Grêmio Recreativo Novarussense: uma breve história-

“Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas”.

Chico Buarque


O Senhor Jose Wilson de Sousa, ao assumir a presidência do Grêmio Recreativo Novarussense para o ano de 2012, incumbiu-me, como membro da Diretoria, de escrever a história da nossa instituição, sobretudo para que soasse como alerta aos mais jovens sobre seu valor para a história de Nova Russas e a necessidade de preservá-la.

Meninos, eu vi! Repetia a escritora, a mestra maior Zilmar Mendes Martins, parafraseando o poeta maranhense Gonçalves Dias. Recordando a poetisa do Curtume, eu também digo: Meninos, eu vi! Vi e ouvi tantas vezes o Professor Jorge Abreu, intelectual, idealizador do grêmio, retroagir no tempo a contar com entusiasmo a fundação em cada detalha, em cada particularidade.
Não confiando, no entanto, no que dita a memória, dei início a um trabalho de pesquisa que confirmasse fatos e datas com precisão.
E por uma feliz coincidência encontrei uma carta de próprio punho do Dr. Jorge de 2005, endereçada à Maria de Guadalupe Timbó. Aqui, para que eu possa continuar a narrativa, faz-se obrigatório uma pausa para deixar que meu coração chore a saudade desta mulher inesquecível. A mulher do social, desprendida, lúcida, única a presidir o grêmio. A nossa Lupinha. Na carta, ele contava a história da entidade: da gestação aos primeiros passos. E esses fatos enriqueceram e deram robustez à minha narrativa. Vamos a ela.
O Grêmio foi fundado por um grupo de senhores para que, dali em diante, (09.01.1955), as famílias locais pudessem desfrutar de seu lazer, num ambiente de ordem e respeito, considerando que a festa realizada no dia anterior nos salões da prefeitura de Nova Russas transcorrera num cenário de autentico “faroeste”. Decidiram, então, esses jovens liderados por Jorge Abreu utilizarem-se da atenção que alguns senhores lhes dispensaram e imediatamente reuniram-se na residência do Sr. Antonio Joaquim de Sousa e, com aquiescência dos presentes, deliberaram criar uma instituição que congregasse a sociedade local, independente de laços familiares, de recursos econômicos ou coloração político-partidária, mas que tivesse como predicado uma conduta moral ilibada.
Estas proposições foram aprovadas com uma salva de palmas, demonstrando a concordância de todos e isso foi seguido à risca, de tal modo que em uma família um membro reunia condições para ser sócio e outro não: a conduta do cidadão para ingresso teria que passar inexoravelmente pelo item “comportamento exemplar”.
Com o aplauso de todos, naquela noite de 09 de janeiro de 1955 acabava de ser criada a nossa entidade, que recebeu a denominação de Grêmio Recreativo Novarussense, numa referencia ao Grêmio Ipuense,
considerado na época exemplar, por sua austeridade e organização cívico-cultural.
Para que a nova instituição se pautasse em base sólida, utilizaram um pequeno capital de que dispunha o Centro Novarussense de Fortaleza, presidido pelo já citado Professor Jorge Abreu consultou este os sócios então de férias em Nova Russas, recebeu de todos pronto consentimento. Procuraram imediatamente o Sr. José Hermenegildo Martins ( Zequinha Gildo) e propuseram-lhe a compra do terreno, hoje sede do nosso grêmio, com dez mil cruzeiros de entrada, ficando o aludido senhor como sócio-proprietário de sete mil cruzeiros em ações.
No dia 10 de janeiro reuniram-se novamente e por aclamação foi escolhida a 1ª Diretoria que ficou assim constituída:
Conselho Superior:
