SEGUNDA EDIÇÃO DE QUARTA-FEIRA, 03 DE OUTUBRO DE 2018

NO O ANTAGONISTA
O chavismo de Haddad
Quarta-feira, 03.10.18 10:17
Fernando Haddad mostrou o que realmente é.
Correndo o risco de ser derrotado por Jair Bolsonaro no primeiro turno, ele prometeu adotar o método chavista para controlar os juros bancários, como destacamos ontem aqui:
“Os bancos vão ter que ser enquadrados. Os juros que eles estão cobrando hoje não existem em nenhum lugar do mundo. Só para você ter uma ideia, os juros que os bancos estão cobrando no Brasil é quatro vezes maior do que a media internacional (…).
Nós vamos introduzir agora regras para que o Banco Central seja obrigado também, não só a regular a taxa de juros que o governo paga para os banqueiros, na dívida pública, mas os juros que o consumidor e o empresário pagam para o sistema bancário, sobretudo o sistema privado (…).
Bancos vão ter que aceitar essa nova regulação. É uma regulação contra o cartel que os bancos formaram no Brasil.”
Esse é o poste pragmático da imprensa. Em vez de reduzir a dívida pública e liberalizar o setor bancário, ele promete tabelar os juros.

“O antipetismo do mercado olha Bolsonaro com muito bons olhos”
03.10.18 10:27
Na Folha de S. Paulo, Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, tenta explicar a euforia do mercado:
“O mercado, em geral, não gosta de extremos. Mas, quando há um extremo muito contrário às suas convicções, o efeito natural é se ligar ao polo oposto, independentemente de qualquer outro critério razoável de análise. Assim, o antipetismo do mercado olha Bolsonaro com muito bons olhos.”
E mais:
“É o extremo viável na eleição que barraria as sandices econômicas que já sabemos que virão do PT. De fato, Haddad não tem dado sinais de convencer o mercado de que fará algo muito diferente do que se viu em 13 anos de governo. O problema maior é que não há tempo a perder.”

PT ataca Bolsonaro para evitar derrota no primeiro turno
03.10.18 09:38
O PT resolveu mudar sua estratégia e vai disparar contra Jair Bolsonaro os cartuchos que estavam armazenados para o segundo turno.
A Folha de S. Paulo diz que “a decisão foi precipitada pela alta do capitão reformado nas sondagens eleitorais – segundo o Datafolha, ele chegou a 32% dos votos, o que aumenta as chances de liquidar a fatura já no primeiro turno das eleições. Bolsonaro passou a ganhar votos também em redutos petistas”.

Haddad no jatinho de Lula
03.10.18 07:27
Fernando Haddad, como mostrou a Crusoé, gastou mais de meio milhão de reais em jatinhos (leia aqui).
Nesta quarta-feira, o Estadão conta que o táxi-aéreo “usado pelo candidato do PT para visitar Lula em Curitiba na segunda-feira já serviu ao ex-presidente em outras ocasiões.
A PF identificou deslocamentos do petista entre 2011 e 2015 bancados pela Odebrecht”.

A existência da CUT está em jogo
03.10.18 06:41
A CUT quer eleger Jair Bolsonaro no primeiro turno.
O presidente do sindicato, Vagner Freitas, soltou a seguinte nota:
“Lula pediu a Haddad que ele ‘fosse lá e ganhasse essa eleição’. Então, vamos ganhar (…).
A nossa existência está em jogo.
Se Bolsonaro vencer, as consequências para trabalhadores e trabalhadoras, sindicatos e a democracia serão sórdidas e irreparáveis. Corremos o risco de ser dizimados. O candidato do atraso terá como política de governo perseguir, criminalizar e erradicar os movimentos sindical e sociais.”

