PRIMEIRA EDIÇÃO DE 17-6-2017 DO DA MÍDIA SEM MORDAÇA

NA COLUNA DO CLÁUDIO HUMBERTO
SÁBADO, 17 DE JUNHO DE 2017
A reunião-jantar com governadores, terça (13), cumpriu o objetivo do Planalto de mostrar que o presidente Michel Temer está no comando, governando, apesar dos escândalos que o atormentam, mas o fato é que os convidados se sentiram usados. É que tudo já havia sido discutido em outros encontros, e Temer feito as mesmas promessas. Incluindo o compromisso de solucionar as pendências do BNDES.
No fundo, os 16 governadores e 4 vices presentes esperavam sair da rua da amargura de mãos dadas com o presidente. Mas não rolou.
O governador de Sergipe, Jackson Barreto, que sofre o pão que Dilma amassou, mal conseguindo pagar salários, esperava mais da reunião.
A única novidade no jantar foi o novo presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, que conseguiu devolver ânimo aos convidados.
“Ele é muito educado, gentil, não merecia que a gente saísse falando mal do cardápio”, ironizou um tucano pedindo para não ser citado.
Não são mera coincidência as agressões e insultos contra Mirian Leitão e poucos dias depois contra o jornalista Alexandre Garcia, no aeroporto de Brasília. Os pistoleiros de aluguel da era petista, de inspiração fascista, lembram os “camisas negras” que perseguiam e intimidavam críticos do líder fascista italiano Benito Mussolini. O capanga que agrediu Alexandre Garcia é o mesmo que em 2014 insultou o ministro Joaquim Barbosa (STF), pela atuação no Mensalão. Isso não é casual.
Impunes, os “camisas negras” (que incluíam criminosos e oportunistas em busca de fortuna fácil) passaram depois a assassinar opositores.
Contratantes agora usam simpatizantes para monitorar viagens de jornalistas da Globo, “plantando” seus camisas negras no mesmo voo.
Os paus mandados gravam a selvageria com celulares, tentando obter reação descontrolada das vítimas para expor nas redes sociais.
“Homem da mala” da JBS, Ricardo Saud disse que pagava ao secretário de Portos, mas a propina era para o senador Jáder Barbalho (PMDB-PA). O grupo de Joesley foi o maior financiador da milionária campanha derrotada do filhote Hélder Barbalho ao governo do Pará.
Especialistas e cientistas políticos em Brasília têm só duas certezas para os próximos meses: a continuidade das atividades da Lava Jato, STF e Procuradoria, e a manutenção da equipe econômica.
Fotógrafo muito querido em Brasília, Oswaldo Rocha, o “Osvaldinho”, celebrava o aniversário no restaurante Rosário, há dias, quando um velho amigo apareceu e se juntou ao grupo: o ex-ministro Jose Dirceu.
O tamanho da base de apoio ao governo Temer na Câmara, estimado em mais de 238, impediria qualquer tentativa de emplacar um processo de impeachment contra Temer a tempo de cassá-lo antes de 2018.
Completam 45 anos hoje (17) as primeiras prisões oriundas do mais famoso escândalo de corrupção do século 20 – o notório ‘Watergate’ – que culminou com a renúncia do presidente americano Richard Nixon.
A PEC do Recall do presidente funcionaria assim; após o 1º ano do mandato presidencial, se 10% dos eleitores quiserem tirar o presidente do cargo e a proposta for aprovada no Congresso, será feito referendo popular para saber se o presidente permaneceria ou o vice assumiria.
A fatura dos cartões corporativos da Presidência subiu 46,3% enquanto Dilma chefiou o País, em relação a Lula. A média de gastos foi de R$13 milhões/ano até 2010, e pulou para R$18 milhões até maio de 2016.
No governo Temer, a média de gastos com cartões corporativos do governo caiu, mas já atingiu em 2017 R$ 16,3 milhões, até maio. Em 2015, último ano inteiro de Dilma, o gasto foi de R$ 56 milhões.
...o déficit previsto para o estado do Rio de Janeiro para 2017 é de mais de R$ 20 bilhões; rombo menor que o custo das Olimpíadas.

NO DIÁRIO DO PODER
ACORDO UNILATERAL
TRUMP CANCELA ACORDO ENTRE EUA E CUBA, FIRMADO POR BARACK OBAMA
O ACORDO FOI FIRMADO PELO EX-PRESIDENTE BARACK OBAMA EM 2014
Publicado: sexta-feira,16 de junho de 2017 às 15:55 - Atualizado às 17:15
Redação
Durante comício, realizado nesta sexta-feira (16), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que vai cancelar o acordo entre Estados Unidos e Cuba, firmado pelo ex-presidente Barack Obama, em 2014.
