UMAS E OUTRAS DO HELIO FERNANDES

O caso Siemens (metrô, trens e outras licitações e concorrências) deram bilhões e bilhões de prejuízo ao cidadão. Não acontecerá nada? A surpreendente venda do Washington Post. Pablo Capilé massacrou a todos no ‘Roda Viva’. Nunca assisti improvisação verbal como essa.

Helio Fernandes
O programa da TV Cultura Roda Viva nunca entrou no meu roteiro ou na minha programação do fim de noite. Anteontem, quebrei essa rotina, queria conhecer os líderes do Mídia Ninja, Pedro Torturra e Pablo Capilé. Não sabia como eles eram, nem física nem mentalmente.
Nos primeiros 40 minutos, Pablo Capilé me assombrou. Falou sem parar por duas vezes. A primeira, 9 minutos, a segunda, outros 12. Massacrou a todos. Há muito tempo não via alguém pensar em tal PROFUNDIDADE e expor com tal VELOCIDADE.
Nos dois monólogos, sem hesitação, voz firme e segura, nenhuma parada sequer para respirar ou beber água. Os entrevistadores (?) desnorteados e desencontrados, acompanhavam a sua fala magistral, não tiravam os olhos dele. E quando parou, e cabia a eles perguntarem, desfilaram uma quantidade de tolices, bobagens, coisas sem importância. Nada que merecesse resposta.
Oitenta por cento dos participantes não sabiam o que perguntar, incluindo o dirigente do programa (já demitido), chato, monótono, cansativo, que tentava confundi-los. E quase todos procuravam engasgar os dirigentes do Mídia Ninja, com dois tipos de evolução. – 1 – Como vocês vivem, com que recursos? 2 – Qual a ideologia de vocês?
Para minha sorte de repórter, Capilé retomou a palavra, inundou a todos em casa e até no exterior. Nos 12 minutos da segunda fala, foi sendo acompanhado por “postagem” no twitter, facebook e outras formas de tecnologia.
Até do exterior vinham comunicações, como por exemplo Bernardo Mello Franco, correspondente da Folha na Inglaterra. De Nova York, muitas, o programa “bateu” audiência inédita.
Nessa segunda aparição, quebrando o silêncio generoso para não humilhar ninguém, Capilé exibiu um repertório de dados e informações, sufocando a bancada, fatos que não podiam ser assimilados ou respondidos.
Puxa, foi cerebralmente de uma ponta a outra do país, desfilando dados, números, como funciona o Mídia Ninja, e isso, segundo ele, com 10 anos de existência.
Lógico, não garanto que tudo era irrefutável, mas ninguém contestou uma linha. Se não era verdade, é impossível “inventar” daquela maneira e com a profusão de dados que desfilava.
Os que estavam na bancada, tentavam se defender usando 4 ou 5 minutos para não pensar nada e 1 minuto para “construir” a pergunta. Quem não sabe pensar não sabe redigir, seja de forma falada ou escrita.
A partir daí, o programa se arrastou, ganhava alguma vitalidade com Pedro Torturra, mas eles evitavam ocupar o mesmo espaço ou o mesmo tempo. No finalzinho, mais sabedoria da Pablo Capilé. Terminado o programa, os entrevistadores, estáticos, naufragaram em terra seca. E sabiam disso.
O Roda Viva, que pretendia destruir o Mídia Ninja, saiu da mesmice habitual, para consagrá-los. Acho que eles, como este repórter, não sabiam nada sobre o Ninja, que surpresa estonteante.
Tirando Capilé e Torturra, quem tirou nota 10 no programa foi Paulo Caruso. Desenhos maravilhosos. E que texto. “Gozava” todos os participantes, de forma irreverente, num traço magnífico. Mas com contexto admirável, crítico, elegante, sem exagero. Puxa, Paulo, que sucesso, o Millôr iria adorar.
A VENDA DO WASHINGTON POST
Por volta de 2008/2009, surgiram rumores da venda do jornal. Se diluíram rapidamente, ninguém falou mais no assunto. Agora, surpreendentemente, o jornal foi vendido em uma semana, sem que ninguém soubesse de coisa alguma. E outra surpresa: o comprador foi a Amazon, mas seu proprietário afirmou: “Comprei para mim e não para a Amazon”. Faz diferença?
De surpresa em surpresa, chegamos à última: o preço baixíssimo. 250 milhões de dólares por um dos jornais mais importantes e com mais história nos EUA? A explicação que não explica muito: “A família já não tinha ninguém interessado em fazer o jornal continuar a circular”. Pode ser.
UMA CAMPANHA SUJA EM SÃO PAULO
Conforme prometi ontem, vou contar a campanha suja de 1986 para governador de São Paulo e duas vagas de senador. A doença de Covas (inicialmente infarto) foi se agravando, permitindo que agora joguem a culpa do cartel da Siemens na conta dele, que não tem nada a ver.
Nesse 1986, apenas dois candidatos exclusivos a senador, Covas e FHC, e três a governador: Quércia, Maluf, Ermírio de Moraes. Covas e FHC fizeram acordo com Ermírio e Maluf, com o compromisso de apoiá-los (isso, apoiar os dois ao mesmo tempo) em troca deles não lançarem candidatos ao Senado.
