UMAS E OUTRAS DO HELIO FERNANDES

Quem dará sustentabilidade a Campos? Dona Marina não quer falar ou ouvir falar em vice. Aécio Neves perguntou para a irmã, que o lidera: ‘Eleição presidencial tem terceiro turno?’ Lula, o sujeito oculto por elipse.

Helio Fernandes
Acabou tudo num suspense surpreendente, sem conclusão ou solução. Marina e Eduardo Campos falaram muito em interesse nacional, futuro do Brasil, renovação da velha política. E sem procuração de ninguém, decretaram: “O povo não suporta mais essa política que despreza os interesses populares”. E seguiram por aí, um protegendo o outro, na certeza desabalada de que não estavam convencendo ou conquistando ninguém.
Os jornalões e os comentaristas da televisão fizeram praticamente a mesma análise, com as mesmas palavras ou pelo menos parecidas: “Mudou todo o cenário político nacional”. Não mudou nada, são apressados, deturpam os fatos, da mesma forma como fizeram há dois meses: “Acabou o voto secreto”.
FILIAÇÃO? FUSÃO?
DEFINIÇÃO? DESTINAÇÃO?

Essas eram as palavras-chave para o destino de Dona Marina e a mudança verdadeira do “cenário” político do país. Não custa lembrar que, assim que o TSE cumpriu o roteiro traçado e premeditado, fui duro e realista na crítica ao TSE e aos seis ministros, mas também fui claro e incisivo: “Dona Marina não pode abandonar a luta”. A resistência e a desistência são palavras parecidas, mas completamente diferentes. É preciso continuar.
Dona Marina só cuidou do pessoal (dela mesma) e reforçou o pessoal (do ainda governador Eduardo Campos). Das quatro palavras que citei no título destas notas, só uma se cumpriu e é irrevogável: FILIAÇÃO. Dona Marina, podendo entrar em qualquer partido, preferiu exatamente aquele que tem dono e senhor, um presidenciável candidatíssimo, que é o PSB do governador de Pernambuco.
Ela passou quase três dias “amarrada” à suposição da coerência. Tinha medo de ser condenada se fosse filiada a um dos sete partidos que lhe ofereceram a legenda. E escolheu uma legenda que nem esperava recebê-la. E seu único dirigente, assombrado, assistiu Dona Marina assinar a ficha, sem qualquer exigência.
E A DESTINAÇÃO, FUSÃO,
DEFINIÇÃO?

“O interesse nacional não permite nenhuma colocação que pareça pessoal”. Era um terço da definição, mas por que entregar tudo isso a um governador praticamente desconhecido, que não tem o que exibir como realização nacional ou fundamental para o futuro do país?
E que também não tem o referendo do povo, do ponto de vista político, eleitoral. Nacional. Há meses Eduardo Campos aparece em todas as pesquisas com quatro ou cinco por cento dos votos, não sai desse patamar, o que corresponde perfeitamente ao seu capital nacional.
DEIXANDO DE SER CANDIDATA, MARINA
EXIBIU INCOMPETÊNCIA E NÃO DESAMBIÇÃO

Os que seguiam Dona Marina (quando apoiei sua luta pela formação da Rede, deixei bem claro que não votaria nela, portanto estou mostrando apenas desapontamento e não descontentamento ou ressentimento) estão frustrados e decepcionados com sua atuação e decisão, na última hora do prazo.
Em todas as pesquisas em que Campos surge com cinco por cento das intenções, Dona Marina está sempre com mais de 20, pertíssimo de Dona Dilma. Abandonando essa avalanche, jogando tudo o que conquistou no colo de quem não tem nada para exibir, Dona Marina iludiu os que demonstravam admiração, respeito e esperança na sua candidatura.
O POVO NÃO QUER
APENAS UM VICE

Quando acabou a eleição de 2010, e quase no final Dona Marina foi crescendo eleitoralmente até chegar quase a 20 milhões de votos, podem procurar aqui mesmo no Blog o que escrevi: “Esses quase 20 milhões não são dela e sim do VOTO OBRIGATÓRIO”.
Os que precisavam votar, não queriam Dilma ou Serra, descarregaram nela. Depois, ela silenciava, eu insistia: “Esses 20 milhões não pertencem a ninguém”. Mas como ninguém protestava nem podia reivindicar esses votos, passaram à “propriedade” dela.
FALANDO DE IMPROVISO,
MARINA NEGA O PRESUMIDO

