UMAS E OUTRAS DO HELIO FERNANDES

A Polícia, insubordinada, sem comando autêntico e visível, violentou e reprimiu manifestação que era um protesto pacífico e democrático. Agora, totalmente incontrolável. Os marqueteiros trouxeram Camões para a comparação entre OTIMISTAS e PESSIMISTAS. Pelo menos, cultura no debate eleitoral.

Helio Fernandes
Quatro opiniões, interpretações, conclusões, rigorosamente majoritárias sobre os acontecimentos de São Paulo e do Rio, que já repercutem no exterior, incluindo críticas duras e preocupadas da Anistia Internacional. E que ninguém sabe como vai terminar.
1 – As manifestações começaram de forma rigorosamente pacíficas, eram protestos não só quanto ao aumento inesperado dos preços. Muitas pessoas, em praça pública, diziam: “Até aceito o aumento das passagens, mas é preciso melhorar, e muito, a qualidade dos serviços”. Escorchados nos preços e negligenciados nos serviços.
Era vivível a boa vontade, mas o poder público não cobra das empresas pelo menos a prestação de um serviço razoável. Os trens, ônibus e metrôs, todos encarecem juntos, mas continua a superlotação, horas e horas a esperar um transporte, que não serve a ninguém, ou “serve” de forma inacreditável de tão precária.
2 – Podia ter começado um diálogo a partir daquela constatação, não havia ninguém para cuidar do assunto, governador e prefeito em Paris, ninguém para fazer uma intervenção não hostil. Manifestações, protestos, reivindicações são próprios da democracia.
O EXAGERO AUTORITÁRIO DA POLÍCIA
3 – Estabanada, sem comando superior, a Polícia entrou logo com violência, agredindo, exorbitando, praticando um dos piores crimes, que é o “abuso do Poder”. Alguns dizem, “estavam desarmados”. A Polícia nunca está desarmada, sempre leva vantagem, usam e abusam do que chamam de “armas não letais”. Mas essas armas devem ser usadas contra partes inferiores do corpo, os policiais atiravam prazerosamente contra o rosto e a cabeça dos manifestantes.
A maioria dos feridos, no rosto e até nos olhos. E pasmem, existem testemunhos e imagens das câmeras flagrando policiais derrubando simples cidadãos e anulando-os implacavelmente. Era o mais forte, pelo físico, treinamento e armas, massacrando os cidadãos que pagam impostos, só não queriam pagar esses aumentos indiscriminados de preços.
4 – Os manifestantes cometeram então provavelmente o único erro: a depredação, chamada de vandalismo. Nisso eles perdem em qualquer avaliação. Foi exagero, patrimônio público e privado não pode ser destruído. Mas queriam o quê? Que a multidão continuasse sendo agredida, violentada e espancada, e “desse a outra face”? Nesse item, não há justificativa, mas atenuante para os manifestantes.
E agora, como terminará o episódio provocado lamentavelmente pelas Polícias de São Paulo e do Rio? E que já se espalham por 6 ou 7 capitais.
ALCKMIN E CABRAL: 
“O PROTESTO É POLÍTICO”  

Os dois governadores tentaram levar a manifestação para outro plano, mais alto, como se tudo tivesse sido planejado e executado com “alguém” comandando. Alckmin e Serginho gaguejavam, não conseguiam chegar ao final da frase, mesmo porque era tudo inconsistente, incoerente, imprudente. Alckmin, Haddad, Sergio Cabral não responderão pela ausência, a inércia, a cumplicidade? (Não cito o prefeito do Rio, ele não apareceu, simplesmente não participou).
PARTIDOS CONTRADITÓRIOS, SE
JUNTARIAM PARA O TUMULTO?

O governador de São Paulo, do PSDB. O prefeito e o governador do Rio, do PMDB. Não conseguem se reunir a não ser num almoço ou jantar em Paris. Então, como se reuniriam para comandar a repressão às manifestações que começaram rigorosamente pacíficas?
PS – Como se vê, tudo mistificação, farsa, violência praticada com as autoridades (?) olhando para o alto. Não sei como isso pode acabar, a não ser com diálogo. Mas sem polícia participando, nem mesmo fazendo a segurança desse encontro pacífico, sem houver.
EIKE BATISTA, TUDO QUE RECEBEU
EM MAPAS DA MINA E DESPERDIÇOU