Cumpriram o combinado, Covas e FHC ficaram sozinhos. Covas e FHC, mesmo que fossem corretíssimos e quisessem cumprir a palavra, não tinham como fazer, o candidato do partido deles, o PMDB, era Orestes Queria.
Vice do governador Franco Montoro, Quércia era candidato favoritíssimo e ganhou facilmente. Na campanha, Covas teve o primeiro problema de saúde, um infarto tremendo. Parou a campanha, ficou um tempão no hospital, saiu com o protesto dos médicos. Mas não dava para perder, eram só eles dois. A melhor prova: tanto Covas quanto FHC tiveram a mesma votação, quase 9 milhões de votos.
Tomaram posse em 1987, começaram a trabalhar para deixar o PMDB, fundaram o PSDB. Justificativa: “Não podemos conviver com Quércia, desonesto”. (FHC nem usou sinônimo ou eufemismo, chamou o governador de “ladrão).
1994: COVAS GOVERNADOR, FHC PRESIDENTE
Os médicos, amigos de Covas, fizeram apelos, “não se jogue numa nova campanha eleitoral”. Não adiantou, foi candidato e se elegeu (isso é importante), com Alckmin na vice, que repetiria em 1998.
FHC, certo de que não ganharia, conseguiu reduzir o mandato presidencial de 5 para 4 anos. Quem sabe que vai ganhar não reduz o mandato, mas ganhou. Covas teve agravamento da saúde, mas não na dimensão terrível que atingiria em 1999, e principalmente em 2000, quando não foi uma só vez ao Palácio Bandeirantes. Alckmin governou, não por delegação, e sim circunstância e emergência.
Foi exatamente nesse 2000 que houve a licitação para trem e metrô, com a Siemens coordenando e organizando o cartel. Agora, com a própria Siemens vindo a público denunciar tudo, a AUTORIZAÇÃO QUE RECEBEU DO GOVERNO, localizando os fatos em 2000, é impossível tirar Alckmin da jogada.
Alckmin, aí praticando desrespeito àConstituição, disputa a terceira eleição seguida, em 2002. Duas para vice e essa última para governador, tomou posse quase com a morte de Covas. (Só não entendo por que o filho e o neto de Covas não revelam os fatos. Sabem de tudo).
Serra também não tem nada com isso. No auge desses fatos, 2002, candidato a presidente. Derrotado, em 2004 se elegeu prefeito, em 2006, governador, tomando posse em 2007. Não sei por que afirmam, “Serra tem um ano de participação”.
PS – Aqui não há uma linha de OPINIÃO, é tudo INFORMAÇÃO. Que houve cartel, nenhuma dúvida, é a própria Siemens que denuncia e confirma o fato.
PS2 – Sobre isso, não tenho informação, nem entendo o comportamento de Siemens. Mas a investigação mostrará os fatos, com a “colaboração” da própria empresa c-a-r-t-e-l-i-z-a-d-o-r-a.
PS3 – Sugiro que seja feita uma devassa profunda sobre o assunto, não é necessário nem CPI. Basta uma Comissão que convide ou convoque o jornalista Janio de Freitas para depor. Ele sabe tudo sobre licitação, concorrência.
PS4 – Antes desse cartel, Janio de Freitas soube previamente do resultado de uma concorrência, de quem ia ganhar. Publicou nos “classificados” da Folha, acertou inteiramente.
PS5 – Essa questão vai longe, terá que apurar o que houve com licitações e concorrências, não só sobre o metrô e trens, mas também para obras de custos e preços colossais.
PS6 – Para terminar, por hoje, por hoje: imaginem que somas fantásticas o Estado de São Paulo “pagou” a mais. Devem estar na casa dos bilhões e bilhões.
PS7 – O governador Alckmin diz, “quero conhecer os fatos para defender (?) o Estado na Justiça. O juiz negou, no que fez muito bem.
PS8 – Mesmo que Covas, doentíssimo (morreria logo) continuasse indo ao Bandeirantes, Alckmin não saía de lá, como vice, desde 1994. Não sabia de nada?  Quantos já se refugiaram nessa mesma sonata e fuga?
PS9 – Agradecimento a Roque Furtado, que informou: “Covas morreu em 2001, março”.  Não me lembrava, mas isso complica a vida de Covas. Estava em pleno governo. Tem certeza, Roque?
SECRETARIA DE SEGURANÇA-POLÍCIA MILITAR
Depois do comandante da Polícia Militar ter “anistiado” 421 PMs, deixei a pergunta: na hierarquia do governo, quem manda mais? A resposta está nas televisões e nas manchetes dos jornais impressos. Mas o comandante da PM não foi demitido apenas por causa do saco de bondades.
Antes de dizer publicamente, “não comentarei as declarações do secretário”, deveria ter lido o manual da hierarquia. Quando soube que ia ser demitido, telefonou para o governador, este não pôde atender, estava redigindo o “manual dos helicópteros”, cheio de truques e buracos negros”. E a última coisa que cabralzinho quer é bater de frente com Beltrame, o mais importante personagem do seu governo.

Da Tribuna da Imprensa, de 07-8-2013.

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