PRIMEIRA EDIÇÃO DE 27-3-2018 DO 'DA MÍDIA SEM MORDAÇA'

NA COLUNA DO CLÁUDIO HUMBERTO
TERÇA-FEIRA, 27 DE MARÇO DE 2018
Apesar de condenado a 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, e com habeas corpus negado por nove juízes, incluindo cinco ministros no Superior Tribunal de Justiça, o ex-presidente Lula torce por alguma solução bizarra do Supremo Tribunal Federal (STF) que o livre de começar a cumprir a pena. Afinal, o STF é o mesmo que fatiou o impeachment para livrar Dilma da inelegibilidade.

A concessão da pizza provisória para Lula, concedendo-lhe salvo conduto até o dia 4, é outro exemplo de “solução bizarra” do STF.

Um Recurso Especial (REsp) de Lula ao Superior Tribunal de Justiça pode garantir ao petista ‘efeito suspensivo’ da sentença de 1ª instância.

Caso o STJ conceda liminar a Lula para que ele concorra à eleição, esse recurso também poderia subir ao Supremo.

Outro recurso que Lula tem é o Recurso Extraordinário (REx) ao Supremo Tribunal Federal para dirimir dúvida processual, por exemplo.

Reino Unido e Rússia não fizeram gestões para o Brasil expulsar diplomatas russos ou britânicos, no caso do envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal, muito embora tenham mantido consultas técnicas com o Itamaraty. O Brasil não vai se mexer, a menos que se demonstre no âmbito da Opaq (Organização para Proibição de Armas Químicas), que houve um ataque químico russo em território britânico.

Diplomatas brasileiros lembram que em 2003 os americanos atacaram o Iraque mesmo sem autorização da ONU. E sem represálias.

Reino Unido e Rússia se acusam sem provas, dizem no Itamaraty, “e o Brasil não agirá como “Maria vai com as outras”.

“Posso cravar que o Brasil não expulsará diplomatas?”, perguntou o colunista. “Cravar é muito forte”, respondeu um importante diplomata.

O Banco do Brasil lucrou quase R$12 bilhões em 2017, mas vai forçar os moradores de Santana do Matos (RN) andarem 60km até Angicos, para ir ao banco. A população que se vire. O superintendente do BB no Estado disse que é ordem do presidente do banco. E é só o começo.

É boa a série “O Mecanismo” sobre a Lava Jato, apesar de imprecisões factuais, repetição de erros tipo juiz “pedir prisão” (ele manda prender) e a ignorância sobre uso do pronome de tratamento “vossa excelência”.

Clientes da Astra Investimentos de SP temem calote e esperam em vão pelo resgate na aplicação “CDB Bradesco”. O banco nega negócios com a Astra. O advogado dos clientes, José Pinto de Luna, delegado inativo, vê crime financeiro. A Astra ameaça processar a todos.

O ministro Dyogo de Oliveira (Planejamento) substituirá o ministro Henrique Meirelles tão logo este deixe o cargo para disputar a eleição presidencial. Até já fala como futuro ministro da Fazenda.

A defesa de Lula tem razão. Já que o nome da construtora OAS estava escrito errado na decisão que decretou o petista corrupto, ele deve ser eximido de qualquer culpa por receber um apartamento como propina.

A detecção de mentiras virou negócio no Brasil. Segundo Mário Júnior, da S2 Consultoria, cresce a demanda “por capacitação técnica para realizar a entrevista forense e para aprender a detectar mentiras”.

Condenado em 2017 em ação de 2015, o governador do Tocantins, Marcelo Miranda (MDB), foi afastado do cargo por condenação por mutreta na eleição... de 2014. E ainda cabe recurso ao Supremo.

Levantamento da BigData Corp com 25 portais de notícias brasileiros identificou 3.310 matérias sobre racismo em 12 meses. O presidente dos EUA, Donald Trump, citado em 70,8% dos textos, foi a surpresa.

O procurador do Sindicato dos Advogados do Rio de Janeiro, Nicola Manna Piraino, resumiu tudo “Eu prefiro o supremo de frango...”