Dr. Milton Evaristo Aragão
Dr. Osvaldo de Sousa Martins
Dr. Bruno Alves Maia Pires
Sr. Oriel Mota
Sr. Francisco Furtado Landim
Conselho Fiscal:
Benedito Charles Maia
João Martins Leitão
Alfredo Gomes da Silveira
Conselho Diretor - Diretoria:
Presidente: Dr. Antonio Alípio Gomes Filho
Vice-Presidente: Dr. José Almir Farias de Sousa
1º Secretário: Antonio Bezerra do Vale
2º Secretário: Temóteo Ferreira Chaves
1º Tesoureiro: Antonio Joaquim de Sousa
2º Tesoureiro: Luiz Gonzaga de Abreu
Orador Oficial: Francisco das Chagas Farias
Seguidamente, foi aclamado Presidente de Honra, Francisco Jorge Abreu, honraria a que fez jus por toda a vida prestigiando-nos com sua
presença, entusiasmo e tirocínio, acreditando sempre na Instituição que contribuiu tão valorosamente para fundar.
E no dia 11 de janeiro, realizou-se a 1ª festa dançando na residência do Sr. Benedito Charles Maia (hoje Biblioteca Odilon).
Assim foi que, em três dias, instalou-se o nosso grêmio, deu-se posse a 1ª diretoria e realizou-se a 1ª festa e deixou-se o terreno já adquirido, cuja planta foi gentilmente planejada por nosso conterrâneo Engenheiro Evaldo dos Santos Mourão (irmão do ex-prefeito José Santos Mourão) à época e ainda hoje residente em São José dos Campos, em São Paulo.
Faremos agora um levantamento das principais obras de infraestrutura realizadas ao longo de quase seis décadas, que foram o patrimônio material da instituição.
Logo a primeira gestão (1955-56) Dr. Alípio Gomes deu início à construção da sede. Em 1957, assume a presidência um sergipano que viera ocupar o cargo de gerente do Banco do Nordeste aqui em Nova Russas. Era o Sr. Berilo Sandes. Este senhor certamente importou de Brasília o arrojo juscelinista, próprio dos anos 50 e utilizando-se de sua grande influencia na comunidade, tornou a edificação do grêmio o evento de caráter coletivo mais rápido da nossa história. Em um ano concluiu (leia-se: construiu a maior parte) e inaugurou a sede da entidade.
Posteriormente foram adquiridos os terrenos onde foram construídas na gestão do Dr. Alípio (1981-82) o Parque Aquático Dr. Alípio Gomes; na gestão do Dr. Xavier Farias (1986), o Salão de Jogos Berilo Sandes e na gestão de Luis Carlos, a Praça de Esportes Luís Carlos Alcântara Weyne.
Foi na gestão de José Hermenegildo Martins Filho, que administrou o grêmio por quase quatro anos, que se deu a maior reforma da antiga sede. Ampliou-se bar, sala de administração e varanda. Banheiros para damas e cavalheiros foram construídos, um depósito de bebida e a sala para a biblioteca Sr. José Ribamar Mendes, que nunca chegou a funcionar. À época foi um dos colaboradores mais importantes, o Sr. Jonas Tavares, representando dentro da comunidade de quem mais angariou fundos para as obras.
Em 1994, o Dr. Francisco Melo dos Santos inaugura o Dancing Toinha Sabino totalmente em granito e reforma o palco. Entra o ano de 1997 e Luís Filho Tavares Pinto, empresário bem sucedido da terra, assume a presidência do grêmio também com ideal de melhorias físicas: reforma a fachada, amplia e reforma a sala da diretoria e salão do bar ( construindo-se um bar finalmente à altura do grêmio) e instala o sistema tuboágua. Nove anos depois, na gestão do Dr. Francisco das Chagas Felipe de Araújo, inicia-se uma campanha coroada de êxito para a substituição do piso do “salão do bar”, da sala dos Presidentes Maria Guadalupe Timbó e das varandas.