“O antipetismo é o maior partido do Brasil”
03.10.18 06:51
O crescimento de Jair Bolsonaro foi analisado pelo marqueteiro Paulo Moura, em conversa com o Infomoney:
“A primeira é a questão do sentimento de antipetismo. O antipetismo hoje é o maior partido informal do Brasil. A rejeição ao PT sempre foi maior que a de Bolsonaro, embora a imprensa sempre desprezasse este fato. Em outras oportunidades, afirmei que, se fosse Bolsonaro contra o PT, as rejeições se equivaleriam ou até poderiam ser piores para o PT.
A campanha de Bolsonaro é um fenômeno cívico, não é uma campanha eleitoral tradicional. Ela não tem comícios, mas manifestações (…).
Há um sentimento de saturação da sociedade que ele soube captar. A sociedade percebe a mídia como cúmplice do establishment, como cúmplice de tudo que a população quer varrer quando escolhe Bolsonaro.”

Acendeu a luz vermelha no PT
03.10.18 06:24
O PT teme uma derrota no primeiro turno.
O assessor de Lula, Gilberto Carvalho, disse para O Globo:
“Acendeu uma luz amarela na campanha. De amarela para vermelha”.
E depois:
“As pesquisas refletem o crescimento do antipetismo. Isso significa que os ataques ao Haddad estão surtindo efeito. O #EleNão pode ter ajudado o #EleSim”.
Como mostrou O Antagonista (leia aqui), o temor do PT surgiu antes das pesquisas do Ibope e do Datafolha. E antes do depoimento de Antonio Palocci.

Bolsonaro esmaga Haddad na classe média
03.10.18 06:14
Na classe média, Jair Bolsonaro esmaga todos os outros candidatos.
Sua vantagem sobre Fernando Haddad entre os eleitores com renda de 5 a 10 salários mínimos subiu de 28 pontos percentuais para 39.
O poste petista está tecnicamente empatado com Ciro Gomes e João Amoêdo.

(G1)

Justiça converte em preventiva prisão de coordenador da campanha do tucano José Eliton
Terça-feira, 02.10.18 21:45
O juiz Rafael Ângelo Slomp, da 11ª Vara Federal em Goiás, converteu em preventiva as prisões de Jayme Rincon e Márcio Garcia de Moura.
Rincon é aliado de Marconi Perillo e coordenador da campanha do tucano José Eliton ao governo de Goiás. Moura é motorista de Rincon.
Slomp também renovou as prisões temporárias do empresário Carlos Alberto Pacheco Júnior e de Rodrigo Godói Rincon, filho de Jayme Rincon.
Todo foram presos na Operação Cash Delivery.

TSE lançará apuração pelo Twitter
02.10.18 20:45
O TSE lançará neste ano um serviço de apuração das eleições presidenciais pelo Twitter, informa Lauro Jardim.
O eleitor poderá acompanhar a evolução dos votos totalizados por meio da hashtag #ResultadoTSE.
O Tribunal promete enviar tuítes atualizados de meia em meia hora.

STF deve decidir sobre entrevista de Lula depois do 2º turno
02.10.18 20:32
A tendência no STF é que só depois do segundo turno das eleições o plenário delibere sobre autorizar ou não que a Folha entreviste o presidiário Lula, registra o jornal.
Ontem, Dias Toffoli manteve a liminar de Luiz Fux contra a decisão de Ricardo Lewandowski que autorizara o jornal a entrevistar o condenado.
Responsável por elaborar a pauta de julgamentos do plenário, o presidente do STF tem afirmado que não vai marcar discussões polêmicas no período eleitoral e que outros temas, como a prisão de condenados em segunda instância, ficarão para 2019.

TRF-4 suspende pedido de entrevista de Lula
02.10.18 20:06
O TRF-4 determinou o sobrestamento de um recurso da Folha para obter autorização para entrevistar Lula.
O caso só voltará à pauta após decisão do plenário do STF.

DATAFOLHA: 59% DOS BRASILEIROS QUEREM LULA PRESO
02.10.18 19:35
Na nova pesquisa, o Datafolha perguntou também sobre a prisão de Lula, o chefe de Fernando Haddad, hospedado desde abril na carceragem da PF em Curitiba.
A maioria dos brasileiros – 51% – quer Lula condenado e preso. Outros 8% acham que ele deveria continuar condenado, mas ir para a prisão domiciliar – ou seja, somando quem quer Lula preso na cadeia e preso em casa, são 59%.
Para outros 37%, o petista deveria ser perdoado e solto. E 4% não souberam responder.

