UMAS E OUTRAS DO HELIO FERNANDES

O Brasil tem que protestar duramente contra a espionagem, mas se preparar para espioná-los. Enquanto no país inteiro os manifestantes estavam na rua desde cedo, no Rio a expectativa do dia inteiro terminou em tumulto e pedido de renúncia de Cabral. ACM Neto, prefeito de Salvador, para Dona Dilma: ‘Saúde e Educação não representam custeio, e sim investimento’.

Helio Fernandes
No Rio de Janeiro, a manifestação das centrais sindicais foi meia bomba, fracasso de público e de crítica. Segundo a PM, havia apenas cerca de 2,5 mil pessoas, o que é quase nada em comparação com as passeatas do Movimento Passe Livre. Nas outras metrópoles do País, a mesma “empolgação”.
O início da manifestação foi tumultuado por integrantes de um grupo (ou seita) conhecido como Black Bloc, que usavam roupas e máscaras negras e portavam bandeiras com o símbolo do Anarquismo (um “A” dentro de um círculo). Diante da Candelária, eles provocaram a PM, que usou gás de pimenta e lançou bombas de gás lacrimogêneo. A multidão cercou os policiais e jogou pedras, garrafas de água e latas contra eles. Os agentes montaram uma barreira ao redor da igreja. Houve muita correria no local.
Ao final da passeata, que foi da Candelária até a Cinelândia, o mesmo grupo Black Blocs voltou a provocar os policiais. Houve enfrentamento, a polícia jogou bombas de efeito moral no grupo, que revidou com coquetéis molotov e morteiros. Devido ao tumulto, em que um PM ficou ferido na cabeça e uma agência bancária teve a porta de vidro destruída, a manifestação foi encerrada e a PM prendeu dez participantes.
Os sites dos jornais dizem que há um manual publicado na página do Black Blocs Brasil, no Facebook, em que a “desobediência civil” é definida como “forma de demonstrar a não aceitação de uma regra”. Bem, se acham que jogar coquetéis molotov na PM e fazer quebra-quebra representam apenas “desobediência civil”, deveriam colocar isso no manual e mudar o Código Penal. De qualquer maneira, são ridículos, porque, como se trata de um grupo “organizado”, não será difícil identificar seus membros.
Depois, com ainda mais baixa audiência (menos de 500 pessoas), o protesto se mudou para a frente do Palácio Guanabara, fechando a Rua Pinheiro Machado e pedindo a renúncia de Sergio Cabral. mais sete manifestantes foram presos. Havia dois helicópteros sobrevoando o local, e os todos ficaram sem saber se era o governador indo para a mansão de Mangaratiba, ou apenas as babás da família Cabral fazendo um vôo de reconhecimento.
CELSO AMORIM ENFIM ACERTA UMA
Surpreendentemente, o ministro Celso Amorim, que não acerta uma (nem no Exterior, nem agora na Defesa), fez análise perfeita, numa frase sobre a quebra de privacidade dos EUA no Brasil. Sintético e discreto: “Não temos recursos nem tecnologia para barrar essa invasão”. E concluiu: “Por telefone, celular, e-mail, só falo que não interessa a ninguém , nem vale a pena gravar”.
Embora o Brasil tenha que deixar consignado e explícito o seu protesto. E tratar de reforçar as defesas, proteger a internet. Compreendendo que todos fazem a mesma coisa, muito antes do assombroso e milagroso avanço da técnica e da tecnologia.
AS GUERRAS GANHAS (OU PERDIDAS)
POR CAUSA DA ESPIONAGEM ANTIGA

