DA MÍDIA SEM MORDAÇA - 18-3-2013

NA COLUNA DO CLÁUDIO HUMBERTO


A ciência do progresso

A imprensa internacional destacou as digitais de silicone de médicos paulistas para fraudar o ponto. Talvez pelo ineditismo da “pesquisa”.

Love is in the air

Com Carlos Lupi entronizando um apaniguado no Ministério do Trabalho, parece que o “eu te amo, Dilma” dele é recíproco.

Despesas médicas do Senado triplicam

O uso de dinheiro público para pagar as despesas médicas do Senado quase triplicou entre 2003 e 2012. O cálculo é atualizado, ou seja, a inflação do período já está descontada. Os gastos, que superam meio bilhão de reais numa década, incluem despesas dos atuais 81 parlamentares, seus dependentes e ex-parlamentares, além dos 6.300 funcionários e pensionistas. No ano passado, o último da gestão José Sarney (PMDB-AP) à frente do Senado, o desembolso bateu o recorde da década: R$ 115,2 milhões dos cofres federais. O aumento foi de 38% em relação a 2011, quando o desembolso chegou a R$ 71,3 milhões. Em 2012, as consultas e exames feitos pela estrutura do Senado ou fora dele ultrapassaram em R$ 10 milhões o orçamento previsto para custeio médico, cujo valor era de R$ 105,2 milhões. Trata-se de um orçamento maior do que o reservado em 2012 pelo Ministério da Educação para o Hospital Universitário de Brasília (HUB), vinculado à Universidade de Brasília (UnB), de R$ 88,7 milhões.  As informações são do Estadão.

De volta

O ex-senador Tasso Jereissati reapareceu esta semana no Senado. Tem atuado como articulador da candidatura de Aécio Neves ao Planalto e sonha com o regresso ao Senado, pelo PSDB-CE.

Guilhotina

Além de impedir OAS de despejar cooperativados da Bancoop – denunciada por doações ilegais ao PT – a Justiça de São Paulo determinou que a empreiteira construa sem cobrar despesa extra.

NO BLOG DO NOBLAT

Que boa gestora, hein, seu Lula? Por Ricardo Noblat

Era uma vez a presidente da República que contava com seis anos de parceria para oferecer a seus aliados. Foi quando com medo de perder a vez para seu antecessor decidiu antecipar a próxima campanha eleitoral.
Um aliado mais esperto aproveitou a ocasião e trocou o status de aliado dela pelo de concorrente.
Sabe o que aconteceu?
O poder de barganha da presidente diminuiu. E aumentou o dos aliados.
Decodificando: a presidente da República, Dilma Rousseff.
Outro dia, por sinal, ela confidenciou a um ministro: o empregado que cuida das emas do Palácio do Planalto deixou que uma bicasse Nego, o cão labrador que o ex-ministro José Dirceu lhe deu de presente.
Dilma não pensou duas vezes: convocou o empregado à sua presença e deu-lhe a maior bronca. Pensou em transferir as emas para a Granja do Torto. Desistiu.
O antecessor que poderia atropelar a presidente: Lula.
Dilma não é santa da devoção do PT. Lula é o padroeiro.