Não é fantástico?
02.10.18 17:10
A Petrobras é assistente de acusação no processo do triplex que colocou Lula na cadeia.
Se Haddad for eleito, Lula nomeará o presidente da empresa que o acusa.
Não é fantástico?

Celso de Mello nega pedido de Garotinho
02.10.18 17:05
Celso de Mello rejeitou pedido de Anthony Garotinho para suspender os efeitos da decisão do TSE que barrou a sua candidatura ao governo do Estado do Rio de Janeiro, informa o Estadão.
O decano do STF argumentou que o próprio TSE ainda não apreciou embargos de declaração do ex-governador contra a decisão do plenário da Corte Eleitoral.
O ministro apontou também que a defesa de Garotinho ainda não apresentou um recurso extraordinário para derrubar a decisão do TSE.

NO BLOG DO MERVAL PEREIRA
Excesso de provas
POR MERVAL PEREIRA
Quarta-feira, 03/10/2018 06:30
A delação do ex-ministro Antonio Palocci à Polícia Federal, finalmente homologada pelo TRF-4 e liberada para divulgação pelo Juiz Sérgio Moro, alegadamente para atender à defesa do ex-presidente Lula, caiu como uma bomba na campanha presidencial a seis dias do primeiro turno da eleição, e tem uma característica única: pode ser comprovada em grande parte pelas provas que já estão em poder do Judiciário, mais precisamente o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Também podem ser cruzadas com outras delações, de dirigentes da Odebrecht e de outras empreiteiras. As delações cruzadas tornam-se matéria de comprovação das denúncias. O ex-ministro do PT disse que as campanhas de Dilma Rousseff em 2010 e 2014 custaram respectivamente 600 milhões de reais e 800 milhões de reais, a maior parte em dinheiro sujo, quantia muitas vezes maior do que a declarada no TSE.
As investigações sobre a campanha de 2014 foram amplas, e o relator do TSE, ministro Herman Benjamim, pediu a anulação da eleição por abuso de poder econômico e político. Os depoimentos dos executivos da empreiteira Odebrecht e dos marqueteiros Mônica Moura e João Santana foram utilizados como "provas alargadas” pelo relator Herman Benjamim, que mandou acrescentar aos autos esses depoimentos, frutos de delações premiadas na Operação Lava Jato.
Segundo o relator e o vice-procurador eleitoral, Nicolao Dino, houve abuso de poder econômico e fraudes na contratação das gráficas fantasmas por parte da chapa Dilma-Temer. Numa das delações premiadas de executivos da empreiteira Odebrecht, foi revelado que a chapa presidencial do PT-PMDB recebeu R$ 30 milhões de caixa 2 na campanha de 2014.
Os documentos em posse do relator do processo de cassação da chapa, Ministro Herman Benjamim, eram fortes o suficiente, para que pedisse, como fez, a cassação da chapa. A revelação de financiamento direto na campanha, e outras, que indicam que a própria ex-presidente participou pessoalmente das negociações desse tipo de verbas não contabilizadas, foram confirmadas por Palocci.
Segundo ele, no início de 2010 houve uma reunião entre ele, Lula, Dilma Rousseff e José Sérgio Gabrielli, então presidente da Petrobras na biblioteca do Palácio do Alvorada, quando Lula mandou que Gabrielli encomendasse a construção de 40 sondas para “garantir o futuro político do País e do PT com a eleição de Dilma Rousseff, produzindo-se os navios para exploração do pré-sal e recursos para a campanha que se aproximava”.
Palocci acrescentou que seria “muito mais fácil discutir com OAS, Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa contribuições para campanhas eleitorais do que tentar discutir o mesmo assunto com empresas estrangeiras”
Em sua delação, Antonio Palocci coloca em xeque a capacidade de fiscalização do TSE, que “não tem como saber se a doação é ilícita, uma vez que não fiscaliza a origem do dinheiro”.
Palocci afirma que “a maior parte das doações registradas no TSE é de origem ilícita”. Segundo o ex-ministro de Lula e Dilma, houve pagamento de propina para a inclusão de “emendas exóticas” em 90% das medidas provisórias editadas nos quatro governos do PT.
Antonio Palocci disse para a Polícia Federal que o PT teve contas secretas no exterior, abertas pelo próprio partido ou por empresários, o que coincide com a delação de Joesley Batista, que disse que abriu uma conta em seu nome no exterior que era usada por Palocci e Lula. As provas eram tantas que o relator do processo no TSE, ministro Herman Benjamim, ironizou a decisão de não cassar a chapa Dilma-Temer afirmando que fora tomada por “excesso de provas”. Agora essas provas em excesso poderão ter alguma utilidade.