Mantém-se o ideal de reformas. Assume a presidência Francisco Quirino dos Santos, (2010-2011), empresário do ramo de farmácia e realiza, com o valoroso tesoureiro Francisco Pinto Tavares, num audacioso projeto, a reforma de 200m² de área do grêmio: ampliação do Dancing Toinha Sabino e
construção de novos banheiros (masculino e feminino) com instalação de primeira linha. Ressaltamos que todas essas obras, da primeira à última, foram realizadas com o apoio do povo novarussense.
Falemos agora do mais importante. Falemos do patrimônio imaterial que é infinitamente maior e impossível de mensurar. Quem pode avaliar uma instituição que foi palco dos maiores acontecimentos do lugar, que estimulou a moral e os bons costumes, que ensinou gerações a vestirem-se bem para as festas sociais, a receber bem as pessoas de outras cidades, que aqui vieram, tantas vezes, tão somente para conhecer a fina flor da sociedade local. Quem não lembra da elegante figura do Augusto Abreu recebendo com respeito e austeridade os convidados? Cumprimentando visitantes?
Foi esse o trabalho de todos os presidentes. Todos que abandonaram sua zona de conforto e se doaram para manter de pé o legado daqueles que lhes antecederam.
A galeria dos Presidentes, inaugurada na gestão de Maria Guadalupe Timbó, guarda com refinado bom gosto, imagens e nomes que declinarei para que outros mais sintam-se chamados a contribuir.
Antonio Alípio Gomes Filho – 1955 – 1956 – 1982 – 1996
Berilo Tavares Sandes – 1957
João Martins Leitão - 1958
Francisco de Sousa Melo – 1959
Osvaldo Farias Alcântara – 1959
Odilon Evangelista Azevedo 0 1960
Francisco Torres Aragão – 1961
Antonio Tavares de Sousa – 1962-1963
José Santos Mourão – 1964
Damião de Sousa Bezerra – 1965
Vicente Paulo Mota – 1966
Juarez Carlos de Sousa – 1967
Temóteo Ferreira Chaves – 1968 – 1969
William Farias de Sousa – 1970 – 1971
Antonio Bezerra de Andrade – 1972 – 1973
João Ivan Timbó Rodrigues – 1974 – 1975
Augusto de Sousa Abreu – 1976 – 1977 – 1979 – 1988
Teonas Mendonça Pedrosa – 1980
Luís Carlos Alcântara Weyne – 1983
Antenor Gomes da Silveira – 1984
Francisco Xavier de Farias – 1985 – 1986 – 2006 – 2007
Antonio Ambrósio de Oliveira – 1987
José Hermenegildo Martins Filho – 1989 – 1990 – 1991
Francisco Veras de Sousa (Didico) – 1992
Antonio Rodolfo da Silva Filho – 1993
Francisco Melo dos Santos – 1994
Valtan Mendes Furtado – 1995
Luís Filho Tavares Pinto – 1997 – 1998
Francisco Araújo Martins – 1999
Alcebíades Bezerra de Paiva – 2000
José Jeová Souto Mota – 2001
Francisco Antonio Abreu – 2002 – 2003
Maria de Guadalupe Timbó – 2004 – 2005
Francisco das Chagas Felipe de Araújo – 2008 – 2009
Francisco Quirino dos Santos – 2010 – 2011
Conterrâneos, continuemos, portanto, a batalha pelo nosso espaço social, espaço que inúmeras cidades perderam (sabemos apenas do Náutico Atlético Cearense), mas que Nova Russas, pela dedicação de seus filhos, residentes aqui ou em lugares outros do mundo, pelos não filhos que com igual zelo o adotaram, consolida sua existência pela constatação simples que ele pertence a nós sócios e às gerações vindouras.
Associem-se jovens! Casais jovens, levem seus filhos para freqüentá-lo! O clube não é de velhos. O clube é da sociedade.
Nosso propósito é que, num futuro bem longínquo, nossa descendência possa dizer como Dona Zilmar: Meninos, eu vi! E possa olhar em volta e acrescentar: E vejo belo, pulsante, altaneiro… o Grêmio Recreativo Novarussense.

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Por Neudélia Melo Aragão Mendes Furtado,   Professora Aposentada.

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