TOLSTOI E O MECANISMO DA PRECE


Crônicas e Artigos
Revista <O Consolador>, Ano 6 - N° 275 - 26 de Agosto de 2012
JOSÉ ANTÔNIO VIEIRA DE PAULAdepaulajoseantonio@gmail.com
Cambé, PR (Brasil)
 

Tolstoi e o mecanismo
da prece


No excelente livro “Ressurreição e vida” (FEB), o Espírito Leão Tolstoi, através da mediunidade de Yvonne A. Pereira, narra o momento de seu despertar no mundo espiritual, após a morte de seu corpo físico. Nessa narrativa, apresenta-nos importantíssima explanação sobre o mecanismo da prece, quando relata o resultado de suas orações a favor de um amigo, Boris Pietrovitch, que sempre encontrava nas férias, na cidade de Odessa, na Rússia, e que desencarnara muito jovem.
Vejamos o que nos conta Tolstoi:
Ao realizar a grande viagem do plano terrestre para o invisível, exatamente naqueles dias tão chocantes, quando, ainda, titubeantes, de tudo receamos e permanecemos atemorizados, na expectativa do que se irá seguir, recebi a visita de Boris, tal qual como quando em Odessa...
- Nunca te esqueci, Niki, acredita... – asseverou-me, apertando-me as mãos efusivamente, como se ainda fôssemos cidadãos terrenos. – Há sessenta e dois anos que abandonei no túmulo aquele boneco de argila, cálcio, ferro, hidrogênio, oxigênio, etc., que foi o meu corpo físico... e, no entanto, recordo-me perfeitamente dos mínimos detalhes das nossas palestras...
- Deus te salve, “paizinho”! Fazes-me imenso bem com tua visita! É consolador testemunhar, na hora crítica do nosso ingresso no plano etéreo, que um amigo do passado conserva por nós a boa-vontade de sempre... Rogo-te não me deixes agora, nesta emergência em que me encontro...
- Não, não te deixarei, se assim preferes... Mas vim especialmente para agradecer as amorosas orações que me dirigiste quando da minha partida para este plano... Produziram um bem inefável à minha alma... Fizeram-me companhia em momentos precários de indecisão... Reconfortaram-me, provando a lealdade do coração amigo que não me esquecia, antes me desejava felicidade e paz...
- Pois ouvias, então os meus singelos votos a Deus em tua intenção?...
- Como não?! Ouvia-os, sim! Compreendia-os, assimilava-os, fortalecia minhas resoluções ao seu influxo benévolo e consolava-me com a tua doce lembrança, pois estavas presente a meu lado, quando oravas, falavas-me, aconselhavas-me, revigorando-me as forças sempre que formulavas teus votos... Enfim, eu te via! E, às vezes, era como se estivéssemos no salão de tua tia ou no teu quarto, como naquelas tardes de Odessa, quando conversávamos saboreando chá...
Fiquei estupefato com semelhante revelação! Esqueci momentaneamente a minha crítica situação de recém-falecido e solicitei dele, alheado também ao fato de que eu era um ancião e ele um jovem quase adolescente:
- Conta-me isso, “paizinho”... Sabes que gosto de assuntos que transcendam ao habitual... O fato de me veres presente quando eu orava por ti... Vinhas mim?... Ou era eu que ia a ti, telepaticamente?...
- Sim, estavas presente... A princípio, eu mesmo não percebia como as coisas se passavam... Mas, depois passei a compreender... Dava-se o seguinte: se pensavas em mim com amor e saudade, um jato de fosforescência adamantina desprendia-se do teu coração e do teu cérebro, os quais mais não eram que os órgãos correspondentes, terrenos, de vibrações superiores, cuja origem é a alma... O jato fosforescente era, efetivamente, uma vibração, uma irradiação de forças poderosas do ser psíquico, rastilho magnético que se distendia à minha procura para me ajudar a caminhar para Deus... Conduzida pela fluidez das energias etéricas a que todo o Universo é subordinado (digo, a Terra e todas as demais obras da criação), essa tua vibração advertia minhas sensibilidades, onde quer que me encontrasse... Eu ouvia como que me chamarem, prestava atenção, tal como, na Terra, se presta atenção a um rumor que, a princípio, apenas adverte, mas que se confirma em seguida... Então reconhecia a tua “voz”, isto é, a tua vibração, que se me afigurava tua voz, que eu tão bem conhecera; ouvia o que dizias, comovia-me, chorava de enternecimento... Às vezes, até conversávamos como outrora, através de nossos pensamentos: era quando oravas recordando nossos debates filosóficos à hora do chá com biscoitos... E, completamente harmonizado com as tuas vibrações, eu passava a enxergar também a tua imagem refletida no longo jato luminoso que de ti se desprendia, embora nem eu nem tu nos arredássemos do local onde estivéssemos, porquanto esse jato,  em sendo uma irradiação, não somente tinha o poder de transmitir o som como de reproduzir a imagem de quem a produzia, visto que é a própria natureza íntima do seu produtor que se distende... E assim eu te via, ouvia, compreendia teus pensamentos e sentimentos, reciprocamente recordávamos o passado e ressurgiam, por uma associação de ideias, relembradas, a sala de tua tia, em Odessa, o “samovar” fumegante, o chá, os tabletes de açúcar, os biscoitos, nossos livros, nossas palestras, os debates em torno do Evangelho...
- A princípio, sonhava frequentemente contigo... – lembrei eu.
- Não era sonho: eram visitas que mutuamente nos fazíamos... Às vezes, elas partiam de ti para mim... comumente era eu que te buscava, fiel ao hábito da juventude...
- Mas por que depois escassearam os tais sonhos...
- Não escassearam: as visitas assim feitas prosseguiram. Unicamente, teu cérebro, fatigado pelo acervo de preocupações e trabalho intelectual, já não registrava lembranças ao despertares do sono... Durante esses sessentas e dois anos em que estivemos separados pela morte, nossa afeição fortaleceu-se por uma assistência mútua contínua, graças ato teu sono, que nos permitia convivência mais assídua... E as amorosas orações que fazias estabeleceram o elo de atração para essa reconfortadora possibilidade...
A exposição de Boris Pietrovitch edificou-me e louvei então os momentos gratos em que nos demorávamos em palestras culturais sadias e também aqueles em que, pensando nele, logo depois de sua morte, concentrava-me no trabalho da prece a seu favor, com o coração dorido de saudade.
Suave reconforto adoçou as incertezas do meu Espírito, ao obter tais informações. Meditei, então, em que a prece, observada com  verdadeiro desprendimento e amor, poderá não só alargar o círculo afetivo entre os homens e os Espíritos, mas também alimentar o prosseguimento dos elos amorosos entre estes e aqueles, sem que a morte consiga efetuar entre os mesmos uma ingrata e dolorosa interrupção. E pensei comigo mesmo.
 - Se os homens soubessem verdadeiramente orar; se compreendessem o incomensurável poder da oração e do que será capaz de realizar a conjugação do coração e do pensamento que se dispõem a orar, não teriam os pobres mortais razões para tanto chorarem os seus mortos, desesperando-se ante os túmulos silenciosos!

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