O republicano alegou que o que o leva a mudar a política em relação a Cuba, é saber o que está acontecendo no país e lembrar do que já aconteceu.
Trump vai reforçar o embrago contra Cuba e adotar restrições a viagens de americanos para a ilha. Também será proibido negócios entre empresas norte-americanas e cubanas que sejam controladas pelas Forças Armadas do país.
Donald Trump classificou o governo de Raúl Castro de “natureza brutal” e afirmou que "em breve alcançaremos uma Cuba livre”. Trump disse que o país sofre há décadas por causa do governo Castro. E ressaltou que isso não pode se repetir na Venezuela, “É importante que haja liberdade em Cuba e na Venezuela”.
O presidente norte-americano afirmou que será negociado um acordo melhor com a ilha, desde que ocorram avanços democráticos ‘concretos’ com eleições livre e a liberação de prisioneiros políticos.

NA COLUNA DO AUGUSTO NUNES
Tanta pressa pode parecer confissão de culpa
A ideia de suspender o recesso confirma que o presidente teme a erosão da bancada governista na Câmara
Por Augusto Nunes
Sexta-feira, 16 jun 2017, 19h18 - Publicado em 16 jun 2017, 18h39
A suspensão do recesso parlamentar de julho, sugerida pelo deputado Rodrigo Maia para apressar a votação no Legislativo da denúncia do procurador-geral Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer, conduz a duas constatações. A primeira é animadora para Temer: o presidente da Câmara não apresentaria a ideia se, na contabilidade do Planalto, a bancada governista não tivesse votos de sobra para sepultar a denúncia ─ que só será julgada pelo Supremo Tribunal Federal se aprovada por dois terços dos deputados federais.
A segunda constatação não permite que Temer durma em sossego. Tanta afobação comprova que, também aos olhos do presidente e seus aliados íntimos, a base de apoio no Congresso é perturbadoramente volátil ─ e pode derreter se a temperatura política for elevada por descobertas da Lava Jato, ou revelações decorrentes de delações premiadas, que transformem o chefe de governo em protagonista de mais histórias muito mal contadas. Vêm aí confissões de grosso calibre. E os alvos principais continuam a ser Lula, Dilma e Temer.
A pressa do presidente reforça a suspeita de que nem todos os pecados que cometeu foram desvendados. Nessa hipótese, o agravamento da crise política terá sido apenas adiado com a rejeição da denúncia. Um escândalo de bom tamanho pode levar o sempre dubitativo PSDB a redescobrir a relevância do respeito à lei, a normas éticas, à moral e aos bons costumes. Temer precisa preservar a aliança para chegar ao fim do verão perigoso. “Em setembro, a melhora dos indicadores econômicos vai inibir os que sonham com a queda do governo”, ouviu de Temer nesta quinta-feira, 15, um ministro tucano.
No Brasil com 14 milhões de desempregados, talvez o item mais perverso do legado maldito de Lula e Dilma, o governo só sobreviverá até dezembro de 2018 se a economia sair da UTI nos próximos dois meses. Tudo somado, resta a Temer convocar uma reunião do Ministério para resumir numa frase o que devem fazer tanto o presidente quanto os integrantes do primeiro escalão até a tempestade amainar:
─ Senhores ministros: oremos.

NO BLOG DO JOSIAS
Joesley soa como virgem de Sodoma e Gomorra
Josias de Souza
Sábado, 17/06/2017 04:14
De passagem pelo Brasil, o corruptor confesso Joesley Batista falou à revista Época. Apresentou-se na conversa como uma vítima de políticos achacadores. Nessa versão, se não distribuísse mimos e propinas os interesses do seu grupo empresarial seriam prejudicados. A tese da extorsão é cansativa e ofensiva. Ela cansa porque já foi usada à exaustão pelas empreiteiras pilhadas na Lava Jato. Ofende porque supõe que a plateia é feita de imbecis.
Na definição do dono da JBS, “Temer é o chefe de uma organização criminosa” que inclui Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves, Eliseu Padilha e Moreira Franco. “Essa turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive coragem de brigar com eles.” Por quê? “Para não armarem alguma coisa contra mim.” Há, hã… O problema dessa formulação é que, guiando-se por autocritérios, Joesley participa do enredo da rapinagem no papel de um anjo cercado de demônios.
