas cada presidente vai acumulando equívocos, esses equívocos geram dívidas, que como não podem ser pagas, têm que ser compartilhadas com bancos.
Como as garantias do Flamengo não interessam aos bancos do primeiro time, têm que ser “compostas” com bancos de segunda ou de terceira. Que além dos altos juros do país, acrescentam o “por fora”, que dizem que é para “compensar” o risco. Isso é da regra do jogo. E o Flamengo tem que jogar esse jogo, se desmoralizando dentro do campo e se arruinando fora dele.
Como o regime do Flamengo é presidencialista, foi o presidente (Bandeira de Mello) que veia a público. Os empresários chamados de “primeiro time” (e que não são tão do primeiro time assim) ficaram de fora.
Na campanha e na posse, garantiram: “Não queremos nem praticamos revanchismo”. Mas começaram fuzilando Dona Patrícia Amorim, e fazendo acordo com Marcio Braga e Kleber Leite, os dois grandes responsáveis pelo início e crescimento dessa dívida.
Dona Patrícia cometeu equívocos, alguns inacreditáveis. Mas Marcio e Kleber foram e são irresponsáveis, e mais importante: garantiram a impunidade com o acordo de “esquecimento do passado”, feito com a nova diretoria (Bandeira de Mello). Esquecimento em troca de apoio. Que apoio?
Escrevo sobre Marcio e Kleber há mais de 30 anos, quando eles eram presidentes presentes, e o passado deles nunca foi amaciado ou esquecido por mim. Sem responsabilizar os dois, é impossível acusar Dona Patrícia. Ela errou muito em pouco tempo. Eles são irresponsáveis de sempre, em tempo integral.
O MAIOR ERRO DELA: RONALDINHO GAÚCHO
A primeira presidente mulher do Flamengo cometeu erros imperdoáveis contra ela mesma, pessoalmente, o que lhe valeu derrota no clube e na Câmara de Vereadores. Mas a contratação do jogador (disse na época), “loucura que nem o doutor Pinel curaria”.
Começou pagando ao jogador, MENSALMENTE, 1 milhão e 400 mil reais. Por uma série de motivos, e como o contrato tinha sido pessimamente redigido, o patrocinador se retirou, o Flamengo deveria ter feito o mesmo.O que não atingiria o time, Ronaldinho não brilhava com sol a pino e nem quando ele desaparecia.
O patrocinador pagaria 1 MILHÃO E 200 MIL, o Flamengo, 200 mil. Com a saída do patrocinador, Dona Patrícia decidiu assumir o pagamento total. Incompreensível, impagável. (Como esta palavra tem duas leituras, escolham à vontade).
Dessa dívida de 750 milhões, 400 milhões têm que ser pagos em impostos sonegados desde sempre e não de hoje. 200 milhões representam dívidas trabalhistas confessadas, em ações já perdidas. E que crescem com juros assustadores. Podem fazer acordos com credores, mas em parcelas quilométricas que não acabam nunca. Tudo isso “financiado” por bancos que cobram juros escorchantes.
O presidente (Bandeira de Mello) não forneceu um dado importantíssimo: qual é o déficit mensal ou anual do clube. (Dívida é uma coisa, déficit outra, muito diferente). Falou sobre a dívida, revanchismo com Dona Patrícia, compadrio-colaboracionismo com Marcio e Kleber. Contra ela, publicamente. Contra eles, ardilosa e obscuramente. Como acreditar que haverá recuperação, se o presidente (Bandeira de Mello) não revela (ou não sabe) o tamanho do déficit mensal e anual?
PS – Sou, provavelmente, o sócio-proprietário mais antigo do Flamengo, membro do Conselho Deliberativo. Por motivos físicos e pessoais, não tenho comparecido há algum tempo. Mas de longe ou de perto, não quero deixar entrever que defendo Dona Patrícia.
PS2 – Mas também não quero que o novo presidente (Bandeira de Mello) acredite ou admita que pode ressuscitar o Flamengo, chorando abraçado com quem o enterrou. Para Marcio Braga e Kleber Leite, absolvidos, esquecidos e anistiados sorrateiramente, o Flamengo é o “mais querido”: NÃO nacionalmente e SIM particularmente.
