PRIMEIRA EDIÇÃO DE 07-9-2017 DO 'DA MÍDIA SEM MORDAÇA'

NA COLUNA DO CLÁUDIO HUMBERTO
Quinta-feira, 07 de Setembro de 2017
Joesley pode ter gravado sem o lobista Saud saber
A suspeita de investigadores da Lava Jato é que Joesley Batista, a quem o presidente Michel Temer apelidou de “grampeador-geral da República”, gravou o cúmplice, Ricardo Saud, lobista da J&F/JBS, sem que ele soubesse, para arrancar informações adicionais à própria delação. O objetivo de Joesley seria encantar o procurador-geral Rodrigo Janot municiando-o contra ministros do Supremo Tribunal Federal, transformando-se em “credor”, na sua relação com o MPF.
Arquivo poderoso
Policiais experientes acham que Joesley pode ter gravado o lobista para mantê-lo sob controle: o testemunho de Saud poderia destruí-lo.
Histórias de ‘suruba’ etc
Na gravação, Joesley instiga Saud a contar o que sabe do submundo da corrupção e até sobre a vida íntima de autoridades.
Lobista interrogado
Durante a maior parte da gravação não parece conversa entre cúmplices, parece mais Joesley interrogando o lobista da J&F/JBS.
In vino veritas
A conversa se alongou, regada a uísque, e Joesley falou demais, até de infidelidade conjugal, e fez referências indelicadas à própria mulher.
PT volta a discutir opções a Lula, com sua prisão
O PT retomou as discussões internas para definir opção à pretendida candidatura presidencial de Lula, em 2018. É que juristas ligados ao partido têm sido unânimes na advertência de que o ex-presidente deve cumprir pena de prisão em regime fechado, sendo “questão de tempo” a confirmação e até ampliação da sua sentença de 9 anos e meio de cadeia. “Seremos sempre solidários ao companheiro Lula”, diz um dirigente, “mas precisamos nos preocupar com a sobrevivência do PT”.
Pragmatismo
Os dirigentes do PT avaliam que Lula é a melhor opção. Mas o partido não pode ser surpreendido com a inviabilização da candidatura.
Haddad é opção
Lula não se opõe ao debate sobre quem pode substituí-lo na disputa presidencial. E não esconde o seu preferido: Fernando Haddad.
Tá feia a coisa
No Nordeste, seu “reduto”, Lula só viu bom público onde prefeitos e governadores aliados pagaram por isso, com ônibus, lanche e cachê.
Nunca na História
O “italiano” Antonio Palocci, com autoridade de quem foi ministro da Fazenda e coordenador de campanhas do PT, é a primeira testemunha que confirma propina em dinheiro vivo para Lula, de R$4 milhões. É o primeiro presidente do Brasil acusado de embolsar dinheiro roubado.
‘Alô, PF, aqui é ACM...’
Antônio Carlos Magalhães, o ACM, em vida, elegeu Geddel como arqui-inimigo. ACM faria 99 anos na mesma terça (5) em que foram apreendidas as malas com os R$51 milhões roubados. Tem gente achando que foi do Além o telefonema à PF, entregando o “bunker”...
Sem ofensas
Ao afirmar que “a verdade dói, mas não ofende”, Joesley Batista cita a delação do ex-senador Sérgio Machado e afirma: “o Renan [Calheiros] esbraveja, todo mundo esbraveja, mas no final ninguém fica com raiva”.
Ele não gosta do STF
Na gravação com o lobista Ricardo Saud, Joesley Batista confessa o sonho de atrair o ex-ministro José Eduardo Cardozo ao plano de gravar conversas comprometedoras de ministros do STF. Cardozo recusou.
Marun topa relatoria
Cotadíssimo para assumir a relatoria da CPI da JBS, Carlos Marun (PMDB-MS) topa o desafio, mas não luta por isso, como afirmou ontem. O Planalto não abre mão de deputado de confiança no posto.
Cada vez mais dinheiro
Após construírem suntuosos palácios como sedes, os tribunais agora partem para imensos prédios de estacionamento. O Tribunal de Justiça de Goiás vai construir um edifício de 750 vagas para suas excelências.
Mais do mesmo
Bastou o feriadão, a ausência do presidente Rodrigo Maia (DEM- RJ) e o comando de André Fufuca (PP-MA), para os deputados voltarem a receber sem trabalhar. No apagar das luzes de terça-feira (05) à noite, a sessão de quarta foi cancelada, o ponto liberado e os deputados “vazaram”.
Era só lorota
Em artigo na Folha de S. Paulo, em julho, onde relata o “sofrimento” dos filhos após grampear Michel Temer, Joesley disse que sentiu “medo” e “angústia”. Mentira. Na gravação, ele admite que a situação era “fácil”.
Pensando bem...
...para o bem geral da Nação, de presa a língua de Palocci não tem nada.