NA VEJA.COM
Trump recebeu US$ 413 mi de seu pai e burlou o Fisco, diz NYT
Jornal americano detalha esquema montado pelo atual presidente dos EUA, que incluiu empresa laranja, para reduzir o Imposto de Renda de sua família
Por Da Redação
Terça-feira, 02 out 2018, 20h58 - Publicado em 02 out 2018, 20h39
Em reportagem especial publicada hoje em sua edição online, o jornal The New York Times constata que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, esteve sempre longe de ser um self-made billionaire. Dessa profunda investigação jornalística, o governante emerge como o empresário que recebeu 413 milhões de dólares do império de seu pai e que amealhou muitos milhões mais em esquemas de evasão e de fraude fiscais nos anos 1990.
A investigação da reportagem “Trump engajou-se em esquemas tributários suspeitos enquanto colhia a riqueza de seu pai” está baseada em dezenas de milhares de documentos confidenciais, entre os quais declarações de Imposto de Renda e registros financeiros.
Durante sua campanha para a Casa Branca, em 2016, o então candidato republicano recusou-se insistentemente a divulgar suas declarações de Imposto de Renda – uma prática esperada em períodos eleitorais.
“O senhor Trump venceu a presidência proclamando-se como um bilionário que se fez a si mesmo e ele insistiu por muito tempo que seu pai, o lendário construtor Fred C. Trump, da cidade de Nova York, não lhe deu quase nenhuma ajuda financeira”, informa o jornal.
Em seu esforço para desmontar a principal marca de Trump – a de ter construído sozinho seu patrimônio bilionário -, o Times detalha como o atual presidente dos Estados Unidos e seus irmãos montaram uma empresa laranja, a All County Building Supply & Maintenance, em 1992, para disfarçar a transferência de dinheiro de seu pai para eles.
Os documentos também mostram como o próprio Donald Trump ajudou seu pai a evitar o pagamento de centenas de milhões de dólares em Imposto de Renda por meio de brechas fiscais e da subestimação do valor de seus bens e lucros. A carga tributária sobre as propriedades transferidas mais tarde a ele e seus irmãos foi reduzida sensivelmente.
“Essas manobras encontraram pouca resistência da Receita Federal americana”, sublinha o Times. “Os pais do presidente, Fred e Mary Trump, transferiram bem mais de 1 bilhão de dólares em riqueza a seus filhos, valor que poderia ter produzido uma fatura de 550 milhões em imposto conforme a tarifa de 55% aplicada na época sobre doações e heranças. Os Trumps pagaram um total de 52,2 milhões ou cerca de 5%, mostram os registros tributários”, registra o jornal.
Donald Trump sempre se apresentou como o empresário desvinculado da fortuna construída por seu pai. Em sua versão sobre como tornou-se um homem de 10 bilhões de dólares, segundo o Times, o atual presidente conta ter recebido um empréstimo de 1 milhão de dólares de Fred Trump. “Eu tive de devolver para ele com juros” e “eu construí o que construí por mim mesmo” são frases que ele costuma repetir.
Na investigação, o Times constatou que, aos 3 anos de idade, Donald Trump já ganhava 200 mil dólares por ano da empresa de seu pai. “Ele se tornou milionário aos 8 anos”, registrou o jornal. Aos 17, recebeu de seu pai a propriedade de um prédio com 52 apartamentos.
Quando terminou a faculdade, recebia o equivalente a 1 milhão por ano. Nos seus 40 e 50 anos de idade, esse montante subiu para 5 milhões anuais. Trump ainda recebia de Fred um cheque de 10 mil dólares em cada Natal.
A reportagem traz outra informação inédita: em 1997, Trump e seus irmãos tornaram-se proprietários da maior parte do império de seu pai, um ano e meio antes de sua morte. Para esquivar-se da carga de Imposto de Renda sobre essa transferência, foi declarado que esses bens imobiliários valiam 41,4 milhões de dólares. Na década seguinte, segundo o jornal, esses imóveis foram vendidos por preços 16 vezes mais altos.
Em 2004, quando os irmãos Trump venderam o império que seu pai construíra em 70 anos, Donald amealhou 236,2 milhões de dólares, em valores atuais.
Em seu afã de demolir a versão do presidente americano de que construiu sua própria fortuna sem a ajuda de ninguém, o Times sublinha que a marca registrada de seu império, a Trump Tower, em Nova York, foi levantada com dinheiro de Fred Trump.
A reportagem do jornal The New York Times foi assinada por David Barstow, Susanne Craig e Russ Buettner. A equipe menciona logo na primeira parte do texto ter solicitado muitas vezes os comentários de Trump, que sempre os negou, e enviado um descrição detalhada dos fatos encontrados na documentação. O advogado do presidente, Charles J. Harder, enviou ao jornal um comunicado na segunda-feira, dia 1º.
“As alegações do New York Times de fraude e evasão fiscal são 100% falsas e altamente difamatórias”, escreveu o advogado.