As asas angelicais do entrevistado abriram-se com maior entusiasmo no instante em que ele explicou por que pagava pelo silêncio de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, que estão atrás das grades. “Virei refém de dois presidiários. Combinei quando já estava claro que eles seriam presos, no ano passado. O Eduardo me pediu R$ 5 milhões. Disse que eu devia a ele. Não devia, mas como ia brigar com ele? Dez dias depois ele foi preso.”
O anjo prosseguiu: “Eu tinha perguntado para ele: ‘Se você for preso, quem é a pessoa que posso considerar seu mensageiro?’. Ele disse: ‘O Altair procura vocês. Qualquer outra pessoa não atenda’. Passou um mês, veio o Altair. Meu Deus, como vou dar esse dinheiro para o cara que está preso? Aí o Altair disse que a família do Eduardo precisava e que ele estaria solto logo, logo. E que o dinheiro duraria até março deste ano. Fui pagando, em dinheiro vivo, ao longo de 2016. E eu sabia que, quando ele não saísse da cadeia, ia mandar recados.”
Que a política virou apenas mais um ramo do crime organizado, ninguém ignora. Nessa matéria, a Lava Jato eliminou até o benefício da dúvida. Mas Joesley só está solto para dar entrevistas porque sua delação foi superpremiada pela Procuradoria-Geral da República. O delator faria um favor aos brasileiros se não exagerasse na pose.
O que há de novo no País que a força-tarefa de Curitiba desencavou é que, pela primeira vez desde as caravelas, a Polícia, a Procuradoria e a Justiça invadiram os salões do clube dos corruptores, do qual Joesley Batista é sócio-atleta. O barão da carne ainda não se deu conta da aversão que sua despudorada figura passou a despertar.
Hoje, só há dois tipos de brasileiros: os desinformados e os que torcem para que os lucros que a JBS obteve no mercado financeiro manipulando a própria delação resultem em nova ação judicial. Coisa séria o bastante para levar gente como Joesley à cadeia sem prejuízo da utilização de tudo o que foi delatado para fins criminais.
Até lá, convém a Joesley não diminuir sua importância como corruptor no maior esquema de rapinagem sob investigação no Planeta. Do contrário, sua voz soará nos depoimentos e nas entrevistas como ladainha de uma virgem de Sodoma e Gomorra.

Após o TSE, a Câmara sepultará escândalo vivo
Josias de Souza
Sábado, 17/06/2017 01:21
A denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Michel Temer ainda não chegou ao Supremo Tribunal Federal. Mas a Câmara dos Deputados, que receberá o processo para decidir se autoriza ou não o Supremo a abrir uma ação penal contra o presidente da República, já decidiu o que fazer. Rodrigo Maia, presidente da Câmara, prometeu a Temer uma tramitação rápida. Não importa o teor da denúncia. O Planalto e seus aliados organizam um enterro relâmpago para a peça.
O governo alega que o Brasil não pode perder tempo. É preciso cuidar de reformas como a da Previdência. É lorota. Deve-se a pressa de Temer ao medo do presidente de ser abalroado por novas delações. O doleiro Lúcio Funaro já exercita a língua. Rodrigo Rocha Loures, o homem da mala, é pressionado pela família. Eduardo Cunha se aconselha com um novo advogado. Sitiado pela suspeição, Temer vive a neurose do que está por vir.
Para desassossego de Temer, o procurador-geral Rodrigo Janot adiou a apresentação de sua denúncia para a última semana do mês. Se o Brasil fosse um país lógico, os deputados não se atreveriam a arquivar as acusações de corrupção, obstrução de Justiça e formação de organização criminosa. Não há lógica em sonegar ao País a oportunidade de conhecer o veredicto do Supremo Tribunal Federal sobre a reputação do presidente. Costuma-se dizer que o brasileiro não tem memória. Mas num país em que o TSE e a Câmara enterram escândalos vivos o que falta às autoridades não é memória, mas um mínimo de curiosidade.

