UMAS E OUTRAS DO HELIO FERNANDES


Helio Fernandes

Desde sexta-feira à tarde se trava nos bastidores do Supremo o destino e a decisão do julgamento do mensalão. De agora até quarta-feira, quando começar a sessão, mais bastidores, mas aí substituídos pelos fatos e o que for dito pelo último e único votante, Celso de Mello.
Antes, fatos e afirmações estranhos, colocados e numerados para que fiquem bem claros.
1 – Jornais e televisões considerados importantes dizem que o decano dará o “voto de MINERVA”. Quanta tolice. Celso de Mello é o 11º a votar, o resultado chega até ele em 5 a 5. Seu voto terá que ser obrigatoriamente de desempate normal, sem outra característica.
2 – Por hipótese, admitamos que o julgamento estivesse em 6 a 4. Então Celso de Mello não teria a menor importância, poderia “fazer” 7 a 4 ou 6 a 5. Assim, Celso de Mello votaria e iria para casa, sem manchetes e sem influência em coisa alguma.
3 – Na quinta-feira, às 6h20 da tarde, acabou de votar o ministro Marco Aurélio. Ansiosos, esperavam a palavra do decano. Mas sem sequer olhar para o lado, Joaquim Barbosa explicou: “Pelo adiantado da hora, Celso de Mello, que está com o voto pronto, votará depois. Está encerrada a sessão”.
4 – Já haviam votado os “novatos” (royalties para Marco Aurélio e Romário), todos de forma lamentável, medíocre e horrorosa (palavras minhas na própria quarta-feira). Começou então o show de lembranças de Celso de Mello. Sem ninguém perguntar, disse diante dos holofotes: “Já votei duas vezes a favor da validade desses infringentes”.
5 – Surpresa geral. Estaria revelando ou antecipando o voto? Mas antes dos repórteres e até comentaristas poderem recorrer a arquivos, o próprio decano foi esclarecendo (?). Continuou: “Mas não preciso ficar preso” (que palavra, num julgamento em que o se pretende ou se quer evitar é precisamente a prisão), “posso mudar”.
6 – E aí o decano levanta uma questão que ninguém levantaria, tão propriedade dele como o 11º voto que pronunciará na quarta-feira: “Evoluí ou involuí?”. Só ele poderá dar a resposta com o voto, já que a interpretação do que é EVOLUIR ou INVOLUIR não está em nenhum dicionário, Google, Wikipédia ou outros instrumentos de “cultura” provisória e manuseável de hoje. Então sairá da mente do decano.
AGORA, O FUNDAMENTAL:
PRORROGAÇÃO E NÃO INFRINGENTES
Agora, cuidemos apenas do voto decisivo, talvez definitivo, palavras que venho usando e repetindo. Mais de um ano escrevendo sobre o assunto, eu e centenas de profissionais e não profissionais, chega. Trataremos apenas do voto número 11. Terá que ficar 6 a 5 contra ou a favor, sem qualquer outro artifício.
Apesar de haver um único votante, supostamente o último, será tumultuado, aparteado de todos os modos, na medida em que a “tendência” do decano for aparecendo. Disse tendência, poderia dizer suspense, todos fazem isso.
6 a 5 contra os infringentes, não haverá mais nada. Embora na trajetória dos ministros existam sinais para serem “avançados”, velocidade acima da média, contramão jurídica ou não tanto, à disposição de tão nobres e ínclitos personagens.
Se nada disso acontecer, a Procuradora-Geral interina poderá pedir a prisão imediatamente, não tem que esperar o acórdão. Mas o plenário terá que aprovar.
A PRORROGAÇÃO, INCÊNDIO
DA OPINIÃO PÚBLICA
Se o decano decidir a favor dos infringentes, não há dúvida, começará um novo julgamento, chamado de paralelo ou como prefiram. Então, terão que sortear um novo RELATOR e um novo REVISOR. Escolhido esse relator por sorteio, será uma verdadeira roleta-russa, não com uma, mas com cinco balas “picotadas” e “inutilizadas”. E se esse relator for Dias Toffoli, o Supremo aceitará? Deviam ter levantado a suspeição dele antes, pela ligação com os réus. Agora, pelas acusações diárias de irregularidades. E não apenas Toffoli, as outras balas “picotadas” são Rosa, Barroso, Teori, Lewandowski.
Se houver prorrogação, o julgamento não tem prazo para terminar, a paciência da população-comunidade sem limite para suportar. Aí, podemos voltar a 6 de junho, com a voz legítima das rua se manifestando com alta popularidade. Sem ser maculada, maquiavelizada, não contaminada pela ânsia da destruição. É válida a aura da construção, das ruas para os centros que se julgavam ou se julgam muito poderosos.
A SOLUÇÃO TEATRAL (MAS
LEGÍTIMA) DE JOAQUIM
Pode acontecer. O ministro Adauto Cardoso já fez isso. Revoltado, jogou a toga no chão, exclamou: “Este Supremo não é mais o meu”.
Joaquim Barbosa poderá se transformar em ídolo nacional, jogar a toga bem do alto de sua cadeira, repetindo, “este Supremo traiu e enganou a comunidade’.
Se fizer isso, nem todas as corporações dos bombeiros do Brasil inteiro serão capazes de apagar o incêndio. E reflitam, constatem: não sou admirador de Joaquim Barbosa. Mas seria “a sua vez na História”.
O ARTIGO DE PUTIN
RESPONDENDO A OBAMA