NO DIÁRIO DO PODER
LULA FICHA-SUJA
CONDENAÇÃO CONFIRMADA NO TRF-4 TORNA LULA FICHA SUJA INELEGÍVEL
LULA PODE ATÉ REGISTRAR CANDIDATURA, MAS TSE DEVE INDEFERIR
Publicado segunda-feira, 26 de março de 2018 às 22:57 - Atualizado às 22:59
Da Redação
A condenação em definitivo do ex-presidente Lula por corrupção e lavagem de dinheiro, no âmbito da segunda instância, nesta segunda-feira (26), levará o petista a ser considerado ficha-suja pela Justiça Eleitoral, impedindo que ele se candidate novamente à Presidência da República.
A decisão unânime da Oitava Turma encerra a fase de recursos suspensivos na ação penal relativa ao caso do triplex do Guarujá (SP) e libera o juiz federal Sérgio Moro para a execução da pena – que agora depende da análise do HC pelo Supremo. Lula foi condenado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Na avaliação de advogados e juristas, somente a Justiça Eleitoral terá competência para tornar o ex-presidente inelegível, a partir do momento em que ele registrar sua candidatura – o prazo para esse registro expira em 15 de agosto. Depois disso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) terá até 17 de setembro para analisar o caso, a três semanas da eleição.
“A lei fala que o candidato pode seguir até o trânsito em julgado”, afirma o advogado Alberto Rollo, professor de Direito Eleitoral na Universidade Presbiteriana Mackenzie. “O TSE, que analisa ordinariamente as candidaturas de presidente, não poderá analisar ou modificar o mérito da ação criminal”, observou Karina Kufa, coordenadora do curso de Direito Eleitoral da Faculdade do IDP-São Paulo. “Lula poderá, no entanto, a partir do momento do pedido de registro, efetuar todos os atos de campanha. Além disso, ele terá a possibilidade de pedir substituição até 20 dias da eleição caso não consiga o deferimento.”
A decisão já repercutiu entre os políticos e presidenciáveis. “Pela legislação brasileira, ele (Lula) está inelegível. Agora, se vai continuar recorrendo, se vai fazer o registro independente da lei e em posições divergentes a isso, aí é um problema dele. É um direito dele”, disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também pré-candidato ao Planalto.
“Lula não pode ser candidato e essa decisão de hoje (segunda-feira) somente corrobora esse entendimento”, afirmou o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun.

'QUADRILHÃO DO PT'
FACHIN NEGA RECURSO DE LULA CONTRA ENVIO DE DENÚNCIA À JUSTIÇA FEDERAL DO DF
PETISTA DIZIA QUE ACUSAÇÕES SÃO “UMBILICALMENTE IMBRICADAS”
Publicado segunda-feira, 26 de março de 2018 às 17:11
Da Redação
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, negou um recurso apresentado pela defesa do ex-presidente Lula que questionava o envio à Justiça Federal em Brasília do processo em que ele, Dilma Rousseff e outros políticos do “quadrilhão do PT” respondem por organização criminosa. A decisão é da última quarta-feira, 21.
Além de Lula e Dilma, os ex-ministros Guido Mantega, Antonio Palocci, Edinho Silva e Paulo Bernardo Silva, o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto e a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) foram denunciados pela Procuradoria Geral da República (PGR) no ano passado.
. Ao recorrer ao STF no último dia 16, a defesa de Lula alegou que as acusações contra o ex-presidente estão “umbilicalmente imbricadas” às feitas contra a senadora Gleisi Hoffmann, o que deveria fazer com que a íntegra do inquérito permanecesse no STF.
No entanto, Fachin determinou o desmembramento do inquérito que apura se membros do PT cometeram a prática do crime de organização criminosa. O ministro decidiu que apenas as investigações de Gleisi e de Paulo Bernardo, marido da senadora, deveriam permanecer no STF, já que de acordo com a denúncia da PGR, as condutas de ambos estão umbilicalmente ligadas.
À exceção de Edinho Silva – atual prefeito do Município de Araraquara (SP) –, Fachin determinou que os autos em relação aos demais investigados fossem encaminhados à Justiça Federal do DF.