Foto: Gustavo Miranda / O Globo

A maior fatia do PT e os demais partidos que sustentam o governo de Dilma gostariam de ter Lula de volta à presidência. O próprio Lula gostaria de voltar.
Preparava-se para sair em caravana pelo país em defesa do PT, atingido pelo resultado do julgamento do mensalão, e dele mesmo - aquele que de nada sabia.
Sequer sabia que a sua fiel secretária Rosemary de Noronha estimulava tenebrosas transações dentro do governo. E que o levara a empregar quem seria preso depois pela Polícia Federal por suspeita de corrupção.
Pobre Lula!
Pois bem: para evitar o risco de ele se animar com a perspectiva da volta, Dilma procurou-o para uma conversa definitiva. Quer ser candidato? - perguntou-lhe. Lula negou. Ela insistiu. Ele negou.
Dilma disse que o apoiaria com entusiasmo caso ele sonhasse com um novo mandato. Lula negou pela terceira vez.
Dilma então pediu-lhe para que aproveitasse a festa de aniversário do PT e lançasse seu nome à reeleição. Lula lançou - sem entusiasmo convincente, admita-se.
Compreensível. Nem mesmo ele ainda é capaz de prever o futuro. E se por um motivo qualquer fosse obrigado a sair candidato no lugar de Dilma?
O aliado mais esperto que virou concorrente de Dilma: Eduardo Campos, governador de Pernambuco.
Sob o lema "2013 é para governar, deixemos para fazer campanha em 2014", ele viaja o país fazendo campanha, e governa quando lhe sobra tempo.
É candidato para ganhar ou perder. Contra Lula ou Dilma.
"Não gosto de perder. Mas serei candidato até mesmo para marcar posição se esse for o desejo do meu partido", ouvi dele há poucos dias.
Ao resolver patrocinar a candidatura de Dilma à sua sucessão, Lula sacou uma frase que passou a repetir como se fosse um mantra: "Ela é melhor gestora do que eu."
Presidente bom gestor é uma mistura de presidente bom executivo e de presidente bom político.
Lula cercou-se de executivos razoáveis. Na política deu um show. Dilma é uma executiva à moda antiga, que ouve mal. E uma política sem gosto pela política.
Em 2011, travestiu-se de faxineira ética e demitiu ministros autores de malfeitos. Ninguém perguntou por que os nomeara.
No início do ano seguinte, jogou fora a fantasia de faxineira quando um dos poucos ministros a merecer seu afeto foi acusado de ter recebido por consultorias que não deu.
Desmontou a Comissão de Ética da presidência que a obrigou a despachar o ministro do Trabalho, Carlos Lupi.
No último sábado, Lupi desfilou feliz pelos amplos salões do Palácio do Planalto. Fora trocado por um neto de Brizola, um deputado fraquinho, seu desafeto.
Com medo de perder o PDT para Eduardo Campos, Dilma substituiu Brizola por um serviçal aliado de Lupi. Outro partido que perdeu ministro no rastro da faxina ética deverá ganhar em breve um ministério.
Onde já se viu partido recusar cargo em governo?
O PSD de Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo, recusou na semana passada.
O PT ocupa as cadeiras numeradas do governo. O PMDB, a arquibancada. Os demais partidos se apertam na geral e espicham a cabeça para enxergar os lances do jogo.
O PSD não tem pressa. Preferiu valorizar seu passe junto a Dilma e a Eduardo.
Lula loteou seu governo no segundo mandato. Dilma, no primeiro para assegurar o segundo. Boa aluna.
O primeiro ano do governo Dilma foi pior do que o último ano do governo Lula. O segundo ano do governo dela foi pior do que o primeiro. O terceiro em curso, a se ver.
A inflação alta disseminou-se. A Petrobrás nunca perdeu tanto valor (quem foi mesmo a presidente do Conselho de Administração da empresa durante o governo Lula? Advinha.) O Brasil estagnou no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano.
São 39 ministros e nenhum se destaca por ter emplacado algum projeto notável. Mas como emplacar um projeto ou mesmo uma vaga ideia em um governo cuja presidente trata os assessores aos gritos, centraliza o que pode e o que não deveria, e pede para ler com antecedência discursos que só mais tarde ouvirá?
Que bela gestora, hein, seu Lula?

Brasília como ela é, por Carlos Brickmann

Dilma, coitadinha, é refém desta política suja, dizem seus aliados; ou se submete a alianças estranhas, difíceis de compreender, e se junta a pessoas que sempre criticou, distribuindo-lhes cargos e verbas a mancheias, ou o país se torna ingovernável. Se a presidente é mesmo refém desta política suja, sofre hoje da Síndrome de Estocolmo, aquela que leva os reféns a amar e admirar seus algozes.


A presidente Dilma Rousseff está chamando Fernando Collor, senador pelo PTB de Alagoas, de “nosso senador” (e em público!), faz elogios ao senador Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, presidente do Senado, aquele que já teve de renunciar ao cargo para não ser cassado e voltou ao mesmo lugar contra a vontade de Dilma (que em outras épocas preferia vê-lo no Governo alagoano e não em Brasília, tão perto dela). Os dois, disse ela em entrevista às rádios alagoanas, são seus “aliados preferenciais” no Congresso. Dilma também fez elogios ao senador alagoano Benedito de Lira, do PP de Paulo Maluf, outro político que antes repudiava e a quem hoje dedica manifestações de apreço. Mas a presidente deu menos destaque a Lira do que a Collor e Renan ─ talvez porque Lira não tenha ─ ainda ─ currículo tão destacado quanto o de seus companheiros alagoanos.
E que é que o PT de Dilma dizia de Fernando Collor enquanto ele não tinha virado “aliado preferencial”? Na palavra de Lula, gravada em vídeo, “lamentavelmente a ganância, a vontade de roubar, a vontade de praticar corrupção fez com que o Collor jogasse o sonho de milhões e milhões de brasileiros por terra”.




