SEGUNDA EDIÇÃO DE SEXTA-FEIRA, 21 DE SETEMBRO DE 2018

NO O ANTAGONISTA
Depósitos em espécie para esfaqueador de Bolsonaro
Sexta-feira, 21.09.18 08:58
A Crusoé revela que o agressor de Jair Bolsonaro “recebia com alguma frequência transferências de valores e também depósitos em espécie – os valores são mantidos em segredo”.
A PF, agora, está tentando descobrir quem transferia recursos para Adélio Bispo.

Esfaqueador de Bolsonaro participou de outro evento com o candidato
21.09.18 07:29
“Meses antes de esfaquear Jair Bolsonaro”, revela a Crusoé, “Adélio esteve em um outro evento com a presença do presidenciável.
Foi em Uberaba, também em Minas Gerais, em outubro do ano passado.”
Esse é um dos pontos obscuros que o segundo inquérito da PF deve tentar elucidar, diz a reportagem.

O verdadeiro perigo para a América Latina
21.09.18 08:07
“A América Latina é a capital mundial de assassinatos”.
A manchete do Wall Street Journal corrige a capa da Economist.
O maior perigo para brasileiros e latino-americanos não é Jair Bolsonaro, e sim morrer com uma bala na nuca.
Diz a reportagem do WSJ:
“Assombrosamente, 1.379 bebês com menos de um ano tiveram mortes violentas no Brasil entre 2000 e 2015, de acordo com as estatísticas oficiais”.
Você sabe o que a grande imprensa não conta sobre o duelo Bolsonaro X Haddad? Descubra aqui AQUI.