NADA FEITO
EDUARDO CUNHA TAMBÉM TEVE RECURSO NEGADO PELO TRF-4
AO CONTRÁRIO DE LULA, CUNHA ESTÁ PRESO DESDE OUTUBRO DE 2016
Publicado segunda-feira, 26 de março de 2018 às 15:10 - Atualizado às 16:09
Da Redação
A Oitava Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) não se limitou a manter a condenação do ex-presidente Lula, por unanimidade, na sessão desta segunda-feira (26). Além do recurso do petista, os desembargadores julgaram os embargos de declaração protocolados pela defesa do ex-deputado Eduardo Cunha, condenado por corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Ao contrário de Lula, Cunha está preso preventivamente desde outubro de 2016, em Curitiba, e ainda tem um embargo infringente a ser analisado em segunda instância. Diferentemente do embargo de declaração, o infringente tem possibilidade de resultar na alteração do resultado de um julgamento, inclusive no sentido de absolvição do réu. Ainda não há data marcada para o julgamento do outro recurso de Cunha no TRF4.
Ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha foi condenado em março do ano passado pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, a 15 anos e 04 meses de prisão, por participação em um esquema de corrupção na compra de um campo de petróleo, em Benin, na África, pela Petrobras. Cunha teria recebido US$ 1,5 milhão em propina.
Em novembro do ano passado, a condenação foi confirmada pelo TRF4, que, no entanto, reduziu a pena de Cunha para 14 anos e 06  meses de prisão.

NO BLOG DO JOSIAS
Dilma prevê um banho de violência sem mencionar que PT iniciou o esguicho
Por Josias de Souza
Terça-feira, 27/03/2018 06:13
Dilma Rousseff não perde oportunidade de perder oportunidades. Madame convocou a imprensa estrangeira para fazer uma “denúncia”. Chamou a hostilidade sofrida por Lula em sua caravana pela região Sul de ''momento de radicalização do golpe'', como ela se refere ao impeachment que sofreu em 2016. Previu que haverá na campanha eleitoral de 2018 “um banho de violência contra nós.” Absteve-se de mencionar que as primeiras manifestações de histeria esguicharam de mangueiras companheiras.
Considerando que Dilma atrasou o relógio até a sua deposição, convém recordar o comício que realizou dentro do Planalto em agosto de 2015 ao receber representantes de sindicatos e movimentos sociais. Um deles, Vágner Freitas, presidente da CUT, discursou: os movimentos sociais “irão às ruas com arma na mão, se quiserem tentar derrubar a presidente Dilma''. A anfitriã não repreendeu o companheiro. Nessa época, parecia bem menos preocupada com a “radicalização”.
Mais recentemente, quando uma turma do STJ negou por 5 votos a 0 seu pedido de habeas corpus, Lula despejou uma ameaça velada num vídeo: “Eles terão que arcar com a responsabilidade de ter a pessoa que foi o melhor presidente do Brasil, que lidera todas as pesquisas de opinião pública, […] eles vão ter que arcar com o preço de decretar minha prisão.”
Lula não esclareceu qual seria o “preço” do seu encarceramento. Mas o truque é conhecido. Em 2015, quando ainda guerreava contra o impeachment de Dilma, o futuro condenado dizia ser “um homem da paz e da democracia”. Mas esclarecia: ''Também sabemos brigar, sobretudo quando o Stédile colocar o exército dele nas ruas''. Dilma não se queixou da retórica tóxica do padrinho político.
Também não se ouviu a voz de Dilma quando o companheiro Stédile, general de tropas aliadas, ameaçou: ''Aqui vai o recado para a dona Polícia Federal e para a Justiça: não pensem que vocês mandam no País. Nós, dos movimentos populares, não aceitaremos de forma nenhuma que o nosso companheiro Lula seja preso''.
(...)
Dilma espinafrou a senadora Ana Amélia (PP-RS) na conversa com os repórteres estrangeiros. No sábado (25), Amélia parabenizara os gaúchos que reagiram contra a presença de Lula:
“Quero cumprimentar Bagé, Santa Maria, Palmeira das Missões, Passo Fundo, São Borja e Santana do Livramento, que botou a correr aquele povo que foi lá, levando um condenado para se queixar da democracia”, dissera a senadora. “Atirar ovo, levantar o relho, levantar o rebenque para mostrar onde está o Rio Grande, para mostrar onde estão os gaúchos.”
Para Dilma, os agressores de Lula comportam-se como se integrassem “milícias.” E Ana Amélia os representa. “É inimaginável que isso ocorra no Brasil”, ralhou. De fato, a retórica da senadora é tóxica. Mas a pupila de Lula perdeu a autoridade para criticá-la no dia em que ouviu em silêncio os esguichos da senadora petista Gleisi Hoffmann:
''Para prender o Lula, vai ter que prender muita gente, mas, mais do que isso, vai ter que matar gente”, disse Gleisi antes do julgamento em que o TRF-4 elevou a pena do pajé do PT para 12 anos e 1 mês de cadeia.
Dilma agora avalia que, “quando se planta o ódio e a intolerância, se colhe a violência.” Mas ela ainda não olha para a horta de raiva que o PT cultiva no seu quintal. O próprio Lula continua semeando o ódio. Numa cidade, ele ameaça distribuir “porrada se não respeitarem a gente”. Noutra, terceiriza à Polícia Militar o “corretivo” no “canalha” que fez chover ovos sobre o seu palanque.
É certo que algumas manifestações contra Lula extrapolaram os limites da civilidade democrática. Mas o que Dilma não disse aos jornalistas estrangeiros foi que o esforço do PT para encharcar a conjuntura política de radicalização começou a surtir efeito.

