TERCEIRA EDIÇÃO DE QUINTA-FEIRA, 02/01/2020

NO BLOG DO PERCIVAL PUGGINA
UM PODER PARALELO QUE NÃO PERDE ELEIÇÃO: NOSSOS MUITOS SOVIETES
Por Percival Puggina (*) 
Artigo publicado quinta-feira, 02.01.2020
Durante décadas fui participante ativo de debates políticos nas emissoras de rádio e TV de Porto Alegre. Eram anos de ostracismo para o pensamento conservador e para as ideias liberais de que o País era tão carente. Contavam-se nos dedos os que se dispunham a enfrentar o esquerdismo que ia dominando a política nestas bandas. Na Rádio Guaíba, um estúdio instalado na esquina da Caldas Júnior com a Rua da Praia proporcionava som e ampla visibilidade ao público que se acotovelava para assistir as discussões do programa Espaço Aberto. Durante a Feira do Livro, o “Estúdio de cristal”, como era chamado, mudava-se para a Praça, e a multidão, literalmente, cercava aquele ringue retórico para ver quem iria às cordas.
À medida que nos aproximávamos do fim do milênio, os partidos de centro-direita e de direita foram virando apoiadores de quaisquer governos, espécie de contrapeso nas disputas eleitorais, deixando sem trincheira ou expressão o ideário conservador e liberal. Fechavam-se, no Rio Grande do Sul, as últimas portas ao debate político que fosse além do bate-boca pelo poder. Ou, com palavras melhores, em que essa disputa não fosse a única finalidade de todo argumento.
Lembro-me de ter ouvido do governador Alceu Collares, num desses debates, pela primeira vez, referindo-se ele e aos partidos do espectro esquerdista: 
--“Nós, do campo democrático e popular”. A expressão disseminou-se.
Socialistas, marxistas e a esquerda em geral agarraram-se com braços e pernas ao binômio democrático-popular. Posavam como donos desse “campo”. Nele jogavam futebol e golfe, criavam gado e faziam seus melhores discursos. E criavam conselhos populares... Então, como ainda hoje, eram avessos à propriedade privada, mas o tal “campo” foi cercado, escriturado em seu nome e passou a lhes pertencer o inço que ali crescia.
Não falo, apenas, de uma pretensão local, mas de uma obstinação mundial. É bom lembrar que Albânia, Bulgária, China, Cuba, Camboja, Coréia do Norte, Mongólia, Vietnã, Iêmen, e todas as demais republiquetas africanas, asiáticas e europeias, que em décadas anteriores adotaram o socialismo, se apresentavam ao mundo como “democracias populares”. Enchiam a boca e estatutos constitucionais com sua condição de <people’s republic>. E o leitor está perfeitamente informado sobre seus principais produtos: totalitarismo, supressão das liberdades, genocídio e miséria.
Aqui no Brasil, o dito campo esquerdista encontrou na criação e povoamento de conselhos uma forma de se institucionalizar e atuar politicamente. Na administração pública estão em toda parte. Com exceções, formam pequenos sovietes (¹), determinando e impondo políticas. São detentores de um poder paralelo que somente na órbita federal se manifesta através de 2.593 colegiados, segundo matéria de O Globo publicada em 29 de junho de 2019. Na véspera, Bolsonaro havia anunciado a intenção de reduzi-los a 32.
No entanto, esses aparelhos políticos resistem. Os 996 conselhos ligados a instituições federais de ensino operam em ambientes blindados pela autonomia universitária. Outros foram instituídos por lei e só poderão ser cancelados por outra lei. Assim, no curto prazo, apenas 734 criados por decretos federais ou por portarias dos próprios órgãos federais estão liberados para encerramento de atividades.
Note-se: a criação e operação de grande parte desses conselhos, muitos dos quais altamente onerosos ao pagador de impostos, é apenas uma das formas de aparelhamento da administração pública, que deveria ser apartidária, técnica e comprometida com a redução do peso do Estado sobre a sociedade.
_______________________________
(*) Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no País. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

(¹) Na Rússia, a partir de 1905, cada um dos conselhos constituídos pelos delegados dos trabalhadores, dos camponeses e dos soldados e que, após a Revolução de Outubro de 1917, na Rússia e, posteriormente, na União Soviética, passaram a ter função de órgão deliberativo.


NO BLOG DO ALEXANDRE GARCIA
Vacina contra a desinformação para 2020
Por Alexandre Garcia
[Segunda-feira, 30/12/2019] [20:44]
À saída do Mosteiro, no domingo (29), um conhecido refez uma afirmação disfarçada em pergunta, que eu não havia respondido em janeiro: 
--“Você não acha que só o que falta é melhor comunicação do governo?”. 
Agora, já com um ano de observação diária, eu respondi: 
--“Você não acha que suas fontes habituais de informação é que não estão noticiando as coisas do governo?”.