NO BLOG DO FAUSTO MACEDO
Suíça vai enviar extratos de Paulo Vieira, apontado como operador do PSDB
Ex-diretor da Dersa tentou evitar nos tribunais suíços a cooperação com o Brasil perdeu seu último recurso
Por Jamil Chade/GENEBRA
Sexta-feira, 21 Setembro 2018 | 08h27
GENEBRA – Depois de quase um ano de um trâmite judicial, os extratos bancários do ex-diretor da DERSA, Paulo Vieira de Souza, serão enviados ao Brasil. O Estado obteve a informação da Suprema Corte da Suíça, que rejeitou o recurso do brasileiro. A Procuradoria Geral da Suíça também confirmou a decisão, indicando que ela dará início ao envio dos documentos ‘no futuro próximo’.
Os extratos sobre o suspeito poderiam apontar para novos implicados e identificar quem teria feito pagamentos a uma conta que ele manteve na Suíça. Procurada, a defesa de Vieira de Souza indicou que não irá se pronunciar até conhecer a decisão e esperar o trâmite legal da cooperação.
Desde novembro de 2017 o caso vem sendo alvo de uma briga nos tribunais. A defesa do ex-diretor apresentou dois recursos ao longo dos últimos meses. Mas todos eles foram recusados. No processo suíço, o caso é descrito como envolvendo um suspeito por ‘desvio, corrupção e participação em um grupo criminoso’.
Em março deste ano, o Estado revelou que os suíços tomaram a decisão de cooperar com o Brasil na coleta de dados com os bancos, com o objetivo de repassar as informações que poderiam revelar eventuais beneficiados ou quem teria feito depósitos. O objetivo era o de desvendar a origem e o destino das transferências realizadas pelo brasileiro apontado como operador do PSDB, entre 2007 e 2018.
Num e-mail à reportagem, o Ministério Público da Suíça confirmou que uma decisão positiva reafirmando a intenção de realizar o envio dos dados foi tomada por Berna em maio, diante da conclusão dos trabalhos. Os recursos chegaram a somar R$ 113 milhões, antes de terem sido transferidos das contas suíças para o Caribe.
Um primeiro recurso foi apresentado na Câmara de Apelação do Tribunal Penal Federal da Suíça. Se ele fosse acolhido, Berna não poderia enviar os dados ao Brasil. Mas a decisão dos juízes foi favorável à cooperação entre os dois países no caso de Paulo Vieira de Souza. “A Corte rejeitou (o recurso) no dia 21 de agosto de 2018”, confirmou Berna.
A defesa do brasileiro tentou uma última cartada e, no início de setembro, um segundo recurso chegou às instâncias mais altas do país europeu, a Corte Suprema da Suíça.
No dia 10 de setembro, três juízes, apresentados apenas por seus sobrenomes – Merkli, Fonjallaz e Eusebio – consideraram o recurso e o negaram. Não há mais como recorrer da decisão.
Ao Estado, o Ministério Público da Suíça confirmou a decisão favorável à cooperação. “A Corte Suprema rejeitou o recurso contra a decisão do Tribunal Penal Federal”, disse, num comunicado.
“Isso significa que o Escritório do Procurador-Geral da Suíça deve ter a capacidade de executar a assistência legal por meio do Escritório Federal de Justiça no futuro próximo”, explicou.
A mesma estratégia foi usada pelo ex-deputado Eduardo Cunha ou pelas empresas mantidas pela Odebrecht. Em ambos os casos, a defesa conseguiu adiar em quase um ano o envio de dados bancários ao Brasil. Mas, nos tribunais superiores da Suíça, foram derrotados e os documentos seguiram ao MP brasileiro, com uma repercussão decisiva tanto para a prisão de Cunha como para um acordo de leniência por parte da construtora brasileira.
Os suíços confirmaram que foram eles quem primeiro repassaram, de forma espontânea, a informação da existência das contas ao Brasil envolvendo Vieira de Souza. Em 2017, as autoridades suíças encontraram R$ 113 milhões (35 milhões de francos suíços) em quatro contas no país europeu em nome do ex-diretor da Dersa. Ele comandou a estatal paulista entre 2007 e 2010, período que compreende o mandato do ex-governador José Serra (2007-2010), do PSDB.
Poucos meses depois do primeiro contato entre os suíços e o Brasil, no entanto, em novembro de 2017, a Procuradoria em Berna indicou que recebeu um pedido de cooperação por parte do Ministério Público Federal para que os dados fossem aprofundados. “O Escritório do Procurador-Geral da Suíça pode confirmar que, nesse contexto, o Departamento de Justiça Federal nos delegou um pedido de assistência legal por parte do Brasil em novembro de 2017”, disse o MP suíço.
O trabalho dos suíços foi o de coletar, no Banco Bordier & Cia, todos os extratos e documentos de transações relativas às quatro contas, desde o dia de sua abertura, em 2007, até hoje. As contas estão vinculadas a uma offshore panamenha chamada Groupe Nantes e, ainda no ano passado, o suspeito teria transferido os ativos para um outro paraíso fiscal, nas Bahamas. A suspeita dos investigadores é de que o dinheiro teria saído da Suíça diante do avanço das apurações do MP suíço contra brasileiros citados em casos da Lava Jato.
As contas, mesmo assim, passaram a ser congeladas e, mesmo que os valores já não estejam mais na Suíça, a esperança dos procuradores é de que os extratos e documentos bancários ajudem a elucidar a origem dos recursos e quem, durante quase uma década, teria sido beneficiário de depósitos com origem nessas contas.
O caso ainda foi anexado pelos advogados do ex-diretor da Dersa ao inquérito em curso no Supremo Tribunal Federal, com relatoria do ministro Gilmar Mendes, que investiga o hoje senador José Serra (PSDB-SP). O procedimento foi autorizado pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte, com base na delação da Odebrecht – ex-executivos da empreiteira relataram irregularidades em obras do Rodoanel, em São Paulo.
Paulo Souza também foi citado pelo operador Adir Assad, que afirmou em depoimento de sua delação premiada à Lava Jato ter recebido por meio de suas empresas de fachada cerca de R$ 46 milhões de concessionárias de rodovias do Grupo CCR. A delação integra a documentação da 48ª fase da operação, que investiga irregularidades em concessão de rodovias federais no Paraná, bem como envolve empresas que conquistaram concessões no Estado de São Paulo durante as gestões tucanas de Geraldo Alckmin e Serra.
O gabinete da Casa Civil de Beto Richa, governador do Paraná, também do PSDB, foi alvo dessa fase da apuração. Os repasses teriam sido efetuados entre 2009 e 2012 e parte dos valores, segundo Assad, foi entregue ao ex-diretor da Dersa.

