Esperanto em destaque

O Consolador, Ano 6 - N° 269 - 15 de Julho de 2012
LEONARDO CASSANHO FORSTER
leo.cassanho@yahoo.com.br
Cuiabá, MT (Brasil)

O Condor levando ao céu a verde estrela
Graças ao primeiro livro psicografado e publicado por Chico Xavier, Parnaso de Além-Túmulo, o grande médium tornou-se alvo de polêmica entre pesquisadores da área de Literatura e céticos, embora contasse com a admiração de muitos espíritas. Com bem mais do que uma centena de poemas atribuídos a diversos autores de língua portuguesa, a obra propôs alguns difíceis desafios aos amantes de Literatura que ignoravam ou eram de todo descrentes no intercâmbio entre encarnados e desencarnados. Eis algumas questões: Como um só homem, sem formação superior nem tempo para dedicar-se ao estudo da Literatura, poderia escrever sozinho tantos poemas, imitando o estilo de mais de 40 autores?  Como essa imitação seria tão convincente a ponto de confundir especialistas, de modo que estes não soubessem distinguir um poema autêntico de uma imitação? Como a cultura manifesta no conteúdo dos poemas poderia transcender os conhecimentos do próprio imitador? – isso para citar as perguntas mais simples de se formular. E para que estas colocações não fiquem caracterizadas como coisa escrita de espírita entusiasmado para espírita de fé cega, basta lembrar que esse tema figurou entre as perguntas submetidas ao próprio médium em ocasião do programa Pinga Fogo, que foi ao ar em rede nacional, em duas edições pela TV Tupi, em 1971. 
O fato é que na obra estão versos que vão de Abel Gomes aos quartetos e tercetos de um dos maiores sonetistas portugueses, Antero de Quental. Sem considerar inúmeros autores do Romantismo brasileiro e outros tantos poetas que, se não foram tão conhecidos, deveu-se mais às circunstâncias em que viveram do que à falta de intimidade com a linguagem poética. Só Augusto dos Anjos, por exemplo, possui ali o suficiente para uma pequena antologia de 31 poemas. E se o leitor pode testemunhar nessa coletânea os versos simples, melódicos e ritmados pela religiosidade de uma Auta de Souza, a poucas páginas de distância, poderá recordar-se do verbo grandiloquente, com apreço especial pela história, do outrora celebrado Poeta dos Escravos, Castro Alves. 
Certamente o espírita, até este ponto do texto, está sendo saciado com a apreciação, ainda que vaga, de tão importante obra do Chico e dos espíritos, no entanto pode ser que o esperantista se pergunte: mais uma vez Abel Gomes? E a resposta, com todo respeito ao querido Abel, é não. Nesta seção não será ele o ponto de convergência entre Espiritismo e Esperanto, pois este importante papel será deixado ao baiano da chamada geração condoreira. Trata-se daquele que, ainda na flor de sua juventude, partiu da paisagem terrena da Pátria do Evangelho antes de testemunhar a abolição da escravidão e o mundo novo, ainda em vias de se concretizar, profetizado em seus próprios versos. Ele foi o Condor da poesia brasileira, cujo vocabulário extenso e trabalhado em ritmo cadente orientava a imaginação do espectador de sua declamação num voo sobre imensas paisagens marítimas, montanhas, desertos, desde oásis do oriente até os Andes americanos. E então nova pergunta: mas, se Castro Alves morreu em 1871, o que o Esperanto tem a ver com isso? 
Melhor seria perguntar a ele, que do invisível, pelas mãos de Chico, em mais de uma ocasião, escreveu sobre sua futura encarnação e sua relação com o idioma internacional, a doutrina dos Espíritos e o Evangelho. 
Quando eu voltar à escola da aflição,
Trarei no olhar a luz do Evangelho
E um novo mundo surgirá do velho,
Por que vivi nas asas da verdade.
Numa das mãos trago o Esperanto – a União,
Na outra, o Espiritismo e a Caridade,
E o Evangelho a cantar no coração. 

Poema psicografado: Esperanto - de Castro Alves

O Esperanto – mensageiro 
De encantados tempos novos  
Erguerá nações e povos 
Do campo de lodo e pó. 

Da Harmonia timoneiro, 
Que os portos da paz descerra, 
Libertará toda a Terra, 
Na glória de um mundo só! 