Os que consideram que está tudo resolvido, precisam ler novamente as frases-definições de Dona Marina, na adesão a Eduardo Campos e depois, na entrevista coletiva. Disse tudo exatamente ao contrário do que especulavam e já alimentavam o tom triunfalista de Eduardo Campos.
Quem entrou no PSB propriedade do governador foi a Marina receosa da reação e do inconformismo dos que podiam criticá-la por pregar renovação nacional, o fim da “velha política” e a implantação de uma “política de renovação”.
Mas quem discursou foi a “Marina vinte milhões de votos”. Que recusou utilizar todas as palavras que pudessem comprometê-la com o fato consumado. Negou todas e não deixou dúvidas a respeito dessa negativa.
CAMPOS DELIRANTE,
MARINA RETICENTE

Foi taxativa: “Continuo pertencendo à comunidade da Rede, não pertenço á comunidade do Partido Socialista”. Incomodada e até irritada com as perguntas, foi insistindo: “Não se fala em vice, temos uma trajetória a cumprir”.
Em matéria de reticência e de continuação da mobilização presidencial, nenhuma dúvida. Até pode ser vice, mas para isso Campos precisa ser personagem de uma reviravolta.
MARINA VAI CONTINUA FREQUENTANDO
AS PESQUISAS. NA FRENTE DE CAMPOS?

Se as intenções se mantiverem, Campos com cinco, Marina com vinte, como formar uma chapa com ele na cabeça? E por que o governador começaria a acumular votos, coisa que não fez até agora? Dona Marina se filiou, não se atrelou, ela mesma deixou isso bem claro. E ainda falou, “mantenho a ideia de que posso chegar a presidente”. Não estava se referindo a 2018, muito longe, e sim a 2014. O tempo (e o vento), título de romance do grande Erico Veríssimo, nada com a realidade.
Marina conseguiu o que pretendia: um partido. Agora, só ficará fora do jogo se quiser. Mas precisa compreender, lembrar ou se convencer: vice é coadjuvante, não o personagem principal.
E enquanto não for ultrapassada eleitoralmente por Campos, quem tem 20 por cento dos votos, domina mais as preferências do que quem tem apenas 5 por cento. Mesmo que isso apareça em pesquisas sem muita credibilidade.
CAMPOS NÃO DEVIA ESTAR
TÃO DELIRANTE

Nenhuma dúvida: está na mídia de uma forma como jamais esteve. Graças a Dona Marina e não a ele ou ao PSB. Mas pode cair ou recair para o segundo plano, também por ação de Dona Marina.
Não sei se o governador já ouviu falar de João Cabral de Mello Neto e sua literatura poética e heróica. E da frase-síntese-determinação: “Esta é a parte que nos cabe nesse latifúndio”. Ele é pernambucano, governador.
POR ENQUANTO, SUPOSIÇÕES, 
MAS QUE MERECEM ANÁLISES

Aécio Neves – O mais atingido de todos. O PSDB volta a falar em prévias, palavra que detesta. Estava em Nova Iorque numa conferência, passou a noite em conferência de votos. Telefonou para a irmã, que o lidera, lamentou: “Pelos meus cálculos não estou nem no terceiro turno”.
Dona Dilma – Perdeu votos, externamente, a recuperação de seis pontos era pura ficção. Mas sua fragilidade sempre foi interna, ninguém duvida. A aliança Marina-Campos, que pretendia garantir o segundo turno, só fez abalá-lo.
Campos-Marina – Com essa forma, ele na frente dela, corre risco de se confirmar e se estabilizar internamente. Quem, mesmo no PSB de propriedade de Campos, vai queimar bandeiras para ele? Altamente e eleitoralmente minoritário para que seja indicado contra a parceira majoritária.
Lula – Ele é o sujeito, “oculto por elipse”
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PS – Serão nove meses, até 5 de abril. O que não faltará é assunto. Assistiremos todos a batalha da renovação, utilizando, o mais profundamente possível, os métodos da República Velha.
PS2 – Que morreu em 1930, mas deixou muitos herdeiros. Solidários, solitários, mas muito poucos adeptos da sustentabilidade.

Da Tribuna da Internet de 07-10-2013.

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