UMAS E OUTRAS DO HELIO FERNANDES - 28-4-14

HELIO FERNANDES -

A Comissão da verdade acertou: Juscelino não foi assassinado 
Num relatório minucioso, completou: “O assunto acabou para nós, o ex-presidente não foi assassinado”. Perfeito. Há mais de 30 anos escrevo sobre o assunto e com essa mesma conclusão. E sempre incluo Lacerda e Jango que morreram sem participação da ditadura. Embora, se pudessem tivessem cometido os crimes.
As três mortes quando a ditadura estava no fim. Muitos insensatos, refugiados no SNI, tentavam prorrogar o regime arbitrário, autoritário, atrabiliário, assassino e torturador, seriam os “herdeiros”. 
O velório de Juscelino 
Eu estava no apartamento de ex-presidente, fiquei o dia todo. Ninguém falou em assassinato, essa hipótese surgiu da parte de alguns beletristas (a palavra é depreciativa), que se aproveitaram dela. Todos lamentavam, choravam, falavam em fatalidade, jamais em assassinato. 
Esclarecimento 
Muitos podem estranhar que eu estivesse o dia todo no seu apartamento. Dirigi sua campanha de comunicação (sem dinheiro algum). Quando viajou pelo mundo como presidente eleito e ainda não empossado, das quatro pessoas que foram com ele, este repórter era o único convidado. Depois fiz oposição ao seu governo, do primeiro ao último dia.
Em 1966, JK pediu ao deputado-ministro-comandante Renato Archer para fazer um almoço para nós, no seu belo apartamento do Flamengo. Logo no início, JK quis pedir desculpas por ter me “censurado” na televisão, foi interrompido por mim.
“Presidente, já se passaram 10 anos, estamos em outra realidade completamente diferente”. Juscelino não se conformou. Retomou a palavra: “Helio vou ser sinceríssimo com você. Eu não sabia que você estava sendo censurado. Mas quando soube, não fiquei contrariado. Não foi só você, também o Millôr e o Carlos Lacerda. Vou te dizer, governar com vocês três diariamente na televisão, só um presidente suicida”. 
Nenhum ressentimento 
Rimos os três, além do mais estávamos em pleno clima de frente ampla. Conversamos outras vezes, daí a razão de eu estar no seu velório. O que nunca entendi nem consegui explicar: o que fazia o ex-presidente naquela estrada deserta? Com uma passagem de avião no bolso? Logo ele, que tinha paixão por viajar de avião. 
Senador Mário Couto: o exibicionista sem memória 
Quando Dona Graça Foster terminava seu depoimento de quase sete horas, foi interrompida pelo representante do Pará. Com um pedaço de papel na mão, e aos berros: “Seu marido tem contrato com a Petrobras”. A presidente da empresa respondeu singelamente, “meu marido não tem contrato algum com a empresa que presido”.
Constrangimento total. Dona Graça havia sido elogiada por todos os oradores da situação e da oposição, até Pedro Simon e Álvaro Dias. Gritando mais ainda esse senador Mário Couto, blasfemou: “Amanhã vou entregar ao Ministério Público os documentos que comprometem a presidente da Petro e seu marido”.
Já se passaram oito dias, e o Ministério Público não recebeu nenhuma denúncia nem documentos. Na terça-feira, Aécio e Lindberg discutiam no Senado com veemência. Este último, exibicionista, chegou brigando, teve que ser separado. 
Sucessão em São Paulo 
A falta de liderança, comando e representatividade no maior estado, política, econômica e eleitoralmente, é assustadora. No governo desde 1994, (com a saída em 2006 para ser derrotado a presidente da República) Alckmin foi candidato em São Paulo três vezes, sem protesto: 1994, 1998, 2002.
Agora, partidos e personalidades (?) fazem tudo para que Alckmin cumpra seu projeto público: reeleição neste perto 2014 e nova candidatura presidencial no distante 2018. Os adversários do governador, aparentemente, Skaf, Kassab, Padilha.
Também aparentemente, Alckmin pode ganhar no primeiro turno. Mesmo com as vastas e antigas acusações de propinas e superfaturamentos nos trens e metrôs.
Que o PT não quis investigar, parece sequioso de fazer, até com uma CPI múltipla e inédita.
Só que esta jamais existiu ou existirá. Rosa Weber demorou mas acertou. Não podia errar. 
A desmoralização e a contaminação da MP 
Já disse no jornal impresso, não custa repetir, o assunto é gravíssimo: a MP (medida provisória) foi criada na França, em 1960. Primeiro presidente eleito pelo voto direto, (antes o Primeiro Ministro é que era escolhido pelo povo) De Gaulle constatou que os projetos “não andavam no Congresso”.
Essa MP criada por ele, tinha regras invioláveis. 1 – Precisava ser votada em 30 dias. 2 – Aprovada, se transformava logo em lei. 3 – Vetada, ia imediatamente para o arquivo. 4 – O presidente da República só poderia tratar do assunto, dois anos depois. Nitidamente a favor da velocidade das leis. 
No Brasil, mudaram tudo 
Levou anos para essa MP chegar ao Brasil, é evidente, deturpada. 1 – Primeiro a MP era sobre um único assunto. 2 – Se não fosse votada, “trancava” a pauta. 3 – Aí, necessários longos entendimentos. 4 – Agora, surgiu o “enxerto”.
O Executivo manda a MP, e ele mesmo (ou o legislativo) contamina a MP com outro assunto. Nada melhor para elucidar a questão do que a 627, que está nas manchetes gerais, proporcionou acordo vergonhoso, que desmoralizou (MAIS?) Legislativo e Executivo. 
Tudo para favorecer os privilegiados dos Planos de Saúde 
