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Manual de complôs do PT não previa Rosemary


No caso do mensalão a explicação de Lula evoluiu da traição companheira para a tentativa de golpe da oposição e o excesso de preconceito da mídia de direita. O PT não fez nada além do que todos os partidos sempre fizeram nesse país. No caso da máfia dos pareceres, Lula ainda não se explicou. Natural. Não há no manual de crises do PT nenhum complô que se encaixe no novo escândalo.

Falta à encrenca um Roberto Jefferson. Dessa vez o delator é Cyonil Júnior, um obscuro ex-auditor do TCU. Um sujeito que não tem razões aparentes para se vingar do governo ou de Lula. A oposição golpista, coitada, foi a última a saber. A mídia de direita, a penúltima. As denúncias chegaram primeiro à Polícia Federal, que as repassou ao Ministério Público.
Golpe? Não colaria. Deposição de ex-presidente é coisa nunca antes vista na história do universo. Conspiração midiática? Faltaria nexo. As manchetes chegaram atrasadas no lance, correm atrás do fato consumado. Caixa dois? Não ficaria bem. Os meios não justificariam os fins. Como se vê, o episódio, por inusitado, exige explicações mais criativas.
Não há dúvida de que está havendo um complô. De quem? Talvez do acaso. É melhor acreditar nisso do que ter que acreditar que todos os indícios colecionados pela PF correspondem ao que está na cara. Melhor aceitar a tese de que as apurações não passam de anomalias da lei das probabilidades conspirando contra um ex-presidente insuspeito.
O curto-circuito tem uma das suas pontas não explicadas na sala ao lado do gabinete do presidente da República em São Paulo. Mas há de existir uma explicação para os super-poderes de Rosemary Noronha, a Rose. Lula estava tão obcecado pela Copa que talvez estivesse à procura de um símbolo para o evento de 2014. Sim, só pode ser isso.

Visionário, Lula enxergou em Rose um projeto de logomarca para tudo o que acontece no Brasil. Em vez de um tatu-bola Fuleco, uma assessora mequetrefe com talento para grandes jogadas. Na Era da presidenta, nada mais adequado do que uma mascota para receber os visitantes no aeroporto. Daí as dezenas de viagens de Rose ao exterior. Lula levava a auxiliar a tiracolo para dar-lhe cancha internacional.
Ao chegar para a Copa, os estrangeiros se divertiriam ao saber que Rose é personagem típica do Brasil de hoje –um país em que o Estado foi tão aparelhado que até uma servidora Fuleca pode alçar protegidos a postos graúdos. Com o tempo, a lenda de Rose cresceria. Os brasileiros logo invocariam Rose para ajudá-los a alcançar objetivos inatingíveis –de amores idealizados a empregos dos sonhos.
Como qualquer mascote, Rose seria estampada em bonés, sacolas e camisetas. Ela viraria boneca. Você daria corda para a esquerda e Rose ditaria ordens ao Lula: “Faça isso ou aquilo.” Você daria corda para a direita e Rose telefonaria para uma agência reguladora: “O PR já deu o Ok. O JD já liberou.”
Nesse contexto, a tentativa de transformar Rose em algo mais do que um embaraço para Lula não passaria de um dos maiores mal-entendidos da história desse país. Uma sequência de coincidências maliciosamente interpretadas por delegados, procuradores e jornalistas que acabou fazendo de um político modelo um gestor descuidado, capaz de mandar imprimir no Diário Oficial os nomes de quadrilheiros.

Não, não e não. Melhor acreditar que tudo não passa de coisa de gente que, não tendo o que fazer, fica procurando pelo em ovo e discutindo o sexo dos anjos.

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