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O FUTURO DA VENEZUELA



O futuro da Venezuela é uma assombração e um mistério. Chávez não deixou herança ou herdeiros, o que fazer?

Helio Fernandes
Como eu disse ontem, a Venezuela não deixará de existir. Mas estará para sempre desligada do que chamavam de regime bolivariano. Muitos dirão que isso será ótimo, outros lamentarão profundamente. Elogios ou restrições a Chávez não terão sentido, mas é impossível negar:  Chávez é o responsável (ou irresponsável) por tudo o que acontecer.
 Sete dias de velório
Isso não pode ser negado de maneira alguma. Chávez não pensou no povo, no país, no planejamento para o futuro. Não deixou idéias, personagens, linhas de administração, nem imaginava perder tempo com isso.
Imobilizou o país, era um desleixado administrador. Com quase 100 por cento da exportação baseada no petróleo, não se incomodava com isso, não tomou a menor providência para modificar ou, pelo menos, amenizar a situação.
São conhecidas apenas duas pessoas tidas e havidas como ligadas a Chávez e de sua confiança. O antigo e atual vice-presidente (que já quer ficar no Poder para comandar a eleição como candidato) e o presidente do Congresso, nem um pouco melhor, mas que deveria ter assumido com a morte de Chávez.
Está na Constituição, se é que isso representa alguma coisa, se valia com Chávez ou se vale agora, sem ele.
Existe um terceiro personagem, nunca citado, mas importantíssimo. É o presidente da petrolífera nacional PDVSA, que ocupava o cargo antes de Chávez, continuou com ele até agora, e não se sabe quem pode demiti-lo, e no caso afirmativo, quem pode substituí-lo.
É considerado homem de grande competência, habilidade e capacidade de coordenação. Não gosta de política ou políticos, se reportava diretamente a Chávez e a mais ninguém. Apesar das divergências ideológicas, conseguia vender aos EUA 1 milhão e 300 mil barris de petróleo diários. Com preço acima da média.
Vendia também 1 milhão de barris diários para a China, aí não precisava autorização de Chávez. Por ordem direta de Chávez, sem discutir, supria as necessidades de Cuba, da Guatemala e de outros países com as mesmas carências. Cobrava apenas 15 por cento do que pagavam EUA e China, era a política do chefe. E agora, como ficará a política do petróleo?
VENEZUELA X ESTADOS UNIDOS
Não têm relacionamento diplomático, mas não são rompidos. Mais ou menos há 3 anos, Chávez expulsou o embaixador dos EUA, este retirou o seu. Mas nada alterou o comércio. Além do petróleo (que vende), a Venezuela compra muito dos EUA. Automóveis, máquinas, equipamento, produtos agrícolas, como até tomate e verduras. A Venezuela é voltada única e exclusivamente para o petróleo.
A PDVSA tem um impressionante complexo de refinarias e domina o processamento de óleo pesado, com técnicas que a Petrobras ainda almeja alcançar. São oito refinarias na Venezuela, uma no Texas (Champlin Petroleum), uma na Finlândia (Ninãs Petroleum), e tem 50 por cento das refinarias da Veba, em Düsseldorf, na Alemanha, da Citgo Petroleum, no Texas, e também de uma refinaria de Chicago. Além da metade das cotas da refinaria Abreu Lima, em Pernambuco, mas parece que a parceria está indo para o espaço.
EXTRAVAGÂNCIAS DA “DEMOCRACIA”
Por lá falam muito essa palavra, que não tem o menor significado, pois Chávez controlava tudo, desde o órgão do mais baixo poder, até a Corte Suprema. Continuará? Parece que sim, pelo menos até que os “chavistas”, altamente divididos, se acertem ou se desacertem. Com Chávez brigavam em silêncio, ninguém tinha autonomia de vôo. E agora?
Maduro, que não era nada, ficou vice na última viagem de Chávez para o desconhecido. Morto Chávez, passou a “presidente interino”, sem nomeação ou indicação, sem se preocupar até mesmo em tomar posse. Os generais vieram a público, de forma estarrecedora: “Cabe às Forças Armadas garantir a eleição de Maduro”. Mas ele nem é candidato, é contestado até pelos chavistas e o chavismo. Complicado.
O SILÊNCIO DA OPOSIÇÃO
Têm se reunido discretamente, não tomam posição ostensiva, a não ser nas condolências á família, foram os primeiros. Têm discutido a possibilidade de lançar candidato, que só poderia ser Henrique Capriles. Afinal, teve 44 por cento dos votos, disputando com o próprio Chávez. Perdeu apenas por 11 por cento dos votos.
Uma coisa a oposição já decidiu: manterá o silêncio até terminar a histeria coletiva que dominou Caracas e que já era esperada. Haverá sete dias de velorio, depois o enterro, as pessoas voltarão para casa, o começo da realidade. Nem os chavistas ou a oposição sabem o que acontecerá. Querem o Poder, mas têm medo do fracasso, praticamente certo. Isso vale para os dois lados.
O POVO ACEITAVA A ADVERSIDADE
POR CHÁVEZ. ACEITARÁ COM MADURO
OU COM CAPRILES?
Essa é a grande pergunta que não é feita. A situação econômica e financeira da Venezuela é desesperadora. Chávez só pensava nele e na sua fantasia bolivariana. Não tinha um economista destacado ao seu lado, por questões de funcionamento do regime, eram todos medíocres.
A inflação já passou de 24 por cento, devora até as “migalhas sociais” atiradas por Chávez. Não há o que comprar, os supermercados estão vazios, os privilegiados comiam um pedaço de carne (que vem de fora) de tempos em tempos. Ninguém reclamava, “Chávez dará um jeito”.
Terão a mesma paciência com outro no Poder? É lógico, certo e seguro que não.É possível que nos primeiros momentos votem em Maduro. Mas logo, logo começarão as cobranças. O povo da Venezuela não é chavista, nem sabe quem é Maduro ou Cabello, suportava todos por amor a Chávez. Agora quer um futuro de verdade, não a fantasia na qual continua acreditando, mas quer realidade.
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PS – No momento tudo é incerto. O único fato indiscutível: Chávez morreu, mas querem eternizá-lo, embalsamando e exibindo seu corpo para sempre, como Lênin e outros líderes comunistas.
PS2 – Em suma: não há suma. Chávez foi autoritário, dominador, não deixou legado nem seguidores. Assim, os oprimidos continuarão oprimidos, podem não ter nem o prazer da admiração ou reverência ao mito.
PS3 – Ninguém fala na assustadora violência na Venezuela, principalmente em Caracas. Com Chávez era igual ou pior do que em São Paulo de Geraldo Alckmin. Sem Chávez, ficará sem controle.

Da Tribuna da Imprensa de 08-3-2013.

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