UMAS E OUTRAS DO HELIO FERNANDES
Helio Fernandes
Só assim? Se um aluno curioso perguntar “quem foi essa mulher que deu nome à escola”, certamente a professora também não saberá responder. Se fosse Olga Benario Prestes, talvez lembrasse. Mas seria mistificação, ela jamais foi Prestes.
Em 1933, há exatos 80 anos, audaciosa, sem limite para as bravatas, invadiu na Alemanha uma prisão de segurança máxima, para soltar o marido. Conseguiu, e fugiram para a União Soviética. (Hitler estava chegando timidamente ao Poder, mas havia ainda o presidente, marechal Hindemburg, que morreria em 1936. Aí, sim, Hitler assumiria o Poder).
HEROÍNA
COMUNISTA
Olga voltou para a União Soviética glorificada, recebida com honras até no Kremlin. Em meados de 1935, Prestes, que morava lá desde 1932, recebeu aval para vir fazer a Revolução Comunista no Brasil. Baixinho, sem experiência de guerra ou de guerrilha, não confiavam muito. E colocaram a conspiradora como segurança do lendário (no Brasil) capitão.
A REVOLUÇÃO
COMUNISTA DE 35
Embarcaram logo, fizeram a Revolução verdadeira, mas desorganizada, sem recursos, só existiu mesmo no interior de Pernambuco e do Rio Grande do Norte. (Esse estado teve um prefeito comunista, por pouco tempo, mas o único da América Latina, antes de Fidel Castro invadir Cuba em 1959).
COMBATE SÓ NA
PRAIA VERMELHA
No 3º RI (Terceiro Regimento de Infantaria), na Praia Vermelha, houve combate de verdade, durante vários dias. O Regimento ficou inteiramente destruído, no lugar levantaram um monumento, que existe até hoje. Em 27 de novembro de 1935 começou a Revolução, que os jornalões da época chamaram de INTENTONA comunista. E até hoje, quando lembram, continuam usando a palavra INTENTONA.
AS COMEMORAÇÕES
ANTICOMUNISTAS
Durante muito tempo, esse 27 de novembro era festejado, uma data que os reacionários golpistas ambiciosos do Poder receberam de presente para festejar.
Em 1983 e 1984, Brizola governador teve que comparecer, era obrigatório. E ficou naturalmente desconfortável. “Se queixou com um amigo: “Nem me apertaram a mão”. O amigo, conhecedor do protocolo, explicou: “Militar fardado não aperta a mão de ninguém, seu cumprimento é a continência”.
POR QUE SÓ
OLGA BENÁRIO?
Na União Soviética, ela e Prestes tiveram pouco tempo para se conhecerem. Além do mais, frequentavam círculos diferentes. Estabeleceram raros contatos, já no Brasil, um deles positivo. Mas mesmo aqui, passaram pouco tempo não só juntos, mas até perto um do outro.
EM FEVEREIRO DE 1936,
PRESTES E OLGA JÁ PRESOS
Olga Benario, que nunca foi Prestes, não participou da “Intentona” de 1935. E logo no início de 1936, estavam presos, distantes, sem se falarem há meses. (E depois nunca mais se viram ou se falaram). Prestes foi preso no Meyer (onde nasci) e Olga Benario junto com Harry Berger. Este foi o homem mais torturado do Brasil. Enlouqueceu, ninguém pode resistir ao que ele passou. (Já fiz referência aos homens mais torturados, não citei Berger, porque só estava lembrando de brasileiros).
OLGA GRÁVIDA,
NA PRISÃO
Quando foi presa, Olga já estava grávida. Foi levada então para uma congregação mariana, recebendo todos os cuidados imprescindíveis para a mulher que está esperando um filho. Mas as coisas se espalham, tudo se sabe, o vazamento de fatos é a coisa mais natural. A humanidade, mesmo sem saber, tem vocação de jornalista, gosta de divulgar fatos.
O DESTINO DE OLGA
CHEGA A HITLER
O carrasco da Alemanha e do mundo não precisava mandar assassinar Olga Benario. Quando ela invadiu a prisão de segurança máxima, a Alemanha não era nazista, hitlerista e muito menos Nacional Socialista. Por que então pedir a Vargas para entregá-la? Ela era alemã, mas não havia nenhum Tratado de Extradição entre os dois países.
E VARGAS, POR
QUE ENTREGÁ-LA?
Sem qualquer explicação, apesar dos insistentes apelos da Igreja, Olga Benario foi entregue aos representantes de Hitler, não passou nem pela embaixada. Sabiam o que ia acontecer com ela, aconteceu mesmo. Era uma concessão de “governo para governo, de ditadura para ditadura”.
Na época, existia uma palavra muito usada, “germanófilo”. Vargas era tido e havido como “germanófilo”, custou a declarar guerra à Alemanha. E se não fosse Osvaldo Aranha, teria demorado mais ainda.
PRESTES NÃO SOUBE
O DESTINO DE OLGA
Torturadíssimo, levando até mesmo ensanguentado, só saia para ser levado ao Tribunal de Segurança Nacional. Não sabia de nada. A OAB da época, presidida por Magarino Torres (depois magistrado, excelente figura) designou o jovem Sobral Pinto para defender Prestes. Este não aceitou.
A MÃE DE EDUARDO GOMES PEDIU
A PRESTES PARA ACEITAR SOBRAL
Dona Geny Gomes conversou com Prestes no Tribunal, convenceu-o de que Sobral não era comunista, muito pelo contrário, mas excelente advogado. E Sobral foi o único advogado que defendeu presos políticos em duas ditaduras. Desde 1936 e a partir de 1965. Por contestar a ditadura em pleno tribunal, foi preso três vezes, no Tribunal Militar.
PRESTES SÓ SOUBE
DE OLGA EM 1940
Perseguido pela ditadura varguista, e encurralado pelo chefe de Polícia Felinto Muller (ex-tenente), Prestes não tinha contato com o mundo. Em 1940, transferido para a Penitenciária Frei Caneca, sua vida mudou completamente.
Passou a receber, correspondência, só não saía, era o de menos, comparado com os anos anteriores. Foi solto em 1945, se lançou logo em frenética e fervorosa campanha, intitulada “Constituinte com Vargas”. Nem os comunistas entenderam “esse Prestes”.
NADA MUDOU
EM PRESTES
Mas esse “era o Prestes de sempre”. O mesmo que em 1930, convidado por Siqueira Campos e João Alberto (em Montevideu, onde estava asilado) para chefiar a Revolução (?) de 30, perguntou: “Essa revolução é comunista?”. E não aceitou.
De qualquer maneira, a ditadura foi derrubada, Vargas e Prestes se elegeram para o Senado e a Câmara.
AS “HONRARIAS”
INIMAGINÁVEIS
Não devia haver Escola Olga Benario. Mas por que fazer o povo transitar no país inteiro por enormes avenidas Vargas? E outras com o nome de Castelo Branco ou Costa e Silva? É um afago ou sedução para o futuro?
Da Tribuna da Imprensa de 26-10-2013.
Comentários
Postar um comentário