NA ÉPOCA
Joesley Batista: “Temer é o chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil”
Em entrevista exclusiva a ÉPOCA, o empresário diz que o presidente não tinha “cerimônia” para pedir dinheiro e que Eduardo Cunha cobrava propina em nome de Temer
DIEGO ESCOSTEGUY
Sexta-feira, 16/06/2017 - 21h31 - Atualizado 16/06/2017 23h20
Na manhã da quinta-feira (15), o empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, recebeu ÉPOCA para conceder sua primeira entrevista exclusiva desde que fechou a mais pesada delação dos três anos de Lava Jato. Em mais de quatro horas de conversa, precedidas de semanas de intensa negociação, Joesley explicou minuciosamente, sempre fazendo referência aos documentos entregues à Procuradoria-Geral da República, como se tornou o maior comprador de políticos do Brasil. Discorreu sobre os motivos que o levaram a gravar o presidente Michel Temer e a se oferecer à PGR para flagrar crimes em andamento contra a Lava Jato. Atacou o presidente, a quem acusa, com casos e detalhes inéditos, de liderar “a maior e mais perigosa organização criminosa do Brasil” – e de usar a máquina do governo para retaliá-lo. Contou como o PT de Lula “institucionalizou” a corrupção no Brasil e de que modo o PSDB de Aécio Neves entrou em leilões para comprar partidos nas eleições de 2014. O empresário garante estar arrependido dos crimes que cometeu e se defendeu das acusações de que lucrou com a própria delação. 
A seguir, os principais trechos da entrevista publicada na edição de ÉPOCA desta semana. Leia as 12 páginas da conversa com Joesley na edição que chega às bancas neste sábado (17) ou disponível agora nos aplicativos ÉPOCA e Globo+:
ÉPOCA – Quando o senhor conheceu Temer?
Joesley Batista – Conheci Temer através do ministro Wagner Rossi, em 2009, 2010. Logo no segundo encontro ele já me deu o celular dele. Daí em diante passamos a falar. Eu mandava mensagem para ele, ele mandava para mim. De 2010 em diante. Sempre tive relação direta. Fui várias vezes ao escritório da Praça Pan-Americana, fui várias vezes ao escritório no Itaim, fui várias vezes à casa dele em São Paulo, fui alguma vezes ao Jaburu, ele já esteve aqui em casa, ele foi ao meu casamento. Foi inaugurar a fábrica da Eldorado.
ÉPOCA – Qual, afinal, a natureza da relação do senhor com o presidente Temer?
Joesley – Nunca foi uma relação de amizade. Sempre foi uma relação institucional, de um empresário que precisava resolver problemas e via nele a condição de resolver problemas. Acho que ele me via como um empresário que poderia financiar as campanhas dele – e fazer esquemas que renderiam propina. Toda a vida tive total acesso a ele. Ele por vezes me ligava para conversar, me chamava, e eu ia lá.
ÉPOCA – Conversar sobre política?
Joesley – Ele sempre tinha um assunto específico. Nunca me chamou lá para bater papo. Sempre que me chamava, eu sabia que ele ia me pedir alguma coisa ou ele queria alguma informação.
ÉPOCA – Segundo a colaboração, Temer pediu dinheiro ao senhor já em 2010. É isso?
Joesley – Isso. Logo no início. Conheci Temer, e esse negócio de dinheiro para campanha aconteceu logo no iniciozinho. O Temer não tem muita cerimônia para tratar desse assunto. Não é um cara cerimonioso com dinheiro.
ÉPOCA – Ele sempre pediu sem algo em troca?
Joesley – Sempre estava ligado a alguma coisa ou a algum favor. Raras vezes não. Uma delas foi quando ele pediu os R$ 300 mil para fazer campanha na internet antes do impeachment, preocupado com a imagem dele. Fazia pequenos pedidos. Quando o Wagner saiu, Temer pediu um dinheiro para ele se manter. Também pediu para um tal de Milton Ortolon, que está lá na nossa colaboração. Um sujeito que é ligado a ele. Pediu para fazermos um mensalinho. Fizemos. Volta e meia fazia pedidos assim. Uma vez ele me chamou para apresentar o Yunes. Disse que o Yunes era amigo dele e para ver se dava para ajudar o Yunes.
ÉPOCA – E ajudou?
Joesley – Não chegamos a contratar. Teve uma vez também que ele me pediu para ver se eu pagava o aluguel do escritório dele na praça [Pan-Americana, em São Paulo]. Eu desconversei, fiz de conta que não entendi, não ouvi. Ele nunca mais me cobrou.
ÉPOCA – Ele explicava a razão desses pedidos? Por que o senhor deveria pagar?
Joesley – O Temer tem esse jeito calmo, esse jeito dócil de tratar e coisa. Não falava.
ÉPOCA – Ele não deu nenhuma razão?
Joesley – Não, não ele. Há políticos que acreditam que pelo simples fato do cargo que ele está ocupando já o habilita a você ficar devendo favores a ele. Já o habilita a pedir algo a você de maneira que seja quase uma obrigação você fazer. Temer é assim.