NO DIÁRIO DO PODER
Principal ministro do petismo, Palocci diz que Lula recebeu R$ 4 milhões em espécie
Palocci descreve 'pacto de sangue' de Lula com Odebrecht

Publicado: quarta-feira, 06 de setembro de 2017 às 17:53 - Atualizado às 23:07
Redação
O ex-ministro Antonio Palocci acusou o ex-presidente Lula de receber R$ 4 milhões (apenas em dinheiro vivo) a título de propina da Odebrecht, a empreiteira predileta dos governos do PT. Palocci prestou depoimento por duas horas nesta quarta-feira (6) ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba, no âmbito da ação penal sobre o pagamento de propina da Odebrecht, investigada pela operação Lava Jato. Palocci ainda confessou ter praticados crimes na Petrobras.
Nesta ação, Lula é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em contratos da Odebrecht com a Petrobras. Segundo o advogado de Palocci, o ex-ministro petista revelou que a empreiteira deu, em dinheiro, R$ 4 milhões ao ex-presidente Lula.
Ouvido como réu em um processo criminal da Operação Lava Jato, o petista revelou um ‘pacto de sangue’ da propina envolvendo Lula e citou R$ 300 milhões da Odebrecht para o esquema do PT. O ‘pacto’ consistia de um ‘colegiado’ – do qual o próprio Lula fazia parte. O ex-ministro disse que havia reuniões até no apartamento de Lula, em São Bernardo do Campo (SP).
“No jantar ocorrido no apartamento do presidente Lula, em que participaram todas essas pessoas... Ficou clara toda a participação do ex-presidente Lula”, afirmou o advogado Adriano Bretas, que defende Palocci.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), os valores pagos pela empreiteira Odebrecht alcançam R$ 75 milhões em contratos firmados com a petrolífera. Segundo a força-tarefa da operação, a roubalheira envolve um terreno de R$ 12,5 milhões para o Instituto Lula e a cobertura vizinha à do petista em São Bernardo, avaliada em R$ 504 mil. Segundo o advogado do ex-ministro, Palocci teria dito que o ex-presidente sabia da compra do terreno destinado à sua instituição.
Durante o depoimento, Palocci afirmou que está negociando um acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato, mas que colaboraria com a Justiça de forma espontânea.
Além do ex-presidente e de Palocci, também respondem na ação o seu ex-assessor Branislav Kontic, o advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula, o empreiteiro Marcelo Odebrecht e outros três investigados.
Assista ao depoimento (link abaixo):
https://youtu.be/76Py4DzuxD0

PGR denuncia Lula e Dilma ao STF por obstrução de justiça
Dilma nomeou Lula ministro para tentar blindá-lo de Sergio Moro

