O PAPA É PERNAMBUCANO!


O Papa é pernambucano!, por Téta Barbosa

Logo que a fumaça branca saiu da chaminé católica, os olhos do mundo se voltaram para Buenos Aires. Lá, na praça principal da cidade, um cachorro bocejou. Seu Severino, que vinha passando bem nessa hora, olhou pra o vira-lata e disse: se anima, Feijão, que o Papa é nosso hermano. E disse, desse jeitinho mesmo, com sotaque nordestino e tudo.

É certo que, nesta Buenos Aires que estamos falando, não se fala espanhol. A cidade, que pelos seus bons ares foi batizada com o nome da distante capital argentina, fica logo aqui, na Zona da Mata Norte de Pernambuco. Pertinho mesmo, só 75 km do Recife.
É certo também que sua população de 13 mil habitantes se empolga mais com o time de Messi em campo, lá tem a primeira e, provavelmente, única torcida organizada de brasileiros que torcem pela seleção argentina, pasmem, do que com Francisco acenando na janela do Vaticano. Claro que, dito isto, uma possível simpatia que o senhor poderia sentir pelos nordestinos de Buenos Aires, se foi por água abaixo. Mas, deixemos o assunto futebolístico de lado e voltemos ao tema católico.
O fato é que anúncio do novo papa vindo de Buenos Aires causou confusão. Isso porque o religioso disse, pra todo mundo ouvir, “meus irmãos cardeais foram quase até ao fim do mundo para me buscar”.
- Oxe, esse cabra só pode ser daqui!
A pacata cidade pernambucana é mesmo quase no fim do mundo. Ou talvez, pensando melhor, seja no começo dele. É só olhar de perto e perceber que o progresso ainda não passou por lá. Se passou, passou direto.

 

A tranquilidade das ruas em nada lembra a barulhenta modernidade do nosso século. Nada de altos edifícios espelhados, nenhum trânsito, poucas pessoas gastando seu tempo com jogos eletrônicos, nenhum empresário andando apressado com seu paletó e celular ao ouvido. Lá, as pessoas são simples e o tempo passa devagar.
E já que nosso novo papa escolheu o nome de Francisco , que lembra o santo Assis e sua humildade, deveria ele aparecer na televisão papal, leia-se a janelinha do Vaticano, e dizer solenemente:
- Don´t cry for me, Pernambuco. Já, já eu chego aí pra uma visitinha.
E viria, cumprindo a palavra, para celebrar uma missa na praça central de Buenos Aires, bem na frente da Igreja, que é pra todo mundo ver. Viria sem sapatos de veludo vermelho, nem cajado dourado. Viria para, assim como Jesus, falar com o povo. Viria, principalmente, para nos mostrar que religião é isso.
Enquanto ele não chega, Feijão boceja novamente.

Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa ali e fora dali. Escreve aqui sempre às segundas-feiras sobre modismos, modernidades e curiosidades. Ela também tem um blog - Batida Salve Todos

Do Blog do Noblat, de 18-3-2013.

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