UMA PAUTA REAL PARA AS GRANDES CIDADES


FÁBIO CAMPOS 15/07/2012 no Jornal O Povo

Uma pauta real para a cidade

Em recente visita ao Brasil, o ex-prefeito de Bogotá, Enrique Penãlosa, expôs um conjunto de pensamentos que deveriam ser apropriados pelo debate político das grandes cidades brasileiras, incluindo a nossa Fortaleza desposada e enrugada do sol.
 Nossos candidatos não deveriam perder tempo buscando novidades mirabolantes que costumam se abrigar nos lamentáveis “planos de Governo”. Os bons exemplos estão aí mundo afora para serem respeitosamente copiados. O caso de Bogotá nos veste como uma luva.
 A capital colombiana era uma desgraça só até a metade dos anos 90. Uma referência negativa do ponto de vista urbano e da criminalidade. Porém o fundo do poço serviu para projetar forças políticas sofisticadas do ponto de vista intelectual.
 Vejam o caso de Peñalosa. Ele é formado em História e Economia pela Duke, uma das mais importantes universidades dos EUA (portanto, uma das melhores do mundo) e tem doutorado em administração pública pela Paris 2.
 O economista foi o gestor de Bogotá (mais de sete milhões de habitantes) entre 1998 e 2001. Hoje, é consultor nas áreas de trânsito e urbanismo. Vejam a seguir a “receita” de Peñalosa (trechos pinçados de uma entrevista concedida à Folha de S. Paulo, edição de 24 de junho).
1 - Fizemos de Bogotá uma cidade um pouco mais para as pessoas e um pouco menos para os carros. Ampliamos as calçadas, criamos ciclovias protegidas.

 2 - O primeiro artigo de todas as constituições democráticas diz que todos são iguais perante a lei. Um ônibus com cem passageiros tem direito a cem vezes mais espaço nas ruas que um carro com uma. A maneira mais racional de utilizar o espaço viário é com ônibus. Então, por que não fazemos corredores de ônibus? Por temor de pressão. Mas homens públicos não devem ir atrás do título de miss simpatia.
 3 - A cidade avançada não é aquela em que os pobres andam de carro, mas aquela em que os ricos usam transporte público.
 4 - Não devemos proibir o carro, mas dificultar sua utilização e facilitar a vida daqueles que queiram viver sem ele. Há várias maneiras de fazer isso. A mais fácil é a elevação do preço da gasolina. Outra é eliminar vagas nas ruas e cobrar mais nos estacionamentos. O poder público deve cobrar bastante por esse uso e usar o dinheiro para subsidiar um sistema de transporte eficiente, rápido, confortável, com ar-condicionado. Quem usa transporte coletivo presta um serviço a toda a sociedade, por isso tem de ser premiado.
 5 - A exigência de garagens é outro equívoco. Encarece muito o preço do metro quadrado. Em cidades mais avançadas, há um limite máximo de garagem, não mínimo. Isso reduz o preço do metro quadrado para a moradia e funciona como desincentivo ao uso de carros.
 6 - Não defendo trens ou metrô, cuja construção é muito cara. Defendo um bom sistema de ônibus. Geralmente, quem defende e pede metrô são as pessoas que andam de carro e tem alto poder aquisitivo. Não querem mais metrô para usá-lo. Querem que os outros usem e que deixem mais espaço para eles e seus carros na superfície.
 7 - Quando falamos de cidade com poucos carros, não estamos falando da ilusão de um hippie louco. Estamos falando de cidades que já existem e que são as mais exitosas do mundo. Como Nova York, Londres, Zurique. Em Paris, a maioria dos prédios no centro nem têm estacionamentos. Paris eliminou nos últimos seis anos mais de 10 mil vagas de estacionamento nas ruas, para dar mais espaço para as bicicletas, por exemplo.
 8 - Devemos pensar em cidades para os mais vulneráveis. Para as crianças, os idosos, os que se movimentam em cadeiras de rodas, para os mais pobres. Se a cidade for boa para eles, será também para os demais. Se o prefeito resolver acabar com áreas de estacionamento para ampliar calçadas e ciclovias, haverá muita reclamação. Vão dizer: onde vamos estacionar? O prefeito, então, pode responder: isso não é responsabilidade minha, é um problema privado. O estacionamento não é um direito adquirido.
 10 - É preciso que haja ordem no espaço público. Há muitas coisas que combatem a criminalidade. A iluminação e a limpeza fazem com que as pessoas sintam que há autoridade. Pichação, sujeira, vendedores ilegais geram ambientes que são propícios para a insegurança e passam uma mensagem de um Estado debilitado, que estimula os delinquentes.

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