Há um déficit estético na campanha presidencial
Por Josias de Souza
Terça-feira, 27/03/2018 04:20
Há momentos em que as nações precisam desesperadamente de bom gosto. No Brasil, neste ano sucessório de 2018, o bom gosto tornou-se gênero de primeira necessidade, para compensar o déficit estético acumulado desde que a Lava Jato expôs a corrupção na vitrine. Mas, considerando o panorama que se descortina no momento, os partidos exibem uma inacreditável propensão para o mau gosto.
O descompromisso de alguns partidos com a estética vai transformando a eleição de 2018 numa espécie de loteria sem prêmio, na qual o eleitor é convidado a optar entre o impensável e o inaceitável. As pesquisas eleitorais ganharam a aparência de estatísticas que antecipam o nome do herói que os para-choques de caminhão chamarão de desonesto 15 dias depois da posse.
Hoje, o líder nas pesquisas é Lula, um corrupto de segunda instância, que acaba de se consolidar como um ficha-suja inelegível depois que o TRF-4 rejeitou o seu recurso. Acotovelam-se na raia do centro, Geraldo Alckmin e Rodrigo Maia, protagonistas de inquéritos.
Michel Temer, com duas denúncias e dois inquéritos por corrupção, declara-se candidato à reeleição. Henrique Meirelles prepara-se para trocar a pasta da Fazenda pelo palanque. Vai se filiar ao PMDB, um projeto político que saiu pelo ladrão. Se não for cabeça de chapa, será vice de Temer. A campanha eleitoral mal começou e já se distingue como um espetáculo constrangedor.