NO ESTADÃO (Opinião)
Pão, pão, queijo, queijo
É com a realidade que está aí que teremos de construir nossos sonhos, ainda que modestos
Por FERNANDO GABEIRA, no O Estado de S.Paulo
Sexta-feira, 21 Setembro 2018 | 03h00
Ando muito pelo Brasil, mas não faço pesquisas. Nem pergunto em quem o interlocutor vai votar. Apenas converso. E com isso vou formando um quadro que, às vezes, é confirmado pelas pesquisas que dizem ter estreita margem de erro.
Faz algum tempo que tento me acostumar com a realidade que vem pela frente, um confronto polarizado entre dois líderes populares, Lula e Bolsonaro. Como um está na cadeia e o outro no hospital, a eleição ganha um tom de realismo fantástico. É preciso abstrair a dimensão romanesca e cair na realidade: um dos dois será vitorioso, com todas as consequências que isso implica.
Senti no Nordeste que Lula tem muita força. Na Bahia, sobretudo, um sentimento de gratidão a Lula e a popularidade do governo local indicam uma supremacia da esquerda. No Norte, Sudeste e Sul, ouço muito o nome de Bolsonaro. Se o que vi tem o valor de uma pesquisa espontânea, minha inclinação é supor que a aspiração de mudança está encarnando nele.
Às vezes tendo a imaginar se essa imensa resistência ao governo de esquerda não se parece com o susto que os franceses tiveram com o Maio de 1968, optando pela volta de De Gaulle.
Não vejo o momento que virá, pela óptica dos anos 60 no Brasil, pelo menos não o descreveria como Roberto Campos ao analisar a queda de Goulart e a tomada do poder pelos militares. Para ele, a alternativa eram anos de chumbo ou rios de sangue. E também não é, como às vezes dizemos brincando, um dilema entre Venezuela e Filipinas. O presidente das Filipinas é um peso-pesado no gênero. E um destino venezuelano é altamente improvável. Maduro não se aguentaria tanto tempo se não tivesse cooptado as Forças Armadas com empregos que rendem muito aos generais. No Brasil isso seria diferente.
Ainda assim, descartando modelos mais assustadores, viveremos uma situação delicada. As duas forças em presença são dificilmente conciliáveis.
Nos Estados Unidos, apesar da rivalidade, em alguns e raríssimos momentos democratas e republicanos reconhecem o interesse nacional. Já a polarização brasileira, de uma certa forma, reduziu as chances de um esboço de projeto nacional para enfrentar a crise e reconstruir o País. Certamente cada uma das partes tem o seu. Mas ele dificilmente atravessa os limites dos seus entusiasmados seguidores.
O estímulo ao equilíbrio deve vir da sociedade, mas isso não é fácil quando a maioria dos eleitores pende para uma visão mais radical. O discurso do equilíbrio é sentido como uma das formas de manter o sistema político-eleitoral. As expectativas são muito maiores.
Num posto de gasolina da estrada, um homem com um longo chapéu de palha me disse: “Voto no Bolsonaro porque é preciso virar a mesa”. Nesses momentos sinto a fragilidade dos instrumentos com que deveríamos contar quando o próximo presidente assumir: Congresso e Supremo Tribunal.
O Congresso, na verdade, é a força sobre a qual a sociedade ainda pode exercer uma influência maior. Ainda assim, com discretíssimas mudanças será sentido mais como parte do problema do que como solução.
O Supremo... Bem, o Supremo todos sabemos que está parcialmente empenhado em neutralizar a Lava Jato. Cada vez que concede um habeas corpus, liberta um condenado, desmembra um processo para tirá-lo de Curitiba, está alimentando o desejo de uma renovação pela direita.
Vejo um amplo jogo de grandes forças sociais e, diante dele, poucas as chances da intervenção individual. Reconheço que vivemos num país com alto nível de imprevisibilidade. Mas, com os dados que tenho, creio que a tarefa será cada vez mais pensar os próximos passos, estabelecer um roteiro de redução de danos. É uma tarefa para todos os que querem sair do atraso, incluídos os eleitores mais moderados dos dois líderes.
Ultimamente têm surgido alguns livros no Brasil sobre a decadência da democracia, que não sofre mais golpes de Estado, mas simplesmente transita para regimes autoritários. Os livros são ótimos, porém o cenário dos últimos anos no Brasil é um livro aberto. Várias vezes o Congresso votou projetos absurdos sabendo que estava cavando um abismo maior entre os políticos e a sociedade. Os escândalos de corrupção, que levaram um grupo para a cadeia e deixaram seu principal aliado agonizando diante da pressão policial, tudo isso contribui para um desencanto geral com o sistema político-partidário. 
Não se trata de um “bem que avisei” ou de caça aos culpados, apenas uma constatação importante de como será difícil a nova fase.
Se uma visão mais moderada perder a batalha eleitoral, e isso me parece provável no momento, não terá perdido com isso a sua importância. Ela pode ser um fio de esperança para que surja um projeto de reconstrução mais consensual. E ser uma espécie de algodão entre cristais, lembrando que a guerra fria acabou e é necessário superar os grandes dilemas ideológicos para recuperar o tempo perdido.
A polarização entre dois líderes populares de certa forma simplifica e torna o processo mais caloroso ainda. Mas revela como surgem os líderes nacionais no Brasil democrático. Eles simbolizam também a força da comunicação oral. São capazes de transmitir a mensagem que a forma literária dos intelectuais não consegue.
Claro que seu discurso também é lido, perpassa os jornais e revistas. No entanto, é a linguagem oral, com seus erros, hesitações e exageros, que consegue chegar ao coração dos eleitores em escala nacional. Outros podem usá-la sem êxito. Entra aí um outro fator importante: o papel do indivíduo, sua trajetória e personalidade.
Poderia divagar muito sobre o dilema brasileiro. Poderia até desejar que não fosse assim. Mas seria perda de tempo. Se não estou muito equivocado, essa é a realidade que está aí. E é com ela que teremos de construir incessantemente nossos sonhos, ainda que modestos.