O Globo de ontem, em página inteira, mostra como estão as empresas do homem que só falava em dinheiro e dimensão: “Em um ano serei o mais rico do Brasil, em três, o mais rico do mundo”. Agora tem patrimônio de 81 bilhões e dividas de 81 bilhões.
Tenta desesperadamente encontrar sócios para o Hotel Glória, parte mínima do seu ex-império. Não responde ao Santander, que publicou: “Em 2014, Eike não terá mais caixa”. E o BNDES, quando receberá? Sua principal empresa valia uma fábula na Bolsa, agora é apenas lixo.
OPOSIÇÃO TAMBÉM É CULTURA
Como o governo se vangloria de estar cada vez realizando mais e melhor, a oposição respondia contestando tudo isso. Estabeleceu-se, então, uma espécie de diálogo entre otimistas, governo, e pessimistas, oposição. Aí, numa jogada espetacular, os governistas trouxeram Camões para o debate.
Lembraram então do “velho do Restelo”, símbolo do pessimista que o escritor de Portugal (e do mundo) usava muito quando queria um personagem sempre pessimista. Sensacional, ganharam chamadas em televisões abertas e por assinatura, além de manchetes e notas de Primeiras páginas.
Mas nada a ver com Dona Dilma, que jamais se aproximou de Camões (de seus livros, é claro). Fica evidente que foi trabalho de marqueteiros, uma lembrança muito bem sucedida. E Dona Dilma pelo menos fugiu dos discursos “enroladores”, recitados como poemetos de escola primária.
Quando ao mérito, não acrescentou coisa alguma. Sempre, mas sempre mesmo, os governantes de todos os países ficarão divididos entre os dois grupos. Os governistas têm que ser otimistas, com medo de perderem o Poder. Os oposicionistas, na obrigação de identificar e rotular de incapazes os que estão no poder, mesmo sabendo que ficarão como pessimistas.
É do jogo, com exclusão única e total das ditaduras, quando não existem pessimistas e otimistas. Os arbitrários, autoritários e atrabiliários dominam. Os outros ficam na condição de servos, submissos e subservientes, com os raros que resistem e não se entregam.
De qualquer maneira, a citação de Camões valorizou o debate, justificou os altos salários dos marqueteiros da vez.
###
PS – José Martins, tua ideia-sugestão sobre a Tribuna, interessantíssima, mas só uma teoria. Na prática, naufraga nos obstáculos. Desde dezembro de 2008, quase 5 anos, os prédios estão fechados, a máquina que rodava a Tribuna desmantelada. Embora o extraordinário arquivo do jornal, “lá de cima”, tenha sido preservado do furor da vingança da ditadura.

PS2 – O que foi totalmente destruído. Meu arquivo pessoal, que ficava na sala da frente, onde eu trabalhava. Esse arquivo (choro sempre por ele, irrecuperável), foi organizado com o maior carinho por minha mulher. Centenas de cartas, anotações pessoais, tudo perdido.
PS3 – Zagallo fez declarações visivelmente procurando ou tentando dar animo aos jogadores da seleção. Um mito do futebol brasileiro e um dos raros que não pode ser contestado, é também o único com direito de representar “a pátria de chuteiras”.
PS4 – Em Paris, irmanados (?), conciliados (?), preocupados (?), o prefeito Fernando Haddad e o governador Alckmin, deram entrevista a duas vozes. O assunto? Lógico, o que chamaram de vandalismo dos protestos contra o aumento dos ônibus.
PS5 – Vandalismo é o lugar comum usado nesses momentos, bravamente não fugiram dele. Inocentaram os policiais de culpa, condenaram os mais frágeis, que não têm dinheiro para nada, nem para irem para o emprego, ameaçados de perder ou ainda nem arranjaram.
PS6 – Depois foram jantar (“É Paris”, como gosta de dizer Sergio Cabral, e “o corpo também não é de ferro”, ensinava Ascenso Ferreira). Os dois já estão no Brasil, toda viagem acaba, mesmo em Paris. Aqui não acabarão nunca com os protestos, não admitem, mas os desgastes, enormes. 
Da Tribuna da Imprensa de 15-6-2013.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NOTÍCIAS EM DESTAQUE - 2ª EDIÇÃO DE 25/02/2024 - DOMINGO

NOTÍCIAS EM DESTAQUE - 1ª EDIÇÃO DE 25/02/2024 - DOMINGO

NOTÍCIAS EM DESTAQUE - 1ª EDIÇÃO DE 26/02/2024 - SEGUNDA-FEIRA