Enem 2012: textos nota 1000 têm erros como ‘enchergar’ e ‘trousse’

Lauro Neto, O Globo
“Rasoavel”, “enchergar”, “trousse”. Esses são alguns dos erros de grafia encontrados em redações que receberam nota 1.000 no Exame Nacional de Ensino Médio 2012 (Enem).
Durante um mês, O GLOBO recebeu mais de 30 textos enviados por candidatos que atingiram a pontuação máxima, com a comprovação das notas pelo Ministério da Educação (MEC) e a confirmação pelas universidades federais em que os estudantes foram aprovados. Além desses absurdos na língua portuguesa, várias redações continham graves problemas de concordância verbal, acentuação e pontuação.


Pesquisa aponta queda no investimento da indústria

Marcelo Rehder, Estadão
Apesar de todos os esforços do governo, a indústria brasileira de transformação não ganhou confiança para desengavetar novos projetos de investimento em 2013. Ao contrário, o setor pretende investir este ano 9,5% menos que em 2012.
O valor deverá cair de R$ 218 bilhões para R$ 197,3 bilhões, de acordo com uma pesquisa de intenção de investimento que acaba de ser tabulada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Para chegar a esses números, a entidade ouviu mais de 1,2 mil empresas com fábricas em todo o País, entre os dias 22 de janeiro e 23 de fevereiro deste ano.

Francisco conquista fiéis com bom humor e apelo a perdão

Fernando Eichenberg e Deborah Berlinck, O Globo
A multidão na Praça São Pedro viu a cena pelos telões, incrédula: o Papa Francisco cumprimentando um a um os fiéis ao final de uma missa na Igreja de Santa Ana, dentro do Vaticano. Passou a mão na cabeça de um garoto e pediu: “Reze por mim.” Pouco depois, apareceu no balcão da Basílica de São Pedro para abençoar mais de 150 mil pessoas, nas contas do Vaticano. Foi sua primeira oração do Ângelus.
- Digo a vocês humildemente: a mensagem mais forte do Senhor é a misericórdia. Deus jamais se cansa de nos perdoar. Nós é que nos cansamos de pedir perdão. Temos de aprender a ser misericordiosos com todos - pediu o Pontífice, que falou de improviso. - Um pouco de misericórdia torna o mundo menos frio e mais justo.

Foto: Reuters


HUMOR

A charge de Amarildo



Tensão rodeia relacionamento de Papa e os Kirchner

Janaína Figueiredo, O Globo
Em setembro de 2010, um mês antes de morrer, o ex-presidente argentino Néstor Kirchner (2003-2007) foi internado e operado de urgência na clínica portenha Los Arcos. Na época, meios de comunicação locais informaram que o então cardeal e Arcebispo de Buenos Aires Jorge Bergoglio enviara um sacerdote de sua confiança para que oferecesse assistência espiritual à família presidencial.
Por decisão da presidente Cristina Kirchner, indicaram as mesmas informações, o representante de Bergoglio foi expulso do hospital. O incidente confirma a tensão que sempre rodeou o relacionamento entre o novo Papa e os Kirchner.


POEMA DA NOITE

Refletindo sobre o inferno - Bertolt Brecht

Refletindo, ouço dizer, sobre o inferno 
Meu irmão Shelley achou ser ele um lugar 
Mais ou menos semelhante a Londres. Eu 
Que não vivo em Londres, mas em Los Angeles 
Acho, refletindo sobre o inferno, que ele deve 
Assemelhar-se mais ainda a Los Angeles.

Também no inferno 
Existem, não tenho dúvidas, esses jardins luxuriantes 
Com as flores grande como árvores, que naturalmente fenecem 
Sem demora, se não são molhadas com água muito cara. E mercados 
de frutas 
Com verdadeiros montes de frutos, no entanto 
Sem cheiro nem sabor. E intermináveis filas de carros 
Mais leves que suas próprias sombras, mais rápidos 
Que pensamentos tolos, automóveis reluzentes, nos quais 
Gente rosada, vindo de lugar nenhum, vai a nenhum lugar. 
E casas construídas para pessoas felizes, portanto vazias 
Mesmo quando habitadas. 
Também as casas do inferno não são todas feias. 
Mas a preocupação de serem lançados na rua 
Consome os moradores das mansões não menos que 
Os moradores dos barracos.