NO BR18 (Estadão)
Sexta-feira, 21.09.2018 | 08h52
Candidatos sub judice
Cerca de 1.400 políticos que tiveram seus registros barrados pela Justiça Eleitoral e recorreram poderão concorrer nestas eleições com nome, foto e número na urna eletrônica, segundo o Estadão. Para os barrados, a campanha continua até que o recurso contra o indeferimento seja julgado definitivamente.
Desse total, 12 disputam o cargo de governador, 26 de senador, 462 de deputado federal e 855 de deputado estadual.

21.09.2018 | 07h00
A Opinião do Estadão: As eleições parlamentares
“A julgar pelas pesquisas de intenção de voto, seja quem for eleito, fato é que o próximo presidente da República contará com o apoio inicial genuíno de apenas uma reduzida parcela do eleitorado quando tomar posse em 1.º de janeiro de 2019. Em outras palavras: o eleito dificilmente desfrutará a chamada “lua de mel” que, no mais das vezes, costuma marcar os primeiros meses de um governo.”

NA VEJA.COM
STF manda Caixa pagar correção do FGTS por planos econômicos
Processo que corria há quase oito anos teve desfecho favorável aos correntistas do FGTS. Impacto sobre as operações da Caixa não foi calculado
Por Redação
Quinta-feira, 20 de setembro de 2018, 20h31 - Publicado em 20 de setembro de 2018, 17h58
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a Caixa Econômica Federal deverá corrigir monetariamente os saldos do FGTS do período afetado pelos planos econômicos Verão e Collor I. O processo, que corre desde 2010, interfere em outras 753 ações que tramitam na Justiça.
A decisão do STF deve representar um forte revés financeiro para a Caixa. Por outro lado, correntistas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que possuíam saldos entre 1989 e 1991, podem ter um bom valor na conta para sacar.
O processo, apesar de tramitar há mais de oito anos, teve o início de seu julgamento em junho de 2016. Porém, um pedido de vista, do ministro Ricardo Lewandowski interrompeu sua análise.
Apesar da decisão, somente tem direito a este dinheiro quem não fez acordo com a Caixa, no início dos anos 2000, que não sacou o montante para comprar imóveis e que entrou com processo até o ano de 2010.
O recurso movido pela Caixa buscava reverter uma decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3). Ainda é desconhecido o impacto sobre as operações do banco.
Em nota, a Caixa informa que a ‘decisão do STF não gera novos direitos no âmbito do FGTS a serem pagos, nem altera as providências adotadas para cumprimento integral das decisões judiciais tomadas anteriormente quanto a essas questões’.

