TERCEIRA EDIÇÃO DE 05-6-2018

NA COLUNA DA CORA RÓNAI
O fim de uma era
Um dia, os telefones fixos estarão aposentados de vez, mas sobrarão alguns como decoração ou curiosidade
Quinta-feira, 31-5-2018
A revista “The Atlantic” publicou, esta semana, um ótimo artigo de Alexis Madrigal, “Por que ninguém atende mais o telefone”. Ele relembra algo que devia ser óbvio para todos nós, mas que ficou por uma dessas longas estradas de esquecimento que pavimentam o mundo da tecnologia: quando o telefone foi inventado, ninguém sabia como usá-lo. O que fazer quando a coisa tocava? Como saudar a pessoa do outro lado da linha? Alexander Graham Bell queria que as conversas começassem com “Ahoy-hoy!”, uma saudação náutica, mas felizmente a ideia não pegou, ou estaríamos dizendo 'arroirrói' até hoje. Thomas Edison sugeriu “Hello!”. A palavra já existia, mas era usada para chamar a atenção, e não como saudação — algo como “Ó!” ou “Ei!”. Muita gente foi contra, porque, naquela época — primeiras décadas do século passado —, a conversa educada era cheia de rapapés, e um simples “alô” parecia rude e direto demais. Apesar disso, e de todas as cartas escritas contra e a favor para os jornais, “Hello!” vingou, e acabou sendo universalmente adotado.
Hoje, o mundo inteiro fala “alô” ou alguma variante disso achando que o telefone veio pronto num pacote instantâneo, mas a cultura que se construiu em torno do aparelho levou tempo para se consolidar. Nas primeiras décadas de sua existência, o telefone, como quase toda tecnologia nova, enfrentou resistência e custou a ser aceito. As pessoas mais velhas achavam uma incrível falta de educação fazer convites pelo telefone, em vez de mandar bilhetinhos, e não se sentiam à vontade falando com uma máquina — a noção de que se falava pelo aparelho, ou através dele, não surgiu de um dia para o outro.
Quando o telefone tocava, tinha que ser atendido: isso era imperativo. Num tempo pré-internet e pré-Bina, a única maneira de saber quem estava chamando era pegar o gancho. Se uma chamada se perdia, já era, não havia registro para saber quem havia ligado. Hoje, olhamos para o número que chama para saber se queremos ou não atender, e telefones fixos ficam roucos de tanto tocar, até porque a maioria das chamadas é spam. Ninguém quer mais saber do seu telemarketing irritante e desnecessário.
Madrigal observa que a cultura que se criou em torno do telefone, os hábitos que desenvolvemos coletivamente e que chegaram ao auge em algum momento dos anos 1980, está desaparecendo. Nem mesmo o “Alô!” universal se mantém, substituído por saudações orientadas a pessoas e circunstâncias específicas. O telefone fixo é cada vez menos usado, e o smartphone tem opções demais para que se crie, ao seu redor, uma cultura única. Há mensagens, texto, recados gravados, telefone propriamente dito, emojis.
Um dia, e não demora muito, os telefones fixos estarão definitivamente aposentados, como as máquinas de escrever ou os aparelhos de fax.
Aqui e ali sobrará um deles, mudo e desconectado, como decoração ou curiosidade. E, de vez em quando, ainda será possível ouvir um toque de campainha vindo de algum smartphone — mas é provável que seu proprietário nem desconfie que aquele “trim” nostálgico é a última memória sonora de um aparelho que não conseguia vibrar nem tocar música para chamar a atenção.