NO PUGGINA.ORG
CANDIDATOS DIFERENTES? SÓ DAQUI A QUATRO ANOS
Por Percival Puggina. 
Artigo publicado terça-feira,  02.10.2018
Há pessoas contrariadas com o cenário da eleição presidencial. Expressam desagrado em relação aos dois candidatos que lideram as pesquisas. Parecem querer opções diferentes, outros candidatos, outros eleitores, outras pesquisas, outras urnas, outra mídia. Outro país, enfim. É a carrancuda fauna dos isentões. Sairão do pleito aborrecidos, mas com luvas brancas e sapados polidos.
Outras há que desejariam melhores perspectivas eleitorais para alguém, digamos, loquaz como Meirelles, popular como Amoêdo e Álvaro Dias, ou seguro e combativo como Geraldo. Ah, o Geraldo! “O Geraldo teria mais chances!”, dizem alguns. Pois é, só faltou combinar isso com ele, seus partidos e eleitores.
Geraldo Alckmin foi ungido candidato por um elenco de nove siglas integrantes do congestionado Centrão, cujas bancadas na Câmara dos Deputados somam 266 parlamentares. Mais da metade do plenário! Esse robusto apoio proporcionou à sua campanha o maior volume de recursos financeiros e o maior tempo de TV. Mesmo assim, a candidatura não sintonizou senão com uma pequena parcela da população, insuficiente para levá-lo ao segundo turno.
A campanha do tucano cometeu erro gravíssimo. Tendo saído no encalço de Bolsonaro, em vez de compreender quais os atributos que o faziam pontear a disputa presidencial num voo solo, decidiu derrubá-lo alvejando-o insistentemente. Por sua formação, Alckmin talvez pudesse repartir com Bolsonaro o interesse pela proteção das crianças (e de sua inocência). Poderia, também, sair em defesa da instituição familiar, de professores que ensinem e estudantes que estudem. Poderia posicionar-se vigorosamente em favor da Lava Jato, do combate à criminalidade e à impunidade, bem como do cumprimento integral das penas e do fim do desarmamento.
Poderia opor-se com firmeza à ideologia de gênero e ser muito explicitamente antipetista. Poderia apresentar-se como um candidato conservador e liberal.
Poderia, poderia, mas isso seria pedir demais a um catecúmeno do “progressista” Fernando Henrique Cardoso. O tucanato rejeita os dois adjetivos. Quando o PT fazia oposição ao PSDB, a expressão mais usada para desqualificá-lo era justamente a de ser o partido neoliberal ou liberal. E a acusação realmente doía porque não era assim que o partido se via ou queria ser visto. Quanto a ser conservador, definição que a maior parte da população provavelmente faz de si mesma, sofre total rejeição num grupo cujos líderes históricos vieram da esquerda do PMDB.
Não foi apenas por falta de carisma do candidato tucano que a maior parte de sua base entornou para Bolsonaro. O principal erro residiu no ataque a quem fala sobre angústias da população, sem levar em conta que seus tiros atingiam, também, a própria sociedade em seus anseios reais.
Não sei o que sairá das urnas no pleito presidencial. Se não confio (embora não as desconsidere) nas pesquisas de primeiro turno, não vejo porque levar em grande conta as de segundo turno, se ele ocorrer. Em todo caso, recomendo que o voto parlamentar seja cuidadosamente selecionado com vistas a uma saudável renovação e conferido a candidatos dignos, com perfil conservador e liberal. Em qualquer desfecho, eles serão indispensáveis.