ÉPOCA – O empréstimo do jatinho da JBS ao presidente também ocorreu dessa maneira?
Joesley – Não lembro direito. Mas é dentro desse contexto: “Eu preciso viajar, você tem um avião, me empresta aí”. Acha que o cargo já o habilita. Sempre pedindo dinheiro. Pediu para o Chalita em 2012, pediu para o grupo dele em 2014.
ÉPOCA – Houve uma briga por dinheiro dentro do PMDB na campanha de 2014, segundo o lobista Ricardo Saud, que está na colaboração da JBS.
Joesley – Ricardinho falava direto com Temer, além de mim. O PT mandou dar um dinheiro para os senadores do PMDB. Acho que R$ 35 milhões. O Temer e o Eduardo descobriram e deu uma briga danada. Pediram R$ 15 milhões, o Temer reclamou conosco. Demos o dinheiro. Foi aí que Temer voltou à Presidência do PMDB, da qual ele havia se ausentado. O Eduardo também participou ativamente disso.
ÉPOCA – Como era a relação entre Temer e Eduardo Cunha?
Joesley – A pessoa a qual o Eduardo se referia como seu superior hierárquico sempre foi o Temer. Sempre falando em nome do Temer. Tudo que o Eduardo conseguia resolver sozinho, ele resolvia. Quando ficava difícil, levava para o Temer. Essa era a hierarquia. Funcionava assim: primeiro vinha o Lúcio [o operador Lúcio Funaro]. O que ele não conseguia resolver pedia para o Eduardo. Se o Eduardo não conseguia resolver, envolvia o Michel.
ÉPOCA – Segundo as provas da delação da JBS e de outras investigações, o senhor pagava constantemente tanto para Eduardo Cunha quanto para Lúcio Funaro, seja por acertos na Câmara, seja por acertos na Caixa, entre outros. Quem ficava com o dinheiro?
Joesley – Em grande parte do período que convivemos, meu acerto era direto com o Lúcio. Eu não sei como era o acerto do Lúcio do Eduardo, tampouco do Eduardo com o Michel. Eu não sei como era a distribuição entre eles. Eu evitava falar de dinheiro de um com o outro. Não sabia como era o acerto entre eles. Depois, comecei a tratar uns negócios direto com o Eduardo. Em 2015, quando ele assumiu a presidência da Câmara. Não sei também quanto desses acertos iam para o Michel. E com o Michel mesmo eu também tratei várias doações. Quando eu ia falar de esquema mais estrutural com Michel, ele sempre pedia para falar com o Eduardo. “Presidente, o negócio do Ministério da Agricultura, o negócio dos acertos…” Ele dizia: “Joesley, essa parte financeira toca com o Eduardo e se acerta com o Eduardo”. Ele se envolvia somente nos pequenos favores pessoais ou em disputas internas, como a de 2014.
ÉPOCA – O senhor realmente precisava tanto assim desse grupo de Eduardo Cunha, Lúcio Funaro e Temer?
Joesley – Eles foram crescendo no FI-FGTS, na Caixa, na Agricultura – todos órgãos onde tínhamos interesses. Eu morria de medo de eles encamparem o Ministério da Agricultura. Eu sabia que o achaque ia ser grande. Eles tentaram. Graças a Deus, mudou o governo e eles saíram. O mais relevante foi quando Eduardo tomou a Câmara. Aí virou CPI para cá, achaque para lá. Tinha de tudo. Eduardo sempre deixava claro que o fortalecimento dele era o fortalecimento do grupo da Câmara e do próprio Michel. Aquele grupo tem o estilo de entrar na sua vida sem ser convidado.
ÉPOCA – Pode dar um exemplo?
Joesley – O Eduardo, quando já era presidente da Câmara, um dia me disse assim: “Joesley, tão querendo abrir uma CPI contra a JBS para investigar o BNDES. É o seguinte: você me dá R$ 5 milhões que eu acabo com a CPI”. Falei: “Eduardo, pode abrir, não tem problema”. “Como não tem problema? Investigar o BNDES, vocês.” Falei: “Não, não tem problema”. “Você tá louco?” Depois de tanto insistir, ele virou bem sério: “É sério que não tem problema?”. Eu: “É sério”. Ele: “Não vai te prejudicar em nada?”. “Não, Eduardo.” Ele imediatamente falou assim: “Seu concorrente me paga R$ 5 milhões para abrir essa CPI. Se não vai te prejudicar, se não tem problema… Eu acho que eles me dão os R$ 5 milhões”. “Uai, Eduardo, vai sua consciência. Faz o que você achar melhor.” Esse é o Eduardo. Não paguei e não abriu. Não sei se ele foi atrás. Esse é o exemplo mais bem-acabado da lógica dessa Orcrim.