PT FESTEJA 10 ANOS NO PODER (SEM DIRCEU)
A comemoração dos 10 anos do PT no Poder permitiu toda espécie de exibicionismo. Ainda mais porque está longe de acabar, com 2 anos complementares, mais 4 praticamente garantidos. Começará um novo ciclo ou período? Aí já fica difícil de imaginar, dependerá de fatores não mais controlados pelo PT.
Mas se divertiram para valer, a euforia de Dona Dilma era impressionante. Jogava beijinhos para todos os lados, acenava sorridente e visivelmente feliz. Não era a presidente e sim a candidata já vitoriosa, não deixando dúvidas.
Lula falou antes dela, é lógico, em público é preciso manter a hierarquia do Poder. Lula é ex, acredita que pode ser futuro em 2018, até aí minha análise não chega, embora admita.
Como sempre, de improviso, Lula dominou. Voltou para a cadeira ao lado de Dona Dilma, ela disse publicamente: “Lula é o gênio da comunicação, fala com a razão e o coração. É o meu mestre”. Se abraçaram carinhosa e demoradamente. Ele comentou, agradecido: “Não precisa exagerar”.
O resto do tempo gastaram para falar mal de Dirceu, lógico, não estava presente. Mas 10 anos antes, Dona Dilma não existia, Dirceu chamava Lula de você, tinha a última palavra em quase tudo. Lugar comum indispensável: os tempos mudam.
A VOLTA DA INFLAÇÃO E A DECISAO DO BC
Agora, com a questão da inflação chegando ao primeiro plano, o país (e a cúpula), sem saber o remédio mais eficiente, o debate se transfere. A campanha de 2014 vai ganhar um tempo que não é o “obrigatório” da televisão. Os candidatos não têm projetos, programas, propostas, seus partidos também não, mas terão que enfrentar essa questão maior e imprescindível.
E nada mais importante do que inflação, câmbio e juros. Tudo isso travestido de subjetivo ou de objetivo e definitivo. Nos últimos dias esse foi o único assunto. Nas ruas, nos gabinetes, nos partidos, em todos os órgãos de comunicação. E a primeira parte da novela teve capítulo importante na noite de ontem.
Foi uma quarta-feira agitada, não havia notícias, apenas expectativa, angústia, tentativa de “adivinhar”. O que é muito distante da realidade, principalmente em se tratando de questão (aumento de juros) que opõe a AUTONOMIA DO BC àAUTORIDADE conquistada pela presidente da República.
Às 6 horas da tarde de quarta-feira (ontem), enquanto terminava o artigo-coluna (é preciso estabelecer a diferença, mas é o que eu fiz durante mais de 50 anos, em jornais impressos), espero a notícia final e oficial, que só foi liberada depois das 20 horas.
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PS – Dona Dilma, não se contendo, afirmou publicamente: “Combato a inflação de todas as maneiras, se tiver que haver aumento de juros, que seja o menor possível”. Eduardo Campos defende o aumento dos juros, dizendo: “Subir os juros não é um desastre”. É mais do que isso, qualquer que seja o ângulo da análise, uma tragédia.
PS2 – Nessa incerteza, especuladores venderam ações à vontade. Bovespa caiu 2,25. Vão recomprar mais barato, ganham “na ida e na volta”.
PS3 – Precisamente às 20 horas e 3 minutos de ontem, o Banco Central anunciou: a Taxa Selic foi aumentada em 0,25%, passando para 7,5%. Quase todos acertaram. Eram pouquíssimos os que acreditavam em aumento de 0,5%.
PS4 – Mas apesar de ser a taxa mais alta da América do Sul, América Central e América do Norte, o BC não vai parar por aí.
PS5 – E não adianta coisa alguma, há muito tempo se sabe que a inflação não se amedronta com juros.

Da Tribuna da Imprensa de 18-4-2013

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