Cito como exemplo o que descobri só outro dia, por causa de um vídeo que me foi mandado pelo WhatsApp: está pronta a maior ponte ferroviária da América Latina, de quase 3 quilômetros de extensão, atravessando o Rio São Francisco, para a ferrovia leste-oeste, que vai ligar a norte-sul com o porto baiano de Ilhéus. Se antes éramos destinatários de “o que é ruim, a gente esconde; o que é bom, a gente mostra” (Rubens Ricúpero, ministro da Fazenda em 1994), neste ano parece que fomos vítimas de um “o que é bom, a gente esconde; o que é ruim, a gente mostra – e se não houver ruim a gente inventa”.
Não dá para generalizar; é importante a fiscalização, a exposição das contradições, a crítica – tudo com base em fatos. Não factoides, palavra criada pelo então prefeito Cesar Maia, pai de Rodrigo. Factoides são parecidos com fatos, mas são fatos deformados. É o mesmo que 'mancheta'r: “Juiz de garantias abre crise entre Moro e Bolsonaro”, quando se sabe que ambos estão contra o tal juiz, e sabem que não vai funcionar, pelo menos nos próximos anos, mas vetar seria criar mais um caso com o Congresso. Moro e Bolsonaro sabem que é bom estar de bem com a maioria legislativa, para continuar aprovando medidas anticrime.
Fica fácil carregar crises sobre o governo, mesmo sem precisar alterar os fatos. Basta escolher analistas, especialistas, políticos, que se sabe o que vão argumentar. E basta procurar manifestações nas redes sociais do vereador Carlos, ou entrevistas do deputado Eduardo, ou usos de câmara de vereadores de Flávio, para criar interpretações catastróficas, como aquela no AI-5 no canal de Leda Nagle. Quem quer que tenha visto e ouvido a declaração, percebe perfeitamente que não houve pregação de volta do Ato Institucional. Mas, enfim, o doutor Freud explica. Quem sofreu derrota fragorosa em outubro de 2018 e padece do fracasso do regime criado pela revolução de outubro de 1917, precisa disso como mecanismo de compensação.
O otimismo voltou à economia e é o fator que impulsiona o investimento e o emprego. A propósito, até o desemprego serviu para estimular o brasileiro empreendedor, sem carteira assinada, com iniciativa própria, fornecedor de empresas, sem horário, dono do próprio nariz e de seu próprio faturamento. Fico pensando o quanto devem estar sofrendo os que apostam contra o giro da riqueza, que distribui bem-estar. Em geral são os mesmo sabichões, especialistas, que garantiam que o atual presidente não teria a menor chance nas eleições.
Imaginem quando todas as escolas deixarem de lado a velha ideologia fracassada e se empenharem no Português, na Matemática, nas Ciências – e não fizermos mais vexame no Pisa. Imaginem que tipo de ideologia pode apostar contra valores da família e a favor da corrupção? Pense nisso, olhando para trás para entrar mais imunizado neste 2020.
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NO BLOG DO RODRIGO CONSTANTINO
Indústria se recupera, economia deve crescer bem mais esse ano, e Temer não é o “pai da criança”
Por Rodrigo Constantino
[Quinta-feira, 02/01/2020] [10:35]
Começamos o ano com essa boa notícia: A indústria da transformação, setor que tradicionalmente emprega mais mão de obra formal e com salários acima da média do mercado, começou a reagir no segundo semestre do ano passado e somou um total de 10,7 milhões de empregados, o melhor resultado desde 2015 -- quando havia 11,5 milhões de funcionários.
Os segmentos que mais contribuíram com a alta de 1,3% em relação aos números de 2018 foram os de alimentos, têxteis e manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos. Juntos, abriram 189 mil vagas com carteira assinada até o terceiro trimestre.
No segmento de máquinas e equipamentos, a melhora veio com a alta dos investimentos, movimento que não ocorria há pelo menos cinco anos. 
--“O Brasil foi sucateado entre 2013 e 2018 e em 2019 começou uma recuperação tímida”, afirma o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso. Segundo ele, o emprego também está reagindo e as fábricas devem contabilizar 10 mil novas vagas em 2019. Para este ano, serão mais 15 mil a 20 mil.
É importante não esquecer do cenário de terra devastada deixado pelo PT. Em editorial de hoje, o GLOBO reconhece que esse ano poderemos interromper o ciclo de más notícias, uma herança maldita petista:
<"A economia ensaiou uma reação no início de 2017. Parecia que, como em crises anteriores, o PIB bateria no chão e subiria em ritmo firme. Mas não aconteceu. No biênio 2015/16, o Brasil mergulhou na mais funda recessão de que se tem notícia no pós-guerra, de mais de 7%.