ÉPOCA – Algum outro?
Joesley – Lúcio fazia a mesma coisa. Virava para mim e dizia: “Tem um requerimento numa CPI para te convocar. Me dá R$ 1 milhão que eu barro”. Mas a gente ia ver e descobria que era algum deputado a mando dele que estava fazendo. É uma coisa de louco.
ÉPOCA – O senhor não pagou?
Joesley – Nesse tipo de coisa, não. Tinha alguns limites. Tinha que tomar cuidado. Essa é a maior e mais perigosa organização criminosa deste País. Liderada pelo presidente.
ÉPOCA – O chefe é o presidente Temer?
Joesley – O Temer é o chefe da Orcrim da Câmara. Temer, Eduardo, Geddel, Henrique, Padilha e Moreira. É o grupo deles. Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive coragem de brigar com eles. Por outro lado, se você baixar a guarda, eles não têm limites. Então meu convívio com eles foi sempre mantendo à meia distância: nem deixando eles aproximarem demais nem deixando eles longe demais. Para não armar alguma coisa contra mim. A realidade é que esse grupo é o de mais difícil convívio que já tive na minha vida. Daquele sujeito que nunca tive coragem de romper, mas também morria de medo de me abraçar com ele.
ÉPOCA – No decorrer de 2016, o senhor, segundo admite e as provas corroboram, estava pagando pelo silêncio de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, ambos já presos na Lava Jato, com quem o senhor tivera acertos na Caixa e na Câmara. O custo de manter esse silêncio ficou alto demais? Muito arriscado?
Joesley – Virei refém de dois presidiários. Combinei quando já estava claro que eles seriam presos, no ano passado. O Eduardo me pediu R$ 5 milhões. Disse que eu devia a ele. Não devia, mas como ia brigar com ele? Dez dias depois ele foi preso. Eu tinha perguntado para ele: “Se você for preso, quem é a pessoa que posso considerar seu mensageiro?”. Ele disse: “O Altair procura vocês. Qualquer outra pessoa não atenda”. Passou um mês, veio o Altair. Meu Deus, como vou dar esse dinheiro para o cara que está preso? Aí o Altair disse que a família do Eduardo precisava e que ele estaria solto logo, logo. E que o dinheiro duraria até março deste ano. Fui pagando, em dinheiro vivo, ao longo de 2016. E eu sabia que, quando ele não saísse da cadeia, ia mandar recados.
ÉPOCA – E o Lúcio Funaro?
Joesley – Foi parecido. Perguntei para ele quem seria o mensageiro se ele fosse preso. Ele disse que seria um irmão dele, o Dante. Depois virou a irmã. Fomos pagando mesada. O Eduardo sempre dizia: “Joesley, estamos juntos, estamos juntos. Não te delato nunca. Eu confio em você. Sei que nunca vai me deixar na mão, vai cuidar da minha família”. Lúcio era a mesma coisa: “Confio em você, eu posso ir preso porque eu sei que você não vai deixar minha família mal. Não te delato”.
ÉPOCA – E eles cumpriram o acerto, não?
Joesley – Sim. Sempre me mandando recados: “Você está cumprindo tudo direitinho. Não vão te delatar. Podem delatar todo mundo menos você”. Mas não era sustentável. Não tinha fim. E toda hora o mensageiro do presidente me procurando para garantir que eu estava mantendo esse sistema.
ÉPOCA – Quem era o mensageiro?
Joesley – Geddel. De 15 em 15 dias era uma agonia terrível. Sempre querendo saber se estava tudo certo, se ia ter delação, se eu estava cuidando dos dois. O presidente estava preocupado. Quem estava incumbido de manter Eduardo e Lúcio calmos era eu.
ÉPOCA – O ministro Geddel falava em nome do presidente Temer?
Joesley – Sem dúvida. Depois que o Eduardo foi preso, mantive a interlocução desses assuntos via Geddel. O presidente sabia de tudo. Eu informava o presidente por meio do Geddel. E ele sabia que eu estava pagando o Lúcio e o Eduardo. Quando o Geddel caiu, deixei de ter interlocução com o Planalto por um tempo. Até por precaução.


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