UMAS E OUTRAS DO HELIO FERNANDES - 14-6-2013

Evandro Lins e Silva, extraordinária personalidade, mestre de Direito, meu primeiro advogado. “Pesquisas”, com aspas, dizem que “Lula perderia para Alckmin”. Obama já não é o mesmo, longe de 2008. Lucia Murat, perseguida e torturada, estréia hoje seu filme, com um título sugestivo: “A Memória que me contam”.

Helio Fernandes
Em 1953 sofri meu primeiro processo. Mestre Evandro me defendeu, o que fez mais 8 vezes, até 1961, quando foi ministro-chefe da Casa Civil de Jango, e depois chanceler. Me chamou no escritório da Primeiro de Março, onde trabalhava com o irmão, o excelente Raul.
Foi encurtando caminho: “Helio, não posso mais ser teu advogado, serei ministro do presidente João Goulart. E é impossível pertencer ao governo e ser advogado de um jornalista influente e participante. O Raul vai continuar no escritório, mas haveria confusão”. Continuou: “Mas vou te indicar um jovem advogado, que será um dos maiores criminalistas. Eu comecei no escritório do pai dele, ele começou no meu escritório”.
Era Evaristo de Moraes Filho, herdeiro da competência do patrono dos advogados brasileiros. (Algum dia falarei das minhas relações maravilhosas com ele, hoje as lembranças são para Evandro).
COMO SE RECONHECE
UMA DEMOCRACIA

Ficamos grandes amigos, almoçávamos quase sempre no restaurante do Jóquei ou no Ianque, na ruazinha Chile (substituída pela Avenida Chile, enorme), da preferência dele. Quando tomou posse na Academia, minha filha Ana Carolina, grande fotógrafa, linda e irreverente, foi imortalizá-lo para a Folha.
Evandro conhecia Ana Carolina, que era muito amiga do seu neto. Disse para ela: “Defendi seu pai 9 vezes”. E ela, irreverente mesmo:  “Quantas vocês ganharam?”. Evandro deu aquela gargalhada característica, respondeu perguntando: “Adivinha?”. Todas, eram tempos de “injúria, calúnia e difamação”, grandes e reluzentes debates.
A Constituição de 1988 acabou com isso. Criaram os processos por “danos morais”, quem não tinha nem tem caráter, processa (intimida) jornalistas.
Lembrei das lições de Evandro, assistindo anteontem, no Supremo, debate sobre democracia. Até de forma brilhante, um advogado dizia, “a democracia começa e se afirma pela defesa do direito das minorias”. Também, isso é importante, mas não em primeiro lugar.
ALTERNÂNCIA NO PODER
Mestre Evandro sempre me dizia: “Helio, se você chegar pela primeira vez num país, não conhecer nada do seu sistema de governo, pergunte: Existe alternância de poder? Se existir, você está numa democracia”. E completava: “A alternância protege a todos, minorias e maiorias. Todos precisam de proteção, se só um homem ou um partido se eternizar no Poder, não há proteção para ninguém”.
Ministro do Supremo, votando contra a ditadura, Evandro ia ser cassado, foi salvo pela bravura do presidente do STF, Ribeiro da Costa, que mandou este recado para o “presidente” da República de plantão: “Se algum  ministro do Supremo for cassado, fecho o Tribunal e mando a chave para o senhor”. Não houve cassação, mas aposentadoria.
Evandro é inesquecível. Nos debates de anteontem no Supremo, muita erudição e pouca humanidade. E conhecimento quase inexistente sobre grandes advogados, como Evandro Lins e Silva.
O PROCURADOR SE DESPEDE
SEM BOM EXEMPLO

O mandato de Roberto Gurgel termina em agosto. Como em julho o Judiciário estará em recesso, dificilmente terá alguma oportunidade de se manifestar no julgamento do mensalão. Para não ficar esquecido, demitiu apressada e arbitrariamente a subprocuradora Deborah Duprat. Ligadíssima a ele, até discordar. E se ela for nomeada para o lugar dele? Pelo menos está na lista com Dona Dilma.
PESQUISAS ESQUISITAS
Sobre São Paulo, com 16 meses de antecedência, concluíram que Lula não ganha de Alckmin, este tem 48 por cento, Lula 32. Como “descobriram” que Lula será candidato a governador? Isso parece bem distante. O que me dizem: “Alckmin sabe que Lula não será candidato, e que não tem nomes para lançar. O último foi Fernando Haddad”. Assim Alckmin aparece como “vencedor”.
OBAMA JÁ NÃO É MAIS O MESMO
2008 está muito longe na sua vida, e cada vez mais ilegível na biografia. Talvez sobreviva numa até agora imprevisível autobiografia. O que houve? Se desinteressou, se descuidou, se acomodou por estar na parte final da vida política.
De qualquer maneira, Obama hoje está mais para Carlos Drummond do que para a Casa Branca. Sua história é um retrato na parede e não seduz nem fascina mais ninguém. Nessa lista de decepcionados, estou entre os primeiros.
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PS – Gugu Liberato deixou a Record, ganhou uma belíssima indenização pela rescisão do contrato. Recebia mensalmente o equivalente a 3 MILHÕES e 500 MIL reais. Nenhum trauma na saída ou na substituição. Alguém vale essa importância em dinheiro? Produz o correspondente ao que recebe?

PS2 – Lucia Murat está realizando, hoje, a estréia do seu filme com um título sugestivo: “A Memória que me contam”. Torturadíssima, Lucia diz: “Fazer o filme foi uma forma de lidar com a perda” (da amiga e participante Vera Silvia Magalhães, já morta, e também violentamente torturada).
PS3 – No mundo todo, muitos torturadores se mataram. Os torturados não esquecem, a tortura sobrevive na memória. Já contei uma vez: quando era levado para o DOI-CODI, ia com medo. Não deixava que percebessem. Era medo da tortura, me salvei por causa do medo deles.
PS4 – Me salvei por ser um nome nacional. Os “sensatos” da ditadura tinham paixão pelo poder. Para mantê-lo, esqueciam até o ódio aos que se opunham.
PS5 – Foi disputada ontem a Liga Diamante, a mais importante do atletismo. São 14 corridas por ano, uma em cada país. Ontem foi na Dinamarca, quando será no Brasil?
PS6 – A sensação fora e dentro da pista, mais uma vez Usain Bolt. Entrou no estádio pilotando um carro de Fórmula 1 do patrocinador. Nos 200 metros, facilmente marcou menos de 20 segundos (19,79), o melhor tempo do ano.
PS7 – O Banco Mundial reduz o PIB do Brasil para 2,9% e o da China para 7,7%, considerando que o da China é mais desastroso. Por enquanto, claro.
PS8 – Como eu disse ontem, Bolsa não sobe sempre, nem desde sempre. Ontem subiu 2,50%. Eike Batista não vendeu nada. Santander reafirma: “Em 2014 ele estará sem caixa”. O dólar caiu 1,66%, veio para 2,12, sem qualquer intervenção do governo.

Da Tribuna da Imprensa de 14-6-2013.

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