SEGUNDA EDIÇÃO DE 17-6-2017 DO DA MÍDIA SEM MORDAÇA

NO ESTADÃO
PF apreende recibos de offshore com coronel
Documentos relacionados a empresa de Montevidéu foram encontrados na casa de amigo de Temer, que também é investigado na Operação Patmos
Fabio Serapião, O Estado de S.Paulo
Sábado, 17 Junho 2017 | 03h00
BRASÍLIA - A Polícia Federal encontrou 17 recibos relacionados a uma offshore na casa do coronel aposentado João Baptista Lima Filho, amigo do presidente Michel Temer e alvo da Operação Patmos. Os investigadores vão agora apurar a origem dos documentos.
Os recibos foram recolhidos na residência de Lima Filho, durante busca e apreensão, em São Paulo. A operação foi realizada em maio deste ano – a Patmos, que tornou Temer investigado por corrupção passiva, obstrução da Justiça e organização criminosa, foi deflagrada no dia 18 de maio.
Lima Filho passou a ser investigado após a delação de Joesley Batista, acionista do Grupo J&F, apontá-lo como responsável por receber parte dos valores de propina supostamente destinada a Temer. Os recibos são relacionados a offshore Langley Trade Co. S.A.
Na Receita Federal, a Langley está registrada como empresa domiciliada em Montevidéu, capital do Uruguai. No banco de dados do Panamá Papers, do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, que teve participação de jornalistas do Estado, o endereço está atrelado ao escritório Zolkwer y Asociados. 
Delação 
No acordo de colaboração dos executivos da J&F, o contador Florisvaldo Caetano de Oliveira, apontado pela JBS como responsável por entregar dinheiro a políticos, relatou ao menos dois encontros com Lima Filho. O primeiro, segundo Oliveira, teve como objetivo conhecer o destinatário, chamado de “coronel”, e combinar a forma de entrega dos valores. No segundo encontro, o contador afirmou ter entregue R$1 milhão em espécie para Lima Filho.
Outro delator, o diretor de Relações Institucionais da J&F, Ricardo Saud, entregou uma série de documentos à Procuradoria-Geral da República mostrando que o endereço citado por Oliveira era o da empresa Argeplan Arquitetura e Engenharia, cujo dono é o amigo de Temer. A Argeplan integra um consórcio que ganhou concorrência em 2012 para executar serviços na Usina de Angra 3. As obras são investigadas na Lava Jato.
O Estado procurou Lima Filho na Argeplan por telefone, mas foi informado de que a empresa não operou e não haveria ninguém para responder.