NO RADAR (Veja.com)
MPF pede pena máxima para Sílvio Pereira
'A culpabilidade de Sílvio Pereira é superior a normal'
Por Ernesto Neves
Sexta-feira, 21 de setembro de 2018, 06h12
O Ministério Público Federal pediu para que o ex-secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, seja condenado à pena máxima possível pelo crime de corrupção.
O documento foi entregue ao juiz Sérgio Moro na última quinta (21)
Pereira é acusado de ter recebido propina das empreiteiras GDK e OAS no esquema de corrupção da Petrobras.
O dinheiro seria uma troca para favorecer as empresas na construção da Unidade de Tratamento de Gás de Cacimbas, no Espírito Santo. 
“A culpabilidade de Sílvio Pereira é superior a normal. A conduta do acusado demonstra enorme reprovabilidade, pois foi um dos responsáveis por organizar inicialmente na Petrobras a sistemática de desvios de recursos em favor do Partido dos Trabalhadores por meio da atuação de Renato Souza Duque”.

NA COLUNA DO AUGUSTO NUNES
Lula retardou demais a largada do poste que fabricou
Como disse o jornalista J.R. Guzzo, "Lula é o grande estrategista, o esperto que não falha. Tão esperto que está na cadeia"
Por Augusto Nunes
Quinta-feira, 20 de setembro de 2018, 18h
As pesquisas eleitorais da semana induzem a três constatações:
1. A menos que cometa algum erro monumental, o deputado Jair Bolsonaro já garantiu uma das vagas no segundo turno.
2. O bom desempenho de Ciro Gomes num possível segundo turno é uma notícia especialmente estimulante para o candidato do PDT. Como seu índice de intenção de voto não caiu, pode afirmar que tem mais chance de vitória do que Haddad num duelo final com Jair Bolsonaro.
3. O ritmo e o volume da transferência de votos de Lula para Haddad sugere que o ex-presidente presidiário pode ter cometido um erro gravíssimo ao retardar o lançamento da candidatura do poste que fabricou. Porque só pensa nele próprio, Lula demorou demais para largar o osso (ou dividi-lo). E seu filhote se arrisca a não cruzar a linha do segundo turno por falta de tempo e fôlego.
Cito de memória a lição do jornalista José Roberto Guzzo: “Lula é o grande estrategista, o intuitivo genial, o esperto que não falha. Mas está na cadeia. Não acho que alguém que está na cadeia por causa das bobagens que fez seja mais esperto do que eu, por exemplo”.