Publicado: quarta-feira, 06 de setembro de 2017 às 19:12 - Atualizado às 23:11
Redação
O Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou na noite desta quarta-feira, (6) outra denúncia contra os ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, desta vez pelo crime de obstrução de justiça.
A nova denúncia diz respeito à nomeação de Lula como ministro da Casa Civil, em março de 2016, quando Dilma Rousseff ainda era presidente da República.
O ex-ministro Aloizio Mercadante também foi denunciado, pelo caso de um telefonema dado ao ex-senador Delcídio do Amaral, para tratar da delação do ex-senador.
A PGR acredita que o caso deve permanecer no Supremo Tribunal Federal (STF) por ter relação com a denúncia apresentada ontem (5), sobre crime de organização criminosa envolvendo integrantes da cúpula do PT.
Cabe agora ao ministro do STF Edson Fachin analisar a denúncia e notificar os acusados.
A Assessoria do petista utilizou a página do Facebook para defender Lula atacando Janot. “O Procurador-Geral da República, em atuação afoita e atabalhoada de disparo de denúncias nos últimos dias do seu mandato”.
E termina o texto afirmando com essa denúncia Rodrigo Janot “Talvez na busca de gerar algum ruído midiático que encubra questionamentos sobre sua atuação no crepúsculo do seu mandato”.

NA COLUNA DO AUGUSTO NUNES
Pacto com o sangue alheio
O pacotaço da propina incluiu um terreno para o Instituto Lula, o sítio em Atibaia e mais a bagatela de R$ 300 milhões para Lula
Por Eliziário Goulart Rocha
Quinta-feira, 07 set 2017, 07h08
O depoimento de Antonio Palocci ao juiz Sérgio Moro teve o impacto que se imaginava e que vinha provocando pesadelos em Lula e no resto da quadrilha desde que o nominado “Italiano” nas listas de propina se tornou inquilino de uma cela. No ponto mais contundente de suas revelações, Palocci afirmou que Lula tinha um “pacto de sangue” com Emilio Odebrecht. O pacotaço da propina incluiu um terreno para o Instituto Lula, o sítio em Atibaia e mais a bagatela de R$ 300 milhões para a viva alma muito viva desfrutar enquanto debochava da cara dos brasileiros decentes. “Lula sabia que se tratava de dinheiro sujo”, declarou o Italiano, incorrendo em uma obviedade, pois ninguém colocaria esta dinheirama à disposição sacrificando um patrimônio amealhado com o suor do próprio rosto.
Além de discorrer sobre o pacto feito com o sangue dos brasileiros decentes, Palocci se dispôs a detalhar os encontros que teve com Lula para combinar de que forma poderiam criar obstáculos para a Lava Jato, mas Moro preferiu deixar para outra ocasião para não se desviar do foco da ação alvo do depoimento. O Italiano ainda tem muita bala na agulha. Agora, em vez de tentar transformar um caseiro em bode expiatório para esconder suas falcatruas, está disposto a entregar o Amigo que jura não ser dono de triplex, nem de sítio, mas que se achava dono da casa da Casa da Mãe Joana em que tanto lutou para transformar o País.
Como mesmo quadrilheiros podem ter bom senso, Palocci disse ter alertado Lula: “Nosso ilícito com a Odebrecht já está monstruoso. Se nós fizermos esse tipo de operação, nós vamos criar uma fratura exposta desnecessária”, referindo-se à aquisição clandestina, pela empreiteira, de um terreno para o Instituto Lula. Mas o ex-presidente, embriagado de poder fez ouvidos moucos, afinal, sempre julgou estar acima da lei. Há muito percebeu que não está, mas fingirá não saber disso – e de coisa alguma – mesmo depois de embarcar no camburão.

Foi Dilma quem instalou Geddel na sala do cofre da Caixa
Nenhum dos devotos da seita conseguiu lembrar que foi Lula quem enxergou num dos Anões do Orçamento um gigante político-administrativo

Por Augusto Nunes
Quarta-feira, 06 set 2017, 21h26 - Publicado em 6 set 2017, 19h22

