Congressistas receberam caderno com cédulas preenchidas



ERICH DECAT
BRENO COSTA
DE BRASÍLIA
O governo comandou ontem a distribuição no Congresso de cédulas de votação já preenchidas para parlamentares com o objetivo de evitar que, em meio aos milhares de medidas analisadas, acabassem sendo derrubados vetos presidenciais que trariam insegurança jurídica ao país.
A Folha teve acesso a uma cópia do material distribuído na base aliada e testemunhou funcionários da Câmara preenchendo os papéis. A assessoria do Ministério de Relações Institucionais negou ter qualquer relação com isso.
Os vetos eram tantos que, juntas, as cédulas preenchidas formavam um calhamaço de 463 páginas.
Todos os vetos estavam assinalados como sim, ou seja, mantidos, conforme queria o governo. Apenas a parte relativa aos royalties do petróleo estava em branco.

Alan Marques/Folhapress
Caderno de 463 páginas distribuído aos parlamentares com cédulas de votação marcadas
Caderno de 463 páginas distribuído aos parlamentares com cédulas de votação marcadas
A lei determina que é o parlamentar, não outra pessoa, quem deve votar. Não há, no entanto, uma norma específica em relação ao preenchimento de cédulas.
Os votos preenchidos viraram motivo de chacota mesmo entre integrantes da base aliada. Chegou ao ponto em que o assessor grita: deputado, seu voto já está pronto, vem pegar, disse um parlamentar.
Na liderança do PMDB da Câmara, a Folha flagrou cinco funcionárias preenchendo as cédulas conforme as orientações do Planalto. Um clipe marcava a página a partir da qual os vetos precisavam ser deixados em branco.
No meio do preenchimento veio a ordem de um assessor da liderança do PMDB: os itens 100 e 111 deveriam ser derrubados. Eles tratavam de aumentos e gratificações para servidores do Congresso.
Dois outros assessores chegaram dizendo que tinham vindo buscar as cédulas: Qual é o seu deputado?, perguntou uma funcionária.
O controle da distribuição dos votos preenchidos foi intensificado no Senado onde obter maioria é mais fácil. O foco foram as bancadas do PT, PMDB, PTB, PR e PSC. Um integrante do governo disse que eram oferecidas cédulas em branco e preenchidas, e comemorou que a maioria pegou as já votadas.



Parlamentares testam urna que seria usada para depositar os votos sobre os mais de 3.000 vetos
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