TRIBUNA DA INTERNET
sexta-feira, 25 de maio de 2012 | 03:26
Sebastião Nery
Francisco Lacerda, o Chiquinho Lacerda, era governador do Espirito
Santo na noite de 31 de março do golpe militar de 1964. As notícias de
Minas ainda estavam confusas, ele se trancou no gabinete com os
assessores Mário Gurgel (depois deputado do MDB, cassado em 1969) e
Setembrino Pelissari (depois deputado da Arena e prefeito de Vitória).
Preparou dois manifestos. Um contra o movimento militar, para, se
fosse o caso, ser lido por Gurgel. Outro, a favor, para, também se fosse
o caso, ser lido por Setembrino. E ficou esperando, de ouvido no rádio e
boca no telefone, falando com o Palácio da Liberdade, em Belo
Horizonte.
De repente, toca o telefone no gabinete. Era o coronel comandante do
3º BC de Vila Velha, o mais graduado comando militar do Estado:
- Boa noite, governador. Como estão as coisas?:
- Não sei, coronel. O senhor sabe?
- Sei, governador. Mas antes quero saber de que lado, afinal de contas, o senhor está.
Chiquinho parou, pensou, gaguejou:
- Estou do lado da Escola Normal, coronel.
O coronel bateu o telefone, desligou. O Palácio Anchieta, em Vitória, dá os fundos para a Escola Normal.
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CHIQUINHO
CHIQUINHO
Chiquinho Lacerda, como governador, havia conspirado com o governador
de Minas, Magalhães Pinto, fez Marcha da Família com Deus pela
Democracia contra o Comunismo e saudou a “Revolução Redentora”.
Os inquéritos levantaram pilhas de provas contra ele. Mas Chiquinho
foi ficando no governo. Eurico Rezende, deputado federal e representante
de Chiquinho nas jogadas nacionais, armou um esquema para salvá-lo.
Na época, Heron Domingues e José Ayler Rocha tinham a agência de
promoções “Pro-News”. Eurico pediu um plano de relações públicas para
evitar a cassação de Chiquinho. Oliveira Bastos, chefe da equipe de
Heron, foi a Vitória conversar com ele. Trancaram-se numa sala e Bastos
passou a mostrar ao governador o que era possível fazer e como devia ser
feito.
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HERON
HERON
- E quanto vai custar isso?
- 150 milhões, governador. Mas sem isso o senhor será inevitavelmente cassado.
- Olhe, meu caro, eu, não estou me incomodando de ser ou não ser
cassado. O que eu não quero é que o governo toque em meu patrimônio.
Isso é que me interessa e me preocupa. Por que então iria desfalcar meu
patrimônio em 150 milhões? Se eles quiserem, eu saio. Contanto que não
bulam no que é meu.
Chiquinho renunciou, não foi cassado e salvou todo o patrimônio.
Inclusive os 150 milhões que não pagou à agência de Heron e Zé Ayler.
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O COCHO
O COCHO
A Leilane Neubarth, no seu excelente programa das 18 horas da “Globo
News”, diz que a CPI do Carlinhos Cachoeira está sendo “um retumbante
fracasso”, porque o ex-ministro Marcio Thomaz Bastos, como advogado, não
deixou Cachoeira falar nem deixará os outros que irão lá.
Não é só o Cachoeira. Atrás dele está a Delta, que é o José Dirceu do
“Mensalinho”. A Delta é o caixa, o cofre, a fábrica do dinheiro. Ela é
que armou e financiou a brutal máquina de corrupção em todos os Estados.
Na “Folha”, o Fernando Rodrigues pôs o dedo na ferida :
- “Sem quebrar o sigilo da Delta nacionalmente, jamais a CPI do
Cachoeira chegará a uma conclusão definitiva se esta empreiteira
praticava ou não traficâncias diversas”.
A Delta tem com ela o maior time de advogados e lobistas que já se
juntou no pais para defender uma só empresa corrupta: Marcio Thomas
Bastos, José Dirceu, Henrique Meirelles, Lula, o PT, governadores. É
mais do que a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) inteira. Vamos ver
como vão agir o presidente, o relator e a maioria da CPI, que é
governista.
Se não quebrarem o sigilo bancário da Delta, vai ficar claro que
Cavendish e Cachoeira puseram todos no cocho. Como Chiquinho Lacerda,
estariam todos interessados apenas que não bulam no dinheiro deles.
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PALESTINA
PALESTINA
Ancelmo Gois veio de Frei Paulo para enxergar longe:
- “Ahmadinejad vem. A confirmação do Irã chegou. Mahmoud Ahnadinejad
vem à “Rio+20”. A comunidade judaica deve organizar protestos contra o
iraniano”.
Todos sabemos : – “Quem não aprende com a historia vive-a de novo”. A
“comunidade judaica” imagina que no Brasil só há judeus, não há árabes
também? Estão querendo o quê? Fazer daqui uma Faixa de Gaza?