Dilma Rousseff e Geddel Vieira Lima (Reprodução/Reprodução)
Colunistas e blogueiros a serviço do PT registraram com muita animação que Geddel Vieira Lima, fundador da maior agência bancária clandestina do Planeta, chefiou a Secretaria de Governo de Michel Temer. Durou seis meses no cargo. Nenhum dos devotos da seita que tem em Lula seu único deus conseguiu lembrar que foi o guia genial do rebanho quem enxergou num dos Anões do Orçamento um gigante político-administrativo. Graças ao chefão, Geddel comandou o Ministério da Integração Nacional de março de 2007 a março de 2010. Três anos.
O noticiário sobre a fortuna estocada em malas e caixas de papelão confirma que a memória dos jornalistas arrendados esvaziou as gavetas que armazenavam informações constrangedoras para os Altos Companheiros e seus asseclas. A turma que escreve de cócoras fingiu ignorar que foi Dilma Rousseff quem decidiu que Geddel merecia a Vice-Presidência de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal. Até a mão da mulher que nomeou e os dedos ágeis do nomeado souberam desde sempre que só quem tem livre acesso aos cofres de uma potente instituição financeira amontoa sem dar na vista montanhas de dinheiro vivo.
Livre de vigilância, o parceiro baiano agiu na Caixa Econômica entre março de 2011 e dezembro de 2013. Mais de dois anos e meio. Juntou 43 milhões de reais em cédulas de 100 e 50 novinhas em folha (fora os mais de 2,5 milhões de dólares). Geddel é amigão de Temer. Mas foi Lula quem o promoveu a ministro. E foi Lula quem o instalou na sala do cofre.

NA VEJA.COM
Dez pontos do depoimento de Palocci que atingem Lula
Ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil disse a Sergio Moro que o petista tinha 'pacto de sangue' com a Odebrecht, que envolveu 'pacote de propinas'

