A COPA É DE TODOS OS POVOS?

01:55 
DANIEL MAZOLA -
Ontem, no 5º Ato de 2014, São Paulo e Rio de Janeiro se juntaram para dizer que, se não tiver saúde e dignidade, não vai ter Copa. Muitos cansaram de ouvir conservadores do Brasil e do Mundo dizer através de seus Governos e aparatos midiáticos que a “Copa é de todos os povos”.
Mas, que povos são estes? Será que falam de “povos” ricos. Pois os povos de fato, os menos favorecidos são removidos de suas casas, são atingidos, têm suas Constituições rasgadas e são proibidos de se manifestar. 
O Ato do Rio de Janeiro juntou-se aos ex-moradores da ocupação Telerj, acampados em frente à prefeitura na Cidade Nova. O que mais se ouvia, “Não Vai ter Copa!”. Houve solidariedade à resistência contra a brutal e desumana expulsão de milhares de famílias ocorrida no último dia 11 de abril. 
A truculência continua sem limites em São Paulo, já no Rio foram vistos grandes contingentes da Guarda Municipal covardemente reprimindo e impedindo as pessoas de acamparem e se manifestarem em frente à prefeitura!
Pressão política e policial 
Por volta das 18h no Rio, começou a ganhar força o boato de que o choque faria, às 20h, uma ação violenta para desocupar totalmente a área nas imediações da prefeitura. Com medo, muitas famílias deixaram o local. Às 19h11, 500 agentes da Guarda Municipal estavam em frente à Prefeitura, obrigando cerca de 250 pessoas a se deslocar para o prédio ao lado, onde funciona uma agência do Banco do Brasil.
Carros do batalhão de choque passaram a tarde fazendo rondas no local, ajudando a criar um clima de apreensão entre os manifestantes. A ocupação, que começou sexta-feira após desocupação violenta da Favela da Telerj, ganhou força ontem com o retorno de centenas de sem-teto que descobriram que não era concreta a proposta de cadastramento por parte da Prefeitura. O objetivo é pressionar a prefeitura até haver uma proposta real de moradia. 
A Avenida Presidente Vargas foi fechada novamente (ocorreram outras pequenas interrupções durante todo o dia) às 20h10, pelos sem-teto e por manifestantes do Ato contra a Copa do Mundo. Ao chegarem ao “Ocupa Telerj” os manifestantes aplaudiram e cantaram "Queremos casa", "Uh Telerj" e "Se tiver remoção, vai ter rebelião". 
Os participantes do Ocupa Telerj aderiram em peso ao Ato. 20h57 estavam todos em frente ao prédio da Prefeitura. Com a chegada da manifestação, a Polícia Militar e a Guarda Municipal formaram um grande cerco com cerca de 100 homens. Muitas revistas aconteceram nesse momento.
Com todas as dificuldades e pressões, o “Ocupa Telerj” segue no local. 
Sopão solidário 
Já era quarta-feira (16), 1h30 da manhã quando um grupo de militantes esteve presente na ocupação. Levaram três panelões de sopão para quem está resistindo se alimentar e ter forças para encarar mais um dia de luta. O sopão foi um sucesso, fruto da solidariedade e da ação coletiva. 
Peço para quem puder se organizar, mobilize suas redes de contatos e repita esse tipo de ação. Temos informes de que outros sopões continuarão sendo organizados, caso a ocupação persista. LEVEM ALIMENTOS, ROUPAS, ÁGUA, COLCHÕES, enfim, todo tipo de apoio material, jurídico e político a essas famílias. 
Anti-Copa reuniu milhares em SP 
Na capital paulista, manifestantes foram chutadas por soldados do Batalhão de Choque da PM (foto abaixo). Uma adolescente grávida de 16 anos desmaiou em frente ao metro Butantã, teve sua entrada impedida pelos policiais, que também negaram socorro no momento do ocorrido até a levarem detida e inconsciente, sem acesso por amigos e familiares.
A  advogada Tabatha Alves, que prestava assistência as dezenas de manifestantes detidos, foi chamada de ‘vadia’ por um soldado não identificado atrás da linha de isolamento. Um grupo (isolado) não identificado destruiu uma agência bancária durante o trajeto.
O Ato, pacífico, saiu da Avenida Paulista e reuniu cerca de 2000 pessoas reivindicando melhores políticas públicas para a Saúde brasileira. Por volta das 18h50, algumas pessoas mais revoltadas com os rumos do País, incendiaram uma bandeira do Brasil. As 19h30 os manifestantes fecharam uma das pistas da Avenida Paulista.
Segundo relatos, em reunião durante a concentração, um membro do grupo "black bloc" disse para os companheiros não começarem qualquer tipo de confronto. E foi o que ocorreu ontem, os mascarados estiveram nos dois últimos Atos anti-Copa, que terminaram de forma pacífica.