Eugen Berthold Friedrich Brech, ou Bertolt Brecht (Augsburg, Alemanha, 10 de fevereiro de 1898 - Berlim, Alemanha, 14 de agosto de 1956) - Além de poeta, foi um dos mais influentes dramaturgos e encenadores do século XX. Seu trabalho contribuiu profundamente com o teatro moderno que é estudado e montado até hoje. Criou e dirigiu o grupo mundialmente conhecido Berliner Ensemble. As traduções dos poemas foram feitas por Paulo César de Souza 

NO BLOG DO REINALDO AZEVEDO

Supercoxinha lança o PAP em SP: Programa de Aceleração das Promessas

Em quase metade dos parques da cidade de São Paulo, o frequentador tem de fazer xixi no mato porque os banheiros estão sem manutenção. Os homens de negro do prefeito Fernando Haddad (PT) se atrapalharam, e os contratos não foram renovados. Mas que fique clara uma coisa: não é por falta de promessas! A Folha de hoje traz um dado realmente espantoso: as promessas da gestão do Supercoxinha já somam R$ 13,9 bilhões em mero 77 dias. Leiam trecho. Volto em seguida.
Por Giba Bergamim Jr.
Desde que assumiu a prefeitura, há 77 dias, o prefeito Fernando Haddad (PT) e seus secretários anunciaram 13 medidas que custarão ao menos R$ 13,9 bilhões para ser colocadas em prática. As medidas anunciadas incluem promessas de campanha e novos projetos. As promessas englobam a construção de unidades hospitalares, incentivos financeiros a empresários que construírem creches, o Bilhete Único Mensal, entre outras. Por dia, são cerca de R$ 180 milhões em promessas desde 1º de janeiro. Para arcar com os custos, além do dinheiro do caixa do município, a prefeitura pretende recorrer a verba dos governos estadual, federal (em ao menos 5 iniciativas) e de empresas, por meio de parcerias público-privadas. Como comparação, os R$ 13,9 bilhões equivalem a um terço do orçamento da cidade. O valor total é três vezes e meia maior do que o gasto nas obras da 1º fase da linha 4-amarela do Metrô (R$ 3,8 bilhões). Os anúncios se dão num momento em que não há folga nas finanças paulistanas.
Em janeiro, para tentar equilibrar as contas, Haddad determinou o congelamento de R$ 5,2 bilhões do orçamento deste ano, ou 12% da receita prevista. Não foi suficiente: há três semanas, o prefeito determinou que seus secretários cortassem 20% de todas as despesas, revendo contratos. Boa parte das metas é difícil de ser cumprida num único mandato, dizem especialistas ouvidos pela Folha. (…) Nessa conta, devem-se incluir investimentos para a construção do espaço que pode abrigar a Expo 2020, em Pirituba. São cerca de R$ 4,5 bilhões para desapropriação do terreno e construção do centro de convenções. O governo federal já anunciou que dará R$ 680 milhões, e a construção também terá parceria com empresas.
Voltei
Já havia aqui chamado a atenção de vocês para esse aspecto. A cada problema da cidade, Haddad desaparece e manda um secretário seu anunciar uma grande obra, um grande projeto, alguma monumentalidade. E, como se pode deduzir do que vai acima, o homem é doido por fazer obras com o chapéu alheio. Chamem um secretário de Haddad, ele prometerá mundo e fundos, desde que o estado ou o governo federal deem a grana. Aí, convenham, é bolinho, né? Não que eu ache ser possível fazer obra sem dinheiro. Mas o que parece, e é mesmo!, absurdo é que se prometa isso ou aquilo na dependência de outro ente da federação liberar o dinheiro. E se a bufunfa não aparecer? Aí Haddad culpa os outros.