Por Da Redação
Quinta-feira, 07 set 2017, 08h00
Preso na Operação Lava Jato desde setembro de 2016, o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci falou como réu ao juiz federal Sergio Moro nesta quarta-feira, no processo que tem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como acusado de receber 13 milhões de reais em propina da Odebrecht por meio de um apartamento em São Bernardo do Campo (SP) e um imóvel que serviria como sede ao Instituto Lula.
Em cerca de duas horas diante de Moro, Palocci, que negocia um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, incriminou Lula e afirmou que o petista tinha um “pacto de sangue” com a empreiteira, que teria lhe rendido um “pacote de propinas”.
Veja abaixo dez pontos do depoimento do ex-ministro que atingem o ex-presidente:
‘Relação movida a propina’
Ao responder a primeira pergunta formulada pelo juiz federal Sergio Moro, Antonio Palocci reconheceu ao magistrado que a denúncia do Ministério Público Federal “procede”, disse ter participado das tratativas de vantagens indevidas nos governos dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff e afirmou que a relação entre os governos petistas e a empreiteira era “bastante intensa, movida a vantagens dirigidas à empresa e propinas pagas pela Odebrecht para agentes públicos em forma de doação de campanha, em forma de benefícios pessoais, em forma de caixa um e caixa dois”.
Palocci classificou como “pacto de sangue” o acordo entre o empresário Emílio Odebrecht e Lula, que teria envolvido um “pacote de propinas” ao petista. O acerto teria sido firmado em 2010, no final do mandato do ex-presidente no Palácio do Planalto, em função da “tensão” da Odebrecht com a posse de Dilma Rousseff. A presidente eleita já se posicionara contra interesses da empresa na construção de hidrelétricas no Rio Madeira. O ex-ministro disse ter ficado “chocado” com a oferta do empresário ao ex-presidente, relatada a ele pelo próprio Lula em uma conversa no Palácio da Alvorada.
R$ 300 milhões à disposição
No encontro na residência oficial da presidência da República em Brasília, segundo Palocci, o Lula disse a ele que Emílio Odebrecht lhe prometera, como um dos itens do “pacote”, deixar à sua disposição 300 milhões de reais para “atividades políticas” nos anos seguintes ao fim do mandato presidencial. O ex-ministro disse ter sido encarregado pelo petista de tratar sobre os recursos com Marcelo Odebrecht, que propôs a criação de uma planilha para manejo do dinheiro. Em uma das primeiras conversas com o empreiteiro, no entanto, Marcelo alegou engano de seu pai e reduziu o valor a 150 milhões de reais. O compromisso voltou a ser de 300 milhões de reais depois de reunião entre Emílio Odebrecht, Lula e Dilma. “O presidente Lula me chama de novo e fala: ‘olha, o Emílio veio, tivemos uma ótima reunião, ele confirmou os 300 milhões e falou que pode ser mais se necessário”, disse Palocci a Moro.
Obra do sítio concluída
Como parte do “pacote de propinas” da Odebrecht a Lula, citado por Antonio Palocci a Sergio Moro, o empresário Emílio Odebrecht teria se comprometido a participar das obras do sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), usado pela família do ex-presidente. “O seu Emílio apresentou ao presidente o sítio para uso da família, que já estava fazendo a reforma, fase final. Ele disse que o sítio já estava pronto”, relatou o ex-ministro.
Lula é réu em uma ação penal na Justiça Federal do Paraná, sob responsabilidade do juiz Sergio Moro, que apura a posse da propriedade rural no interior paulista. Segundo a denúncia da força-tarefa da Lava Jato, as empreiteiras Odebrecht e OAS e o pecuarista José Carlos Bumlai executaram as obras no sítio.
Palestras por R$ 200.000
O “pacote de propinas” prometido por Emílio Odebrecht a Lula também envolvia, segundo Antonio Palocci, “várias palestras” do ex-presidente, “pagas a 200.000 reais, fora impostos, combinadas com a Odebrecht para o próximo ano”. Uma das ações penais que têm Lula entre os réus, baseada na Operação Janus, apura pagamentos milionários pela empreiteira ao petista em palestras, além de supostos benefícios à Odebrecht em financiamentos do BNDES a obras na América Latina e na África.
Uma sede para o Instituto Lula
Antonio Palocci declarou a Sergio Moro ter sido contrário à compra, pela Odebrecht, de um prédio que serviria como sede do Instituto Lula, outro item do “pacote de propinas” oferecido pela Odebrecht ao ex-presidente. Apesar de sua posição, diz Palocci, a aquisição teria sido encaminhada pelo pecuarista José Carlos Bumlai e o advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula. A DAG Construtora, empresa de Demerval Gusmão, amigo de Marcelo Odebrecht, pagou os 12,4 milhões de reais pelo imóvel, que, por fim, acabou não sendo descartado.
“Desculpa, doutor, eu não estava de santo na história não. O nosso ilícito com a Odebrecht já estava muito grande naquele momento, eu achei que essa compra não precisava ser um ilícito, não precisava ser um ilícito travestido de lícito”, disse o ex-ministro a Moro.
Reunião com Marisa Letícia
A desistência do imóvel teria sido concretizada após o aval da ex-primeira-dama Maria Letícia Lula da Silva, falecida em fevereiro deste ano. Convencido por Antonio Palocci de que o imóvel poderia render problemas e era um “convite a uma investigação”, Lula teria delegado ao ex-ministro a tarefa de persuadir sua mulher de que o prédio era “inadequado”. “’Vá lá e me ajude a convencer a dona Marisa de que esse prédio é inadequado, a compra desse prédio foi inadequada. Porque se eu fizer isso ela vai ficar brava comigo, porque ela fala que eu não cuido disso. Se você fizer ela vai entender melhor porque ela gosta de você, ela te entende’”, apelou o petista, segundo Palocci.
R$ 4 milhões ao Instituto Lula
Ainda sobre o Instituto Lula, Antonio Palocci relatou ao juiz da Lava Jato ter intercedido junto a Marcelo Odebrecht para cobrir um “buraco” de 4 milhões de reais nas contas da instituição. Paulo Okamotto, presidente do instituto, teria pedido ao ex-ministro a articulação. “O Paulo Okamotto me pediu para que eu ajudasse ele a cobrir o final de ano do instituto, que faltava recurso. Acho que meio para o final de 2013, começo de 2014. Ele tinha um buraco nas contas, me pediu para arrumar recursos. Eu fui ao Marcelo Odebrecht (…) o Marcelo concordou em dar, falou que tinha disponibilidade. Pedi ao Brani [assessor de Palocci] para transmitir ao Paulo Okamotto que seriam dados os 4 milhões que ele havia pedido”.
Pré-sal reforça Petrolão
Antonio Palocci relatou a Moro que em 2007, antes da descoberta das reservas de petróleo e após a reeleição de Lula, o petista havia manifestado preocupação com a corrupção na Petrobras, especialmente irregularidades nas diretorias de Serviços e de Abastecimento, feudos de PT e PP na estatal. “Mas logo após veio o pré-sal e pôs o governo em uma atitude muito frenética em relação à Petrobras. Esses assuntos de ilícitos e de diretores ficaram em terceiro plano, as coisas continuaram correndo do jeito que era”, contou o ex-ministro. De acordo com Palocci, os investimentos atraídos pela descoberta de petróleo não só frearam a intenção do ex-presidente em agir contra o Petrolão, como levaram o petista a incentivar o esquema: “ele até chegou a encomendar que os diretores a partir daí fizessem mais reservas partidárias”.
Obstrução de Justiça
Por duas vezes em seu depoimento, o ex-ministro falou ao magistrado sobre sua atuação para atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato. Em uma delas, já no final da oitiva, citou Lula como um de seus companheiros na empreitada. “Em algumas oportunidades, eu me reuni com o ex-presidente Lula e com outras pessoas no sentido de buscar criar obstáculos à Lava Jato”, introduziu Palocci. Ele afirmou ao juiz federal que poderia falar mais sobre o assunto, mas Moro entendeu que não era apropriado tratar dele neste processo, que apura corrupção e lavagem de dinheiro.