Devido às barbeiragens fiscais cometidas por Dilma Rousseff. Seja como chefe da Casa Civil do segundo governo Lula, quando inspirou um desastroso “pé no acelerador”, seja como presidente, quando insistiu no erro. Até sofrer impeachment em 2016, ao atropelar a Lei de Responsabilidade Fiscal.
[...] Esta é a boa notícia para 2020: o crescimento está acelerando. Mesmo os movimentos débeis nos subterrâneos da economia vêm conseguindo criar empregos. Boa parte informais, de baixos salários, mas capazes de aumentar a massa salarial.
[...] O último relatório Focus de 2019, feito pelo Banco Central, a partir da mediana das expectativas de analistas do mercado coletadas no dia 27, sexta-feira, confirma um cenário otimista para 2020: crescimento de 2,30% — 2,22% há quatro semanas — e uma inflação sob controle, em 3,6%, abaixo da meta, que é de 4%.">
Deixamos o pior para trás, vimos um ponto de inflexão, e agora é preciso intensificar a agenda de reformas. O jornal carioca conclui com esse alerta, que nos impede de comemorar demais o que vimos até aqui:
<"Mas ainda há 11,9 milhões de desempregados. Falta muito para a economia se reequilibrar e não ser apenas uma retomada cíclica. Para novos avanços, é certo, precisa-se retomar as reformas. O impulso dado pelas mudanças na Previdência tem prazo para acabar".>
Está certo. É crucial seguir nas mudanças. Temos a reforma administrativa do estado, a reforma tributária, a autonomia do Banco Central, mais abertura comercial, mais revogação de normas burocráticas, muito ainda a ser feito. 
William Waack aposta nesse prognóstico positivo, admitindo desafios grandes à frente:
<"A economia vai andar melhor, o que é pouco para o grande desafio de um País aprisionado na armadilha da renda média. A onda disruptiva de 2018 partiu-se em suas diversas correntes, o que promete um cenário político “estável” no fracionamento das forças políticas e, portanto, na incapacidade de um só grupo se afirmar como dominante. O esforço de levar adiante reformas será grande e caminhará de forma lenta tanto pela notória resistência oferecida pelas corporações que tomaram o Estado brasileiro mas, em boa medida, também pela opção política do governo de não consolidar uma base tipo “tropa de choque” no Congresso. 
Será turbulento. Apertem os cintos e um bom voo para todos nós em 2020. Turbulência não costuma derrubar avião.">
Nada no Brasil costuma ser suave. Os "monstros do pântano" são muitos, a velha esquerda que sempre lutou contra avanços, os grupos organizados de interesse que se recusam a perder boquinhas estatais, os sindicalistas jurássicos, os servidores públicos em busca de privilégios etc. Mas há forte pressão popular e um clima favorável a tais mudanças modernizantes. Tanto que a coisa começou ainda na gestão Temer. O ex-presidente tenta, com razão apenas parcial, trazer para si os méritos dos avanços:
<"O governo vai indo bem porque está dando sequência ao que fiz. Peguei uma estrada esburacada. O PIB estava negativo 4%. Um ano e sete meses depois o PIB estava positivo 1.1%, além da queda da inflação e da recuperação das estatais. Entreguei uma estrada asfaltada. O governo Bolsonaro, diferente do que é comum em outros governos que invalidam anterior, deu sequência. Bolsonaro está dando sequência ao que eu fiz.">
É verdade que foi em seu governo tampão que o País iniciou o processo de reformas, e "a ponte para o futuro" foi um documento razoável produzido pelo MDB. Um senso de sobrevivência para salvar a galinha dos ovos de ouro falou mais alto após a desgraça petista, da qual, vale lembrar, Temer e seu MDB foram cúmplices.
Também é verdade que uma reforma previdenciária mais tímida, mas razoável, quase foi aprovada em seu governo, e teria sido não fosse o escândalo do Joesley Batista e aquela gravação armada promovida pelo então PGR, Rodrigo Janot. Aquilo interrompeu a agenda reformista e Temer seguiu como pato manco pelo restante do governo.
Mas calma lá! Se, em nome da Justiça, podemos reconhecer algum papel de Temer nas mudanças ocorridas, também é fundamental, em nome da mesma Justiça, reconhecer que foi no governo Bolsonaro que a coisa passou a mudar em ritmo mais veloz. Não só a reforma previdenciária foi finalmente aprovada, e com uma economia que representará o dobro daquela prevista pela reforma de Temer, como tivemos várias outras iniciativas de cunho liberal realizadas pela equipe de Paulo Guedes.
Temer não é o "pai da criança", portanto. Ele tem seus méritos, sem dúvida, como também não pode ser inocentado pelo apoio que deu, como vice-presidente, ao pior governo da História do Brasil. Mas foi com Bolsonaro que as mudanças mais importantes aconteceram. A César o que é de César. Sei o quanto deve doer em alguns "analistas" reconhecer isso. Mas continua sendo uma verdade..."
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