Paz de Toffoli significa impunidade de suspeitos
Lewandowski ocupou o posto de pior presidente da História do STF. Mas Toffoli tem plenas condições de superá-lo
Por José Nêumanne
Quinta-feira, 20 de setembro de 2018, 07h14
José Nêumanne (publicado no Estadão)
Desde o dia 13 passado, que foi véspera de sexta-feira, a Nação ─ parte esperançosa, parte ansiosa ─ perdeu um pouco de seu sono diante das dúvidas que vislumbra no horizonte turvo. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, perdoará e soltará o ex-chefe Lula? Ele porá de joelhos nus sobre caroços de milho agentes, procuradores e juízes federais que devassarem o passado mais turvo do que tal horizonte de figurões honrados com convite para sua festa de subida ao topo? O nome dessa sensação não é só incerteza, mas também insegurança jurídica.
Não me venha de borzeguins ao leito quem achar que aqui incorro em exagero. Quem exagerou foi ele. À véspera de sua posse solene, não esperou ser entronizado para beneficiar o ex-ministro da Fazenda dos governos e do partido a quem serviu como advogado, Guido Mantega, alcançando com sua benemerência os marqueteiros criminosos confessos João Santana e Mônica Moura. Encaminhou um processo em que o trio é acusado de corrupção para a Justiça Eleitoral, a forma mais barroca e disfarçada da impunidade dada por sua grei de justiceiros que soltam, em vez de punir. Não adianta buscar no noticiário dos meios de comunicação nem no Google salvador: nenhum desses réus disputa nenhuma eleição. E mais, puxou a orelha do juiz que os processa, Sérgio Moro, ídolo número um do populacho por causa da Operação Lava Jato, acusando-o de quebrar a hierarquia por “desprezar” decisão da Segunda Turma do STF, à qual o presidente não pertence mais.
Cármen Lúcia, a substituída, foi para a tal Turma, que agora, a depender do decano, Celso de Mello, pode deixar de ser o éden dos réus para assumir o tridente do inferno de quem demanda habeas corpus. Que outra denominação pode ser dada, que não seja insegurança jurídica, ao fato de mera mudança de um dos cinco membros de uma turma alterar de forma radical o ânimo de punir de um colegiado? E que pecado será maior do que esse?
Mais do que a inoportuna reprimenda a Moro na carteirada, que Sua Excelência deu antes de se tornar primus inter pares, ameaça o combate à corrupção, e não apenas a Lava Jato, a possibilidade de, na principal cadeira do plenário, o ex-advogado-geral da União de Lula, pôr em votação a mudança de uma jurisprudência: a da autorização para prender condenados em segunda instância. Ora, direis, jurisprudências mudam, porque dependem da dinâmica da vida real. Mas, como tem lembrado insistentemente sua colega Rosa Weber, ao lado de quem se sentava quando era apenas um “nobre par”, não devem ser alteradas em prazos curtos. Isso, acrescento, emula as “constituições” periódicas na ditadura militar.
Nos dois últimos anos, Toffoli formou ao lado de Gilmar Mendes, que virou a casaca na jurisprudência citada, e de Ricardo Lewandowski, um trio que, para impor suas convicções partidárias ou seus interesses pessoais, distribui habeas corpus a quem tiver renda para pagar advogados que frequentam o STF. Nessa prática aparentemente generosa, mas, de fato, muito duvidosa e pouco judiciosa, seus adeptos, aos quais se reúne sempre com gosto e parolagem o ministro da Primeira Turma, Marco Aurélio Mello, tornam despicienda a exigência de insuspeição do julgador. O novo chefão da grei mandou soltar José Dirceu, que foi preso por ter reincidido no delito pelo qual já havia sido condenado e cumpria pena de 30 anos e meio, o dobro do que cabe ao ex-chefão de ambos, Lula: 12 anos e 1 mês.
Ricardo Lewandowski chegou a rasurar o artigo 52 da Constituição, na presidência da sessão do impeachment da petista Dilma Rousseff, em conluio com os senadores Renan Calheiros e Kátia Abreu, hoje vice na chapa de Ciro Gomes, do PDT. E tornou possível a condenada disputar eleição para o Senado em Minas, sem reprovação de nenhum de seus “mui zelosos” guardiões.
Toffoli assumiu o mais poderoso posto do Judiciário em meio à turbulência pública entre os ministros daquela para a qual a denominação de “Corte” lembra a nobreza da época dos Luíses antes da Revolução Francesa. 
Valoroso combatente do lado de quem exige mudar a jurisprudência da autorização para prisão em segunda instância, soprou fumaças de paz de um cachimbo que já lhe entortou a boca. Quando, movido pelos eflúvios dos “espíritos”, torturou, condenou e executou, sem piedade, a canção Tempo Perdido, sucesso de seu ídolo Renato Russo, citado no discurso conciliador, emitiu, sem querer, sinais de que perderá seu tempo quem imaginar que a pax toffoliana beneficie alguém mais do que os convidados à solenidade e os parceiros da indecorosa carraspana. Será mais prudente imaginar que a palavra defina o sono solto que poderá ter quem hoje teme ser despertado no alvorecer pela campainha acionada por um policial.
O novo presidente do STF não é um campeão do notório saber jurídico, mas deve conhecer o significado óbvio da palavra “novilíngua”, com a qual o escritor britânico George Orwell definiu o dialeto imposto pelo Grande Irmão no celebrado '1984'. Pois, em seu discurso do trono, falou em “prudência”, embora sua prática de ministro torne mais correto o uso de “leniência”. Tais conceitos, ao menos nos dicionários disponíveis, não são sinônimos.
Numa amostra de sua alienação da realidade, o jurisconsulto de Marília não hesitou em dar a definição mais estapafúrdia da atual conjuntura. “Não estamos em crise, estamos em transformação”, disse. E nem corou. Ao esbofetear a cara limpa de 24 milhões de brasileiros sem ocupação decente para lhes garantir a sobrevivência, ele não hesitou em também interferir no universo dos antônimos, ao adotar “permanência” como se mudança pudesse ser.
Ao fazer Dilma apta a ser “merendeira de escola”, Lewandowski ocupou o posto de pior presidente da História do STF. Mas Toffoli tem plenas condições de superá-lo.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NOTÍCIAS EM DESTAQUE - 1ª EDIÇÃO DE 10/12/2023 - DOMINGO

NOTÍCIAS EM DESTAQUE - 1ª EDIÇÃO DE 05/8/2023 - SÁBADO

NOTÍCIAS EM DESTAQUE - 2ª EDIÇÃO DE 08/4/2024 - SEGUNDA-FEIRA