NA FRANÇA, POLÍTICA É UMA PROFISSÃO

Enviado por Ana Carolina Peliz - 
21.6.2012
 | 14h02m
CRÔNICA

Cartas de Paris: Na França, política é uma profissão

Na terça-feira 205 novos deputados tomaram posse na Assembleia Nacional da França, depois do segundo turno das eleições legislativas, no domingo passado.

Os novos deputados se unem aos 372 outros membros do poder legislativo francês, para fazer carreira na política. Porque na França, política é uma profissão. Existem escolas e universidades como Science Po e a École Nationale d’Administration que formam cada ano, vários novos políticos ávidos por um emprego como funcionários públicos, deputados ou vereadores.
Desde que François Hollande baixou o salário dos ministros, o cargo de deputado passou a ser um dos mais cotados. Um deputado francês ganha uma "indenização" mensal de 5.189,27 euros, mais uma ajudinha de custo de 6.412 euros, resultando em um total de 11.601,27 euros, quase 27 mil reais. Além disso, eles têm direito a viajar gratuitamente na primeira classe nos trens e no metrô. Mas quem vai usar transporte público sabendo que a Assembleia Nacional conta com carros com motorista?
Eles também podem usufruir de 80 viagens de avião entre Paris e a circunscrição onde foram eleitos. Mas não acho que isso seja muito útil, já que muitos deles foram "parachutés", ou seja, caíram de paraquedas na circunscrição.
Na prática, isso quer dizer que eles não moram e nunca moraram onde foram eleitos, mas que escolheram a região porque "querem trabalhar" por ela. Eu fico imaginando os candidatos olhando para o mapa da França e fazendo uni-duni-tê, para escolher a felizarda cidade.
Exageros a parte, este ano não faltaram "parachutés" célebres. A duplamente "ex" (candidata a presidência e mulher de Hollande), Ségolène Royale, se "parachutou" em La Rochelle, e acabou competindo com outro candidato do mesmo partido. Ele saiu do Partido Socialista, mas não abandonou o páreo. Ela saiu perdedora.
Outro caso foi o de Marion Maréchal-Le Pen, neta de Jean-Marie Le Pen, presidente de honra do partido de extrema-direita Frente Nacional. A garotinha de apenas 22 anos, "carinha de anjo e ideias diabólicas", como disse o ex-primeiro ministro Jean-Pierre Raffarin, conseguiu ser eleita em Carpentras, no Vaucluse, sul da França, onde nunca morou.
O único conhecimento que ela tem da cidade vem provavelmente do fato de seu partido ter sido acusado, no passado, de envolvimento em um caso de profanação de túmulos no cemitério judeu local.
Mas voltando à Assembleia, eu não acho que os deputados franceses têm muitos direitos. Eu acho apenas que escolhi a profissão errada.

Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela estará aqui conosco todas as quintas-feiras.

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