Esse é o melhor método de gestão do mundo. O prefeito entra com aquela cara de bebê chorão indignado, e os outros, com dinheiro. O Supercoxinha criou o PAP: Programa de Aceleração das Promessas.
Por Reinaldo Azevedo

NA COLUNA DO AUGUSTO NUNES

As interrogações de J. R. Guzzo enquadram os donatários do ‘Brasil para todos’

A leitura do artigo de J. R. Guzzo na última página da edição de VEJA inquieta e, simultaneamente, lava a alma dos brasileiros decentes. Volto no fim. (AN)
O BRASIL DA CHIBATA
Poderia a presidente Dilma Rousseff ter a bondade de explicar, com um mínimo de clareza, o que é “fazer o diabo”? Dilma disse há pouco que nas campanhas eleitorais é permitido fazer exatamente isso, “o diabo”, mas não deu nenhuma informação sobre os atos concretos que os candidatos, a começar por ela própria, estão autorizados a cometer. O que vale? O que não vale? Coisa do bem não deve ser. Nunca se ouviu dizer, por exemplo, que Madre Teresa de Calcutá fizesse “o diabo” em favor de suas obras de caridade. Pelo entendimento comum, fazer o diabo significa estar disposto a qualquer coisa, por pior que seja, para conseguir algo. É isso?
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, acha que tem, sim ou não, o direito de chamar um cidadão de “palhaço” e mandá-lo “chafurdar na lama”? Coragem, ministro: sim ou não? Dizer essas coisas, em público, não é crime de injúria? Ou presidentes do STF estão desobrigados de obedecer ao artigo 140 do Código Penal Brasileiro?
Colocar um fotógrafo do Instituto Lula, entidade privada, a bordo do avião presidencial que levou Dilma Rousseff (e o próprio Lula) aos funerais do coronel Hugo Chávez na Venezuela, e apresentar o rapaz como “intérprete” da comitiva, não é um delito de falsificação? Intérprete ele não é; como acaba de informar em VEJA o redator-chefe Lauro Jardim, sua ocupação é tirar fotos para a coleção pessoal do ex-presidente. Há outras dúvidas. Será que Dilma não entende nada de espanhol? Não há nenhum intérprete de verdade entre mais de 1 milhão de funcionários do governo federal? Privatizar assentos a bordo do Aerodilma, para o Instituto Lula economizar um dinheirinho, já é um ato permitido pela doutrina de “fazer o diabo”?
O que o dr. Gilberto Carvalho, que tem no seu cartão de visita o título de “ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República”, quer dizer quando afirma, como fez há pouco, que “o bicho vai pegar”? Que bicho é esse? Pertence ao Patrimônio da União? Ele vai pegar quem? Já foi solto, por exemplo, contra a blogueira cubana Yoani Sánchez, que bandos de delinquentes a serviço do governo atacaram em sua recente passagem pelo Brasil? Tem cabimento o ministro-chefe (a propósito: haveria algum ministro que não é chefe?) usar em público linguagem de bandido? Por que será que tanta história esquisita (a de Yoani é apenas a última de uma longa série) começa, passa ou termina na sala do dr. Gilberto?
Quais os nomes da “meia dúzia de famílias poderosas” que, segundo o presidente do PT, deputado Rui Falcão, decidem “o que o nosso povo pode ler, ouvir e assistir”? Daria para o deputado, por cortesia, informar de onde ele tirou este número, “meia dúzia”, num país que tem no momento quase 10 000 estações de rádio, mais de 500 emissoras de televisão, cerca de 5 500 revistas e 2 700 jornais? Estaria ele reprovando o fato de que há veículos com audiência e circulação muito maiores que os demais, porque o público, por sua livre e espontânea vontade, prefere ver, ouvir e ler mais uns do que outros? Que culpa têm os veículos que fazem mais sucesso, ou que ilegalidade cometem por serem os preferidos ela maioria do público?
Por que o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, não guardou um tostão dos bilhões de reais que seu estado recebeu em royalties de petróleo nos últimos anos? Desde 2007, quando assumiu o governo, até 2012, mais de 130 bilhões de reais foram arrecadados das empresas exploradoras de petróleo, e a parte do leão dessa montanha de dinheiro ficou com o Rio e seus municípios. Agora, com as perdas trazidas pela mudança na lei dos royalties, o governador se vinga atirando nos cidadãos do seu próprio estado: suspendeu pagamentos a fornecedores, ameaça criar mais impostos, fala em corte de serviços. Se não guardou nada do que recebeu, o que fez de útil com o dinheiro gasto?
O que há de comum entre essa gente toda é a convicção de que mandam — e quem manda não precisa explicar nada a quem está embaixo. Falam em banda larga e pré-sal, mas continuam agindo como se vivessem no Brasil dos engenhos, dos capitães do mato e da chibata. São os senhores do “Brasil para todos”.
Perfeito. Mas não custa acrescentar a pergunta de que Lula foge há quase quatro meses: quando é que o ex-presidente vai tentar explicar-se sobre o escândalo em que se meteu ao lado da gatuna Rosemary Noronha?