Moro explica como STF pode recriar um ‘Judiciário de faz de conta’ com Lula
Por Josias de Souza
Terça-feira, 27/03/2018 03:51
Em entrevista ao Roda Viva, Sérgio Moro explicou didaticamente como o Supremo Tribunal Federal pode “dar um passo atrás” no combate à corrupção ao julgar o pedido de Lula para não ser preso. Sem ofender a Suprema Corte, o juiz da Lava Jato declarou que uma eventual mudança na regra sobre a prisão de condenados na segunda instância levará à “impunidade dos poderosos”. Abstendo-se de comentar o julgamento do habeas corpus de Lula, marcado para 4 de maio, Moro disse: “Se alguém cometeu um crime, a regra é que a pessoa tem que ser punida. Não pode ser colocada num sistema judiciário de faz de conta.”
Logo na primeira pergunta, Moro teve a oportunidade de discorrer sobre o conceito de presunção de inocência. Realçou que “em países como França e Estados Unidos, que são berços históricos da presunção de inocência, a prisão se opera a partir de um primeiro julgamento. E a eventual interposição de recursos contra esse julgamento não impede que, desde logo, a prisão seja operada.”
No Brasil, vigora desde fevereiro de 2016 uma jurisprudência do Supremo segundo a qual a prisão pode ser efetuada a partir de uma condenação de segundo grau. É o caso de Lula, cuja sentença de 12 anos e 1 mês de cadeia foi confirmada nesta segunda-feira pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre.
Lula pede que o Supremo reconheça o seu direito constitucional de recorrer em liberdade aos tribunais superiores de Brasília — até o chamado trânsito em julgado, quando se esgotam todas as possibilidades de recurso. Obteve na semana passada um salvo-conduto da Suprema Corte, que proibiu sua prisão até o julgamento do mérito do pedido, que ocorrerá na quarta-feira (4) da semana que vem.
“Seria ótimo esperar o julgamento final”, disse Moro, falando em termos genéricos. O problema, acrescentou o juiz, é que “o sistema processual brasileiro é extremamente generoso em relação a recursos.” O que acaba “representando um desastre para a efetividade do processo penal.” Na expressão de Moro, a profusão de recursos cria “processos sem fim, que levam uma década ou até mais de uma década'' para ser julgados.
Há mais: “A nossa lei prevê que, durante o processamento desses recursos, continua a correr aquilo que a gente chama de prescrição, que é um tempo que a lei fornece para que o recurso seja julgado.” Professor universitário, Moro caprichou no didatismo: “Se não for julgado naquele tempo, o caso prescreve. O tribunal não vai decidir sobre a culpa ou a ausência de culpa. Vai simplesmente dizer que não pode mais punir pelo decurso de prazo.”
Há pior: “Isso, na prática, é a impunidade”, afirmou Moro, antes de esclarecer quem se beneficia das brechas abertas pelo sistema judiciário: “De uma maneira bastante simples: essa generosidade de recursos consegue ser muito bem explorada por criminosos poderosos política e economicamente. São eles que têm condições de contratar os melhores advogados.”
O juiz prosseguiu: “O efeito prático é que nós temos, muitas vezes, a impunidade dos poderosos, o que é contrário aos compromissos maiores que a gente tem na nossa Constituição de garantir liberdade e também igualdade.” Foi nesse ponto que Moro injetou em sua prosa o comentário que se encaixa à perfeição no caso de Lula: “Se alguém cometeu um crime, a regra é que a pessoa tem que ser punida. Não pode ser colocada num sistema judiciário de faz de conta.”
Confrontado com uma pergunta específica sobre o pedido de habeas corpus de Lula, Moro abriu um parêntese: “Não me cabe fazer uma avaliação específica sobre esse habeas corpus. Está sob o Supremo Tribunal Federal. Espero que tome a melhor decisão.” Em seguida, a pretexto de falar genericamente sobre o “princípio” da prisão em segunda instância, Moro disse qual seria, a seu juízo, a melhor decisão.
“Foi estabelecido um precedente importante em 2016. Esse precedente foi da lavra do saudoso ministro Teori Zavascki [morto em acidente aéreo em 2017]. Já falei publicamente que, se não fosse o ministro Teori Zavascki não haveria Operação Lava Jato. E, em 2016, ele foi autor desse precedente no Supremo, que disse: ‘olha, a partir de uma condenação em segunda instância pode, desde logo, executar a prisão’. É aquilo que eu disse anteriormente: se for esperar o último julgamento, na prática, pela prodigalidade de recursos do nosso sistema, isso é um desastre porque leva à impunidade, especialmente dos poderosos.”
A certa altura, Moro afirmou que o problema não se restringe a Lula. Contou que fez um levantamento na 13ª Vara Federal de Curitiba, onde trabalha. Ali, desde fevereiro de 2016, quando o Supremo autorizou a prisão em segunda instância, foram expedidos 114 mandados para executar a pena de condenados na segunda instância. O levantamento já havia sido publicado aqui no blog.
Apenas 12 dos 114 casos estão relacionados à Lava Jato, declarou Moro. “Tem lá peculatos milionários — de R$ 20 milhões, de R$ 12 milhões — dinheiro desviado da Saúde, da Educação. Mas não é só isso: tem traficante, tem até pedófilo, tem doleiros. Estou falando dentro de um universo pequeno, que é o universo do local onde trabalho. Vamos pensar na reprodução disso em todo o território nacional. Uma revisão desse precedente [sobre a prisão em segunda instância], que foi um marco no progresso do enfrentamento da corrupção, teria um efeito prático muito ruim.”
Além do habeas corpus de Lula, há no Supremo duas ações diretas de constitucionalidade que tratam da regra sobre prisão. Nas palavras de Moro, uma eventual revisão da jurisprudência, que foi confirmada em três oportunidades pela maioria dos ministros do Supremo, “passaria uma mensagem errada.” Sinalizaria que “não cabe mais avançar”. Representaria “um passo atrás.”
E se o Supremo recuar? Bem, neste caso, Moro avalia que não restará senão aproveitar a temporada eleitoral para “cobrar dos candidatos a presidente” uma posição sobre o combate à corrupção. Otimista a mais não poder, Moro mencionou uma proposta que poderia ser exigida dos presidenciáveis: “Pode-se, eventualmente, restabelecer a execução [da prisão] a partir da segunda instância por uma emenda constitucional.”
Emendas constitucionais não nascem por combustão espontânea. Precisam ser aprovadas na Câmara e no Senado. Ou o eleitor vira o Legislativo do avesso ou Sérgio Moro talvez precise puxar uma cadeira. Em pé, vai cansar. Se os ministros do Supremo, que gerenciam a forca, tramam um recuo, imagine o que farão os congressistas quando a corda apertar de vez os seus pescoços.