Surpreendentemente, o Legislativo estava do lado correto, não queria conceder mais privilégios aos irregularíssimos planos que vivem da exploração. O Executivo não aceitava modificação, o Senado disse, “como está não votaremos”. A questão foi levada a Dona Dilma, concordou: “Aprovem a 627, vetarei a parte que favorece os planos”.
Por que não permitiram que o Senado retirasse o “enxerto”? Dona Dilma tem que fazer média com os Planos, dizer, “não concordei, fui pressionada”. Quais os interesses escusos com esses perversos planos “contra” a saúde? 
As construtoras-empreiteiras, enriquecem maravilhosamente, sem acusação de corrupção 
São empresas únicas no Brasil. Surgiram do nada, desde a construção de Brasília. Foram se multiplicando, tudo passa por elas, que transitam inexpugnáveis e incólumes, por território pedregoso.
Uma das palavras mais pronunciadas nesse mundo da construção-empreitada, é SUPERFATURAMENTO. Mas nenhuma delas é atingida. Meus parabéns a todas, pela correção, pela ética, pela moralidade e dignidade. Uma vez contei este fato. Pela madrugada, o capataz de uma grande empreiteira, telefonou para o patrão, pediu desculpas pela hora, informou: “Dois operários morreram SOTERRADOS”.
O patrão, revoltado, retrucou imediatamente: “SOTERRADOS, não, EMPEDRADOS”. É que ele estava fazendo movimentação de terra, mas cobrava o triplo, como se trabalhasse com pedra. Esse é caso único, os outros discordaram. O princípio que prevalece nas construtoras-empreiteiras, é a ética nos preços. 
Padilha, “mais médicos”, “menos ética” com doleiro 
A polícia Federal que investiga os “malfeitos” (royalties) para Dona Dilma, encontrou vestígios do Ministro da Saúde nos escândalos do doleiro. Precisamente quando ele era Ministro. O ex-ministro nega. Basta dizer, “eu não sabia de nada”. Todos têm escapado por essa porta com dimensão do portão do Maracanã. 
Corrupção: “Câncer que devora o Brasil” 
A frase entre aspas é de Dona Marina, vice do doutor Eduardo Campos. Perfeita e sem restrições a constatação e a comparação da corrupção com o câncer. Acontece que Dona Marina foi senadora por oito anos, Ministra do Ambiente, jamais se preocupou com esses fatos que agora denuncia.
A cumplicidade-omissão com essa corrupção desesperada também pode ser comparada com o câncer. Nos tempos de Dona Marina no Poder não havia corrupção a denunciar? 
Julgamento de Collor 
Aproveitando o tempo perdido, o Supremo julgou o ex-presidente Collor pela segunda vez. Logo depois do impeachment, Collor recorreu ao Supremo. Foi absolvido “por falta de provas”. Marco Aurélio, ministro e “primo terceiro” de Collor se deu por impedido. Não precisava.
Agora, exatamente 20 anos depois, julgam novamente o ex-presidente, outra absolvição também por “falta de provas”. O que houve? Alguém se enganou e colocou na pauta um julgamento com 20 anos de absolvição? 
PS – Injustiça e falta de respeito com a Petrobras. O senador Taques, chamou e comparou a empresa “com uma quitanda”. O também senador Aloysio Nunes Ferreira identifica o tratamento dado à Petrobras, como o de um “botequim”. 
PS2 – Renan Calheiros estava indo para Roma participar oficialmente da canonização de Anchieta, quando soube da decisão da Ministra Rosa Weber. (A propósito: representado por Renan, o Brasil debocha e ridiculariza seu primeiro santo). 
PS3 – Renan imediatamente entrou em contato com seu gabinete, ordenou: “Chego segunda-feira (hoje) já quero tudo pronto para recorrer ao plenário do Supremo, contra o voto da relatora Rosa Weber”. 
PS4 – Instrução especial de Renan, (que esqueceu que foi Ministro da Justiça, só podia ser mesmo de FHC) “têm que basear o recurso no fato de que o voto da Ministra atingiu a harmonia entre os Poderes”. 
PS5 - O plenário, sem o recurso do presidente do Senado, ia mesmo examinar o voto da relatora. Por dois motivos. Que o plenário é soberano. E que a relatora deu ao seu voto o caráter de “liminar”, para que obrigatoriamente fosse examinado pelo pleno. Sabe pouca coisa o presidente do Senado, que voltou ao cargo, depois de renunciar para não ser cassado. 
PS6 - O PT e o governo “não mudaram de estratégia”, como foi dito por analistas amadores e pouco isentos. Não havia estratégia alguma no Planalto.
PS7 – Apenas exame tolo e conclusão erradíssima. Ao lado de Dona Dilma, clamorosamente, consideravam que a relatora autorizaria a CPI ampla. Por isso chamei a todos de amadores. 
PS8 – Revelado o voto da relatora e convencidos de que o plenário, talvez por unanimidade, ratificará sua decisão, se renderam aos fatos. E pela primeira vez agiram acertadamente. 
PS9 – Decidiram não recorrer, já estão escolhendo os nomes. E tentam imediatamente organizar a CPI que investigará os escândalos do trem e do metrô de São Paulo. Estão no poder estadual desde 1995. 
PS10 – Não vão fazer outra para investigar Eduardo Campos porque consideraram muito corretamente, que três CPIs não podem funcionar ao mesmo tempo. Tentará atingi-lo através da CPI dos trens e metrô. 
PS11 – Para a CPI da Petrobras, estão aprofundando a investigação sobre os nomes. Querem duas coisas. Que tenham espírito “guerreiro e de combate”, e estejam “acima e além” de qualquer acusação ou suspeita. 
PS12 – Apenas dois itens. Mas não é exigir muito do PT?

Da Tribuna da Imprensa On Line de 28-4-14.

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