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CARLOS LUPI, DELTA E EMPRESAS FANTASMAS

Empresas-fantasmas do caso Delta doaram dinheiro ao PDT de Carlos Lupi
Ministro demitido durante a “faxina ética” de Dilma Rousseff, Lupi concorre a uma vaga no Senado
HUDSON CORRÊA
Época de 09/08/2014 07h56 - Atualizado em 09/08/2014 08h03
  •  APOIO Carlos Lupi, candidato ao Senado. Ele é um dos principais cabos eleitorais de Dilma Rousseff no Rio de Janeiro (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)
APOIO
Carlos Lupi, candidato ao Senado. Ele é um dos principais cabos eleitorais de Dilma Rousseff no Rio de Janeiro (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)




No mês de junho, a Justiça autorizou a Polícia Federal a pedir ajuda aos Estados Unidos para decifrar o conteúdo de um disco rígido externo. Repleto de arquivos codificados, o HD fora apreendido pelos agentes federais na sede da construtora Delta, no Rio de Janeiro, em outubro de 2013. A PF acredita que os arquivos possam ser abertos por fabricantes de softwares de criptografia dos Estados Unidos. O HD, diz a PF, pode conter novas pistas sobre o destino de R$ 360 milhões, segundo a PF, desviados de obras públicas pela Delta entre 2007 e 2012. Já se sabe que a quantia foi transferida para contas bancárias de empresas de fachada, que só existem no papel. O destino final da dinheirama ainda permanece um mistério. Os investigadores suspeitam que o dinheiro foi parar no bolso de políticos. Seguindo essa trilha, ÉPOCA comparou documentos da investigação a papéis da Justiça Eleitoral. Do cruzamento de informações, surge o envolvimento de um ex-ministro dos governos Lula e Dilma, que até aqui não aparecera no escândalo da Delta. Trata-se de Carlos Lupi, presidente nacional do Partido Democrático Trabalhista (PDT) e ministro do Trabalho entre 2007 e 2011.
Cinco empresas de fachada, que receberam dinheiro sujo da Delta, doaram juntas R$ 500 mil ao diretório nacional do PDT no ano eleitoral de 2010. Lupi assina o documento que registra o recebimento da doação e registra a entrada do dinheiro para o partido. Naquela época, Lupi ainda estava na Esplanada dos Ministérios e era criticado por misturar o cargo no governo às funções de presidente do PDT – que comanda de forma centralizadora desde 2004. Antes de ser remetidas ao Tribunal Superior Eleitoral, as contas do PDT de 2010, incluindo as doações, foram aprovadas internamente, numa reunião dirigida pelo então presidente interino do partido – o hoje ministro do Trabalho, Manoel Dias. “Após análise e debates sobre os documentos apresentados, restou aprovada por unanimidade a prestação de contas”, diz a ata da reunião no dia 15 de fevereiro de 2011. Dias assumiu o Ministério do Trabalho em março de 2013. Sua posse representou a volta do grupo político de Lupi ao governo Dilma. Ele fora demitido durante a “faxina ética” do início do mandato, em meio a denúncias de corrupção. 
Cinco empresas de fachada que contribuíram com o PDT ganharam, juntas, R$ 191 milhões da empreiteira Delta
As doações suspeitas para o PDT ocorreram num mesmo dia, 5 de maio. Foram as primeiras que o partido recebeu em 2010. Naquele ano, o PDT, que apoiava Dilma, embolsou R$ 8,16 milhões, doados principalmente por grandes empreiteiras conhecidas nacionalmente. A Delta não aparece entre os doadores do partido. A construtora encabeçava a lista das empreiteiras que mais recebiam dinheiro do governo federal. Segundo o Portal da Transparência, a Delta recebeu cerca de R$ 750 milhões da União em 2010. Comandada pelo empresário Fernando Cavendish, ela desceu ao inferno em 2012, quando a PF prendeu o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. A PF acusou Cachoeira de operar um esquema de desvio de dinheiro por meio da filial da Delta em Goiás. Na investigação, apareceu uma rede de empresas de fachada – entre elas, as doadoras do PDT. São cinco empreiteiras de papel, sediadas em São Paulo. Elas têm o mesmo contador e sócios em comum. Em seus endereços, os policiais federais encontraram residências e moradores que nada sabiam sobre as ditas empresas. Não havia funcionários ou maquinários da construção civil que justificassem movimentações volumosas de dinheiro. As cinco contribuintes do PDT ganharam, juntas, R$ 191 milhões da Delta.
Por meio de sua assessoria, Lupi afirmou que as doações ao PDT foram feitas dentro das regras vigentes na época e que estão devidamente contabilizadas. “Se teve coisa errada com o doa­dor, o problema agora é da polícia.” Procurado por ÉPOCA, o ministro Dias não se manifestou até o fechamento desta edição. A Delta diz que não comenta investigação que está no âmbito da Justiça.
Candidato a senador no Rio de Janeiro, Lupi tem recebido afagos da presidente Dilma. Ele é hoje um dos principais cabos eleitorais dela no Estado. Na noite de 24 de julho, Lupi se reuniu com Dilma e prefeitos numa churrascaria da Baixada Fluminense. “Quero cumprimentar essa pessoa especial que é nosso candidato a senador, o companheiro Carlos Lupi”, disse Dilma ao microfone. Em dezembro de 2011, Dilma demitira Lupi porque seus subordinados no ministério foram acusados de cobrar propina de até 15% sobre o valor de contratos fechados com ONGs. Ele também foi acusado de conceder registro a sindicatos-fantasmas. Em outra frente, surgiram provas de que Lupi fizera uma viagem oficial ao Maranhão, em 2009, num avião particular arranjado pelo empresário Adair Meira, que mantinha contrato suspeito de R$ 10 milhões com o Ministério do Trabalho. Entre tantos escândalos, só faltava aparecer um envolvimento de Lupi com a Delta. Não falta mais.

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