NO BLOG DO MERVAL PEREIRA
Exemplos Internacionais
POR MERVAL PEREIRA
Sábado, 17/06/2017 08:03
Mais uma vez o cenário político internacional nos traz exemplos que podem servir de orientação sobre como tratar os graves problemas de financiamentos partidários e a corrupção na política. O caso da Operação Mãos Limpas, na Itália, guarda semelhanças com a nossa Operação Lava Jato e no momento vivemos um quadro de forças políticas antagônicas se unindo contra as investigações, do mesmo modo que aconteceu na Itália.
Já a morte do ex-chanceler Helmut Kohl traz à baila, como um tema colateral, mas que fala muito de perto a nós brasileiros, o caso de financiamento partidário através de um esquema de caixa 2 que o colocou fora do poder na União Democrata Cristã (CDU) depois de ter sido o Chanceler por 16 anos.
Apesar de um legado extraordinário, como a queda do muro de Berlim, e a reunificação alemã, no ano seguinte, e de ter sido um dos pilares da integração europeia, Kohl não foi poupado por seus companheiros, que preferiram salvar o partido a morrer afogados com seu líder.
Kohl enfrentou acusações de financiamentos irregulares para campanhas eleitorais do CDU e acabou perdendo até mesmo a presidência honorária do partido. Destacou-se no confronto interno uma novata política chamada Angela Merkel, que contara com o apoio do próprio Kohl dentro do partido, vinda da atividade política do Leste após a reunificação alemã.
Ela escreveu um artigo sobre o escândalo no influente jornal “Frankfurter Allgemeine Zeitung”, rompendo com seu protetor, assumindo depois a liderança do partido e tornando-se a chanceler alemã desde 2005.
Já na Itália, o Partido Socialista Italiano (PSI) sofreu grave crise financeira diante da devassa da Operação Mãos Limpas que desvelou um grande esquema de corrupção política, e em 1994 foi dissolvido em um Congresso partidário, somente voltando a existir como PSI em 2009. Bettino Craxi, líder do Partido Socialista Italiano (PSI) e ex-primeiro-ministro, foi um dos principais alvos da Operação Mãos Limpas.
O juiz Sérgio Moro, em um artigo que escreveu sobre a Operação Mãos Limpas, ressalta que Craxi, já ameaçado pelas investigações e depois de negar várias vezes seu envolvimento, reconheceu “cinicamente” a prática disseminada das doações partidárias ilegais em famoso discurso no Parlamento italiano, em 03/7/1992, usando argumentos muito semelhantes aos que os partidos brasileiros vêm usando:
(...) O que é necessário dizer e que, de todo modo, todo mundo sabe, é que a maior parte do financiamento da política é irregular ou ilegal. Os partidos e aqueles que dependem da máquina partidária (grande, média ou pequena), de jornais, de propaganda, atividades associativas ou promocionais... têm recorrido a recursos adicionais irregulares. (...) 
Em dezembro de 1992, relata Moro, Craxi recebeu seu primeiro avviso di garanzia, um documento de dezoito páginas, no qual era acusado de corrupção, extorsão e violação da lei reguladora do financiamento de campanhas. A acusação tinha por base, entre outras provas, a confissão de Salvatore Ligresti, suposto amigo pessoal de Craxi preso em julho de 1992, de que o grupo empresarial de sua propriedade teria pago aproximadamente US$ 500.000,00 desde 1985 ao PSI para ingressar e manter-se em grupo de empresários amigos do PSI.
Na segunda semana de janeiro de 1993, Craxi recebeu o segundo avviso di garanzia, com acusações de que a propina teria também como beneficiário o próprio Craxi, e não só o PSI.Os pagamentos seriam feitos a Silvano Larini, que seria amigo próximo de Craxi. Larini e Filippo Panseca seriam os proprietários da empresa da qual Craxi alugaria suas mansões opulentas em Como e Hammamet, na Tunísia.
Craxi ainda recebeu novos avviso de garanzia antes de renunciar ao posto de líder do PSI em fevereiro de 1993. Sua popularidade logo se transformou em repúdio, e certa ocasião foi alvejado por uma chuva de moedas na rua. Também viu seu nome envolvido no escândalo da Enimont, empresa química formada por joint venture da ENI (Ente Nazionale Idrocarburi), a empresa petrolífera estatal italiana, e a Montedision, empresa química subsidiária do grupo Ferruzi (considerado o segundo maior da Itália após a FIAT).
O governo acabou comprando a parte da empresa privada, mas a preço superestimado que gerou o pagamento de cerca de cem milhões de dólares a vários líderes políticos, dentre eles Craxi. A operação mani pulite também revelou que a ENI funcionaria como uma fonte de financiamento ilegal para os partidos, teria efetuado pagamentos mensais aos principais partidos políticos durante anos.
Bettino Craxi, diante das acusações e posteriores condenações, auto-exilou-se, em 1994, na Tunísia, onde veio a falecer no ano 2000. Semelhanças com o caso brasileiro e nossos líderes políticos não são meras coincidências.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NOTÍCIAS EM DESTAQUE - 1ª EDIÇÃO DE 10/12/2023 - DOMINGO

NOTÍCIAS EM DESTAQUE - 1ª EDIÇÃO DE 05/8/2023 - SÁBADO

NOTÍCIAS EM DESTAQUE - 2ª EDIÇÃO DE 08/4/2024 - SEGUNDA-FEIRA