A partir do fim de 1917, gênios individuais da Inglaterra decifraram os códigos da Alemanha. Logo, logo, em 1918, eles se renderam incondicionalmente. (Os EUA praticamente não participaram da I Guerra).
Na Segunda, depois de serem bombardeados pelo Japão, em Pearl Harbour, os americanos investiram na descoberta dos códigos japoneses, conseguiram, se divertiam ouvindo tudo o que os generais do Japão conversavam ou planejavam. Liquidaram o adversário, destruindo suas forças, tranquilamente.
Os japoneses, praticamente derrotados, recusaram a rendição, como fizeram os alemães. Só que não tinham qualquer serviço de inteligência, nem sabiam que Truman criminosamente explodiria as bombas em Hiroshima e Nagazaki. Aí fazer o quê? Se renderam.
O DESEMBARQUE NA NORMANDIA
Quando os “aliados” imploravam aos EUA que lançassem a “Segunda Frente” para encurralar os nazistas, que aparentavam superioridade, apesar das derrotas irreversíveis na União Soviética, os americanos se convenceram da necessidade desse reforço. Até para sua própria sobrevivência. Não só militar, mas diante do “Reich dos mil anos”.
O general Marshall (que dirigiu toda a guerra) foi encarregado de concretizar esse plano. O segundo dele era o general Eisenhower (depois, presidente da República, Marshall não aceitou nada), designado para comandar essa invasão, sabia que estava sendo espionado de todos os modos, tentava viajar para os lugares os mais variados.
E “escolheram” 5 locais para o desembarque, sabendo que as perdas seriam enormes, como foram. Mas o local de desembarque foi sempre a Normandia, embora o serviço secreto e de espionagem dos nazistas terminantemente não acreditasse.
Esse ligeiro passeio por tempo distante e praticamente sem invenções, mostra o que é possível e permissível, hoje, com toda a tecnologia. Em suma: o Brasil tem que protestar abertamente, mas se aparelhar para não ser espionado por ninguém. E se for o caso ou a necessidade, espionar os EUA.
O CASO DOS MÉDICOS ESTRANGEIROS
Logo que Dona Dilma anunciou sua vontade soberana de contratar médicos de vários países, protestei violentamente. Fui o primeiro. Depois, veementes e compenetrados, vieram críticas de órgãos de classe. Unanimidade, sem qualquer hesitação. Dona Dilma fez contatos com médicos de Cuba, absurdo dentro de outro absurdo.
Teve que recuar, por uma razão que era pública, nem se preocupou em saber como funcionava. Cuba “exportou” 14 mil médicos para a Venezuela. Mas de acordo com o contrato assinado entre os dois países, o governo da Venezuela pagaria diretamente ao governo de Cuba, 80 por cento em petróleo, que a Venezuela tem de mais e Cuba não tem nenhuma gota (foi a razão da ligação com a então União Soviética). Os outros 20 por cento, em dinheiro.
Os médicos que foram para a Venezuela recebiam o mesmo que em Cuba: 40 dólares por mês. Ficaram famintos, desesperados e revoltados, muito justamente.
Quando Chávez precisou fazer a primeira operação, não quis se entregar a médicos que tinham desconfiança mútua. Os hospitais de Caracas eram melhores, os de Cuba caindo aos pedaços, sem equipamento. Mas Chávez não tinha opção. Entre a desconfiança com médicos de Cuba e a deficiência dos hospitais também de Cuba, não teve nem direito de escolha. Fez várias idas e voltas a Cuba, não melhorava. Amigos importantes aconselharam: “Faz a cirurgia aqui”. Nem considerou.
Agora, a presidente iniciante compreendeu tardiamente que a contratação de médicos de Cuba, insuficiente. E pelo jeito, vai mesmo insistir em médicos de fora.
O CORRUPTÍSSIMO JADER BARBALHO,
PROTEGIDO PELO MINISTRO PELUSO