NO BLOG DO MERVAL PEREIRA
Freud explica
POR MERVAL PEREIRA
Terça-feira, 05/06/2018 06:30
A revelação pela repórter da Globonews, Andreia Sadi, de que a Polícia Federal encontrou na casa de Carlos Alberto Costa, sócio do coronel Lima, documentos que indicam uma relação direta entre o amigo de Temer e empresas que estão sendo investigas na Operação Skala, como a Rodrimar e grupo Libra, traz de volta uma intrigante questão, evidenciada durante vários momentos da Operação Lava Jato: por que tantos envolvidos em falcatruas mantêm guardados documentos e celulares com informações que poderiam ser destruídas para não incriminá-los?
Um dos caixotes com documentos comprometedores foi descoberto no quarto do bebê, o que demonstra claramente a intenção de escondê-los. É verdade que picotadoras de papel têm funcionado bastante desde 2014. Houve muita destruição de documentos em papel e eletrônicos durante a investigação. O depoimento de Ricardo Pessoa da UTC confirma esse, digamos assim, hábito entre os executivos envolvidos na Lava Jato.
É difícil manter controle de tudo, e às vezes as pessoas são incautas. Outras guardam as provas para negociar uma delação premiada mais tarde, ou para chantagear seus cúmplices, ou para se vingar. O próprio ex-presidente Lula foi vítima dessa síndrome, pois deixou em sua casa um documento rasurado com referências ao triplex de Guarujá.
O fato é que os achados incriminadores foram uma constante. No caso de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira que leva seu nome, os celulares foram fonte inesgotável de informações mais de um ano depois de as primeiras prisões de executivos serem feitas. O diretor do setor de operações estruturadas da Odebrecht, Hilberto Silva, depôs reclamando do Marcelo, que sempre orientava os executivos a não registrar nada no celular, mas foi incauto com o próprio.
Marcelo Odebrecht se vangloriava de que ninguém entraria na sua casa. Mandava que executivos que estivessem sob a mira de investigações fossem se hospedar em sua casa, como se fosse uma fortaleza inexpugnável.
O sentimento de impunidade certamente é uma explicação razoável para a reiteração de crimes, mas é sintomático que presos no Mensalão tenham reincidido no crime. A psicopatia pode ser outra explicação. Estudo realizado pela Universidade Bond, na Austrália, conduzido pelo psicólogo forense Nathan Brooks, revelou que um em cada cinco CEOs ou diretores-executivos apresenta características clínicas de psicopatia. 
Outro estudo, liderado pelo psicólogo Paul Babiak, de Nova Iorque, mostra que até 4% dos líderes de negócios nos Estados Unidos poderiam ser considerados psicopatas. A explicação para esse fenômeno seria o cenário competitivo do mundo empresarial, executivos que colocam a ambição acima de tudo, e não têm escrúpulos de manipular as pessoas para sua vantagem. Esse seria um perfil vencedor no mundo corporativo.
O psiquiatra Joel Birman usa Freud para explicar essa recorrência de executivos e homens de negócio que se deixam apanhar com provas que poderiam ter sido descartadas. Ele lembra a tese de Freud de que, quando se comete um crime, ou se quer cometer um crime, sempre há rastros deixados pelo criminoso, que seriam uma maneira de permitir ser punido pelo que fez.
Uma tese clássica do Freud, diz Birman, é que você indiretamente entrega provas, o que aparece sob a forma da culpa. São geralmente rastros deixados inconscientemente, para que você seja pego e pague pelo que fez.
Nesse ponto, um exemplo de falta de sentimento de culpa, provavelmente porque se sentia cumprindo uma tarefa em favor de uma suposta causa, é o ex-tesoureiro do PT João Vaccari, que nunca deixou rastros documentais.

NO BLOG DO NOBLAT
O fantasma das malas explosivas
Se estiver com uma delas, todo cuidado é pouco
Por Ricardo Noblat
Terça-feira, 05 jun 2018, 08h00
Em conversas sussurradas no Congresso, deputados revelam seu assombro com a história – ou lenda, nunca se sabe – de que pelo menos três malas entupidas de dinheiro estão em mãos de políticos que não ousam abri-las. Desconfia-se que elas possam conter chips que indicariam sua localização.
A Polícia Federal nem confirma nem nega o fato. Em maio do ano passado, negou que tivesse se valido de chip para seguir os passos do então deputado Rocha Loures (PMDB-PR), assessor especial do presidente Michel Temer, filmado em São Paulo carregando uma mala com R$ 500 mil, propina que recebera do Grupo JBS.
Loures livrou-se da mala remetendo-a à Polícia Federal com R$ 35 mil a menos. No dia seguinte, devolveu o restante. Quer dizer, portanto: ele abriu a mala e mexeu no seu conteúdo. Aí mora o perigo. Malas com chips podem ter ajudado a Polícia a apreender a fortuna de R$ 51 milhões do ex-ministro Geddel Vieira Lima.

Nem o PT obedeceu a Lula no Tocantins
Reprovado no primeiro teste
Por Ricardo Noblat
Segunda-feira, 04 jun 2018, 11h00
Em carta aberta aos eleitores do Tocantins, Lula pediu que votassem na senadora Kátia Abreu (PDT) para governadora do Estado na eleição extraordinária realizada ontem.
Kátia ficou em quarto lugar. Só obteve 15,66% dos votos. Nem o PT local a apoiou. Ela foi ministra da Agricultura do governo de Dilma e batalhou duramente contra o impeachment.

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