NO INSTITUTO MILLENIUM
A ELEIÇÃO ESQUECIDA
Domingo, 30/09/2018
Você sabia que há uma eleição para governador do Estado de São Paulo sendo disputada neste momento? Pode acreditar que sim, e fique sabendo, mais ainda, que esta eleição já está aí, a menos de uma semana. Quem diria, não? Provavelmente você nunca ouviu falar tanto de política e eleição como hoje — mas quase nada tem a ver com o Estado em que você mora, trabalha, e que, no fim das contas, mais importa para a sua vida prática. Os paulistas estão esmagados, literalmente, pelo noticiário político nacional, e parece não ter sobrado tempo para mais nada. Quem vai ser o próximo presidente do Brasil? Ninguém tem a menor ideia, e, quanto menos se sabe a respeito, mais se discute o assunto. Teria o deputado Jair Bolsonaro, sim ou não, chegado ao seu “teto” de votos? João Amoêdo vai passar dos 5%? E o ex-presidente Lula, então: alguém, mesmo sendo advogado, saberia dizer ao certo quantos recursos, apelos, embargos, agravos etc., etc., ele apresentou ao Supremo Tribunal Federal nos últimos meses, na sua tentativa de sair do xadrez onde está preso por corrupção e lavagem de dinheiro, em Curitiba, e conseguir um indulto? Tivemos também processos de tudo quanto é tipo que ocuparam semanas valiosas de debate no Tribunal Superior Eleitoral, no Superior Tribunal de Justiça, na ONU, no Vaticano, na associação de caça e pesca — diga um lugar qualquer, e é certo que estiveram discutindo ali se Lula seria ou não “candidato”. Quando o ex-governador paulista Geraldo Alckmin vai reagir? Ele vai reagir? E “as pesquisas de intenção de voto”, que se embaralham uma com as outras a cada quinze minutos? É melhor nem falar das pesquisas de intenção de voto.
O fato é que a eleição para governador de São Paulo, um evento-chave na política brasileira, foi empurrada para as sombras. É um equívoco político sério. Nada se faz no Brasil, há muito tempo, sem a participação decisiva de São Paulo — a grande força de equilíbrio, ou de contenção, para um poder central que suga cada vez mais os recursos do Brasil, quer mandar cada vez mais no País todo e dividiu a sociedade brasileira em duas classes opostas. Uma, como a nobreza e o clero antes da Revolução Francesa, é formada pelos que vivem direta e indiretamente às custas do Estado. A outra é formada pelos que trabalham para sustentar a primeira — e é no Estado de São Paulo, mais que em qualquer outro lugar do Brasil, que ela existe. É aqui, com sua energia política, sua força econômica e sua densidade social, que o Brasil do trabalho enfrenta o Brasil dos nobres. É aqui que se concentram as chances do progresso contra o atraso. Mas nada disso parece ter a mais remota conexão com a alucinada discussão política do momento nem com seus personagens. A candidata Marina Silva não sabe onde fica o Viaduto do Chá. Jair Bolsonaro não conseguiria distinguir Jundiaí de Presidente Prudente. Ciro Gomes acha que São Paulo fica na Inglaterra. Está na cara que há algo profundamente errado com isso tudo.