O presidente (ou primeiro-ministro? Ele muda tanto para não deixar o Poder) da Rússia merece o respeito e a consideração de poucos, mesmo “em casa”. Idem, idem, para Obama depois da reeleição. Mudou muito o presidente dos EUA, mas não por ambição, a partir de 2016 não pode ser mais nada.
No momento, os dois são igualmente reprovados e desconsiderados pelo mundo, incomparáveis, a palavra usada no sentido negativo, atingindo-os igualmente. E agora na verdade quero apenas manifestar minha admiração pelo artigo, carta-aberta ou seja o que for, publicado pelo New York Times.
Não citei Putin, porque é evidente, o presidente não pode escrever um por cento do que está ali. Mas tem um extraordinário ghost-writer, talvez formado em Harvard ou Princeton. Espetacular do princípio ao fim, impenetrável de ponta a ponta, como deve e tem que ser a comunicação entre dois chefes de Estado poderosos e influentes. Sem que isso possa ser considerado elogio em russo ou inglês.
O trecho da carta que Obama não deve ter entendido até agora: “Minhas relações de trabalho e pessoais com o presidente Obama são marcadas pela confiança crescente. Gosto disso”.
Como disse Bernard Shaw, ao visitar a Estátua da Liberdade: “Meu gosto pela ironia não vai tão longe”. Ponto para Putin, se dirigindo a um adversário e lembrando um inimigo.
O MINISTRO DO TRABALHO NÃO
SABE DE NADA. E DONA DILMA?
Os diretores executivos do Ministério do PDT, perdão, do Trabalho, vão sendo derrubados por corrupção. Suposta ou admitida, já que em vez de serem demitidos, pedem demissão. E o ministro, que dizia ignorar tudo, agora se apresenta como ignorante dos fatos, dos fatos.
E Dona Dilma, que dizem no Planalto, “tem superstição pelo número 39” (atenção, Schossland, você que é invencível e indiscutível no assunto), não quer nem pretende alterar a numeração dos membros do Ministério.
Quanto ao ministro, pode ficar tranquilo. Pela superstição e a realidade: como não existe mais nenhum executivo para demitir, ele está seguro, mesmo num ambiente inseguro.
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PS – Na madrugada de ontem, domingo, para hoje, segunda-feira, se realizou uma luta de boxe em Las Vegas, entre os invictos Maeweather Jr. e Saul Alvarez. O primeiro, americano, e o segundo, mexicano. Não interessa quem ganhou, o importante é o que estão espalhando jornais e televisões dos EUA.
PS2 – A Forbes diz que o americano é o mais bem pago esportista do momento. Deve ser mesmo, só pela venda de pay-perview, ele receberá 60 milhões de dólares, quase 140 milhões de reais, fora a bolsa.
PS3 – Televisões e jornalões dos EUA garantem, e é isso que me interessa e quero contestar: “Será a luta mais importante da história universal do boxe”. Podem “promover” à vontade, mas não podem mistificar.
PS4 – Sempre me revolto contra essa afirmação, em qualquer esporte, de que “fulano foi o melhor de todos os tempos”. No boxe para valer, não podem esquecer os seguintes, que vou relacionar, no tempo e não na categoria.
PS5 – Gene Tuney foi invencível em sua época. Aristocrata, teve um filho senador, na adolescência foi muito amigo da então fotógrafa Jacqueline, depois Kennedy, primeira-dama dos EUA.
PS6 – Jack Dempsey, fizeram duas lutas realmente históricas, só que há mais ou menos 90 anos. Joe Louis, extraordinário, ficou 5 anos sem lutar por causa de Segunda Guerra, voltou e garantiu o título. Aos 36 anos, em 1951, fez a última luta e perdeu para o jovem Rocky Marciano, o único a ser campeão mundial e jamais ser derrotado. Lutou 49 vezes, e ganhou 43 por nocaute.
PS7 – Max Schmeling, alemão dos tempos de Hitler, ganhou de Joe Louis, exaltado pelo Fuerer, massacrado na revanche, preso e expulso por Hitler. Não chegou a campeão do mundo, esteve perto, mas veio o nazismo.
PS8 – A lenda do boxe, o cidadão histórico, épico e cívico, campeão e ídolo, se recusou a lutar no Vietnã, explicou: “Não tenho nada contra os cidadãos desse país, porque iria lá para matá-los?”.
PS9 – Lógico, falo do campeão mundial Cassius Clay, que perdeu o título para ele mesmo, roubaram sua glória, sua capacidade, mas não conseguiram imobilizá-lo, nem mesmo fora do ringue. Ficou cinco anos sem lutar, voltou e conseguiu o que nenhum governo militarista, excêntrico, extravagante conseguiu: tirar dele a dignidade e a permanência na História.
PS10 – Passou a se chamar Muhammad Ali depois da conversão ao islamismo. Hoje, lamentavelmente muito doente, mas inesquecível.
PS11 – E finalizando a série, depois dele, Mike Tyson, campeão mundial quando completava 20 anos, invicto e invencível. Infelizmente sua formação foi extremamente deficiente. Passou quase outros 20 anos sendo notícia negativa. Poderia citar mais nomes, com história de vitória, mas sem pertencer a eternidade do boxe.

Da Tribuna da Imprensa de 16-9-2013.

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