O ANTÍDOTO PARA A VIOLÊNCIA



Por José Estênio Gomes Negreiros
Fortaleza,CE 

Vivemos no Brasil uma crise de amoralidade a meu ver sem precedentes na nossa História. Aos que nasceram ainda no século XX e ainda estamos vivos nestes primeiros 12 anos do século XXI estarrecem-nos os escândalos de toda ordem, os procedimentos contrários à moral e ao bom costume, praticados por todos os fios do tecido que constituem a nossa sociedade, ou seja, por nós, habitantes desta Pátria amada e idolatrada.

Uma nação não será nunca moralmente sadia quando a corrupção for aceita passivamente por seus cidadãos, quando as leis se tornam ineficazes ou benevolentes demais para coibir malfeitos ou para punir quem as infringem, ou quando, no dizer de Ruy Barbosa, rir-se da honra de outrem.

Assistimos em nosso País a degradação contínua dos nossos valores éticos e morais, e infelizmente com a colaboração direta das instituições públicas responsáveis pela elaboração e guarda das nossas leis sem eficácia, ou seja, os Três Poderes constitucionais, ensejando o crescimento exponencial da violência que manieta a liberdade do cidadão de bem. Referimo-nos aqui às leis penais, diretamente relacionadas com a coibição da violência. Leis que não atingem os objetivos colimados e parecem  feitas para serem desrespeitadas

Não seria exagero afirmar-se que nestes modernos tempos chegamos ao nível dos animais irracionais no que diz respeito à prática da violência. A diferença é que os seres privados de raciocínio somente usam dela em razão do instinto de conservação e sobrevivência que lhes é inerente.

É verdade que a violência sempre existiu em todas as sociedades de todas as épocas e continuará prevalecendo ainda por séculos em razão da nossa inferioridade moral. Mas a violência de que tratamos aqui não é aquela provocada pela simples necessidade de preservação e de sobrevivência, mas a violência oriunda do orgulho, do egoísmo e da vaidade, defeitos esses que criam necessidades e desigualdades formais, conduzindo o indivíduo a procurar se igualar ou superar o outro na aquisição de poder, de prestígio, de bens materiais, de riqueza.

Como as causas da violência, segundo os especialistas, são as mais variadas, a indagação que nos assalta é: qual o antídoto para ela?

Reproduzimos, abaixo, trecho do excelente artigo intitulado <Reflexões sobre a Violência> (1), de autoria de Jacy Regis (2) publicado na página http://viasantos.com/pense, o qual refere a contribuição  do Espiritismo para opor-se à violência.

"O Espiritismo pode ser um fator de equilíbrio na vida social. Pelo ensino da imortalidade, ele leva à compreensão que a adesão e a prática dos valores morais constitui-se numa necessidade de autopreservação da estrutura mental do ser.

Aparentemente, ressaltar a natureza espiritual evolutiva do ser humano e a perspectiva de uma vida permanente, parece inócuo perante o quadro de realidades sociais e da violência cotidiana.

Todavia, se o aparelho social tiver essa consciência, as elites, as religiões, enfim, os governantes e detentores do poder econômico, terão um comportamento diferente ou menos infeliz do que atualmente. Essa motivação projetará reformas e modificações sensíveis nas relações humanas.

Segundo o <O Livro dos Espíritos>, o Espiritismo pode contribuir para o progresso “destruindo o materialismo que é uma das chagas da sociedade; ele faz os homens compreenderem onde está seu verdadeiro interesse. A vida futura, não estando mais velada pela dúvida, o homem compreenderá melhor que pode assegurar o seu futuro através do presente. Destruindo os preconceitos de seita, de casta e de cor ele ensina aos homens a grande solidariedade que os deve unir como irmãos.”(Questão 790).

Alguém argumentará que essa premissa, embora generosa, não é apenas incerta, mas demorada, não contribuindo, a curto prazo, para a solução dos problemas da violência.

Certamente, a sociedade como um todo precisa encontrar caminhos para a resolução ou pelo menos minorar o problema social. Mas o Espiritismo jamais pretendeu comandar a renovação social. Sua contribuição, aparentemente sonhadora, é pressionar o pensamento humano em direção a uma nova mentalidade a respeito da pessoa e das coletividades.

Todavia, para que a Doutrina exerça sua influência, precisa precaver-se com um entendimento pernicioso, que tenta vincular os problemas da existência humana às culpas do passado, ou seja a fatalidade pré-construida, pelo fato de cada pessoa trazer um “pecado originário das vidas passadas” e insistir que sofrer é o melhor remédio.
            Vejamos, por exemplo, este texto de <O Livro dos Espíritos>:

866 - Então, a fatalidade que parece presidir aos destinos do homem na vida material seria também resultado do nosso livre arbítrio?

Tu mesmo escolhestes a tua prova: quanto mais rude ela for, se melhor a suportas, mas te elevas. Os que passam a vida na abundância e no bem-estar são Espíritos covardes, que permanecem estacionários. Assim, o número de infortunados ultrapassa de muito o dos felizes do mundo, visto que os Espíritos procuram, na sua maioria, as provas que lhes sejam mais frutuosas. Eles vêem muito bem a futilidade das vossas grandezas e dos vossos prazeres. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre perturbada; não é somente a dor que produz contrariedade.

Se entendido literalmente, o texto pressupõe que a miséria, a exclusão social, seriam requeridas pela própria pessoa e que “ser feliz” é uma covardia.”

Tal interpretação levaria a sancionar a injustiça social, a edificação de uma sociedade de sofredores e miseráveis, o que contraria o que está nos itens abaixo:

806 - A desigualdade das condições sociais é uma lei natural?

Não, é obra do homem e não de Deus

808 - A desigualdade das riquezas não tem sua origem na desigualdade de faculdades, que dão a uns mais meios de adquirir do que a outros?

Sim e não. Que dizes da astúcia e do roubo?

812 - Se a igualdade das riquezas não é possível, acontece o mesmo com o bem-estar?

Não, mas o bem-estar é relativo e cada um poderia gozá-lo , se todos se entendessem bem....

Já na questão 719, se diz que "O bem-estar é um desejo natural. Deus só proíbe o abuso, por ser contrário à conservação, e não considera um crime a procura do bem-estar, se este não for conquistado às expensas de alguém, e se não enfraquecer vossas força morais, nem as vossas forças físicas.”

Se o indivíduo é sempre culpado pela suas ações, há atenuantes que passam a ser responsabilidade coletiva. A política social do Espiritismo é bem clara.

Em resumo, o Espiritismo não sancionará a injustiça social, a pretexto de estar sendo cumprida a lei de ação e reação, porque o indivíduo não é um ser isolado mas pertencente à sociedade. Mas não pode concordar com a pré-inocência ou não-culpa dos agentes individuais na prática da violência, em qualquer sentido ou nível.”

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          (1) Artigo publicado originalmente no jornal <Abertura>, de Santos,SP, edição de setembro de 2000.

  (2) Jaci Regis é psicólogo e jornalista, editor do jornal de cultura espírita <Abertura>, presidente do Instituto Cultural Kardecista de Santos,SP e autor dos livros <Amor, Casamento e Família>; <Comportamento Espírita>; <Uma Nova Visão do Homem e do Mundo>; <A Delicada Questão do Sexo e do Amor>, dentre outros.


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