A uma semana da eleição, a mídia ainda não percebeu que São Paulo está no jogo, e a opinião pública parece anestesiada com as polêmicas da campanha presidencial, entre Bolsonaro e o PT, que lhe são servidas todos os dias nos meios de comunicação. Pouco se discutem os candidatos e menos ainda seus projetos. Quem seria capaz de diferenciar um governo João Dória de um governo Paulo Skaf, os dois candidatos que estão à frente? Dória foi prefeito de São Paulo, levado numa onda de entusiasmo, mas não se interessou em cumprir o mandato para o qual tinha sido eleito. Skaf simplesmente não se sabe quem é — vive há anos nesse mundo escuro do empresariado biônico, essa gente das Fiesps, e Ciesps e Sesis e Senais, nebulosas onde entram e de onde saem bilhões de reais em dinheiro público que mantêm vivo o exótico sindicalismo empresarial brasileiro, contraponto ao sindicalismo das CUTs e similares. Os demais candidatos são nulidades sem a menor possibilidade de conseguir alguma coisa — é a turma que só existe por causa das verbas do “fundo partidário”. Um deles, o do PT que pretende governar o Brasil, não conseguiu eleger nem o prefeito da própria cidade, São Bernardo, na última eleição municipal.Trata-se de um perfeito despropósito para um estado que tem um PIB anual de 2 trilhões de reais — isso mesmo, 2 trilhões de reais —, que coloca São Paulo ali pelos vinte maiores países, acima da Suécia. São Paulo, na América do Sul, não é apenas maior que a Argentina. É maior que a Argentina, o Uruguai, o Paraguai e a Bolívia somados. Com 45 milhões de habitantes, é o lar de um em cada cinco brasileiros — e o terceiro maior país da América do Sul, logo após o Brasil e a Colômbia. São Paulo está entre as dez maiores áreas metropolitanas do mundo; é, de longe, a mais cosmopolita de todas as cidades brasileiras. É daqui que saem 35% de tudo o que o Brasil produz. São Paulo tem o primeiro IDH do País — na tabela oficial fica atrás de Brasília, mas Brasília não existe no mundo das realidades econômicas. O índice de homicídios de São Paulo, de 3,8 por 100 000 habitantes, é equivalente hoje ao do Estado do Kansas, nos Estados Unidos — um progresso absolutamente extraordinário. Trata-se de um quarto da taxa média do Brasil, o que faz de São Paulo, de longe, o lugar mais seguro do País. É aqui que estão a melhor polícia, as melhores autoestradas, as melhores ferrovias, os melhores hospitais e as melhores escolas do Brasil — além da sede da maioria das 500 mais possantes multinacionais do mundo.
Mais importante que tudo, talvez, São Paulo é o mais brasileiro de todos os estados do Brasil — um resumo, melhor do que qualquer outro, de tudo aquilo que este País tem para apresentar. É sintomático. São Paulo é o estado mais odiado pelos políticos das outras unidades da Federação, sobretudo as que são mais atrasadas e desiguais do ponto de vista social. É visto como uma “ameaça” — e talvez seja mesmo, porque aqui está a amostra do que poderia ser um Brasil mais moderno, mais progressista e mais justo. Ao mesmo tempo, é o estado mais amado pelos cidadãos comuns, principalmente pelos milhões que ao longo das décadas têm vindo para cá em busca de trabalho, de realização e de projetos de melhoria em sua vida. É o lugar procurado pelos que não se conformam com o Brasil dos coronéis, do atraso e da adoração ao governo — pelos que não querem passar uma vida de dependência da “autoridade” e de sujeição aos que mandam. São Paulo é o estado dos brasileiros que acreditam no mérito individual, na recompensa pelo esforço, trabalho e talento, e na autodeterminação das pessoas. É o contrário do Bolsa Família. É o contrário de Brasília.
É uma pena que nada disso esteja em discussão nestas eleições.
(Fonte: “Veja”, 29/09/2018)


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