Segundo a PM-SP, cerca de 1.000 homens da corporação acompanharam o protesto. Antes do início da passeata, os manifestantes fizeram faixas no vão livre do Masp. Além de mensagens contra a Copa, as faixas também traziam mensagens contra a precariedade na saúde. 
Legado da Copa 
Seja na África do Sul, no Qatar, ou no Brasil, os governos que corroboram com a FIFA mancham o futebol de sangue. Os governos não dizem, mas os lucros da Copa são das empreiteiras, dos patrocinadores, dos magnatas, dos cartolas e barões da mídia. Infelizmente, até agora o grande ganho que o país recebe são dividas exorbitantes, mortes abundantes, tribunais de exceção e mais exclusão.
Somente nessa Copa serão removidas mais de 200 mil pessoas. Cidades e moradores de rua passam por uma política higienista, tudo seguindo os ditames e ordens do CAPITAL. Para gringo ver, ricos usufruírem, fotografarem e consumirem. Enquanto os corruptos e inescrupulosos fantoches da FIFA não se preocupam por mais uma morte nos estádios, “faz parte da festa”, só pensam e se preocupam com obras em aeroportos e outros megaemprendimentos que os favoreçam.
Certamente será um fiasco a participação do Brasil nos Jogos Olímpicos de 2016, pelo simples fato, que o governo não aprendeu ou ignora. Um esporte não é feito apenas de estádios, é feito de cidadãos que praticam esportes, é feito de saúde, de alimentação adequada, de educação e principalmente de cidadania.
Após uma terça feira bastante movimentada, (não apenas em Brasília com o importantíssimo depoimento de Dona Graça Foster) em solidariedade aos removidos da Favela da Telerj, já existem atos marcados para o dia 25 de abril. São Paulo e Rio de Janeiro se juntaram para dizer que o descaso com as demandas sociais, a falta de políticas públicas e as remoções não ficarão em vão. 
MARAVILHOSA PRA QUEM? 
O estudante da Universidade Federal Rural do RJ, João Paulo Pereira, membro do conselho de Juventude, fez um relato emocionante a respeito da realidade dos sem teto, fiz questão de reproduzir aqui:
“Tirei parte do meu dia para ir com uma amiga à ocupação feita pelos agora moradores em situação de rua que tentaram ocupar, estabelecendo sub-moradias (barracos), no prédio abandonado que está sob responsabilidade da Oi-Telerj (a empresa não é dona do prédio, nem do terreno*), no Engenho Novo, para conversar com as pessoas e distribuir jujuba pras crianças. 
Passada a distribuição dos doces, comecei a pedir que eles me contassem das suas origens, da onde vieram e suas histórias. A maioria dos ocupantes disseram ser cariocas ou moradores de municípios vizinhos, que vieram de outras comunidades por não suportarem pagar os aluguéis das casas que moravam ou por terem sido removidas pela prefeitura e, de muitas histórias semelhantes, mas não menos cruéis, estava a história do seu João.
João Batista Rosa, 47, é atualmente morador de rua e vendedor ambulante, mas nem sempre foi assim. Seu João era morador do Morro do Livramento, onde residia com sua esposa (que, agora, mora com parentes), antes de ter sua casa demolida pela Prefeitura do Rio, SEM QUALQUER NECESSIDADE. A Prefeitura do Rio, através da Secretaria Municipal de (des)Habitação e da Subsecretaria de Reassentamento e Ações Emergenciais, fez um acordo com o seu João, antes de demolir a casa dele, aonde ele teria o direito de receber um apartamento de número 103, em um conjunto de apartamentos que foi construído em Cosmos, no subúrbio da cidade. 
Ser removido forçadamente de onde se mora já é ruim, mas ficar sem onde se morar ainda é pior. Seu João, meses depois do acordo e na eminência de ter sua casa, ainda no Morro do Livramento demolida, foi pedir explicações no prédio da Prefeitura. Ao questionar sobre seu apartamento, disseram pra ele que seu novo lar já estava sendo ocupado por outra família e não havia cadastro dele em nenhum programa habitacional da prefeitura. Ele, já desesperado, não aceitava sair da sede da Prefeitura sem ter seu prometido apartamento e, com isso, como tudo na cidade é feito da forma mais eficiente possível, foi retirado do prédio por guardas municipais. Sem casa, sem família e sem dinheiro. 
Seu João está morando na rua há 8 meses e ninguém punirá o Eduardo Paes, nem nenhum de seus subordinados por isso”.

(*) Com informações do Coletivo Rio Na Rua e Mídia Ninja.

Da Tribuna da Imprensa On Line de 16-4-14.

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