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Posted: 26 Dec 2015 03:04 PM PST
Opinião – OPOVO – 26/12/2015
Antonio Mourão Cavalcante (*)

Durante muito tempo, não houve Brasil. Aliás, a noção de pátria e sentimento de nacionalidade ocorre muito tardiamente no processo histórico.

O Império Luso não tinha condições objetivas para proceder a ocupação do território descoberto. Era muito grande. Era muito longe. Nem havia gente suficiente para a empreitada. O espaço conhecido foi, então, dividido em capitanias hereditárias. Isto é, o rei de Portugal entregava grandes extensões territoriais para que fossem exploradas por amigos, os donatários. Estes, por sua vez, chamariam outros amigos. E, doariam terras para que fossem exploradas. Tudo entre amigos. Alguns prosperaram. Outros não saíram do papel. Era na base do cada um por si e Deus por todos.

A essência desse poder – mando, posse, propriedade – era todo em mãos do senhor das terras, o tal amigo do rei.

Isso marcou profundamente a nossa terra: “Sabe com quem está falando?” Isto é, tem os que mandam, porque são amigos do rei, alguns protegidos (ditos afilhados!) e, os que devem obedecer – e nada questionar –, porque são súditos. Rigorosamente, manter respeito e pagar os impostos.

Esse modelo tem resistido ao longo dos tempos. O patrimonialismo é a essência desse sistema. Os de cima têm todos os direitos, ter acesso a tudo. Simples assim: tudo lhes pertence e pode ser colocado a serviço de sua vontade. O próprio Estado está aí para lhes servir.

E estas tais elites possuem o direito histórico, atávico, de dispor de tudo que o Estado oferece. Não são privilégios, mas direitos que lhes assiste. Compreendam – a partir daí – a empáfia dos senhores magistrados. A arrogância dos senhores políticos. A autoridade que qualquer homem público pensa que tem, como inerente a sua própria pessoa. Jamais eles vão compreender que aquele mandato, aquela autoridade, aquele poder lhes foi outorgado. É dele. E ele pode dispor como bem desejar, sem qualquer remorso e barreira. É assim mesmo!

A crise atual, essa que vivemos com tanta intensidade, é uma manifestação de que não podemos continuar funcionando dessa forma. Que essa não é a base de uma democracia republicana.

Por isso, o ano de 2015 ainda vai continuar meses adentro. A história ainda não fechou seu ciclo.


(*) Médico e Antropólogo. Professor Universitário.

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