O CICLO MORTAL DA DROGA


Posted: 05 Jan 2014 06:59 PM PST

Opinião – O POVO – 04/01/2014

Antonio Mourão Cavalcante (*)


A morte por causa das drogas tem se intensificado. O motivo direto não é o uso ou abuso das drogas, o efeito maléfico sobre os órgãos. Não. A causa é reenviada ao tráfico. Seja a luta por espaço. O domínio do bairro, das bocas, da clientela. Seja a ameaça e eliminação dos supostos usuários devedores. O cliente começa a dívida, essa vai se avolumando ao ponto de receber ameaça de morte. E, mais algum tempo, a eliminação se concretiza.
Está lá mais um corpo estendido no chão. Para prazer dos programas de TV ao vivo e dos membros do Ronda do Quarteirão que chegarão para isolar o “presunto”. O jovem – sim, sempre jovem! – será levado por um rabecão, e, depois, a família pega o defunto e providencia o enterro.
Para a família será uma espécie de alívio mitigado. Ele(a) vinha dando muito trabalho. Fazia algum tempo que sua vida era só a droga. Deixou a escola. Não frequentava mais. Foi tirando os objetos de casa e vendendo. Até o botijão de gás. Tudo. Até no alheio ele foi mexendo. Se envolvendo com “gente ruim” e esta aí o final.
Deus o levou, graças a Deus!
Haja Deus para tanta ignomínia.
Para a comunidade fica o registro: não é bom fazer dívida com “esse povo”. Quem deve, eles vêm e executam. Sem piedade. Sem remorso. Fica mais que um registro. Eles impõem a lição. A regra. A lei.
A sociedade observa tudo isso com total indiferença. Aos que morrem. Aos que matam. Parece ser notícia de um planeta distante. O aparelho público de segurança e a Justiça mostram-se distantes, impotentes. Não sabem ou não querem fazer nada. Frase lapidar: “Eles que se matem”.
Proponho, como humilde cidadão, que o Estado acolha esses jovens ameaçados em um estabelecimento protegido. Nesse local, além de seguro, fortemente protegidos, iniciariam um tratamento formal, com técnicos especializados. E uma reinserção socioprofissional. Por medida de segurança, por exemplo, seria preservado o anonimato.
De forma concreta estaríamos, igualmente, dizendo aos traficantes que o cidadão não pode ser eliminado por decisão deles. Haveria uma postura de questionamento a esse tal poder de vida e de morte deles, junto às comunidades, antes ameaçadas.
Esse ciclo mortal precisa ser quebrado. Cabe ao governante ter essa vontade e determinação.


(*) Médico e Antropólogo. Professor Universitário. Reside em Fortaleza, CE.

Do Blog do Mourão de 05-01-14.

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