Vemo-lo já, no futuro, 
Fulgente, impávido e forte, 
Vencendo a miséria e a morte, 
Luz fraterna em sendas mil! 

Chave de amor santo e puro, 
Abrirá caminhos grandes, 
Do altivo Himalaia aos Andes, 
Da Conchinchina ao Brasil. 

Nessa eminência sublime 
Do mundo regenerado, 
Não haverá Jove irado, 
Cujos carros fugirão; 

Nem Babilônias do crime 
Bebendo em festins sangrentos, 
Nem purpúreos paramentos 
De senhores da ilusão. 

Seus luzidos estandartes 
Brilharão no mundo inteiro, 
Abolindo o cativeiro 
A que a maldade conduz; 

Convertendo os Bonapartes 
Em benfeitores amados, 
De canhões – forjando arados, 
De balas – penas de luz! 

Hífen de sol, religando 
Os Templos da Humanidade, 
De grande fraternidade 
Fazendo virtude e lei; 

Orgulho triste e nefando, 
Que torvas guerras produzes, 
Espadas, fuzis, obuses, 
Mentiras, trevas – tremei! 

Na Terra inda há sombra inglória 
Da noite do mundo velho, 
Embora seja o Evangelho 
O Amor que do Alto reluz! 

No limiar da vitória 
Das verdades do Infinito, 
Esperanto! Sê bendito 
Ao doce olhar de Jesus!   
Recebido pelo médium Francisco Cândido Xavier, na sessão pública do Grupo Espírita “Luiz Gonzaga”, em 26-5-1947; in Castro Alves e o Espiritismo, Altamirando Carneiro, São Paulo: FEESP, 1993. Cap. 16.

Poema psicografado: Quando eu voltar – de Castro Alves

I
Quando eu voltar a ser doce criança,
Enchendo a casa de alvoroço e risos,
Colhendo rosas, cravos e narcisos,
A palmilhar na Terra o bom carreiro,
Hei de encontrar o Amor e a Esperança,
Entrelaçando irmãos no mundo inteiro.
II
Quando eu voltar ao orbe velho e amigo,
Negro abismo dos erros e das dores,
Palco de Lutas mil e mil temores,
Onde tanto sofri... mas amei tanto...
Hei de trazer, por Deus, junto comigo,
O bálsamo que enxuga todo o pranto,
Quando eu voltar ao orbe velho e amigo.
III
Quando eu voltar a ter matéria nova,
Moldável cera em santas mãos plasmada,
Eu cresci já palmilhando a estrada
Da Verdade e do Amor do Cristianismo.
Hei de então, jovem, são, nesta áurea prova,
Triunfante demonstrar que o Espiritismo
É a doutrina do Cristo que se renova.
IV
Quando eu voltar à terra tenebrosa
Em cujas trevas, audaz, firme mergulho,
Hei de ensinar que é ignorância e orgulho
Egoísmo, ódio, ciúme e crueldade.
Mostrarei que tem prova dolorosa
Quem abusa da Lei da Liberdade,
Quando eu voltar à Terra tenebrosa.
V
Quando eu voltar à escola de aflição,
Trarei no olhar a luz do Evangelho
E um novo mundo surgirá do velho,
Por que vivi nas asas da verdade.
Numa das mãos trago o Esperanto – a União,
Na outra o Espiritismo e a Caridade
E o Evangelho a cantar no coração.
Castro Alves e o Espiritismo, Altamirando Carneiro, São Paulo: FEESP, 1993. Cap. 16.
Destacamos que nenhum dos dois poemas consta no livro Parnaso de Além-Túmulo. No referido livro, de Castro Alves leem-se “Marchemos!” e “A morte”.

André Luiz: gritar para quê?

A cada semana, propomos uma frase de André Luiz, do livro Sinal Verde, psicografado por Chico Xavier, vertida ao esperanto por Allan Kardec Afonso Costa.
Nesta, apresentamos a tradução da frase proposta na semana passada:
“Je iu ajn telefonado rememoru, ke ĉe alia ekstremaĵo de la lineo estas iu, kiu bezonas la vian, por teni sian propran trankvilecon.”
“Em qualquer telefonema, recorde que no outro lado do fio está alguém que precisa de sua calma, a fim de manter a própria tranquilidade.”
Eis a mais nova:
“Neniam krie parolu al karaj estuloj, malrespektante ilian intimecon.”
Ĝis venontan semajnon!

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