Lula virou aliado involuntário de Eduardo Cunha
Por Josias de Souza
Segunda-feira, 26/03/2018 19:31
Numa evidência de que a união faz a farsa, Lula e Eduardo Cunha foram unidos pelo drama penal. Na mesma sessão, o tribunal Regional Federal da 4ª Região indeferiu nesta segunda-feira recursos de Lula e de Cunha contra as respectivas condenações na Lava Jato. Agora, Cunha enxerga Lula como um poderoso aliado involuntário.
Preso preventivamente há cerca de um ano e cinco meses, Cunha vive a síndrome de permanecer atrás das grades como condenado. Pega em lanças para evitar que Sérgio Moro autorize o início da execução de sua pena, fixada por ora em 14 anos e 6 meses de cadeia.
Execrado pelo PT, que lhe atribui o papel de protagonista do impeachment de Dilma Rousseff, Cunha torce para que o Supremo Tribunal Federal defira o habeas corpus em que Lula pede para não ser encarcerado. Os advogados de Cunha avaliam que uma vitória de Lula na Suprema Corte, em 4 de abril, abriria brecha para que o ex-presidente da Câmara reivindicasse o “direito” de também recorrer em liberdade aos tribunais superiores.
A exemplo de Lula, Cunha sustenta que sua condenação é fruto de “perseguição”. Mais uma evidência de que, em política, o sujeito nunca está tão próximo que amanhã não possa estar distante, nem tão distante que amanhã não possa se aproximar. Logo, logo os amigos do algoz de Dilma mandarão confeccionar camisetas com a seguinte mensagem: “Somos todos Lula e Cunha”.

Ficha-suja, Lula vira presidenciável cenográfico
Por Josias de Souza
Segunda-feira, 26/03/2018 15:07
Ao rejeitar por unanimidade o recurso contra a condenação de Lula a 12 anos e 1 mês de cadeia, o TRF-4 transformou o presidenciável do PT num corrupto de segunda instância. Pela lei, uma sentença desse tipo, proferida por órgão colegiado, torna o condenado um ficha-suja incontornável. Portanto, inelegível. Mas o PT reafirma a intenção de manter Lula como seu candidato, registrando-o no Tribunal Superior Eleitoral no prazo legal, em agosto. Até que a Justiça Eleitoral casse o registro da candidatura, forçando o PT a indicar outro candidato, Lula será um presidenciável cenográfico.
Embora seja um candidato juridicamente inviável, Lula é o mais ativo dos presidenciáveis. Faz uma caravana atrás da outra. Já percorreu o Nordeste e Minas Gerais. Corta agora o mapa da região Sul. Graças à superexposição e à memória da plataforma social de sua Presidência, Lula frequenta as pesquisas como líder. De acordo com o Datafolha, ele oscila entre 34% e 37%, dependendo do cenário. Está bem à frente do segundo colocado, Jair Bolsonaro, que trafega na faixa entre 17% e 19%.
Pelo cálculo do PT, um candidato com o potencial de Lula pode colocar um poste no segundo turno da disputa presidencial. O poste da preferência de Lula era o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner. Mas as complicações penais que assediam Wagner consolidaram o ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad como primeiro na fila de alternativas do PT.
A decisão tomada nesta segunda-feira pelos desembargadores do TRF-4 coloca Lula na porta da cadeia. Mas caberá ao Supremo Tribunal Federal decidir, em 4 de abril, se Sérgio Moro poderá ou não passar o personagem na chave. Preso, Lula cogitaria apressar sua substituição por Haddad. Solto, levará sua campanha às últimas consequências, retardando a entrada de Haddad em cena.
O Brasil já conviveu com muitas anomalias políticas. Mas nunca antes na História desse País uma encenação sentenciada à cadeia havia se apresentado formalmente aos eleitores como pretendente ao trono.


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