A “Lei da Ficha Limpa” atingiu Jader Barbalho em cheio. Um dos principais itens: impedia a eleição ou reeleição de quem tivesse renunciado ao mandato para não ser cassado. Era o próprio Jader. No plenário do Supremo ficou 5 a 5, o presidente Cezar Peluso, obrigado a desempatar, disse, “não quero contrariar ninguém”.
Jader se candidatou, não pôde tomar posse. Onze meses depois, a poderosa cúpula do PMDB foi ao gabinete do presidente, pedir “apenas” isso: “Liberar o senador para tomar posse”. Liberado na hora, tomou posse no mesmo dia. Agora, foi obrigado a devolver 2 milhões e 200 mil reais por corrupção. E Cezar Peluso aposentado, consagrado, levianamente endeusado.
O antigo senador-governador-ministro-senador recebeu a intimação para recolher esses mais de 2 milhões, riu, respondeu: “Vou recorrer até o fim”. Significa que não pagará nunca. Há um ano, Renan lhe deu um conselho que seguiu totalmente: “Você tem 8 anos de mandato, desapareça por um ou dois anos, acabará voltando à presidência do Senado”.
OS SENADORES FARSANTES
Na terça-feira, fingiam que “acabavam” com o segundo suplente que não existia. Na quarta-feira fui duríssimo, disse que eram farsantes e outras manifestações da comunidade. Na mesma quarta-feira, “desvotaram”, ANULARAM o segundo suplente. Empulhação, mistificação e, além do mais, audaciosos e mentirosos; “acabaram” com o que não existe, o que fazer com eles? Não os suplentes, e sim os “efetivos”.
ARTUR VIRGILIO E ACM NETO
Ambos prefeitos eleitos. O de Manaus: “Constituinte restrita, fora do Legislativo, não existe nem será aprovada”. O prefeito é diplomata de carreira, foi senador, derrotado diretamente por Lula. Que fez tudo para que ele não se reelegesse. Tentou impedi-lo de ser prefeito, não conseguiu, Virgilio venceu disparado, no primeiro turno.
O prefeito de Salvador se elegeu deputado muito moço, se destacou logo no primeiro mandato federal. Sobre as reformas de Dona Dilma, textual: “Saúde e Educação não são custeio e sim investimento”. E concluindo; “Existem vários nós, o difícil é transformar tudo em atos concretos”.
Ou imitando o povo nas ruas: “É indispensável Saúde, Educação e Mobilidade Urbana (Transportes) em padrão Fifa”.
GOVERNADOR FELIZ E SATISFEITO
Marconi Perillo fez essa afirmação assombrosa: “Estou feliz e satisfeito com a política MORAL e ÉTICA do país”. Inacreditável. A CPI mista para investigar o que todos sabiam sobre a corrupção das empreiteiras não chegou ao fim.
Motivo: estava caminhando para atingir o governador de Brasília (Agnelo Queiroz), o do Estado do Rio (Sergio Cabral) e este FELIZ governador de Goiás, o citado Marconi Perillo. Terminarão os mandatos, não serão culpados de nada.
PS – A Estátua da Liberdade, que estava fechada há muito tempo, foi reaberta no último 4 de Julho, data do Manifesto de Thomas Jefferson em 1776.
PS2 – Bernard Shaw combatia incessantemente os EUA. A primeira vez em que foi lá, visitou o Monumento. Perguntado sobre o que achara, respondeu: “Meu gosto pela ironia não vai tão longe”.
PS3 – Famoso e já considerado um dos maiores teatrólogos do mundo, presidiu o Sindicato dos Mineiros da Inglaterra. Os patrões diziam: “Você é um péssimo negociador, pede sempre altos salários”.
PS4 – Resposta: “Vocês falam em altos salários para trabalhadores que morrem de fome ou soterrados, porque vocês, riquíssimos, não investem em segurança.
PS5 – Shaw não livrava nem a Inglaterra. Não tinha herdeiros, deixou toda a fortuna para a Fundação com seu nome, que devia “reformular a língua inglesa”.
PS6 – E explicava: “Como se pode acreditar num idioma no qual se escreve H (agá) e se lê R )erre)? E dava outros exemplos. Não mudaram nada.

Da Tribuna da Imprensa de 12-7-2013.

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