UMAS E OUTRAS DO HELIO FERNANDES

Obama dá 1 bilhão e 300 milhões ao Egito, em armamento, e pede paz. Os generais, que mandam no Brasil desde 1889, proíbem visitas ao DOI-CODI. A morte do advogado Alcyone Barreto. O policial militar que jogava spray de pimenta diretamente no rosto das pessoas tem que ser entregue a um psiquiatra. A mesma coisa para a direção do PT e do PMDB, que apoiaram o filho de Jader Barbalho para governador do Pará. Joaquim Barbosa, presidenciável.


Helio Fernandes

Todos os articulistas, juristas, editorialistas, colunistas e até representantes da opinião pública que não se enquadram nas identificações acima, esperavam a abertura da sessão de ontem do Supremo. Todos tinham posição e até convicção, o que é importantíssimo. As dúvidas oscilavam apenas em dois pontos: Barbosa pedirá desculpas? Ou manterá as agressões verbais a Lewandowski?
Este repórter, anteontem, reafirmando ontem, colocou sua expectativa de forma diferente. Perguntei: Joaquim Barbosa falará como presidente do Supremo? Ou como possível ou suposto presidenciável da República? Como se vê, eu não tinha lado, e sim esperava para interpretação, lógico, depois da fala do trono.
Nenhuma dúvida: Joaquim Barbosa optou por se decidir pelo presidenciável. Leu um texto de aluno de escola primária, sem delonga, mas se aproximando da milonga. Como estava convencido de que na semana passada não mentiu, também não desmentiu. Coerente, inoperante, imprudente, nada fascinante ou convincente, mas também nenhuma dessas palavras no roteiro de sua situação.
LEWANDOWSKI, CELSO DE MELLO
E MARCO AURÉLIO

O vice-presidente do Supremo, percebendo como todos, que Barbosa não queria sair do lugar comum, aceitou esse duelo sem armas e sem palavras. E leu uma vasta coleção de elogios, feitos por juristas e advogados, e principalmente de organizações de magistrados, publicamente em desavença com Barbosa e hostilizadas por ele. E se retirou da tribuna, se tratando do Supremo, púlpito.
Celso de Mello, como decano e incontestável mestre em palavras cruzadas jurídicas, deixou a afirmação para os mais atentos. Isso se deu quando ele exaltou “os que têm coragem de ficar contra a maioria, isso é indispensável”.
Logo depois, Marco Aurélio, o último a tratar do assunto. Também mestre da fala, mas sem a menor predileção pela palavra  cruzada, fez uma ligeira entrada em cena, e logo absorveu o verdadeiro Marco Aurélio. E se mostrou o que é sempre, um admirador de Galileu, convencido que a terra se move.
E como também é um homem corajoso, não liga para a Inquisição nem tem medo dela, seguiu Celso de Mello, elogiando os que votam contra a maioria. O que em Marco Aurélio é quase ou sempre o desafio que aceita com toda a convicção.
O SILÊNCIO DO PRESIDENTE
DO SUPREMO

Joaquim Barbosa, que antes de abrir a sessão de ontem já traçara o seu destino ou futuro (só falta a legenda), não se interessou em debater ou desmentir ninguém. Seu público alvo não estava no Supremo. Acreditava que nas casas, nas ruas e nos partidos, batiam palmas para ele.
O Supremo, depois disso, por algumas horas de refugiou no “Acompanho V. Exa.”, numa questão que não tinha a menor importância. O que tentavam deslindar e que não apresentava mistério eram “os embargos de declaração”. Se não fosse a morte da mulher do ministro Teori Zavascki, já estariam examinando o que realmente tem importância: os EMBARGOS INFRINGENTES.
Já foi publicado dezenas e dezenas de vezes no mundo todo, nos múltiplos e mas variados meio de comunicação: “Os EUA AJUDAM o Egito com I BILHÃO E 300 MILHÕES de dólares, anualmente. Logo vem o generoso governo da (ainda) maior potência mundial e divulga, demonstrando ou tentando demonstrar toda a superioridade e desprendimento financeiro: “Já pedimos ao governo do Egito para acabar com esse massacre insensato”. E fica nesse estágio.
O governo Obama (o dinheiro para o Egito era fornecido antes da sua eleição e logicamente da reeleição) garante: “Não vamos cortar a ajuda ao Egito, só pedimos que parem com esse massacre”. Duas ressalvas irrespondíveis.
1 – Não quer, ou melhor, não pode cortar o que chama de AJUDA, que não é feita em dinheiro e sim em armamento moderno e sofisticado: caças, canhões de longo alcance, bombardeiros poderosos.
Tudo fabricado nos EUA, a invencível indústria militar (Eisenhower) não admitiria o corte, deixaria Obama assustado, desamparado, e quem sabe, tendo que antecipar a saída do governo, marcada para depois da eleição de 2016?
2 – O que o governo do Egito pode fazer com essa AJUDA em armamentos de última geração? Alimentar o povo? Investir nas mais visíveis necessidades desse mesmo povo? Ora, armamento é para destruir e não para construir.
Quando Obama faz “apelos” de paz, como vai conseguir fornecendo cada vez mais armas? E a ONU não pode desmascarar o presidente dos EUA. É um poder desarmado, mantido financeira e territorialmente pelos EUA. E nos EUA.
E dizer que logo no primeiro mandato, antes de fazer qualquer coisa, Obama ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Aplaudido pela ONU. Agora ninguém pode desmascarar Obama. O primeiro presidente negro dos EUA, que decepção.
ALCYONE BARRETO, DEFENSOR
DE PERSEGUIDOS POLÍTICOS