Por trás da greve nos transportes coletivos
Carlos Chagas
Os comunistas não são, porque o comunismo saiu pelo ralo. Imaginar a
CUT por trás da movimentação será ignorar a ligação umbelical da
entidade com o governo, que não admite prejudicar. O Paulinho da Força
Sindical teria tanta força assim? Nem pensar. Muito menos as oposições,
que pouco ou nada tem a ver com os trabalhadores. A Igreja, os
militares? De jeito nenhum. Sequer o Flamengo e o Corintians.
Sendo assim, que diabo anda acontecendo para determinar a greve nos
transportes coletivos do país inteiro? Não acontece de graça essa
perfeita orquestração que paralisa metrôs, trens suburbanos e ônibus em
todos os estados. Não há geração espontânea. Sempre se poderia admitir
serem as respectivas categorias que se organizaram em cada estado,
isoladas, sem participação das centrais sindicais, demonstrando
eficiência ímpar e inusitada. Também fica difícil aceitar o raciocínio,
já que uma estrutura tão rica e com tamanho poder como a que agora se vê
atuando em uníssono não teria passado despercebida das autoridades de
informação e segurança.
Então, como diz Sherlock Holmes, depois de afastadas todas as hipóteses impossíveis, sobra apenas uma, mesmo a mais estranha.
São as empresas que administram os transportes coletivos que vem
estimulando e instigando a greve atual, claro que em conluio com os
trabalhadores hoje de braços cruzados. Estes, até com muita justiça,
reivindicando melhores salários e condições de trabalho. Aquelas, atrás
do aumento de tarifas, que como sempre só conseguem mobilizando seus
empregados para infernizar a vida da população e, assim, pressionar os
governos.
Não é sem razões óbvias que os sindicados dos grevistas rejeitaram
por unanimidade a proposta de seus grupos mais sinceros, de trafegarem
com as catracas abertas. A maioria sustentou que o movimento só teria
sucesso caso conseguisse fazer o povo sofrer. Então que sofra,
invertendo-se o princípio de que greve se faz contra patrão. Aqui, é
feita contra o povo, capaz da indignação necessária para levar a
autoridade pública a conceder aumento nas passagens. De tabela, mas
parcialmente, também nos salários.
Convenhamos, os grevistas são inocentes úteis, o povo é sofredor. Mas são os empresários que se beneficiam.
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UM DIREITO EM DISCUSSÃO
UM DIREITO EM DISCUSSÃO
Sustentam os juristas, em maioria, a intangibilidade do direito de
ficar calado para qualquer réu submetido a interrogatório ou convocado
para depor. Isso nas democracias, com base na evidência de que ninguém
deve produzir provas contra si mesmo.
Seria discutível o princípio? O recente episódio do depoimento do
Cachoeira na CPI levanta pelo menos a discussão. Raras vezes se tem
visto deboche igual, quando um bandido comprovadamente culpado tripudiou
sobre um colegiado de alta representatividade. Será que ao negar-se a
falar, o bicheiro não incorreu em obstrução à Justiça e à investigação
da verdade? Abrindo mão do direito de se defender, não estaria
confessando a culpa?
Nas ditaduras, o indigitado depoente sempre acaba falando, dados os
métodos peculiares de persuasão utilizados pelos inquisidores. Nos
regimes de liberdade, como o nosso, é inequívoco o direito de o
indivíduo não produzir provas contra ele mesmo, mas no caso do
Cachoeira, não se registrou ofensa à lei e à democracia, digna pelo
menos de uma punição a posteriori?
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MÁRCIO PERDEU E AINDA NÃO GANHOU
MÁRCIO PERDEU E AINDA NÃO GANHOU
O competente Márcio Thomaz Bastos já terá recebido pelo menos parte
dos 15 milhões de seus honorários por defender Carlinhos Cachoeira? Há
quem diga que não, como não recebeu o primeiro advogado contratado pelo
bicheiro para livrá-lo da penitenciária de Mossoró, no Rio Grande do
Norte. Haveria cláusula de sucesso para o pagamento?
De qualquer forma, e sem questionar a regra milenar de que o advogado
não deve rejeitar ajuda aos aflitos batendo à sua porta, chocou o país a
imagem do celebrado jurista ao lado de um bandido tripudiando sobre
deputados e senadores. A arrogância do Cachoeira, sua insolência ao
sorrir diante das indagações não respondidas, contrastou com a
fisionomia fechada de seu patrono, mas não haverá como separá-los. Quem
perdeu foi Márcio.
Ele representou um esteio para o então presidente Lula, quando
ministro e depois de ser ministro da Justiça. Apagou incêndios sem
conta, a começar pela crise com o mensalão e com José Dirceu. A pergunta
que se faz é se conseguirá recuperar a situação anterior, mesmo
constituindo injustiça condená-lo por defender um bandido.
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