NO BLOG DO JOSIAS
"MPF não pode cair na vala comum", diz procurador da Lava Jato sobre a JBS
Por Josias de Souza
Quinta-feira, 07/09/2017 03:37
O procurador Regional da República, Carlos Fernando dos Santos Lima, membro da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, defendeu uma investigação “rápida e profunda” sobre as dúvidas que rondam a colaboração judicial da JBS. Em entrevista ao blog, ele declarou: “O Ministério Público Federal ainda é uma instituição respeitada pela população. Não pode cair na vala comum. Não podemos deixar que joguem o Ministério Público na vala comum.”
Carlos Fernando comentou a situação do seu ex-colega Marcelo Miller. O áudio que ameaça a colaboração judicial da empresa de Joesley Batista aponta indícios de que Miller pode ter assessorado os delatores da JBS quando ainda trabalhava como procurador do núcleo da Lava Jato em Brasília. “Ele tem que ser rigorosamente investigado”, disse. “Nós temos que cortar na própria carne. Sem nenhum tipo de corporativismo.”
Os procuradores da Lava Jato estão preocupados também com a preservação do instituto da colaboração premiada. “Temos o receio de que alguns intérpretes espertos, sempre muito rápidos no gatilho, usem esse tipo de situação para tentar acabar com os acordos de colaboração'', declarou Carlos Fernando. Vai abaixo a entrevista:

— Receia que uma reviravolta na delação da JBS prejudique o instituto da colaboração premiada?
- Temos o receio de que alguns intérpretes espertos, sempre muito rápidos no gatilho, usem esse tipo de situação para tentar acabar com os acordos de colaboração. O Gilmar Mendes [ministro do Supremo Tribunal Federal] já fala nisso abertamente.
— Como isso ocorreria?
- Podem tentar fazer algum tipo de restrição. Os criminalistas do garantismo penal já falam nisso há algum tempo. Agora, é uma oportunidade que eles têm para fazer uma confusão e tentar emplacar versões prejudiciais ao instituto da colaboração. Isso nos preocupa muito. Esse caso da JBS não é Lava Jato. É outra operação. Não envolve acordos feitos por nós, em Curitiba.
— Não acha que a superpremiação da imunidade penal é um problema que vem desde a origem neste acordo com a JBS?
- O problema de premiar com a imunidade é que não é fácil fazer com que a população compreenda. Nos nossos acordos, temos um princípio: não concedemos imunidade. É uma regra de ouro nossa. Mas a lei permite. Tecnicamente, é possível. Tanto que o Supremo reconheceu isso, homologando o acordo. Isso ficou, então, a critério da conveniência e da oportunidade do procurador-geral da República.
— Em Curitiba, os senhores não concedem imunidade penal em nenhuma hipótese?
- Não. Nós entendemos que é muito difícil explicar a imunidade à população. As pessoas não entendem esse tipo de benefício. Nós preferimos negociar redução de pena. E estamos tendendo a negociar penas privativas de liberdade cada vez maiores.
— A dificuldade de aceitação foi acentuada pela comparação que se fez entre o tratamento dado aos delatores da Odebrecht e os da JBS, não acha?
- Marcelo Odebrecht padece mais do que Joesley Batista, não? É difícil fazer esse tipo de comparação. A Odebrecht resistiu bastante antes de colaborar. Marcelo Odebrecht já estava preso, a companhia passava por dificuldades, as acusações se avolumavam. O Joesley, espertamente, veio antes que a situação deles se deteriorasse completamente. De certa forma, isso deu a ele outra condição para negociar. Mas nós sempre dissemos, aqui em Curitiba, que imunidade não daríamos a ninguém. Podemos conversar sobre quase tudo, menos imunidade.
— A força tarefa de Curitiba cogita alterar o modo como utiliza o instituto da colaboração judicial?
- Nós entendemos que o instituto é uma ferramenta de sucesso para quebrar organizações criminosas. Isso não ocorre apenas na Lava Jato do Paraná. Temos a operação Ararath [que apura desvios no governo do Mato Grosso], com a filmagem da entrega de dinheiro. Temos o caso de Pernambuco e Rio Grande do Norte, envolvendo um desembargador. Temos a Lava Jato no Rio de Janeiro. Temos vários casos de sucesso no uso da colaboração. Não podemos admitir que exista uma contaminação por conta da malandragem de um colaborador específico.
— Como procurador, causou-lhe incômodo o fato de seu ex-colega Marcelo Miller ter mudado de lado no curso da investigação?
- É evidente que a situação foi muito estranha para todos nós. Ele era um procurador atuante. Nós realmente achamos muito estranha a situação. Eticamente era questionável. Juridicamente, ele parecia estar amparado. Poderia ter feito o que fez: sair para advogar. O problema foi ter aparecido em seguida num caso como esses. Isso causou, sim, incômodo.
— A nova gravação traz indícios de que Marcelo Miller pode ter orientado os delatores da JBS ainda como procurador. Acha que as providências adotadas são suficientes para lidar o problema?
- Isso tem que gerar consequências. Não podemos admitir nenhuma dúvida sobre o comportamento de qualquer membro do Ministério Público. Ele tem que ser investigado. Nós temos que cortar na própria carne. Sem nenhum tipo de corporativismo. Membros do Ministério Público têm um dever de lealdade com a instituição e com a própria sociedade. Portanto, é preciso investigar com muita profundidade. A investigação precisa ser rápida e profunda.
— Acha que a eventual rescisão do acordo de colaboração pode resultar na prisão dos delatores da JBS?
- Temos duas hipóteses: o acordo pode ser rescindido pelo juiz que homologou, a pedido do Ministério Público. Ou a Procuradoria pode renegociar as penas e os benefícios. Tudo vai depender dos fatos. Conheço o caso apenas pelo que foi divulgado na entrevista coletiva do procurador-geral. Não há envolvimento nosso neste caso. Creio que será necessário sopesar todos os fatores. E o procurador-geral terá de se dirigir ao ministro Edson Fachin, relator do caso no Supremo.
— O caso JBS é o primeiro a apresentar um problema de descumprimento de acordo. Não acha que a preservação da ferramenta depende de uma correção de rumos exemplar por parte do Ministério Público?
- Do ponto de vista funcional, a situação não está vinculada a nós. Difícil, portanto, emitir juízos definitivos. O que desejamos é que todos os fatos sejam revelados e esclarecidos. Inclusive em relação à participação do ex-procurador. Não podemos admitir nenhuma dúvida sobre o comportamento de procuradores da República. O Ministério Público Federal ainda é uma instituição respeitada pela população. Não pode cair na vala comum. Não podemos deixar que joguem o Ministério Público na vala comum.
— O que achou da atuação do procurador-geral Rodrigo Janot neste episódio?
- Em relação ao doutor Rodrigo Janot, nós vimos que ele convocou uma entrevista coletiva e revelou os fatos. Fez bem. Não poderíamos deixar fatos ocultos de maneira nenhuma. Mas não conheço a extensão do problema. Não posso dizer se um inquérito policial vai bastar, não sei se o acordo terá de ser rescindido ou apenas renegociado.
— Em 18 de setembro, Raquel Dodge assumirá a Procuradoria-Geral da República. A força-tarefa de Curitiba já teve contato com ela?
Acha que mudará algo?
- Ela fez uma visita à força-tarefa ainda na época em que era candidata, na nossa eleição interna. Manifestou-se sempre a favor da continuidade. Fizemos uma exposição sobre o funcionamento da força-tarefa. Depois de mais de três anos, não há uma rusga. Ela reagiu sempre positivamente. Ela tem um grupo de trabalho. Esse grupo vai assessorá-la no caso da Lava Jato, em Brasília. Reconhecemos que o grupo escolhido por ela é da mais alta qualidade. São pessoas que têm um histórico irrepreensível na instituição.