Há alguns dias, fiz uma relação de 20 advogados que mais enfrentaram a ditadura, defendendo presos políticos. A citação, como registrei, era de memória, mas não podia esquecer Alcyone Barreto. Foi um dos mais assíduos, nas delegacias, no DOI-CODI, na Justiça Militar.
Agora Alcyone vai embora, deixa um nome, comportamento exemplar, tradição de amor à liberdade, seguida por todos de sua geração e de outras, que vieram depois. Alcyone, como ressaltei, não cobrava nada dos clientes, sua dedicação era total e irreversível. Lutava e se arriscava pela liberdade.
DOI-CODI NÃO PÔDE
SER VISITADO

Os militares continuam mandando. O que não é nenhuma novidade. O primeiro golpe de nossa História ocorreu em 15 de novembro de 1889, quando os propagandistas da República, que desde 1860 lutavam pela República, foram ultrapassados pelos dois marechais que serviam apaixonadamente à monarquia.
Em 1868, o bravo Saldanha Marinho fundou o diário “A República”, mas a República nasceu militar, militarista e militarizada. E tendo estado sempre no Poder, continua. A Comissão da Verdade queria visitar o histórico e ditatorial DOI-CODI, foi impedida pelos generais do Ministério da Defesa.
124 anos depois, cada vez mais poderosos, inatingíveis. Não sei se é mais perigoso discordar deles, antes ou agora.
A Comissão da Verdade, criada com 28 anos de atraso, vai consagrar a todos que serviram à ditadura, civis ou militares. Por que os membros dessa Comissão não pedem DEMISSÃO COLETIVA? Seria um libelo maior do que qualquer investigação capenga, caolha, castrada.
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PS – Botafoguense, corretíssimas tuas citações sobre o Amarildo. No Brasil e no exterior. Faltou exatamente o início, na seleção, em 1962, no Chile. Pelé se machucou no primeiro jogo, contra a Tchecoslováquia, que faria a final contra o Brasil.

PS2 – Naquela época não havia substituição, o Brasil continuou com 10. E Pelé considerado campeão mundial em 1962, tendo jogado pouquíssimo tempo.
PS3 – Amarildo, aos 22 anos, entrou como titular no jogo seguinte, contra a Espanha. O Brasil ganhou de 2 a 1, os dois de Amarildo, apelidado de “Possesso”, pelo Nelson Rodrigues.
PS4 – Não conheço a biografia de Nelson na internet, Hugo Gomes de Almeida, mas minha convivência com Nelson durou mais de 40 anos, em redações e fora delas.
PS5 – Comecei na revista O Cruzeiro, com 13 anos. O Nelson chegaria pouco depois, vindo de O Globo. Eram 12 irmãos, seis homens e seis mulheres, todos, direta ou indiretamente, atingidos por tragédias.
PS6 – Em matéria de drama, sofrimento, destino implacável, e a família Kennedy do Brasil. Os 12, todos envolvidos em atividades intelectuais. O que você cita sobre a contradição do Nelson com a prisão do Nelsinho, fascinante. Um abraço pela lembrança.
PS7 – Manchete do jornalão: “Punição coloca planos de saúde em XEQUE”. Quase acertaram. Em se tratando dos exploradores de quem precisa, a manchete devia ser esta: “Punição deixa planos de saúde SEM CHEQUE”.
PS8 – A Polícia Militar informa: “Vamos investigar todas as denúncias de excessos, nas manifestações de segunda-feira, no Catete”. Esses policiais já ultrapassaram os recordes anteriores de violência.
PS9 – Garantem que o policial que manejava um aparelho que lançava pó de pimenta em jornalistas e em outras pessoas que “apenas passavam pelo local”, foi afastado das ruas, fará trabalho interno e será investigado.
PS10 – Basta verificar os vídeos nos quais o policial aparece jogando gás de pimenta contra todos, para entregá-lo a um psiquiatra. Psicólogo ou psicanalista é pouco. Há um vídeo com o mesmo policial segurando a cabeça de uma mulher que tentava fugir e jogava o spray diretamente no rosto dela. A verdadeira Polícia Militar merece mais do que isso.
Da Tribuna da Imprensa de 22-8-2013.

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