NO BLOG BRASIL ACIMA DE TUDO

Aulas enlatadas: para onde caminha a política educacional brasileira?

lousa2Por Maria Amélia Santoro Franco, Marineide Gomes, Cristina Pedroso e Valéria Belletatti (*)
Há décadas o mundo curvou-se ao prêt-à-porter, ao fast-food, à intensidade consumista e assim foi se acostumando com a rapidez com que o tudo pronto, o nem sempre necessário, o efêmero se impõem à nossa vida*.
Enlatam-se frutas, sopas, carnes e tudo que couber em belas embalagens que, com a força de uma boa campanha publicitária, virarão dólares, mesmo com gosto pasteurizado ou sem sabor.
Aulas não se podem enlatar. Ou podem? O Ministério da Educação anunciou nos últimos dias que comprará aulas semi-prontas, industrializadas, uma espécie de modelo tamanho único para ‘auxiliar’ pedagogicamente os professores. (Dilma convida professor norte-americano Salman Khan para parceria em projeto na educação básica, agência Brasil, 16/01/2013 – 19h10).
As aulas do professor Khan foram muito bem compostas por sua finalidade inicial: auxiliar sua prima, que morava distante, a compreender matemática. Ambos dialogavam pela internet e assim, neste processo de mediação, permeado pelo conhecimento recíproco e pela afetividade, foram compondo aprendizagens. Afinal, Khan deveria conhecer a sua prima para ensiná-la. Como afirma Snyders: para ensinar latim a João é preciso conhecer latim e conhecer João.
A aula é uma prática social realizada numa condição historicamente situada, que envolve uma dinâmica de contextualizações e atualizações, que não se faz numa única direção de injetar conteúdos prontos; a aula se faz a partir de mediações e atribuição de sentidos e significados entre estudantes e professores.
A aula não pode estar pronta antes do encontro professor-estudante, portanto, não pode vir enlatada. Transmitir conteúdo não representa dar aula. A aula é o meio utilizado pela escola para a formação de pessoas, é o momento em que, para aprender, é necessário que o estudante incorpore o conteúdo a seu nível de significado e a função do professor é de identificar diferenciados processos de compreensão, dúvidas, hipóteses dos estudantes, saberes envolvidos no ciclo ensinar/apreender, colaborando para as possibilidades de articulações com outras aprendizagens. O professor começa a construir a aula com o aluno antes de encontrá-lo, mesmo na modalidade a distância.
Sabemos qual a equação para a melhoria da qualidade da educação brasileira: boa formação de professores, condições dignas de trabalho, adequado ambiente escolar e capacidade de gestão democrática das equipes dirigentes.
Medidas como essa em questão contrariam a luta histórica de educadores contra a importação de modelos educacionais e a favor de uma política educacional brasileira, comprometida com as nossas necessidades e possibilidades.
Felizmente o professor Khan recusou o convite. No entanto, assusta-nos que nossas lideranças não tenham considerado questões fundamentais, pontuadas pelo convidado.
Esse convidado apoiado em seu bom senso recusou o convite. Outros não recusarão. Alertemo-nos: a recusa não significa que Dilma mudou de ideia. Assim permanece nossa tensão sobre a próxima fórmula mágica que se buscará para equivocar nossa educação!
Quando parece que estamos avançando no campo da Educação retrocedemos com escolhas tão contraditórias. É frustrante! Fica a pergunta: para onde está caminhando a política educacional brasileira?

(*)As autoras Maria Amélia Santoro Franco (Unisantos), Marineide Gomes (Unifesp/EFLCH), Cristina Pedroso (USP/FFCLRP) e Valéria Belletatti (Instituto Federal de São Paulo) são doutoras em Educação e integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Formação do Educador (GEPEFE-FE) da USP







Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NOTÍCIAS EM DESTAQUE - 1ª EDIÇÃO DE 25/02/2024 - DOMINGO

NOTÍCIAS EM DESTAQUE - 2ª EDIÇÃO DE 25/02/2024 - DOMINGO

NOTÍCIAS EM DESTAQUE - 1ª EDIÇÃO DE 26/02/2024 - SEGUNDA-FEIRA