Palocci injeta autofagia na deterioração de Lula
Por Josias de Souza
Os deuses do acaso foram caprichosos com Lula. No dia do encerramento da caravana nordestina do pajé do PT, Antonio Palocci prestou depoimento a Sergio Moro, em Curitiba. Lula gastou os últimos 20 dias fazendo pose de “guerreiro do povo brasileiro”. Em duas horas de depoimento, Palocci demoliu a fantasia. Acusou o líder máximo do petismo de guerrear pelos interesses da Odebrecht. Num “pacto de sangue” com a construtora, Lula amealhou propinas para bancar suas campanhas eleitorais e os seus confortos, dedurou o amigo.
Ao quebrar o silêncio, Palocci acrescentou uma novidade no processo de apodrecimento da reputação de Lula. Pela primeira vez, o ex-soberano enfrenta a autofagia companheira. Até aqui, Lula dedicou-se a desqualificar o juiz e os procuradores da Lava Jato. Se fizer o mesmo com Palocci será como xingar a própria imagem refletida no espelho. Palocci mantinha com Lula uma relação do tipo unha e cutícula.
Lula talvez não tenha se dado conta. Mas empurrou o companheiro para o colo dos investigadores. Num dos processos que responde na Lava Jato, Palocci é acusado de coletar verbas sujas em nome de Lula. Na contabilidade do Departamento de Propinas da Odebrecht, a verba destinada a Lula era lançada na rubrica “Amigo”. O ex-presidente petista respondeu à suspeita assim:
“Quem tiver contando mentiras, quem tiver inventando historinhas, quem tiver dizendo que criou uma conta pra mim, para um terceiro… Já faz sete anos que eu deixei a Presidência. Essa conta está onde? Esse terceiro está onde? Esse cara deve estar comendo, então, o dinheiro que era pra mim, porra!”
Preso em Curitiba, Palocci ficou imprensado. De um lado, a provedora Odebrecht. Do outro, o beneficiários dos mimos, que jura não ter recebido nada. Ou Palocci abria o bico ou seria condenado como um comedor solitário e egoísta de propinas — sem atenuantes. Faltando-lhe o histórico militante de José Dirceu, Palocci sucumbiu. Foi como se mandasse uma coroa de flores para o mito petista — com uma mensagem no cartão: “Descanse em paz.”





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